Skylar Andrews

Erik está cuidando de tia Livy, enquanto eu termino de preparar o purê de aspargos. Talvez uma boa refeição seja boa opção para nossa tia. Seria ingrata se não a ajudasse nesta fase complicada de sua vida, onde vive uma doença em fase terminal.

Tanto Erik e eu trabalhamos para nos sustentar, e isso nos ajudou muito. De forma arriscada, mas isso não importa. Roubamos alguns tecidos da fábrica, e confesso que não é nada fácil fazer isso sem que descubram. E ninguém desconfiaria de mim.

Sou uma das queridinhas da fábrica. Erik também tem suas virtudes lá e na escola. Somos gêmeos, e este é o primeiro motivo para sermos conhecidos. Não é qualquer um que teve a "sorte" de ter um irmão nascido no mesmo dia. E muitos têm o azar de perder a mãe depois do parto, como nós.

Foi um momento difícil, segundo minha tia, nascemos antes da hora. É uma das poucas complicações que nossa genitora teve. Além de sofrer as dores antes, sentiu o coração parar por duas vezes. Uma, enquanto paria meu irmão e outra depois de mim.

Tivemos que ficar com tia Livy, já que nem sabemos que é nosso pai. Nos abandonou, ou talvez tenha morrido. Mas eu não ligo para pessoas assim.

O purê não está lá grande coisa, mas é possível saboreá-lo sem fazer caretas. Sirvo em um prato com carne de esquilo e levo para tia Livy. Ela está contando alguma história para Erik, que ouve pacientemente.

– Tia, trouxe comida - digo.

– Deixe aí e vá tomar banho, daqui a pouco temo que ir à praça - diz Erik. Não discordo e vou tomar o meu banho.

Apressada, me lavo o suficiente para estar apresentável. Lá, um vestido que eu mesmo fiz está na cama. O clima matreiro permanece, então eu prefiro usar uma meia que me aqueça.

Da minha janela, espio para ver se Mike está lá. Minhas expectativas se vão quando vejo o quarto vazio. Sou apaixonado por ele desde cedo, mas mantenho em segredo. Ajeito meus cabelos ruivos, deixando-os soltos. Meus lábios rosados se destacam mais no frio. Eles são volumosos e já fui alvo de chacota por isso.

Erik também se ajeita. Nós estamos combinando com as roupas da cor branca. Vamos até o quarto de tia Livy e ela dorme. Preferimos deixá-la e então seguimos para a praça.

Lá, já estamos um pouco atrasados. Capri passa o filme da Capital, o mentor, como de costume é Georgeous. Vencedor de edições antigas. Ele é barrigudo, com poucos fios de cabelo, mas muito inteligente.

Varro os olhos pelo local e encontro Mike. Seus cabelos negros e cacheados sacolejam com vento. Seu porte alto e musculoso, bem diferente do meu. Sou magra e baixa.

Só torno a prestar atenção quanto Capri diz que é a hora das meninas serem escolhidas. Uma garota da minha idade está do meu lado, tremendo e pálida. Seguro sua mão com firmeza, num sinal de que está tudo bem. Ela sorri.

Capri já está prestes a anunciar o nome, e eu digo baixo para ela:

– Não vai ser você.

E não é. Meu nome é anunciado pela representante. O meu corpo congela. Meu maior medo é morrer nos Jogos Vorazes, e ele pode se concretizar. Eu não posso acreditar no que acontece comigo.

Ando lentamente até o palco. Fico lá quando Capri pega outro nome.

– Collin Lookwood! - ela diz.

Um garoto magricelo sai do meio da multidão. Quando ele ia começar a caminhar, alguém puxa sua camisa e ele para.

– Eu sou voluntário no lugar dele - diz um garoto que reconheço ser um vendedor no mercado. Ele é dois anos mais velho do que eu e possui cabelos loiros. Barba a fazer, cabelos loiros. Alto e forte.

Ele caminhou até o palco, enérgico e frio.

– Aquele é seu irmão? - pergunta Capri. Ele assentiu.

– E eu sou Kelúx Lookwood - ele diz.

Claro, eu já conhecia. Agora estou admirado com tal coragem dele. Pacificadores nos levam para o interior do Edifício da Justiça, onde eu ainda estou incrédula do que aconteceu.