A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 10
Capítulo 10 - Distrito Dez


Notas iniciais do capítulo

Personagem inspirado em pessoa real. Curtam este capítulo, e lembro que o vencedor desta fanfic está garantido na Colheita do Massacre Quaternário.
Ah, uma pergunta. Posso encurtar os capítulos mais dos tributos/colheitas, para agilizar? Aí conforme os capítulos passam, faço pov's e vocês conhecem melhor os tributos. O que acham?



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Hazel Trigwell

Funguei mais uma vez. Isso é cheiro de medo? Talvez. Olho por cima do ombro, uma garota caçoa da cor do meu cabelo. Ele é realmente uma cor estranha, cor de amêndoas. Eu não ligo para essas bobocas... mentira.

– Estão rindo de que? - digo, franzindo o cenho e me virando para elas no corredor da escola. Moldo o melhor rosto irritado possível.

O pavor cobre o rosto delas. Uma delas é filha do prefeito, Julliet. A outra é um simples pedaço de carne que estou prestes a fatiar. Elas estão emudecidas, então eu insisto.

– Hein?!

– Nada - a outra diz. Todos param para nos olhar, ninguém se atreve a nos interromper.

– Olha, você sabe com quem está falando? - diz Julliet - Com a filha do prefeito deste Distrito.

– E você com a filha do açougueiro... - ela ri de deboche, eu já esperava isso - Com carne de melhor corte. Sabe quem faz o corte? Eu. Então, se não quiser a sua carne fatiada e amaciada, sugiro que não fale mais de mim. Ah, e não adianta falar pro papai.

As pessoas estão estupefatas com a minha atitude. Não deveria ser assim, é claro, é a filha do prefeito Warren. E eu não estou nem um pouco interessada nisso, para ser sincera.

Todos abrem um corredor para eu passar, é como se jogassem pétalas sobre um tapete vermelho. Não que eu seja superior a eles, apenas que eles não mereçam provar dos meus punhos. Punhos que amaciam carnes ensanguentadas de boi.

A manga da camiseta escorrega até os pulsos, então arrumo até o cotovelo. Esta camisa uso apenas para ir à escola. Ela é larga, e era da minha mãe, quando mais nova.

Hoje é dia da Colheita, e o insignificante prefeito estipulou que haveriam aulas por duas horas no período matinal. A tarde haveria a escolha dos azarões que seriam mortos. Eu nunca apelei para as tésseras, assim, meu nome não está lá em números abusivos.

Tenho 16 anos, e aguardo ansiosamente as próximas Colheitas, pois em breve eu estarei livre da Capital. E como não terei filhos, é melhor ainda.

O Distrito 10 só tem uma coisa legal: o açougue do meu pai. Lá eu cuido das carnes. Fatio-as, amacio-as e cuido de trocas. Hoje é um dia perfeito para as trocas, por isso preparo muito bem a carne em dias de Colheita.

Quanto melhor a qualidade da carne, melhor a qualidade da troca. Esse é o meu lema. Quanto tinha 12 anos, troquei carne por um mísero bezerro. Dei o nome de Deall para ele. Um animalzinho magro, sem graça que cresceu com dificuldades. As vezes, o antigo dono trazia a vaca-mãe para amamentá-lo.

E isso se repetiu por esse tempo e ele cresceu e se tornou uma miniatura de boi. Pequeno, embora saudável e magro. Conseguimos alimentá-lo com carnes em putrefação ou estragadas.

Nossa casa é um casebre de madeira e mal pintada de branco. Temos um extenso quintal e do lado um tipo de galpão para vender a carne.

A minha mãe já serve o almoço quando eu chego.

– Hazel, vamos, vamos, almoce logo, seu pai precisa de ajuda e você de se ajeitar - ela diz. Eu não me oponho.

Sirvo com um pedaço magro de costela, arroz e caldo de linguado. O gosto é melhor do que o cheiro.

Ajudo meu pai no açougue. Nada de mais, apenas desfio as carnes, troco por pães, óleos, objetos e animais. Após isso, tomo um ríspido banho, sem me importar em lavar todas as regiões do corpo.

Um vestido cor de oliva está em minha cama. Uma bota acompanha. Visto-me e vou para o espelho. O vestido cobre meu ombro, deixando exposto uma cicatriz. Era uma forma em diagonal, esquisita. Porém, um dia, com quatorze anos, cansada de ser difamada, fiz outras diagonais que fizeram um formato de estrela.

Meus pais ficaram horrorizados, mas não tinham o que fazer. Um machucado é temporário, mas uma cicatriz é perpétua.

Penteio os cabelos lisos, secos e claros, deixando-os soltos. Os meus olhos são tão parecidos quanto meu cabelo. A cor de mel, um tom claro e amarelado, como um grão de mostarda.

Desci até a sala, todos muito bem ajeitados. Minha mãe em um vestido branco e meu pai em um formidável paletó marrom, combinando com sapatos.

– Prontos? - pergunta minha mãe. Todos assentimos.

Caminhando pela praça, vejo rostos angustiados e temendo a escolha. Sou levada para uma fila onde tiro sangue e vou sendo ajeitada no meio de garotas. O filme começa, com o anuncio de Olivius, o representante. Jameson é o mentor, um dos poucos vencedores do Distrito 10.

– E agora chegou o momento da escolha das meninas - ele caminha até o pote e puxa um nome. - Eva Philco!

Um alívio em não ser meu nome. A tal Eva me choca. Uma garota de 12 anos de corpo esquelético aparece com alguns machucados recém-feitos no joelho. Ela não tem chances, pelo menos as meninas. Ela anda para o palco, com juntas duras. Eu queria rir da menina que fosse selecionada, se não fosse eu, mas ela é um caso a parte.

Maldita Capital, penso. De repente, ela se vira, como se pudesse escutar meus pensamentos. Seus olhos fundos e grandes parecem dois globos vítreos de um defunto. Sinto que devo protegê-la.

Começo a andar, aumentando a velocidade até chegar no corredor formado pelos jovens.

– Eu sou voluntária! - começo a correr e tomo a frente da pequena, colocando meu corpo a frente do dela, impedindo seus passos - Eu sou voluntária como tributo.

– Oh, que emocionante. Uma voluntária, fato inédito por aqui - Olivius sorri. Subo no palco, com olhar determinado e ofegando. Eva chora ao me ver com o microfone, e eu enxergo garotas rindo, dentre elas, Julliet.

Todos esperavam este momento. Menos eu.

– Qual seu nome? - pergunta o representante.

– Sou Hazel Trigwell e vou ganhar isso. - Respondo.

– Agora os homens - e ele tira o nome. Sem delongas anuncia o tributo.

– Marcus Stanbillie! - um garoto baixo, de uns 13 ou 14 anos aparece. Não tão magro assim, anda até o palco com lágrimas nos olhos.

Isso me enoja. Fraqueza me enoja.

Para alegria de todos estou nos Jogos Vorazes. Pacificadores nos escoltam para o interior do Edifício da Justiça. Talvez a última vez que visse minha casa.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem.
— Curiosidade: Hazel não se lembra onde conseguiu a cicatriz. Ela caiu das escadas da escola e perdeu parte da memória. Todos a caçoam, contando fatos inexistentes de sua vida, o que explica tal comportamento.



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