Memórias - Interativa escrita por Cassiela Collins


Capítulo 28
O Sedativo e a Cirurgia




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No dia seguinte, mais ou menos meia hora antes da nossa fuga - pelo menos, eu acho que é meio-hora. Sem um relógio, não há como ter certeza - três Cinzas vêm ao nosso quarto.

Agora que já fui avisada, não consigo parar de pensar em como eu não percebera as travas em nossas portas.

Um dos Cinzas pede que um de nós os acompanhe. Noah e Maya se levantam, mas eu me adianto e logo estou bem à frente da porta.

Quando estou saindo pela porta, olho para Maya com o canto do olho. Não deve ser por acaso que vão chamar-nos justo antes de por o plano em prática, mas, mesmo que seja por acaso, isso vai nos causar problemas.

Maya parece seguir na mesma linha de pensamento.

Então, a porta é fechada e o terceiro Cinza passa a trava, trancando-a.

Sem querer, engulo em seco, mas não parece que os Cinzas percebem o fato, o que me deixa um pouquinho mais aliviada. Quem sabe se importa a eles que eu saiba do que eles realmente fazem? Não que eu saiba, assim, com certeza, mas...

Nós andamos pelos familiares corredores até a sala onde fizemos os interrogatórios, mas a sala está bem diferente do que me lembro.

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Primeiramente, está muito mais bem-iluminada.

Segundo, as paredes parecem ser mais brancas, limpas, claras... mas isso pode muito bem ser ilusão ou coisa da minha cabeça.

Terceiro - e mais preocupante: bem no meio da sala está uma mesa de metal que tem uma semelhança agonizante e aflitiva com as mesas de cirurgias que eu já vi.

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Certa vez, quando eu tinha 13 anos, eu fiquei doente. Eu tive uma doença que quase nunca ninguém ouviu falar, estafilocococemia.

Tive que fazer uma cirurgia no ombro, e até hoje tenho a cicatriz em forma de centopéia de mais ou menos 4 centímetros. Ela é meio rosada, arroxeada, e está em relevo em relação à minha pele, mas por causa do tecido mais fino - que, na maioria das vezes, causa repulsa ou aflição às pessoas - eu frequentemente a apalpo. Não sinto mais dor no ombro, e é como uma massagem para o meu dedo quando a toco.

Mas, apesar de todos os meus 18 dias no hospital e de todas as minhas fisioterapias, eu não me lembro da cirurgia.

Houve várias complicações para a cirurgia, e, apesar do contrato cobrí-la, o meu convênio se recusava a pagar. Só fui levada à cirurgia 4 dias depois, mas tudo o que me lembro é do meu primeiro dia. Então, eu acordei, e mesmo sabendo que muito tempo se passou, só me lembro de 1 dia; eu tinha tomado anestesia, e um dos possíveis efeitos colaterais é amnésia. Eu não me lembro de 12 dias da minha vida, e isso é muito aflitivo, mesmo que eu só estivesse acordada durante 3 desses dias.

Fico paralisada por um instante ao ver a mesa, e então ouço o ferrolho da porta trancando-a atrás de mim.

Me viro, assustada; aquela é a única porta da sala. Se eu tiver que sair à pressa ou meus amigos tentarem tirar-me daqui, não vamos conseguir.

– O que está acontecendo? - pergunto. Talvez eu não devesse parecer assustada - não era para eu saber que eles não eram os mocinhos nessa história - mas, mocinhos ou não, qualquer um ficaria assustado na minha situação.

Na sala estão quatro Cinzas - dois dos que me trouxeram e mais dois, esses últimos de avental branco.

Uma dos Cinzas de avental - uma mulher, de trinta e poucos anos, cabelos loiros, curtos e lisos e olhos violeta de um tom penetrante que me deixou tensa - se vira para mim. Ela estava de costas, ocupada em mexer em uma outra mesinha, menor, de metal e com 5 pequenas gavetas e uma bandeja em cima, com várias coisas que não consigo enxergar direito em cima.

– Nós achamos - ela começa, num tom neutro. - que os... Brancos, como vocês chamam... injetaram ou modificaram algo em vocês, os Jogadores, que pode ter provocado algumas... alterações. Elas podem prejudicá-los seriamente se não tirarmos isso de vocês.

Ela fala pausadamente. Me lembro de uma das minhas séries preferidas, Lie to Me, onde dizem que falar pausadamente é sinal de mentira; embora, mesmo sem esse sinal óbvio, eu certamente não acreditaria na mulher.

Enquanto penso em como reagir, dois Cinzas agarram meus braços.

Sou levada até a mesa. Me debato enquanto me deitam e amarram meus pulsos e meus tornozelos.

Se estou sendo amarrada virada para cima, quer dizer que eles não têm a menor ideia de onde foi feita a cirurgia, e, se não procuraram por uma cicatriz, nem sequer sabem se foi feita uma cirurgia ou o que quer que possa ser.

Pois tenho certeza absoluta de que é das nossas cirurgias que eles falam.

Se eles fizerem a cirurgia em minha cabeça, meu rosto ou sei-lá-onde, não sei o que pode acontecer comigo, mas se eu disser à eles onde eles devem procurar, terei que admitir que sei de alguma coisa, e, pelo tom de voz de Sarah ao 'telefone', sei que essa é uma péssima ideia.

Continuo me debatendo até que batem com algo forte em minha cabeça, e fico atordoada.

A mulher se vira novamente para a mesinha, e, quando desvira, tem uma seringa em mãos.

– Não se preocupe - ela diz, não num tom reconfortante, mas ainda em um tom neutro. - É só um sedativo. Quando terminarmos, você acordará normalmente, e será como se nada tivesse acontecido.

Dessa vez, não é sua fala, mas seus gestos que contradizem suas palavras.

Sinto um aperto forte no peito e me debato ainda mais.

Sinto a pontada da agulha em minha veia e começo a sentir meus olhos lutando para se fechar. Tento me manter acordada e luto com todas as minhas forças, mas logo a escuridão começa a me envolver.

Então, tudo se apaga.


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Notas finais do capítulo

Fiquem tranquilos, que essa não é uma deathfic XD



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