Memórias - Interativa escrita por Cassiela Collins


Capítulo 12
Queimada Diferente




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Passamos pela porta e nos posicionamos no início da nossa parte da pista.

Examino a arena. Não consigo ver o que lançará as bolas elétricas sobre nós, mas não estranho. Acho que já me acostumei a situações como essa.

Sam está à minha esquerda, pouco atrás de mim.

Ouvimos uma voz alta dizendo algo como ‘Que os Jogos comecem!’, mas, ironicamente, estou atenta demais a outras coisas para prestar atenção nisso.

Embora minha cabeça não se mova, meu olhar voa pela arena, tentando detectar os aparelhos que dificultarão nossa corrida.

Ouço a contagem regressiva começar. O primeiro número é ‘30’.

Eu e Sam havíamos combinado que não correríamos demais, para que eu pudesse acompanhá-la enquanto tento desviar qualquer bola que seja lançada sobre nós.

Quando a contagem passa do ‘20’, ouço uma voz feminina ao meu lado.

– Oi.

Olho para o lado. Uma garota está olhando para frente, mas tenho certeza de que foi ela que falou comigo. Seus cabelos marrom-escuros são muito longos e ondulados, e estão presos uma trança de raiz. Os olhos são escuros e brilhantes como eu, mas parece uma no mais velha. É uma da Casa dos Diamante.

– Oi. – Respondo, agora também olhando para a frente.

– Sou Maya. Maya Falker. – sua cabeça se vira para mim, então torno a olhá-la, imitando o movimento.

– Sou Isabel Lins. – digo.

Ela sorri.

– Boa sorte para vocês.

Eu também sorrio, mas o meu é um sorriso nervoso.

– Para vocês também.

A contagem regressiva está em 10.

Olho para a seção Safira da arquibancada. Mitchel está acenando com a cabeça, tentando parecer encorajador, mas percebo a preocupação nele, e sinto uma onda de afeto. Tania está visivelmente preocupada, o que não me surpreende – ela parece ser a mais inocente de nós. Nanda também está preocupada conosco. Kally está sem reação, quase neutra. Na verdade, acho que o único que não está nem minimamente preocupado é Jake, o que também não me surpreende.

Então, ouço o número ‘1’ e uma campainha alta e vibrante.

O Jogo começou.

.

Quando a campainha toca, a maioria dos Jogadores dispara imediatamente. Eu e Samatha esperamos alguns segundos para ver quando as bolas começam a ser lançadas.

Elas começam a ser disparadas no exato segundo em que a campainha para. Parecem surgir de lugar nenhum. É como se houvesse uma barreira entre o campo e a arquibancada, que tornasse invisíveis as máquinas que lançavam as pequenas esferas formadas exclusivamente por eletricidade.

Começamos a correr também.

Embora não estejamos correndo o máximo que conseguimos, e vários dos outros Jogadores estarem visivelmente se esforçando ao limite, conseguimos acompanhar o ritmo sem muitas dificuldades.

Vejo um movimento à nossa esquerda pelo canto do olho. Me jogo entre a bola e Sam no exato momento em que ela a atingiria, erguendo o bracelete no nível certo.

A eletricidade certamente não é tão forte ou dolorosa como seria uma normal, sem o bracelete para absorvê-la, mas sinto como se milhares e milhares de agulhas finas tivessem espetado meu braço – não muito profundamente, mas o suficiente para doer – ao contato.

E me lembro imediatamente das minhas aulas de queimada.

Nas minhas aulas de educação física, eu era boa em duas coisas, curiosamente opostas: desviar da bola e proteger da bola. Eu era boa tanto nos gols ou defendendo os outros jogadores quanto sobrevivendo sem ser atingida.

Com a sede de adrenalina que tinha, eu gostava de desafiar as meninas mais fortes do time adversário. A dor que eu sentira do choque era como a que eu sentia quando a bola me atingia, apenas um pouco mais forte. A mesma dormência no local, a mesma sensação do sangue fluindo para lá... tudo é como uma fisioterapia. Dói, eu sinto as pontadas, mas no final tudo o que resta é a sensação de conforto e satisfação. É como uma massagem. Eu sempre achei que, agitada como sou e de tanto cair e me machucar por causa disso, acabei ficando quase imune a esse tipo de dor.

É claro que eu só sentira aquilo fraco por causa do bracelete, mas, por causa dele ou não, aquilo ainda parecia só mais uma aula.

Um sorriso de expectativa se esboça em meu rosto.

De repente, tudo parece mais fácil.


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Notas finais do capítulo

Estou começando a achar que essa fic vai ter capítulos demais... acho que vou dividí-la em duas. O que vocês acham?
A descrição das sensações e das minhas aulas é fiel, tanto quanto possível. Nunca conseguirei descrever precisamente a sensação maravilhosa que sinto nessas situações.