Wake Up escrita por Neli


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472148/chapter/3

Meus olhos estavam nas ondas, o único som ao qual prestava atenção era o da água, indo e vindo, sem nunca parar, sem nunca se cansar...mas mesmo estando concentrado nisso, tentando ao máximo fazer com que assim meu coração e minha mente se calassem por pelo menos um instante, pude notar que ao meu lado, observando minha expressão levemente confusa e dolorida, Makoto sorria. Sorria como se estivesse observando uma criança perdida tentando se fazer de forte. Me dirigindo o mesmo olhar que dirigia aos seus irmãos menores quando faziam algo de errado e tinham medo de contar aos pais. Eu poderia ser uma completa negação para perceber e entender as emoções humanas, mas conhecia Makoto a tempo o bastante para perceber certas coisas apenas por seu olhar. Afinal somos amigos desde sempre.

Quando percebi que de nada adiantaria ignorá-lo, ou fingir que estava tudo bem, me virei para encará-lo, erguendo uma sobrancelha como se o desafiasse a dizer algo. Ele riu da minha expressão, enquanto se levantava e andava alguns passos pela areia como se fosse se aproximar do mar.

– No caminho pra cá eu me encontrei com o Rin. - ao dizer essas palavras ele se voltou para mim, sorrindo de forma brincalhona, enquanto via minha expressão surpresa. - Percebi que ele estava triste e perguntei o que havia acontecido. Ele não quis me dizer, mas bem, pude perceber que era algo relacionado a você. Afinal a única pessoa capaz de abalá-lo tão profundamente é você, Haru. - seu tom era calmo e claro, como se estivesse mesmo falando com uma criança. E é isso que eu devo ter parecido quando meus olhos se tornaram marejados e meu coração passou a bater descontroladamente em meu peito.

– Eu...não entendo o que você quer dizer Makoto. - virei meu rosto para o outro lado, tentando ignorar a forma como o mais alto me olhava; como se pudesse ver com perfeição meus sentimentos.

– O que eu quero dizer é que vocês são muito teimosos! - ele suspirou e então riu vendo minha expressão levemente ofendida ao olhar para ele. - Vocês dois tem mais em comum do que imaginam. Sempre tentando serem fortes, muitas vezes indiferentes. E quase sempre incapazes de se expressarem como querem. Ignoram o que sentem até se tornar insuportável. E são completamente apaixonados pela água! - ele disse a última frase bem alto, rindo enquanto abria os braços e se virava para o mar.

Quando ele baixou os braços e se virou novamente em minha direção, sempre sorrindo, encontrou em meu rosto uma expressão pensativa. Eu olhava para o mar tentando entender e absorver o que Makoto havia me dito, tentando me lembrar de todos os momentos que já havia passado com o Rin, ver todas as semelhanças que Makoto dizia que tínhamos. Lembrando de cada momento, de cada sorriso, de cada palavra...acabei sorrindo sem nem mesmo notar. Havia algo no ruivo que fazia meu coração se acalmar e minha mente ficar em branco. Era uma sensação muito parecida com a que eu tinha quando estava na água. Calma, plena e confortável. Como se o resto do mundo simplesmente não existisse, como se nada mais importasse. E quando me dei conta disso vi o sorriso do Makoto aumentar ainda mais.

– Você o ama? - ele perguntou com uma voz baixa e incrivelmente gentil.

Senti meus olhos se arregalarem com aquela pergunta. Sim, eu já havia admitido a mim mesmo que o amava então qual o problema? O problema era que dizer isso em voz alta, admitir não só para mim mesmo, mas também para o meu melhor amigo, aquele que era como um irmão para mim, uma das pessoas em que eu mais confiava...fazer isso parecia deixar tudo realmente oficial. Era deixar claro a tudo e a todos que eu amo Matsuoka Rin, que ele é a pessoa mais importante da minha vida e que a cada dia eu desejo mais e mais tê-lo perto de mim, tê-lo comigo. E essa ideia é realmente assustadora. Mas ao mesmo tempo ela poderia me libertar de uma vez por todas. Me libertar desse medo e dessa timidez que pareciam impossíveis de serem vencidas.

– Sim...sim eu o amo. – finalmente consegui dizer. Eu não conseguia encarar Makoto nos olhos, então mantive meu olhar baixo, na areia aos meus pés. Minha voz ainda era baixa, mas havia uma estranha seriedade nela. – E eu acho que sempre o amei. – disse por fim, finalmente encarando os olhos do meu melhor amigo.

Seus olhos eram gentis. Demonstravam compreensão e carinho. Naqueles olhos castanhos eu pude ver que ele sempre soube o que eu sempre tive medo de admitir a mim mesmo, pude ver que ele entendia e não se importava que dois dos seus melhores amigos estivessem apaixonados um pelo outro. Que ele apoiava essa decisão, e esteve sempre à espera que nós mesmos enxergássemos a verdade em nossos corações, para assim, juntar a coragem necessária para agir. Perceber isso me deixou incrivelmente leve. Era como se um grande peso tivesse saído de meus ombros.

– Então eu não acho que você deveria estar aqui Haru. – ele disse com uma expressão falsamente séria sentando-se novamente ao meu lado – Quando falei com o Rin mais cedo ele me disse que passaria alguns dias na casa dos pais. Na verdade, tanto a Gou, quanto seus pais viajaram em um passeio de família, e só vão voltar em alguns dias, então perguntei se ele tinha certeza de querer ficar sozinho. Até o convidei para dormir na minha casa, ou então na sua. – ele me mostrou um sorriso e piscou em minha direção. - Mas ele disse que seria melhor assim, já que precisava de algum tempo para “pensar na vida”. A essa hora ele já deve estar em casa. - ele terminou de falar com um olhar cúmplice, sorrindo daquela maneira tão típica sua.

Antes que pudesse pensar muito no que estava fazendo senti meu corpo se levantar e começar a correr enquanto murmurava um baixo “Obrigado Makoto”. Sabia que atrás de mim Makoto me observava com um sorriso imenso no rosto. Não precisei pensar muito no caminho que tomava, afinal conhecia bem aquele trajeto, o fiz várias e várias vezes quando criança, e até mesmo anos depois. Mesmo sabendo que ele não estaria lá para me receber com aquele sorriso e aqueles olhos que tanto me encantam, eu me pegava andando por essas ruas, indo em direção a casa da pessoa de quem senti tanta falta durante os anos que permanecemos afastados. Durante todo o tempo em que pensei que ele me odiava.

Antes que me desse conta já estava diante da casa de Rin. Era uma casa simples, nem muito grande, nem muito pequena, com o tamanho ideal para uma família de quatro pessoas. Por fora era pintada de um azul claro que lembrava o céu em um dia de verão; Seu portão era de madeira e baixo, e na frente havia um pequeno jardim em que a mãe dos ruivos costumava plantar algumas flores, que são seu passatempo e paixão preferida. Ao chegar ao portão parei por alguns minutos encarando a porta enquanto tentava acalmar minha respiração e as batidas de meu coração, que haviam ido à loucura com a pequena corrida. Quando finalmente consegui voltar a respirar normalmente resolvi abrir o portão, passar pelo pequeno jardim, e então bater na porta, mesmo não tendo conseguido acalmar também as batidas frenéticas em meu peito. Esperei por alguns instantes me perguntando se ele estaria mesmo ali, até que finalmente ouvi passos e então o som da porta de abrindo.

Sua expressão ao me ver parado em sua porta foi de completa surpresa e, porque não, descrença. Nós dois ficamos parados, sem saber o que falar ou fazer, encarando um ao outro em um silêncio incomodo e constrangedor.

– O-olá... – eu disse com a voz ligeiramente rouca e um tanto fraca. Agora que estava ali não sabia bem o que dizer, e ver sua expressão completamente surpresa não ajudou muito. Mas de alguma forma minha voz pareceu fazê-lo despertar de um transe. Seus olhos piscaram rapidamente e ele soltou a porta dando um passo para trás.

– Haru...o que está fazendo aqui? – sua voz não demonstrava nem raiva, nem felicidade, apenas medo. O modo como ele me olhou, com um olhar tão triste e magoado realmente me incomodou. Me lembrava muito o olhar que ele tinha quando o empurrei na noite anterior, e perceber isso fez com que uma estranha sensação tomasse conta do meu peito. Uma frustração e uma raiva que eu nunca havia sentido antes. Raiva não dele, mas de mim, da minha covardia e hesitação.

– Eu queria falar com você. É importante. – eu disse com uma voz firme e decidida. Tenho certeza de que ele percebeu o modo como meu olhar e minha voz se tornaram mais firmes, e isso fez com que sua expressão se tornasse séria. Ele poderia não saber o porquê de eu estar ali, mas minha atitude deixava bem claro que era sério.

– Já que é assim entre. – ele se afastou da porta permitindo que eu entrasse a fechando logo depois - Vou fazer um chá para bebermos, enquanto isso pode ficar na sala se quiser. A TV está ligada e bem...sinta-se em casa. – ao terminar de falar ele me deu um pequeno sorriso, que pude perceber facilmente, não havia sido fácil de mostrar. Ele estava se esforçando.

No momento em que ele estava prestes a sair da sala, indo em direção à cozinha, segurei seu braço o mantendo no lugar. Ele automaticamente olhou em meu rosto se surpreendendo em ver meu olhar firme em seus olhos. Quando ele virou seu corpo de frente ao meu, esperando que eu o soltasse, o surpreendi novamente deslizando meus dedos por seu braço e segurando sua mão firmemente.

– O que você está fazendo Haru? – sua voz era séria, mas eu pude sentir a incerteza por trás de suas palavras. Ele evitava me olhar nos olhos, mas permaneci em silêncio até que me olhasse. Assim que percebi que seus olhos avermelhados e brilhantes não se desviariam dos meus, comecei a falar.

– Eu nunca fui uma pessoa sentimental ou que consegue se expressar facilmente. Você sabe disso, todos sabem. E isso nunca me incomodou, afinal, demonstrar sentimentos nunca foi algo que considerei necessário. Mas essa é a primeira vez em que eu realmente quero dizer tudo o que sinto. Mas não é fácil, porque por muito tempo nem mesmo eu consegui entender o que se passava em meu coração. E, até mesmo agora, não entendo completamente. – senti minha voz fraquejar e mesmo contra a minha vontade, meus olhos se desviarem dos dele, indo direto ao chão - Mas tenho certeza de pelo menos uma coisa. – respirei fundo e voltei a encará-lo - Eu te amo. Te amo mais o que um dia imaginei que poderia amar alguém. Mais do que a água. Mais do que tudo. E a simples ideia de perdê-lo me deixa completamente aterrorizado. Eu também quero tê-lo comigo Rin. Hoje e sempre. – Pude ver novamente em seu rosto a expressão de completa surpresa e descrença que havia me mostrado quando me viu em sua porta, mas dessa vez em um nível muito superior. Senti seu braço ficar mole em minha mão, como se seu corpo tivesse ficado sem forças. E de alguma forma isso me deu forças para continuar a falar.

“Mas até pouco tempo atrás eu me recusava a aceitar e entender esses sentimentos. Então me desculpe Rin. Desculpe-me pela forma como agi ontem. Eu estava assustado demais com a ideia de finalmente ter que encarar tudo o que venho guardando há tanto tempo. Fui covarde e graças a isso te magoei e te afastei. E por isso eu realmente sinto muito.”

Ao terminar de falar me tornei incapaz de continuar o encarando. A última coisa que pude ver foram às lágrimas se juntando nos cantos daqueles belos olhos. E então soltei sua mão, que caiu ao lado de seu corpo fracamente, e baixei meu olhar encarando meus próprios pés. Não havia mais nada que eu quisesse ou pudesse dizer. Agora tudo o que poderia esperar era que ele me perdoasse por ter sido um completo idiota, e depois disso...bem, não havia pensado nisso ainda. Não tinha a menor ideia do que aconteceria a seguir, mas esperava que minha fraqueza na noite anterior não o tivesse machucado a ponto de mudar seus sentimentos por mim.

Não sei quando tempo permanecemos daquele jeito, parados como estátuas um de frente para o outro. Podem ter sido apenas alguns segundos, podem ter sido horas. Quando o silêncio começou a pesar sobre mim, e comecei a me perguntar se deveria apenas me virar e ir embora, senti algo sobre meu corpo. Depois do primeiro instante de surpresa entendi que era o Rin me abraçando, forte e desesperadamente, como eu mesmo havia feito um dia antes, e, novamente como antes, senti suas lágrimas em meu ombro. Por algum motivo não pude evitar sorrir nesse momento, e então me agarrei a sua jaqueta, o abraçando com força, pela primeira vez me sentindo completamente feliz e protegido. Deixei minhas lágrimas surgirem e se libertarem, sem culpa, sem medo. Eu estava com Rin. Com a pessoa que tanto amo, que sempre amei.

– Haru...obrigado! Obrigado por estar aqui Haru, obrigado por também me amar. – sua voz chorosa e falha me lembrou muito de quando ele me abraçou, logo depois de nadarmos em um revezamento pela segunda vez. A mesma voz emocionada e feliz, que causaram uma sensação em meu peito muito parecida com a que senti naquele dia: felicidade. E, como naquele dia, eu sorri ao ouvir essas palavras, sorri como uma criança que acaba de ganhar o melhor presente do mundo, aquele presente que sempre desejou.

Senti seus braços me soltarem devagar e seu corpo se afastar minimamente. Ele ergueu o rosto, já tendo parado de chorar, sorrindo da forma mais bela que já havia visto. Seu sorriso, assim como seus olhos avermelhados, sempre foram algo que me encantaram. Eles eram brilhantes como uma noite estrelada, radiantes como o sol de verão. Lindos, encantadores, apaixonantes. Quando o via sorrir daquela forma, tão infantil e pura, era quase impossível não fazer o mesmo. E olhando naqueles olhos tão alegres não percebi quando minha mão foi até seu rosto enxugando com delicadeza as lágrimas que ainda estavam lá. Seu rosto demonstrou surpresa com meu gesto, que logo foi substituída pela alegria. Ele riu e tocou minha mão a apertando mais contra seu rosto, seus olhos se fecharam e por um instante tudo o que vi foi seu rosto belo e sereno. Aos poucos fui me aproximando cada vez mais dele. Quando estava a apenas alguns centímetros ele abriu os olhos devagar. Seu olhar era sério e penetrante, demonstrava algo mais do que paixão ou carinho, mas também não era simples desejo. Era algo profundo, algo que eu não conseguia colocar em palavras, mas sabia que também sentia.

Senti quando sua mão tocou minha cintura me trazendo para mais perto. Senti quando a mão que segurava a minha em seu rosto tocou meu pescoço fazendo com que minha testa encostasse na dele. Senti meu coração se acelerar cada vez mais a cada centímetro que ficávamos mais perto. Vi seus lábios se aproximarem dos meus. E então fechei os olhos com força quando finalmente dei meu primeiro beijo.

O beijo começou de forma desajeitada e hesitante, nós dois estávamos nervosos e com certeza não tínhamos experiência alguma nisso. Aos poucos nossos lábios começaram a se mover, de forma lenta e tímida. Os braços do Rin me seguraram firmemente pela cintura, enquanto eu o abraçava pelo pescoço afundando meus dedos em seus cabelos, me perdendo naquela sensação. Não sei quanto tempo aquele primeiro beijo durou, mas ele foi seguido de muitos outros. A cada um ficávamos menos hesitantes, mais ousados e nossas respirações mais descontroladas. Quando finalmente nos afastamos e voltamos a olhar um para o outro, pude perceber que estava encostado a parede com o corpo do Rin grudado ao meu. Senti meu rosto esquentar e tive certeza de estava completamente corado. Desviei meus olhos enquanto soltava seu cabelo o segurando pelos ombros quando ele ameaçou se afastar completamente. Pude ouvir sua risada baixa e o olhando pelo canto do olho percebi que ele também estava completamente corado, mas assim como eu, extremamente feliz.

– Eu realmente te amo Haru. – seu sorriso era doce, e seus olhos demonstravam apenas carinho. Uma de suas mãos tocou meu rosto com delicadeza brincando com alguns fios de cabelo que estavam por perto.

– Sim, eu também te amo Rin. Sempre te amei e sempre vou te amar. – respondi também sorrindo e o abraçando novamente.

Naquele dia nos abraçamos e nos beijamos muitas vezes. Sentamos no sofá, assistimos a alguns filmes, almoçamos e jantamos juntos. E eu não queria ir embora. Não queria sair de perto dele e correr o risco de descobrir que tudo havia sido apenas um sonho. Mas ao cair no sono em seus braços, horas depois, me sentindo completamente protegido, amado e em paz, percebi que não havia motivo algum para temer. Afinal nós estávamos juntos. Nós sempre estaríamos juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Odiaram? Adoraria saber o que acharam :3

Elogios, críticas, surtos, tudo é bem vindo ♥

Essa foi minha primeira fic, e admito que fiquei bem insegura em alguns momentos, mas estou feliz por tê-la escrito. Espero que tenham aproveitado, nem que seja um pouco!

Eu particularmente gostei muito de escrever esse capítulo, apesar de ter tido alguns probleminhas com o final...Não sei se ficou tão bom quanto gostaria, mas garanto que me esforcei ao máximo! Por isso espero que gostem xD