Mais uma vez ela estava ali.

Enquanto todos almoçavam perto do lago, ela estava sentada num dos galhos de uma árvore no meio de um bosque próximo da casa.

Era bom ver tudo do alto, lhe trazia boas lembranças, lembranças de quando Jason a salvou da morte no Grand Cannyon. Ao pensar nisso o seu suspiro foi audível como um lamento.

Desde que haviam chegado naquele lugar ela sentia ele mais distante, quase como se a abominasse indiretamente.

“Será que a Reyna se sentiu assim no dia em que nós aterrissamos o Argo II em Nova Roma?” ela pensou pela milésima vez desde que chegara.

A brisa de verão veio acompanhada de minúsculos e fracos pingos de chuva que rapidamente se transformou em uma chuva grossa. Piper se viu obrigada a descer da árvore mais do que depressa. A chuva engrossara se transformando em uma tempestade. Ela ainda estava pendurada no galho, o pensamento estúpido de pular do galho mais alto a tomou e a queda não foi sutil.

De súbito veio a lembrança de quando Leo, Jason e ela caíram em Detroit durante a primeira parte da missão, ela queria Jason ali para ajudá-la a levantar com o tornozelo dolorido. A dor se estendia por todo o tornozelo da garota.

Ela se levantou reprimindo a dor e uma lagrima solitária escapou de seu olho direito sendo diluída pelos piscares de olho dela.

A garoa suave se transformou em um forte e inesperado temporal, onde se conseguia ver apenas alguns metros á frente sem que caísse no chão enlameado.

“Por que a deusa da sorte me odeia tanto?” ela se perguntou enquanto tentava sem muito sucesso andar de volta para casa e ignorar a dor latejante.

Situação atual:

Sozinha

No meio de um temporal em pleno verão

Possibilidade de um tornozelo torcido pela segunda vez

Necessitando de algum GPS ou mapa que a levasse de volta para a Casa Do Lago dos Zhang.

Cada passo que dava era sinônimo de dor para ela e estar perdida no meio da trilha não era lá uma vantagem. Mesmo assim ela continuava a mancar na direção leste, pois se lembrava vagamente de Annabeth os instruindo de como chegar á casa caso se perdessem na mini floresta.

Quando finalmente chegou perto do local procurado, começou a ouvir a voz de Jason gritando e chamando por ela, mas ele não era o único. Todos os seus amigos a chamavam por meio de gritos, apesar de que parecia cada vez mais longe. A dor no tornozelo estava agora mais aguda e a tontura era apenas uma consequência disso. Leo e Reyna chegando para socorrê-la foi a última coisa que viu antes de tombar no chão e desmaiar.

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Ela estava numa tribo Cherokee no meio de um festejo.

Era a música que seu pai lhe contara a história, era a música da cobra. A música era a origem do seu nome, não que “Piper” significasse cobra, mas aparentemente um índio cherokee matou a esposa que amava para que não houvesse uma guerra entre humanos e cobras.

– Menina bonita? Sabe a canção da cobra? – perguntou para a surpresa de Piper seu avô.

– Vovô Tom? O que o senhor faz aqui?

O vô abriu um de seus famosos sorrisos sábios esperando a resposta. Ela percebeu isso depois de alguns minutos.

– Sei.

– Então... – ele disse se aproximando mais dela- Não a cante. Cantamos essa música quando temos que abrir mão de algo, menina bonita, você já abriu mão de tudo o que tinha.

– Mas...

Ele tampou-lhe a boca com seu dedo enrugado e deu mais um de seus sorrisos.

– Você vai entender, neta bonita.

Ele falou “neta”, não “menina”, Piper se sentia próxima dele agora, foi aí que ele começou a gritar e bater no tornozelo da garota. Piper gritava em seu sonho e a imagem de seu avô transformou-se em Quione, a deusa da neve que ela mais odiava.

Ela quase perdeu Jason para Quione, agora Jason estava a deixando por livre e espontânea vontade.

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Duas horas depois de ficar inconsciente, ela abre os olhos devagar, com medo da claridade que a esperava. Quando finalmente os abriu por completo, ela obsrvou que não estava mais no seu quarto temporário na casa no lago, tentou sentar-se e quando fez isso notou o enfaixamento no tornozelo. Só de olhar sentia a dor latejante.

– Mas quê? – ela pergunto para si mesma pressionando a mão livre na cabeça, afastando assim, o cabelo.

Reyna entrou no quarto e sorriu ao ver a amiga acordada.

– Piper! Você nos deu um belo susto. Jason quase morreu de tanta preocupação.

A notícia de que Jason ainda se preocupava quase a fez sorrir. Quase.

Reyna foi até a porta e a abriu colocando apenas a cabeça pra fora.

– Meninas! Venham cá! Ela finalmente acordou! – ela gritou para o corredor. Voltou logo em seguida com o olhar para Piper – É sério, ficamos preocupados, Leo e eu te achamos semiconsciente no bosque com o tornozelo torcido e toda molhada, além de suja de lama.

Piper a encarou surpresa com o diagnóstico detalhado de Reyna e Reyna sustentou o olhar. Depois de um tempo Piper encarou suas roupas e percebeu estar com um pijama curto e de cotón branco.

– Nós te trocamos, aquelas roupas só estavam a situação, pensamos que você acabaria pegando uma hipotermia se ficasse com a roupa molhada. – ela revelou.

Dentro de alguns minutos depois, as meninas todas estavam reunidas no quarto, o que fez Piper se sentir um pouco melhor. Um pouco, pois ela já sabia que em algum momento Jason chegaria perto dela e terminaria o relacionamento entre os dois.

E é só falar na coisa que tudo começa a acontecer!

Jason entrou no quarto e abriu um sorriso ao ver uma Piper de pijama e desgrenhada, logo em seguida as meninas saíram do quarto com sorrisos maliciosos para o casal.

“Droga! É agora!” ela pensou mordendo o lábio inferior.

Jason começou a falar.

– Eu fiquei tão preocupado com você. – ele disse com o olhar azul encarando Piper que apenas virou o rosto.

– Preocupado com sua futura ex. – ela sussurrou tristemente. O fato é que Jason ouviu tudo claramente.

– Como assim? – ele falou surpreso.

– Desde que chegamos aqui você está distante. – ela desabafou tentando evitar as lágrimas de caírem – Se você não quer mais me namorar apenas me diga para que eu tenha certeza pelo que exatamente eu estou sofrendo.

Jason riu e Piper ficou chocada com a reação dele.

– Eu sinceramente não sei pelo o quê você está sofrendo. Eu queria te fazer uma surpresa, uma coisa que eu pudesse fazer com as minhas próprias mãos. Eu estava longe de você por causa disso. Amanhã é o nosso aniversário de namoro. 11 meses. – ele falou.

Ela ainda não havia dito nada depois da revelação e ele tirou do bolso da calça jeans uma caixinha. Ele a abriu revelando uma pulseira de fio de couro com penas verdes, azuis e marrons com um pingente prata em forma de relâmpago.

– Eu que fiz. As penas representam seus olhos, a característica que eu mais amo em você, o relâmpago sou eu, um dos meus dons além de voar, e o fio é a nossa união. Eu te amo, Piper McLean, e nunca vou deixar de te amar.

Ele devolvera o “eu te amo” que ela deu á ele. Ela deu um beijo misturado as lágrimas e ao alívio de que ele ainda era seu.