Páginas Esquecidas escrita por Napalm
Notas iniciais do capítulo
Ei, pessoas! Novo capítulo!
– Vamos ter que ficar por aqui tempo suficiente pra que desistam de procurar por nós e se mandem. – Fergo comentou. – Melhor tentar relaxar um pouco. Por um lado é bom porque Reeve pode se recuperar antes de sair correndo de novo.
– Ficar aqui?! – Jessica choramingou. – Não! Má ideia!
– Não tem outro jeito. A vila está cercada e seria muito fácil nos apanhar. Mas com sorte, não vão encontrar nosso esconderijo.
– Não há outra saída daqui? – Reeve perguntou.
– Aparentemente não. – Fergo respondeu.
– Você é daqui? Digo, morou em Gaela? – Indaguei. – Como sabia deste lugar?
– Não… – Ele fez uma cara como se pensasse em algo muito complexo. – Vamos dizer que já estive aqui antes.
– Por que você nos ajudou?
– Tente não se preocupar demais!
Fergo foi até uma das mesas e se sentou num dos banquinhos de madeira que havia em volta. Mexeu nos óculos com a ponta do dedo e falou:
– Eu estava por perto e vi os helicópteros da Grande Cidade chegando. Boa coisa não podia ser…
– Eram helicópteros da Grande Cidade? – Jessica perguntou, espantada.
– Sim, você não viu o símbolo neles? Aqueles dois cês de cor azul-celeste.
Eu não tinha reparado se realmente os helicópteros que nos atacaram continham aquele símbolo gravado.
– Será que é o mesmo símbolo dos tubos? – Jess se perguntou.
– Eram. Eu vi quando um deles passou. – Reeve falou. – Quer dizer então que aquilo é mesmo o símbolo da Grande Cidade? Por que eles estão aqui no ocidente?
– E por que tentaram matar a gente? – Completei a série de questões.
– Sei que vocês tem muitas dúvidas. Eu vou tentar compartilhar o que sei, embora não seja muita coisa.
– Conte-nos! – Jess disse, ansiosa. – O pessoal do outro continente nunca vem para estes lados! Não sabemos nada deles!
Fergo acenou para que tivéssemos calma e pigarreou.
– O símbolo dos dois cês já foi usado uma vez pela Corporação Celestia. Daí o símbolo, das iniciais da corporação. – Ele começou. – A Corporação Celestia foi a maior fábrica de armas letais do mundo e maior campo de pesquisa concentrada em ciência e filosofia. A dona da corporação, Ramona Celestia, ficou tão poderosa por suas realizações que não demorou muito para que dominasse e monopolizasse tudo: desde produtos e militâncias a pessoas e terras.
“Com dinheiro e tecnologia beirando a infinidade, Ramona derrubou completamente o outro continente com o exército que montou. E então nasceu o que aqui vocês chamam de Grande Cidade, que na verdade, é um aglomerado de vilas do outro continente comandados por Ramona, que se autodeclara Grande Imperatriz.”
Ramona Celestia. Como eu poderia nunca ter ouvido falar dela ou dessa história?
– Por quê ninguém nesta ilha sabe dessas coisas?
Fergo inclinou os ombros.
– Só tenho suposições. Talvez, por algum motivo, Ramona quis retirar essa ilha do mapa e privou a população de todos acontecimentos do outro continente…
Era muito estranho.
– Eu não sei dizer se isso é bom ou ruim. – Fergo continuou. – A Grande Cidade não tem nada de bonito ou interessante. Imagine um presídio gigantesco. É mais ou menos desse jeito, porém a céu aberto.
– Você já esteve na Grande Cidade? – Jess perguntou, encantada.
– Sim. Aparentemente não teria outra maneira de saber do que eu sei.
– E por que você saiu de lá? – Perguntei.
Fergo mexeu levemente na gola de sua blusa.
– É como eu disse… A Grande Cidade é como o inferno na Terra. Ninguém tem motivos para ficar lá.
– E os tubos? – Jess quis saber.
– Que tubos?
– Os tubos gigantes!
Fergo olhou para mim e Reeve, sem entender.
– Acho que não sei do que você está falando.
– Existem tubos metálicos nas vilas desta ilha, com o símbolo da Grande Cidade desenhado neles.
Fergo pensou por um instante.
– Eu não sei do que se trata. – Falou, enfim. – Gostaria de ver algum.
Ainda tinha a questão principal para se fazer.
– Mas por quê a Grande Imperatriz está atrás de nós? O que essa mulher quer com a gente?
– Não sei. – Fergo respondeu. – Pode ser que você represente algum perigo para ela.
Jess andou devagar até mim e aproximou sua face para me olhar nos olhos o mais próximo que conseguisse. Então, perguntou:
– Você é terrorista, amiga?
– Você sabe que não, Jess.
– Ah, que bom. – Fergo disse, rindo. – Por um instante, pensei ter salvado um bando de foras-da-lei.
– É verdade, você nos salvou. – Comecei, desviando-me de Jess e andando até ele. – Somos inocentes e não fazemos ideia do porquê de estarmos sendo caçados por essa tal Ramona. Mas e se fossemos algum tipo de grupo de bandidos? Como você poderia saber? Teria nos ajudado assim mesmo?
Fergo ajeitou seus óculos sobre o nariz e me olhou por cima das lentes.
– Sim.
Ficamos sem reação com a resposta.
– Não me entendam mal. Ninguém tem direito de tirar a vida de ninguém e aqueles caras estavam atirando pra matar. Mesmo se vocês fossem a pior espécie de gente, ainda assim não mereceriam a morte.
Houve um silêncio por algum tempo. Fergo claramente havia cativado a Jess e Reeve. Mas eu ainda tinha minhas dúvidas sobre ele. Alguma coisa não se encaixava naquela história. E eu havia aprendido a confiar nas minhas intuições.
Dei as costas ao grupo e comecei a vagar pelo local. Era bastante extenso, deveria caber duas praças de Cersa ali. Havia algumas prateleiras nas paredes, preenchidas com vários livros. Interessei-me por eles e fui folheá-los. Para minha surpresa, eram todos manuscritos. A prateleira continha uns vinte livros e todos com a mesma caligrafia.
Haviam todos sidos escritos pela mesma pessoa.
Quem poderia ser?
Comecei a lê-los, mas eram específicos demais. Uns falavam sobre incisões de satélites no espaço, outros sobre um novo tipo de matéria, outros sobre leis antigravitacionais…
Leis antigravitacionais. Essa é nova.
Subitamente, ao abrir um dos livros, algumas folhas que estavam soltas caíram sobre o chão. Alcancei-as para vê-las de perto. Era completamente diferente do restante dos livros. A caligrafia era extremamente diferente. Parecia que alguma criança havia rabiscado aquilo e colocado ali. Observando melhor, pude perceber que era um desenho. Uma representação esquisita de uma pessoa alta e uma menor de mãos dadas. O maior usava óculos e a menor tinha o cabelo longo preso de um lado só da cabeça.
– Niele? – Reeve aparecera na hora. Eu havia tomado um susto com a aparição repentina dele. – Perdão, não quis te assustar.
– Tudo bem. – Eu disse, guardando o livro de volta na prateleira. – Está melhor?
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
– Alguma ideia pra onde vamos agora?
– Nenhuma concreta… – Eu disse. – Estou com medo de voltar pra Cersa. Medo de que esses soldados da Grande Cidade nos persiga até lá e deixem algum ferido.
– Será que foi a Grande Imperatriz quem destruiu Gaela?
Eu não tinha parado pra pensar sobre isso.
– Não sei, Reeve. Talvez.
– Acho que estavam atrás desse tal Emmet. – Reeve começou, sério. – Ele é de Gaela. Provavelmente a Grande Imperatriz queria ver esse cara morto de qualquer jeito. Então ela destruiu a vila. Emmet fugiu. Desde então está fugindo e indo de vila em vila, nunca ficando num lugar só. Então, quando os soldados da Grande Cidade nos viram com ele, pensaram que éramos seus cúmplices e vieram atrás de nós.
Refleti o que ele disse por alguns instantes. Fazia bastante sentido.
– Pode ser. Mas não consigo atribuir àquele garoto tanta importância. Ser caçado por um exército?
– Talvez Emmet tenha nos chamado aqui para pedir ajuda. A Grande Imperatriz deve ter temido que ele tivesse arranjado um exército também. Não sei.
– Mas ele te esfaqueou. Como isso é pedir ajuda?
– Ele deve ter ficado sabendo que a Grande Imperatriz sabia de seu paradeiro. Daí ele me feriu, para que ficássemos de isca enquanto ele fugia.
Então me lembrei de algo estranho.
– Reeve… Você viu para onde Emmet correu quando os helicópteros chegaram?
– Eu estava ferido, não prestei atenção.
– Eu não me lembro de ter visto ele corrido ou algo do tipo.
Ele havia ficado lá parado, olhando para o céu como se não estivesse nada acontecendo.
Ficamos pensando por algum tempo. As coisas ficavam cada vez mais sinistras.
– Achou algo interessante? – Reeve perguntou, referindo-se aos livros.
– Eu não entendi nada. São difíceis de ler, específico demais. Mas talvez você consiga extrair alguma informação.
Reeve aproximou da prateleira e começou a passar os olhos pelas folhas.
– Caramba. A pessoa que escreveu essas coisas esteva realmente ocupada.
– Consegue dizer do que se trata?
– Eu preciso analisar mais a fundo.
– Vou deixar você pesquisando. Vou ver como está a Jess. Não a quero sozinha com aquele cara.
Reeve balançou a cabeça confirmando, absorto na leitura.
Fiquei andando pelo local por algum tempo, pensando no que fazer agora em diante. Quanto mais eu pensava, mas eu chegava a conclusão de que Emmet estava certo. Não dava para competirmos com helicópteros e um exército atrás de nós. Ouvi coisas se mexendo lá em cima. Senti um arrepio.
Pensa, Niele. Deve existir uma solução.
Quando cheguei no local onde Fergo e Jessica estavam, pude ouvir um fragmento do que estavam conversando.
– Tem certeza que nunca morou em Cersa? – Jess perguntava.
– Eu nunca nem fui neste lugar.
– Você pode ter se esquecido! Eu tenho certeza que já vi você em Cersa.
– Não, minha cara. Eu posso te confirmar que minha memória está em perfeito estado. Nunca estive em Cersa e nós não nos conhecemos.
Neste momento, Reeve nos alcançou, sorridente:
– Encontrei uma coisa que vai ajudar a gente!
Olhamos para ele apreensivos.
– No meio daqueles livros, tinha uma planta deste lugar. Parece que o local foi completamente projetado e construído pelo autor daqueles livros.
Ele nos mostrou uma folha velha que estava colada em outra, com uma planta civil desenhada a mão.
– Existe uma passagem este lugar que dá do lado de fora da vila. Pelo menos, existe na planta.
– Uma passagem secreta? – Jess perguntou, excitada. – Vamos procurar!
Ela deu um salto e um grito de alegria e começou a apalpar as paredes.
– Parece que a passagem é pelo subterrâneo. – Fergo disse, examinando a planta.
– Deve estar sob um desses tubos. – Confirmei.
Nos separamos e começamos a empurrar os tubos do local, enquanto Jess apalpava as paredes. Depois de algumas tentativas, um dos tubos que eu empurrei cedeu, deslocando-se para o lado e revelando um novo alçapão.
– Gente, aqui. – Avisei. Eles correram até onde eu estava para ver.
– Tem que ser aqui. – Começou Reeve – Este túnel vai nos levar até as docas.
– Sim. – Jess acrescentou. – Mas de lá para onde vamos?
– Fergo. – Eu o chamei. Ele se virou para mim:
– Sim?
– Preciso que você me diga como chegou até aqui.
– Como assim? Até aqui em Gaela?
– Não. Como você fez para cruzar o mar e chegar até a Ilha de Zedd.
Ele se reclinou.
– Não foi fácil. Eu tive ajuda de alguns amigos.
– Quero que você nos leve até estes amigos. Sendo mais clara, quero que você nos guie até a Grande Cidade.
Jess me olhou espantada.
– Niele, você tá bem? Eles vão matar a gente. Má ideia!
– Você pode ficar se quiser.
Jess apenas se calou, chateada.
Fergo pensou por alguns momentos, olhando em meus olhos. Mexeu nos óculos com a ponta do dedo e finalmente falou:
– Como desejar.
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Até o próximo!