Páginas Esquecidas escrita por Napalm


Capítulo 6
Sob o Perigo, Sobre o Perigo


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoas! Novo capítulo!



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– Vamos ter que ficar por aqui tempo suficiente pra que desistam de procurar por nós e se mandem. – Fergo comentou. – Melhor tentar relaxar um pouco. Por um lado é bom porque Reeve pode se recuperar antes de sair correndo de novo.

– Ficar aqui?! – Jessica choramingou. – Não! Má ideia!

– Não tem outro jeito. A vila está cercada e seria muito fácil nos apanhar. Mas com sorte, não vão encontrar nosso esconderijo.

– Não há outra saída daqui? – Reeve perguntou.

– Aparentemente não. – Fergo respondeu.

– Você é daqui? Digo, morou em Gaela? – Indaguei. – Como sabia deste lugar?

– Não… – Ele fez uma cara como se pensasse em algo muito complexo. – Vamos dizer que já estive aqui antes.

– Por que você nos ajudou?

– Tente não se preocupar demais!

Fergo foi até uma das mesas e se sentou num dos banquinhos de madeira que havia em volta. Mexeu nos óculos com a ponta do dedo e falou:

– Eu estava por perto e vi os helicópteros da Grande Cidade chegando. Boa coisa não podia ser…

– Eram helicópteros da Grande Cidade? – Jessica perguntou, espantada.

– Sim, você não viu o símbolo neles? Aqueles dois cês de cor azul-celeste.

Eu não tinha reparado se realmente os helicópteros que nos atacaram continham aquele símbolo gravado.

– Será que é o mesmo símbolo dos tubos? – Jess se perguntou.

– Eram. Eu vi quando um deles passou. – Reeve falou. – Quer dizer então que aquilo é mesmo o símbolo da Grande Cidade? Por que eles estão aqui no ocidente?

– E por que tentaram matar a gente? – Completei a série de questões.

– Sei que vocês tem muitas dúvidas. Eu vou tentar compartilhar o que sei, embora não seja muita coisa.

– Conte-nos! – Jess disse, ansiosa. – O pessoal do outro continente nunca vem para estes lados! Não sabemos nada deles!

Fergo acenou para que tivéssemos calma e pigarreou.

– O símbolo dos dois cês já foi usado uma vez pela Corporação Celestia. Daí o símbolo, das iniciais da corporação. – Ele começou. – A Corporação Celestia foi a maior fábrica de armas letais do mundo e maior campo de pesquisa concentrada em ciência e filosofia. A dona da corporação, Ramona Celestia, ficou tão poderosa por suas realizações que não demorou muito para que dominasse e monopolizasse tudo: desde produtos e militâncias a pessoas e terras.

“Com dinheiro e tecnologia beirando a infinidade, Ramona derrubou completamente o outro continente com o exército que montou. E então nasceu o que aqui vocês chamam de Grande Cidade, que na verdade, é um aglomerado de vilas do outro continente comandados por Ramona, que se autodeclara Grande Imperatriz.”

Ramona Celestia. Como eu poderia nunca ter ouvido falar dela ou dessa história?

– Por quê ninguém nesta ilha sabe dessas coisas?

Fergo inclinou os ombros.

– Só tenho suposições. Talvez, por algum motivo, Ramona quis retirar essa ilha do mapa e privou a população de todos acontecimentos do outro continente…

Era muito estranho.

– Eu não sei dizer se isso é bom ou ruim. – Fergo continuou. – A Grande Cidade não tem nada de bonito ou interessante. Imagine um presídio gigantesco. É mais ou menos desse jeito, porém a céu aberto.

– Você já esteve na Grande Cidade? – Jess perguntou, encantada.

– Sim. Aparentemente não teria outra maneira de saber do que eu sei.

– E por que você saiu de lá? – Perguntei.

Fergo mexeu levemente na gola de sua blusa.

– É como eu disse… A Grande Cidade é como o inferno na Terra. Ninguém tem motivos para ficar lá.

– E os tubos? – Jess quis saber.

– Que tubos?

– Os tubos gigantes!

Fergo olhou para mim e Reeve, sem entender.

– Acho que não sei do que você está falando.

– Existem tubos metálicos nas vilas desta ilha, com o símbolo da Grande Cidade desenhado neles.

Fergo pensou por um instante.

– Eu não sei do que se trata. – Falou, enfim. – Gostaria de ver algum.

Ainda tinha a questão principal para se fazer.

– Mas por quê a Grande Imperatriz está atrás de nós? O que essa mulher quer com a gente?

– Não sei. – Fergo respondeu. – Pode ser que você represente algum perigo para ela.

Jess andou devagar até mim e aproximou sua face para me olhar nos olhos o mais próximo que conseguisse. Então, perguntou:

– Você é terrorista, amiga?

– Você sabe que não, Jess.

– Ah, que bom. – Fergo disse, rindo. – Por um instante, pensei ter salvado um bando de foras-da-lei.

– É verdade, você nos salvou. – Comecei, desviando-me de Jess e andando até ele. – Somos inocentes e não fazemos ideia do porquê de estarmos sendo caçados por essa tal Ramona. Mas e se fossemos algum tipo de grupo de bandidos? Como você poderia saber? Teria nos ajudado assim mesmo?

Fergo ajeitou seus óculos sobre o nariz e me olhou por cima das lentes.

– Sim.

Ficamos sem reação com a resposta.

– Não me entendam mal. Ninguém tem direito de tirar a vida de ninguém e aqueles caras estavam atirando pra matar. Mesmo se vocês fossem a pior espécie de gente, ainda assim não mereceriam a morte.

Houve um silêncio por algum tempo. Fergo claramente havia cativado a Jess e Reeve. Mas eu ainda tinha minhas dúvidas sobre ele. Alguma coisa não se encaixava naquela história. E eu havia aprendido a confiar nas minhas intuições.

Dei as costas ao grupo e comecei a vagar pelo local. Era bastante extenso, deveria caber duas praças de Cersa ali. Havia algumas prateleiras nas paredes, preenchidas com vários livros. Interessei-me por eles e fui folheá-los. Para minha surpresa, eram todos manuscritos. A prateleira continha uns vinte livros e todos com a mesma caligrafia.

Haviam todos sidos escritos pela mesma pessoa.

Quem poderia ser?

Comecei a lê-los, mas eram específicos demais. Uns falavam sobre incisões de satélites no espaço, outros sobre um novo tipo de matéria, outros sobre leis antigravitacionais…

Leis antigravitacionais. Essa é nova.

Subitamente, ao abrir um dos livros, algumas folhas que estavam soltas caíram sobre o chão. Alcancei-as para vê-las de perto. Era completamente diferente do restante dos livros. A caligrafia era extremamente diferente. Parecia que alguma criança havia rabiscado aquilo e colocado ali. Observando melhor, pude perceber que era um desenho. Uma representação esquisita de uma pessoa alta e uma menor de mãos dadas. O maior usava óculos e a menor tinha o cabelo longo preso de um lado só da cabeça.

– Niele? – Reeve aparecera na hora. Eu havia tomado um susto com a aparição repentina dele. – Perdão, não quis te assustar.

– Tudo bem. – Eu disse, guardando o livro de volta na prateleira. – Está melhor?

Ele balançou a cabeça afirmativamente.

– Alguma ideia pra onde vamos agora?

– Nenhuma concreta… – Eu disse. – Estou com medo de voltar pra Cersa. Medo de que esses soldados da Grande Cidade nos persiga até lá e deixem algum ferido.

– Será que foi a Grande Imperatriz quem destruiu Gaela?

Eu não tinha parado pra pensar sobre isso.

– Não sei, Reeve. Talvez.

– Acho que estavam atrás desse tal Emmet. – Reeve começou, sério. – Ele é de Gaela. Provavelmente a Grande Imperatriz queria ver esse cara morto de qualquer jeito. Então ela destruiu a vila. Emmet fugiu. Desde então está fugindo e indo de vila em vila, nunca ficando num lugar só. Então, quando os soldados da Grande Cidade nos viram com ele, pensaram que éramos seus cúmplices e vieram atrás de nós.

Refleti o que ele disse por alguns instantes. Fazia bastante sentido.

– Pode ser. Mas não consigo atribuir àquele garoto tanta importância. Ser caçado por um exército?

– Talvez Emmet tenha nos chamado aqui para pedir ajuda. A Grande Imperatriz deve ter temido que ele tivesse arranjado um exército também. Não sei.

– Mas ele te esfaqueou. Como isso é pedir ajuda?

– Ele deve ter ficado sabendo que a Grande Imperatriz sabia de seu paradeiro. Daí ele me feriu, para que ficássemos de isca enquanto ele fugia.

Então me lembrei de algo estranho.

– Reeve… Você viu para onde Emmet correu quando os helicópteros chegaram?

– Eu estava ferido, não prestei atenção.

– Eu não me lembro de ter visto ele corrido ou algo do tipo.

Ele havia ficado lá parado, olhando para o céu como se não estivesse nada acontecendo.

Ficamos pensando por algum tempo. As coisas ficavam cada vez mais sinistras.

– Achou algo interessante? – Reeve perguntou, referindo-se aos livros.

– Eu não entendi nada. São difíceis de ler, específico demais. Mas talvez você consiga extrair alguma informação.

Reeve aproximou da prateleira e começou a passar os olhos pelas folhas.

– Caramba. A pessoa que escreveu essas coisas esteva realmente ocupada.

– Consegue dizer do que se trata?

– Eu preciso analisar mais a fundo.

– Vou deixar você pesquisando. Vou ver como está a Jess. Não a quero sozinha com aquele cara.

Reeve balançou a cabeça confirmando, absorto na leitura.

Fiquei andando pelo local por algum tempo, pensando no que fazer agora em diante. Quanto mais eu pensava, mas eu chegava a conclusão de que Emmet estava certo. Não dava para competirmos com helicópteros e um exército atrás de nós. Ouvi coisas se mexendo lá em cima. Senti um arrepio.

Pensa, Niele. Deve existir uma solução.

Quando cheguei no local onde Fergo e Jessica estavam, pude ouvir um fragmento do que estavam conversando.

– Tem certeza que nunca morou em Cersa? – Jess perguntava.

– Eu nunca nem fui neste lugar.

– Você pode ter se esquecido! Eu tenho certeza que já vi você em Cersa.

– Não, minha cara. Eu posso te confirmar que minha memória está em perfeito estado. Nunca estive em Cersa e nós não nos conhecemos.

Neste momento, Reeve nos alcançou, sorridente:

– Encontrei uma coisa que vai ajudar a gente!

Olhamos para ele apreensivos.

– No meio daqueles livros, tinha uma planta deste lugar. Parece que o local foi completamente projetado e construído pelo autor daqueles livros.

Ele nos mostrou uma folha velha que estava colada em outra, com uma planta civil desenhada a mão.

– Existe uma passagem este lugar que dá do lado de fora da vila. Pelo menos, existe na planta.

– Uma passagem secreta? – Jess perguntou, excitada. – Vamos procurar!

Ela deu um salto e um grito de alegria e começou a apalpar as paredes.

– Parece que a passagem é pelo subterrâneo. – Fergo disse, examinando a planta.

– Deve estar sob um desses tubos. – Confirmei.

Nos separamos e começamos a empurrar os tubos do local, enquanto Jess apalpava as paredes. Depois de algumas tentativas, um dos tubos que eu empurrei cedeu, deslocando-se para o lado e revelando um novo alçapão.

– Gente, aqui. – Avisei. Eles correram até onde eu estava para ver.

– Tem que ser aqui. – Começou Reeve – Este túnel vai nos levar até as docas.

– Sim. – Jess acrescentou. – Mas de lá para onde vamos?

– Fergo. – Eu o chamei. Ele se virou para mim:

– Sim?

– Preciso que você me diga como chegou até aqui.

– Como assim? Até aqui em Gaela?

– Não. Como você fez para cruzar o mar e chegar até a Ilha de Zedd.

Ele se reclinou.

– Não foi fácil. Eu tive ajuda de alguns amigos.

– Quero que você nos leve até estes amigos. Sendo mais clara, quero que você nos guie até a Grande Cidade.

Jess me olhou espantada.

– Niele, você tá bem? Eles vão matar a gente. Má ideia!

– Você pode ficar se quiser.

Jess apenas se calou, chateada.

Fergo pensou por alguns momentos, olhando em meus olhos. Mexeu nos óculos com a ponta do dedo e finalmente falou:

– Como desejar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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