Apenas um olhar escrita por Eubha


Capítulo 130
Capítulo 130:




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Parecia até que o tempo havia parado para ambos, uma sensação de nervosismo e melancolia os dominava, nenhum e nem outro tinha coragem ou palavras que fossem suficientes para se pronunciarem, o receio de quebrarem algo com ainda mais força dentro deles parecia se manifestar. A verdade é que o medo de não saberem concertar tudo aquilo que já estava bastante quebrado  os rondava como um fantasma maligno.

Anita e Ben ergueram o olhar do chão em direção um ao outro sem saberem ao certo o que fazerem...

— Eu...  – Eu, me desculpa, de onde você veio, que eu não te vi. – Ben justificou afoito, absurdamente apavorado com a situação criada.  Não sabia o que pensar, ou mesmo interpretar com clareza como havia se dado o episódio,  só nesse momento via Anita à sua frente totalmente enxercada com o copo de suco que ele carregava em mãos. Mas, uma insegurança sem fim o abateu,  fazendo ele temer que ela achasse que tudo não passou de um ato proposital causado por ele.

— Bom, do lado oposto que você, eu acho. – Anita respondeu entre um sorriso curto, olhando a blusa molhada uma segunda vez. Ela só o encarou com nervosismo, desconcertada, não sabendo como agir. Talvez ainda estivesse sob efeito da trombada que ele lhe deu.

— Deus, você tá bem. – ele levou as mãos ao rosto repleto de preocupação e culpa. Devia ter andado menos distraído e prestar atenção no caminho que percorria.  – Eu te machuquei.  – ele perguntou, tocando seu ombro  e a lançando um olhar atencioso e com receio.

Por um instante Anita até esqueceu de todo desastre, e sorriu alegre diante da preocupação excessiva dele. – To sim, é... – ela gaguejou  notando estar sem voz, o que foi só piorando com sua tentativa  de recuperar a fala. – Então, mais é minha blusa pode não concordar, mais assim tudo bem. - Anita disse, e os dois riram cúmplices por segundos, junto a uma troca de olhares saudosos, mais o silêncio logo voltou novamente, Anita temeu estar enchendo seu coração de falsas esperanças, o que só traria mais decepção, uma nuvem ruim foi dominando seus pensamentos como nos últimos dias.

— Anita, hei... – Anita. – Ben não entendeu o jeito mudo com que ela passou a se portar, mas podia julgar com quase todas suas certezas que ela havia ficado  com a expressão triste de repente.

— Oi é, não tá tudo certo. – ela acordou-se atormentada de seus devaneios.

Ben a encarou sem acreditar muito, internamente, se sentiu chateado pela distância dos dois, ele não queria esperar Anita dizer o que estava errado, queria perguntar, queria poder ajuda-la, queria estar novamente do lado dela, não queria mais ter que se sentir sufocado com aquela barreira invisível, que todo tempo estava impedindo os dois de estarem perto um do outro, sempre que a saudade falasse mais alto. A grande verdade que ele nem queria admitir a si mesmo, é que no fundo, estava morrendo por dentro devido a aquela situação.

Anita sentiu a sensação de estar sem voz novamente vindo em cheio, quando procurou internamente palavras que a fizesse se justificar melhor, mas se viu perdida. E só notou seu coração piorando toda sensação de dissabor, conforme batia forte e descompassado, sem rumo, sem jeito, ela estava tomada por estas sensações.

— Bom eu tenho que ir.  – ela olhou em volta confusa. – Bom você pode fazer o favor de entregar isso aqui pro Omar, Ronaldo tinha me pedido, mais enfim. – Anita recordou, olhando para sua mão segurando o objeto. Precisava ir embora, a clausura de seu quarto era o lugar mais seguro agora, o único lugar que poderia achar que estava a salvo de toda mágoa que poderia sentir, na verdade pensando com sinceridade, já sentia, só não queria aumentar ainda mais essa imensidão obscura.

Um abalo causado por chateação atingiu Ben por completo, ela estava ali por coincidência, não foi por ele, que esperança boba havia se apegado, foi tão tolo, imaginou com desanimo. – Estranho. – ele fala com desatenção, já que estava mais mergulhado em seus próprios dilemas.

— Como assim, o que. – Anita arregalou o olhar impressionada, do que ele estava falando, o que ele ainda poderia querer... Não queria saber, só desejava ir para bem longe dali, e de pressa, de preferência o mais rápido que pudesse. Porque Ben tinha sempre que lhe tirar por completo, sua capacidade de raciocínio, de agir, se comportar, porque ela estava tão ligada, absurdamente dependente a ele, isso tinha que parar, precisava parar de sentir, tudo que ele a causava.

 Ben quis contornar o sorriso que ficou preso em seus lábios, diante de todo susto demonstrado por ela. – Meu pai, te mandar procurar o Omar, ele saiu logo depois do almoço, viajou, aparentemente pra resolver problemas do restaurante, não entendi, será que ele esqueceu. – o rapaz tratou de explicar, com os pensamentos confusos. Já que se pegava, absurdamente maravilhado em admirar toda  beleza dela, era algo incrível... Incrível, como seu jeito desconcertado e até sem graça, podiam a deixar estupidamente ainda maia linda, podia passar o resto de sua vida ali a admirando calado sem reação, ele nem veria o tempo passar.

— Será. - Anita reafirmou incerta, porque Ronaldo então havia lhe pedido ajuda, o padrasto nunca fora desmemoriado, ela também ficou pra lá de confusa. Mais que isso o que lhe atormentava de fato, sem piedade, era a forma misteriosa com que Ben lhe olhava de volta. Talvez ele desconfiasse o que a atormentava por dentro, imaginar isso, fez Anita se praguejar irritada, entre calafrios que dominavam seu corpo.

— É, vai ver foi isso, muito trabalho. – ele pensou ser só isso. Realmente o pai podia só estar muito ocupado, por isso acabou esquecendo que Omar havia viajado.

— Pois é, eu vou indo então, devolver isso aqui pro Ronaldo. – supõe ela em um tom ameno, erguendo o envelope em sua mão. Aproveitaria o silêncio ensurdecedor de antes para partir.

— Claro. – Ben sorriu frustrado, mais uma vez a veria partir. - Anita espera. – argumenta ele, tocando com delicadeza o braço dela, apesar da tensão afobada por dentro de si, que já nem era controlada.

— Fala, pode falar. – ela implorou querendo mantar a calma, mas já nem sabia se conseguiria, seus olhos saltitaram percorrendo o rosto dele, buscando uma reação que a fizesse entender o que ele ainda poderia querer.

— Não é que... – ele divagou com os pensamentos ao longe, um nervoso estranho e desconhecido havia se apossado de seu modo de agir com naturalidade. – Ah me desculpa de novo pelo copo de suco. – as palavras tinham ido embora, Ben não as formulava tão fácil, apesar da insistência, ele esfregou as mãos ao rosto com ira de si mesmo. – É,  ih eu, deixa pelo menos apanhar uma toalha, pra você tentar ao menos salvar tua blusa em meio a essa catástrofe. – o rapaz quis se redimir de algum jeito, por mais que já desconfiasse da renúncia dela. Anita o observava introspectiva, no momento uma incógnita para Ben.

— Olha tá tudo certo, eu dou um jeito quando chegar em casa, não é nada de mais. – Anita disfarçou, suspirava pesado, estava algariada, na verdade, beirando a insanidade do nervosismo. E como sempre, ela ficava ainda mais desconcertada, toda vez que pensava em se controlar, dominar seus impulsos, parecia até que era praga, a situação só piorava...

— Entendi. – Ben fitou ela com toda desconfiança possível, na verdade ele sabia que estava certo, totalmente aliás.  – E você não tá fugindo de mim, imagina se tivesse. – o rapaz a confrontou sendo direto, uma mágoa veio junto, e Anita gelou na hora, na verdade sabia que nem se quisesse muito, conseguiria sair correndo dali sem ele a impedir, suas pernas estavam paralisadas, ela inteira estava em choque.

— Não. – era a resposta mais óbvia e estupida possível, mais foi à única que ela conseguiu formular. Anita percebeu na hora, que não havia o convencido de nada, Ben lhe encarou de volta com apreensão, mas se ainda o conhecia um pouco que fosse, podia também afirmar que ele estava com um pouco de raiva dela.

— Tá bom, e já que você mentiu, eu poderia mentir também, dizendo que acredito... – ele fez uma tentativa mais que fracassada de não perder o resto de sua tranquilidade, mas parecia em vão. – Só que eu não acredito, você está sim fugindo de mim, eu só não entendi o porquê disso. – o rapaz quis entender, necessitava entender, era o único jeito de ter um pouco de paz.  Recebeu de volta um olhar temeroso e ressabiado, Anita sentiu raiva de si mesma, por mais uma vez estar magoando a quem mais amava. Ela viu ressentimento puro, quando um único segundo suportou olhar nos olhos de Ben.

— Ben isso não faz sentido, na verdade essa conversa não faz sentido. – Anita gesticulou,  um tanto quanto irritadiça com tudo, na verdade estava, muito irritada, incrédula, diante do mar de desilusões que só aumentava. Estava cansada, muito...

— É isso que você pensa mesmo, ou você é que quer me convencer disso, por favor, Anita eu não entendo. – retruca Ben, abalado com o tamanho da renúncia dela, já não suportava, e aliado ao medo que sentiu diante do que poderia significar as palavras que foram proferidas pela moça, o mundo parecia estar desabando em sua cabeça.

— Você não tem que entender. – Anita alegou triste, baixando o olhar em direção a seus pés, não queria mais estar ali, não aguentaria. Não queria no fundo, ouvir dele que a conversa definitiva que Ben lhe implorava com tamanha veemência, era somente o anúncio de um fim, para que assim tudo estivesse plenamente resolvido, e ele assim não precisar se preocupar tanto com ela, e em não lhe magoar... A insegurança à corrompeu.

— Não... – Ben protestou, querendo controlar o tom de  voz, mais já o havia destoado da calmaria há muito tempo. – O que eu entendo, é que a gente precisa conversar, não dá mais pra viver desse jeito, e eu nem quero. -   ele garantiu firme, mesmo nervoso, não queria a pressionar, nunca quis, a relação dos dois sempre foi de um consentimento mútuo, mas naquele momento Anita não estava lhe deixando com muitas opções. – Vem comigo, por favor. – ele suplica taxativo, segurando a mão dela,  que ao olhar sem argumentos vê a apreensão tomar conta. E nem tinha, como fugir, Anita já desconfiava disso.

— Eu tenho que ir pra casa, minha mãe vai ficar preocupada, eu só vim mesmo... – Anita quis ainda fugir, mas ele à olhou praticamente implorando, a garota sentiu-se penalizada. Não queria saber quais dores aquela conversa poderia ainda lhe trazer.

— Olha se não por agora, que seja então em nome de tudo que um dia nós vivemos... – Ben a interrompeu irredutível, não estava disposto a esperar mais, nem conseguiria...  – A gente merece o mínimo de cuidado um com o outro, em nome de todo carinho, de todo sentimento que a gente teve ou ainda tem um pelo outro, por favor... – ele praticamente a suplicou. E minimamente, tão de repente, Anita viu todas às barreiras fortes e inabaláveis, criadas para aquele momento sumirem como pó, nem toda tristeza que sentiu anteriormente a impediu de toda dor de agora, ela ainda teve esperanças de ter aprendido alguma coisa com toda angústia vivida, mas como sempre, como tudo era com Ben, ela estava ali em sua frente de posse de toda fragilidade que lhe rondava assustadora.  – Anita eu to te pedindo, se não por mim, ou por você, que seja pelos bons momentos que nós dois vivemos, porque eu queria muito guardar cada um deles com muito carinho, na minha mente e dentro do meu coração. – o garoto argumentou, e também sob influência de toda agonia que sentia pela enorme distância dos dois, claro que machucava pensar em se conformar, dando lugar a um fim... E guardando somente a leveza das lembranças mágicas que ela havia deixado  em sua vida, mas se fosse para ser assim, que elas fossem guardadas puras e maravilhosas, como foi também vivê-las.

Anita desmontou completamente, quando  viu Ben encerrar seu apelo angustiado buscando dentro de seu olhar, algo que indicasse que haveria uma conversa, que ele tinha conseguido comover seu coração. E era demais para ela, ele havia tocado em uma ferida ainda sangrenta, era tudo que evitou encarar nos últimos dias  - E você acha que é assim, que a gente aperta um botão e de repente, todas as lembranças são só boas. -  ela não se importou com o grau de agressividade em suas palavras,   apenas sentiu toda angústia de um choro que era segurado rasgando por sua garganta. Seu tom de voz ressentido denunciava isto... - E elas são, muito boas, porque você foi pra mim, tudo ih... – calando-se novamente, sem muita coragem para continuar, a troca de olhares confusos se intensificou novamente. - A pessoa mais importante que passou na minha vida, , antes deu te conhecer, eu achava que sabia o que era amar alguém, só que... – Ben engoliu em seco toda dor revivida, também se arrependeu de ter dado tanto ouvidos a seu impulso de entender o porque de enorme distância, ao ver tanta tristeza demonstrada por ela na maneira como o encarava.   – O que eu sabia, não chegou nem perto de tudo que eu senti por você. – ela pressentiu seus olhos transbordando em lágrimas, não as continha mais como pensará. Não podia as ignorar, às engolir silenciosamente e seguir em frente, já havia perdido está capacidade. -  Eu não vou fingir agora que tá tudo bem, enquanto todo mundo espera que eu faça isso, que eu finja que me conformei, que brinque de família feliz, de teu irmãozinho, enquanto ninguém está nem aí, pelo que eu to sentindo de verdade, isso já é pedir demais, e eu não consigo, eu simplesmente não vou conseguir.  – Anita admitia aos prantos, preferiu não o encarar, não teria forças, estava enfraquecida por completo, sentiu também um ódio sub humano de si mesma por tais confidências, não às queria fazer, mas se por acaso não às segurasse, Ben seria a última pessoa para quem às faria. Não queria a piedade dele, seria muito pouco, pra alguém que já havia recebido todo seu amor. Anita entendia e sabia que merecia mais que isso em sua vida, apesar dos erros que cometeu... – E que eles não se importem, eu até aceito, agora ninguém pode me pedir pra fingir que não tá acontecendo, que eu não to sentindo o que eu  estou sentindo. – tudo desabava de vez, não havia mais como segurar, ela percebeu isso, diante de seu choro desregrado e avassalador.

Ben continuou estático, não havia reação, não às conseguia ter simplesmente... Seu coração se aniquilou, hora por culpa por a ver tão entristecida, hora por não ter coragem suficientes de a consolar, como sentiu que precisava fazer, ele também estava acovardado, acabado, tinha sido arrasado pelo mesmo temporal que ela, mas a dor que sentiu, hoje não era nada. Não diante da provação e assombro que o dominava por vê-la tão mal.

— Eu quero ficar longe, desculpa Ben, mais eu não consigo ser tão autoimune assim, a tudo isso. – Anita implorou, que ao menos isso conseguisse, trêmula, soltando o braço livre dela que ele ainda segurava, já que o rapaz também não esboça qualquer pensamento ou fala. -  Um dia eu te ofereci todo meu amor, mais somente  minha amizade eu não nunca vou poder te oferecer. – ela confessou, por mais individualista que pudesse ser, era o que sentia de verdade.  – Pode até ser egoísta, mais eu não vou conseguir te ver feliz, do lado de uma outra... – era a última confissão, o pior ato de seu assombro, Anita suspirou em busca de ar, que amenizasse a pressão de seu peito, enxugando suas lágrimas.

—  Anita do que você tá falando, me explica o que tá acontecendo com você. – Ben reagiu abrupto diante da última parte, tanto que a cortou tão ligeiramente, que nem soube como. Entendia todo resto, mas agora estava atônito, diante das palavras finais dela.  Anita respirou em sobressalto, quando os olhos e as mãos dele pularam para seu rosto em busca de entendimento. Ela não ousou responder,  já ele quis ter paciência com o esclarecimento, e não a beijar, abraçar.... Como seus instintos praticamente ordenavam, diante da pouca distância dos dois. – Porque você tá estranha comigo, porque você tá me tratando assim com essa frieza toda, o que eu te fiz, porque se foi isso...  – ele quis entender embargado por seus maus pensamentos. – Seu eu te machuquei, te magoei de alguma forma, me fala, por favor, me diz pelo menos pra mim entender, concertar de algum jeito tudo isso, porque eu não to aguentando mesmo toda essa situação. – disse Benjamin em suplica, carregando também de apelos o olhar que destinou a ela.

— Eu preciso ir, eu tenho , eu não  posso. – Anita murmurou completamente abalada, não havia mais estruturas que segurassem o turbilhão de emoções que lhe atingiam naquele momento.

— Não, não.  – o filho de Ronaldo negou.  Ela ainda quis afastar ele de si, tocando a mão dele por cima de seu rosto, mais era tudo tão em vão. Além de seu estado físico, o emocional estava no mesmo caminho, fragilizado, desestruturado para qualquer confronto. Mesmo assim, não adiantaria de nada, fisicamente Ben sempre seria mais forte do que ela.

— Ben, eu to pedindo, eu não consigo mais, emocionalmente eu não tenho mais como lidar com essa situação, não aguento, eu não suporto mais, cheguei no meu limite, simples não dá.  – Anita implora voltando a chorar, lágrimas que pareciam já não serem só  dela. Perturbado, Ben tão somente deslizou as mãos pelos ombros dela,  acolhendo seu corpo em um abraço protetor, queria acreditar que ele colocaria fim a todo resto, por ele não a soltaria nunca mais.

Anita desistiu de correr, entendeu que não haveria como, somente quis encontrar naquele momento um pouco de paz e conforto. Desejou imensamente não ser tão fraca, mas apesar de contrariada, não conseguiu fazer mais do que se render e chorar, apoiada ao ombro do rapaz. Apenas pressentiu seu corpo todo amolecendo, numa vertigem devastadora.

— Calma, também não fica assim. – Ben lhe pediu ao notar o comportamento trêmulo da menina, assim como a frieza de sua pele, se fosse somente julgar pela mão gélida dela que tocava seu braço.

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— Você tá mais calma, to me sentindo péssimo agora. – o rapaz confessou, fragilizado com todo nervosismo que havia causado em Anita, após a discussão inundada de tristezas  e angustias dos dois. O receio de a ver passar mais mal ainda foi tanto, que ele nem ligou para às explicações dela, e tão rapidamente a puxou para dentro do espaço que dividia com Omar.

— Não foi nada.  – Anita sorriu meiga, devolvendo a ele o copo com água com açúcar que Ben havia lhe dado há minutos atrás. – E eu não tava num bom dia, ou melhor faz tempo que eu não sei o que é isso, tá fato, foi bastante retórica essa justificativa, então. – ela riu fraca de toda situação, o vendo depositar o copo sob a mesa e voltando à sua frente novamente, parecendo impaciente.

— Pode ser. – Ben permitiu-se esquecer de todo resto e sorrir junto com ela. – Mais eu acho que eu não deveria ter te pressionado assim, você tá se recuperando ainda, enfim foi tudo muito pesado. – ele se chateou com o aborrecimento causado, sua intenção nunca foi de deixar tudo pior para ela. Estava se sentindo mal por isso...

— Não, não fica preocupado, não foi por conta da conversa é que... – Anita ficou com medo da própria confissão,  talvez não devesse trazer isso para conhecimento dele, também não queria mais uma bronca, nem assustá-lo. Ninguém sabia mesmo, o fato de Vera não ter ido ao médico com ela, lhe ajudou bastante a esconder, até ficou aliviada pelo fato, não queria mesmo que a mãe soubesse, que ninguém, pra ser mais clara. – Eu to meio mal de saúde mesmo, não conta pra ninguém, mais eu ando ainda, me sentindo meio zonza, meio fraca. -   a garota confidência receosa.  - Mais não é nada, é só por causa dessa maldita anemia que não me larga, mais esquece, deve passar eu acho. – ela sorriu como se tentasse abrandar o que havia dito.

— Você tem que se cuidar mesmo, faz isso por você, ouviu. – ele pediu visivelmente preocupado, à fitando junto com um sorriso e enorme carinho.

— Eu sei, é melhor eu ir indo, a minha mãe, ela tá no meu pé ih, eu não ando com muita paciência pra lidar com as explicações que ela me pede, sei lá. – Anita sorriu de canto, realmente tendo certeza que Vera já estava impaciente atrás de si.

— Eu imagino, depois do que ela pensou e falou com você depois, enfim de tudo que rolou, deve ser difícil pra você. – ele a entendeu carinhoso, se aproximando e ficando abaixado onde ela se encontrava sentada. - Mais pra ela também deve estar complicado. – Ben não resistiu ajeitando uma mecha do cabelo dela atrás do orelha e lhe fazendo um carinho em seu rosto, por mais receio que estivesse de vê-la se afastando dele em um sinal de rejeição. 

— Bom vou indo então. – fala Anita vendo toda calmaria sumindo gradativamente, conforme tentava não se atormentar com o olhar dele fixado em cima dela.

— Hei pra que tanta pressa, eu não mordo não. – o garoto riu entendendo o recado, e não segurou a provocação. Anita balançou o rosto para os lados, tentando achar uma desculpa ou um assunto que fosse menos desconfortável, mas quando voltou a encará-lo, somente notou Ben com o mesmo sorriso de antes.

— Não é pressa, eu já te expliquei. – Anita sorriu sem graça, não pode evitar. Na verdade agora, correria dele sem culpa, o sentiu agindo assim de propósito. Ben continuou se mantendo onde estava, e ela agradeceria, se seu rosto esquentando, não estivesse também vermelho.   – Tem razão, só joga as coisas nos outros, aprendeu com quem isso hein. – ela o acusou com bom humor, ao menos tentando negar seu modo desconcertado.

— Ah boa pergunta, com você, quem melhor pra me ensinar a ser desastrada ao máximo assim. – ele rebatia rindo, no ato de segurar a mão dela.

— Ah foi mal então. – Anita sorriu  visualizando sua mão  entrelaçada a dele, por um instante não havia qualquer sentimento ruim, todo resto estava tão distante, tanto que ela poderia achar que ainda teria jeito. – Ben. – chamou ela, num tom de voz tão fraco quanto doce.

— O que. – o garoto indagou distraído em olhar para ela.

— Sabe, eu to com vergonha disso tudo. – a garota confessou atormentada, mas não se sentiu desconfortável em tocar no assunto. Quem sabe, não precisava de um amigo, um confidente, alguém que não a julgasse tão severamente. Por mais que ele sempre fosse ser muito mais que um amigo...

— Como assim. – Ben quis entender em dúvida, levantando o olhar.  – Vergonha de mim, com tanta coisa pra te chatear, te deixar assim, você tá me dizendo que tá sentindo vergonha justo de mim. – o rapaz quis entender incrédulo, mas agiu com paciência... O que jamais desejava era a ver se sentindo mal uma segunda vez.

— Não exatamente, mais de tudo isso, você sabe, que o que as pessoas estão pensando de mim por aí, não é nada bacana, e mesmo que a maioria seja só julgamentos, de quem nem sabe de toda história, eu to envergonhada sim, das coisas que eu fiz, eu sei que eu magoei pessoas que eu não queria ter despontado tanto. – Anita diz movida por medo. – Ninguém conhece toda história de verdade, mas a sentença elas já sabem, acho que cansei disso. – alega ela chateada.

— Anita para com isso, não tem fundamento isso que você tá dizendo, você ainda duvida que eu seria a última pessoa a te julgar desse jeito, depois de tudo que nós vivemos, das coisas boas que compartilhamos, de toda intimidade, companheirismo, você...  – ele questionou acariciando a mão dela sob a sua.  – Olha pra mim, hei sou eu, o Ben, não é possível que você... – proferiu Ben à olhando firmemente. Anita sentiu seu estômago embrulhando de novo, talvez pudesse ser só loucura dela. Poderia ser só a fome chegando, não deveria ter comido tão mal no almoço e dado escondido de Vera, metade de seu prato à Fulano. Era só isso sensações normais de alguém debilitada, em nada tinha a ver com a maneira com que ele à encarava.

— Seja tão idiota assim, talvez eu ainda continue patética como antes ih...  – ela retrucou um pouco engasgada de puro nervoso pela situação. – Eu não consigo agir diferente, talvez um dia passe, quem sabe, nada é pra sempre né. – a garota conteve sua emoção, estava resignada a não perder a posse delas novamente.  – Você sabe que em parte eu to certa, é o que eu sou, é o que todo mundo pensa, que a culpa é minha, que eu mereci o que aconteceu, porque fui eu que provoquei, quando revolvi me apaixonar por alguém tão desiquilibrado quanto ele, a namorada do cara psicótico, que se deu mal porque mereceu, é só isso ponto, eu mereci, é isso que elas pensam, ninguém vai acreditar que eu não tive nada com ele, porque você tá insistindo em entender qualquer coisa, longe de mim você tá bem melhor, com certeza. – Anita afirmou tão rapidamente, que se quer respirou. Ben ficou sem processar por alguns segundos e ela gelou, teve certeza que se ele não estivesse sentado a seus pés já teria rumado à porta.

 – Essa é a verdade, e não importa o quanto eu me sinta um lixo por isso, não vai mudar nada, nunca. – reforça ela taxativa. Era o que Anita era, todo mundo sempre a olharia assim, não importava sua persistência para se explicar, as pessoas, não queriam saber da verdade, e pra ser sincera, ela se encontrava cansada e revoltada, não queria mais tentar. Todas continuariam julgando o livro pela capa...

— Não fala isso, não tem cabimento você se maltratar tanto, por tanta bobagem. – Ben argumentou com pressa, Anita teria enlouquecido de vez, só podia ser isso. O rapaz ya olhou ríspido, por segundos teve certeza, de que se ela ainda não estivesse com um braço imobilizado lhe daria um “sacode”, só pra ver se a garota parava de acreditar em tanta besteira.

— Não é bobagem – Anita discursa contornando sua emoção, apesar da ponta de raiva que ficou pelo jeito altivo e dono da verdade absoluta, dele à olhando...

— Pra mim é, e eu não posso concordar com nada disso, não posso deixar você fazer isso. – Ben se manteve irredutível, jamais ligaria para o resto.

— Porque é tão difícil assim pra você encarar, que está melhor sem mim, porque é isso. – a moça o enfrentou decidida, e ele bufa sob protesto. – Você já ficou comigo uma vez, depois de eu namorar o Antônio, mesmo que você quisesse  me perdoar uma segunda, ia pegar mal sabia, eu não quero mais te prejudicar, nunca ninguém aceitou a gente juntos, era errado sempre foi, porque insistir num erro estúpido, sabendo que você pode ter qualquer uma. – ela fala chateada,  e nem mesmo o olhar irado de Ben a contém. – Se é que já não tem alguém. – Anita verbalizou com desânimo, se referindo a mais nova moradora do bairro, que parecia bastante íntima de Ben, se fosse julgar pelo jeito com que ela viu os dois conversando.

— Você nunca namorou o Antônio, sua maluca. – Ben a criticou sem crer muito no que ouvia. Elevou as mãos contra o rosto, constatando toda sua impaciência, depois que notou o quão alto havia falado... Já estava se irritando com ela.

— É a realidade, não adianta você fugir. – respondeu ela, esfregando o rosto, desfazendo uma lágrima que se formava no canto de seu olho.

— Anita, cala a boca. – Ben praticamente a ordenou, não estava disposto a facilitar para ela. Então ela também lhe ouviria, não iria deixar Anita se afundar com tanta tristeza em um propósito tão vazio.

 Ela arregalou o olhar um tanto enraivada, Ben estava gritando com ela como se achasse que tinha razão, estava na pior, mas também não ouviria desaforos. Ela tinha razão, já ele fugia da realidade como se tentasse apagá-la.  - Nem se eu te provar o contrário. – o rapaz propôs à confrontando.

— Isso é impossível. – Anita dispara, tão grosseira quanto ele, há minutos atrás.

— Não,  é não. – ele negou esboçando sorrir. – Impossível, é eu te deixar ir embora daqui como se nada tivesse acontecendo, eu não vou conseguir, eu até pensei que conseguiria ser um pouquinho menos egoísta e pensar que dava pra me preocupar só com você, como já tá tudo tão complicado, você não precisa de mais alguém te pressionando a decidir nada, mais não dá. – falou Ben perdido em a encarar. Anita se remexeu sem paciência,  já estava de novo sentindo que não  respiraria mais, se seu coração continuasse batendo naquela velocidade. – Essa saudade que tá me matando, essa vontade que já não cabe mais em mim, de estar perto de você, te abraçar, te consolar,  te fazer carinho. – declarou ele se aproximando cada vez mais, e ela o olhou já nem parando pra respirar. Ele por sua vez, não esperou por um sinal de protesto da parte dela, apenas uniu seus lábios aos dela, com saudade, paixão, com leveza, um beijo esperado, e tão impedido tantas vezes, mas que agora parecia fazer os dois explodirem como fogos de artifício, serem guiados a um mar de sensações.

— É, eu... – Anita se separou dele em busca de um pouco de fôlego, ou de fato seu coração pararia, já não dava conta de respirar mal e o sentir batendo tão forte.

— Não diz nada não vai, se não for pra dizer que ainda me quer como eu te quero, não fala, não estraga, por favor. – Ben apelou sem ar e suplicante, contra o seu pescoço. Não sabia se estava preparado para ouvir o contrário, era amor demais...  Pra acabar, e ele ter que presenciar tal fato tão dolorido.

— Ah Ben isso já é demais, inferno. – Anita sorriu com raiva de si, diante de sua falta de autocontrole, assim achando que se não fosse isso, podia ainda impor sua vontade de se afastar. Ela ergue-se sendo seguida por ele, que não se distanciou nem um pouco. Anita só sorria totalmente entregue e desconcertada. Imaginando, que ainda poderia ignorar a sensação  boa de eletricidade, que percorria seu corpo todo, a cada segundo que ele ia beijando sem pressa seu pescoço...


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