A Origem da Energia - O Reino de Alucard escrita por OrigamiBR


Capítulo 10
A Mão do Monarca


Notas iniciais do capítulo

Um bocado de tempo com o site fora do ar deu pra terminar o capítulo. Peço desculpas por dizer que terminaria na semana seguinte no capítulo passado: eu tive um bloqueio criativo tremendo. Mas agora, ele está aqui, e enorme o/



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O andar acima das escadas, que por si só dera bastante trabalho, tinha apenas uma porta dupla muito grande, com janelas nas laterais e toda a visão para o salão logo abaixo. Avançando a passos curtos dessa vez, eles abriram as portas. Estavam destrancadas, o que não os surpreendeu. Vislumbraram o aposento seguinte: um extenso salão, com largura e comprimento de quase cem metros, uma telhado abobadado em vidro, com pilares na mesma pedra do castelo formando os arcos, contrastando com o céu nublado que se estendia até onde os olhos alcançavam. Várias mesas e cadeiras cobertas com panos brancos estavam acomodadas nos cantos e laterais, deixando o visual maior ainda. Do lado esquerdo e direito, se estendiam duas portas simples, que pelo telhado dava-se para ver que em cada uma subiam torres. Diretamente à frente deles, havia uma porta dupla muito larga e logo atrás a torre enorme do castelo.

– E agora? Não tenho ideia para onde ir. A torre central parece óbvio demais – comentou Kenneth – Com certeza deve ter armadilhas por aí.

– Eu iria retrucar, mas você tem razão. – disse Vergil, pensativo. – Mesmo assim, não temos noção além do que supomos.

Nesse momento, as quatro portas da lateral se abriram, e delas despontaram vários soldados de armadura e túnicas, portando as mais variadas armas que conheciam. Haviam cerca de 4 para cada um deles. O que parecia ser o líder, já que estava com um capacete ornamentado com ametistas e turmalinas, pôs um pé à frente e bradou:

– Não deem mais nenhum passo! – sua voz era firme, mas os garotos não se intimidaram.

– Você acha mesmo que vamos recuar?! – rebateu Suzan, a fúria transparecendo na maneira como segurava a espada.

– Lorde Alucard os ordena... Serão levados a julgamento pelos seus atos contra a dinastia.

– Vocês atacaram primeiro... – comentou Jane, logo atrás da espadachim.

– E do que somos acusados? – disparou Kenneth, cauteloso.

– Traição, homicídio, resistência à prisão e conspiração.

– Até parece... – desdenhou Cole.

– E agora vocês irão deixar suas armas e serão levados--

– Nem pense nisso – rosnou Claire, as mãos prontas para atirar o machado. – Vocês não têm direito nenhum sobre nós.

– Ah, temos sim. – e virou-se para seus subordinados. – PRENDAM-NOS!

As tropas começaram a avançar, mas após sentirem a concentração de Energia que seus alvos tinham preparado, hesitaram. E então, várias explosões e clarões voaram pela sala, levantando muita poeira e gritos que morreram tão subitamente como começaram. Assim que ficou novamente claro, todos estavam caídos, com exceção dos seis jovens que não se moveram. O líder ficou aterrorizado e caiu sentado, se arrastando para longe deles. Jamais tinha visto algo parecido. Não era possível que seis crianças tinham sobrepujado a força da guarda de seu senhor. E o pior de tudo que conseguiram facilmente. Nenhum estava ao menos ofegante. Só conseguiu balbuciar algo antes de ver a silhueta do garoto lutador logo à sua frente.

– O-o que v-vocês querem...?

– Somente ir para casa. E seu “senhor” tem a resposta. – disse Vergil calmamente, e assumindo um tom mais ameaçador – Agora, onde o ancião está?

Antes que dissesse algo, o lutador saiu de sua frente. Ele recuou alguns passos e ficou em pose de combate. Ao olhar para frente, deu um sorriso maldoso.

– Agora vocês conseguiram... Não vão sair daqui vivos. A Rex Manus vai destruí-los.

Passando pelo líder caído, tinham seis figuras, caminhando calmamente entre os corpos caídos. Logo à frente, um homem baixo, de cabelos longos e brancos presos num rabo-de-cavalo elevado e trajando um quimono na parte de cima e uma calça longa que se abria largamente na parte dos pés, ambos de cor preta olhava para os garotos com determinação e excitação. Não parecia ser forte fisicamente, mas pelo cabo das duas espadas japonesas que carregava na cintura mostrava que tinha habilidade.

De seu lado direito, um homem elevado e musculoso, de cabelo longo, castanho e tremendamente espetado, tinha um olhar selvagem e um sorriso maníaco no rosto. Sua armadura completa de batalha e uma lança, ambos cinza, completavam a elevada presença animalesca que ele emanava. Do outro lado, uma mulher baixa de cabelo preto também espetado os olhava com desprezo. Utilizava um colete azul, com uma camisa branca por baixo. Na parte de baixo, trajava uma calça verde colada às pernas trabalhadas. Um arco de madeira escura permanecia em seu tronco, e suas mãos estavam atrás da cabeça.

Atrás do homem de quimono, estava um homem muito estranho: primeiramente seu cabelo era azul e na altura dos ombros. Depois, além de ser muito alto e forte, usava duas correntes com pesos nas pontas de uma camisa de mangas muito longas, manchada de sujeira e sangue. Além de sua calça também ser do mesmo jeito, ele estava com os olhos fechados e lacrimejando, mas sua boca formava um sorriso de orelha a orelha. Do lado esquerdo deste, com um sobretudo marrom e uma luva de metal apenas em uma das mãos, o homem de cabelos loiros e curtos estava desmotivado, apenas seguindo o que estava na frente. Ao lado direito, uma mulher alta, de olhar firme mantinha a postura, mesmo com a armadura que se duvidava que protegia algo, já que era apenas duas ombreiras de couro batido, ligadas por uma tira que passava pelas costas e conectava com uma mais larga que cobria os seios, deixando todo o abdômen, costas e braços expostos. Pela parte inferior, se via apenas um cinto que prendia dois prolongamentos de couro batido onde estavam suas armas e um short muito curto e justo do mesmo material. Apesar de usar botas e luvas de antebraço, a armadura não era funcional.

Os garotos estavam apreensivos. Esses inimigos não mostravam a mesma presença de Energia que os outros. Estes eram realmente perigosos e atacar sem plano algum não seria nada agradável. Vergil permaneceu na frente com Suzan a seu lado e Kenneth do outro. Ao lado destes estavam Jane e Claire, com Cole logo atrás do lutador.

– Vocês fizeram uma bagunça e tanto – disse o homem de quimono, olhando para o lutador.

– Eles que começaram... – disse Vergil, baixinho.

O homem de armadura de batalha deu uma gargalhada gutural e falou, sua voz soando animalesca, instintiva, parecendo um lobo sedento por sua presa:

– Vamos Getsu, eu quero lutar!

Este apenas gesticulou a mão em sinal de parada e voltou sua atenção para o grupo. Seu olhar não se alterou nem um pouco, mesmo quando todos os garotos assumiram pose de luta.

– Então, estamos num impasse, garotos: temos ordens para matar vocês, mas eu preferiria que não chegasse a isso. Logo, se vocês retornasse de onde vieram, convenceríamos o lorde que vocês foram executados. Ou então, vocês já sabem o que acontece. Não poderei conter meu parceiro Maverick por muito tempo. Decidam-se...

Do outro lado, mesmo com a presença dos inimigos, eles se atreveram a conversar baixo sobre a situação:

– Você acha mesmo que ele vai cumprir a palavra? – reclamou Cole.

– Ele me parece honrado. Vai acatar com nossa decisão. – disse Kenneth, calmo.

– Mas vocês sabem muito bem por que estamos aqui, não é? – insinuou Suzan veemente.

– É claro, esquentadinha – desdenhou Claire.

– Não se preocupe, não vamos recuar – determinou Vergil.

– Espero que saiba o que está fazendo, Vergil. – falou Jane, séria – Nunca vi tamanha Energia em Sensitivos, exceto em nós. Temo que eles são mais do que podemos dar conta.

O lutador assentiu: mesmo que não tivesse uma sensibilidade feito a de Jane, ele sentia no íntimo que aqueles ali eram perigo. Quase que escolheria fugir dali só para salvar a própria pele, mas ao se lembrar que queria ir para casa, para voltar à sua vida normal, bateu o pé no chão e bradou, confiante:

– Não vamos recuar. Perderemos coisa demais se pararmos agora.

Getsu soltou uma risada curta. Praticamente esperava essa resposta. Os rebeldes que enfrentara a alguns anos disseram a mesma coisa, e rechaçou todos eles.

– Já que vocês não recuaram...

Se a confusão provocada pelo golem ou pelos soldados era muita, essa era no mínimo dez vezes maior. Cada inimigo foi atrás de um deles, o mantendo deliberadamente longe dos outros. Nesse momento, várias disputas estavam já com seu resultado traçado, mas cada lado colocava todo seu esforço em mantê-lo favorável a si.

– Ora, ora! Parece que peguei a oponente perfeita! – disse Maverick enquanto avançava com tudo como um trem a vapor à máxima potência, a lança preparada para empalar. Jane paralisou por alguns momentos antes de desviar sem ao menos ter se dado conta que havia sido atacada.

– Que perigoso... – retrucou temerosa, mas se manteve em sua postura: enquanto segurava uma das adagas à frente do corpo, com o braço dobrado, a outra ficava na lateral, com o braço dobrado sobre o abdômen. Ele deu um assobio.

– Poucos consegue fazer a Cataracta Mucro com tamanha perfeição. Qual seu nome, menina?

– J-Jane Lebrom...

– Isso vai ser muito interessante.

Ele puxou um escudo das costas e avançou, rindo. Deu uma estocada, que a especialista desviou para a direita. Novamente espetou, onde ela desviou para a esquerda dessa vez. E mais uma vez ele atacou. Jane, sabendo o que viria, efetuou um contra-ataque, que defletiu o cabo da arma com sua adaga e a outra traçou um arco até onde seria o pescoço do inimigo. Infelizmente, não chegou a completar o golpe, já que Maverick acertou uma cotovelada, impedindo-a. Aproveitando a posição incômoda, ele soltou as armas e encostou as palmas das mãos no abdômen dela, dizendo:

Gravitas Ictus!

A especialista voou quase que instantaneamente, destruindo a parede de tijolos e sendo jogada para o campo aberto do pátio, batendo com força no chão. Conseguiu cair de pé, mas ajoelhou logo depois. Não esperava uma força desse patamar. Estava repleta de arranhões, e sua armadura de couro mostrava várias camadas soltas. Se levasse mais um ataque desses, podia dar adeus à sua vida. Cuspiu sangue e limpou um pouco da testa. Sem mais hesitar, as palavras do Primeiro Nível saíram de entre os dentes, formando um fluido de Energia azul-clara ao seu redor, fechando alguns cortes e arranhões e lhe dando poder. Do alto, se via um ponto que ela tinha certeza que era o grande homem.

Aqua Transigo!

Reunindo água próximo aos seus pés, a fez girar em um ciclone e lhe impulsionar para cima como um míssil. Poucos momentos antes de se encontrarem no ar, Jane desviou por pouco da perfuração, ficando acima dele. Assim, disparou uma adaga enquanto concentrava Energia na mesma. Suas reservas não iam durar muito, mas tinha que dar certo. Com a mão livre, ela apontou a palma para o alto, formando uma estaca de gelo. Logo que a gravidade começou a lhe puxar, ela gritou:

GLACIES PALUS!!!

Ao terminar, a estaca aumentou até uns 3 metros e ficou com uma aura azulada como ela. Porém a especialista não conseguiu disparar. Sentiu todo seu corpo sendo puxado violentamente para o chão, como se seu peso tivesse aumentado milhões de vezes. Não conseguia manter os olhos abertos e seus ouvidos só mostravam zumbidos. Concentrou-se em perceber o que estava ao redor com sua Energia. Sua voz saiu estranha, mas ela tinha consciência que havia pronunciado a palavra correta.

Nidor Capto...

Imediatamente, a visão voltou, só que não havia cores. Ela conseguia perceber cada partícula de água que permeava o campo, ligadas por uma linha amarela e brilhante que sabia que era a Energia, tudo isso formando uma extensa e densa rede. Com isso, tinha uma noção de onde estava tudo naquele pátio. E viu Maverick com a lança para cima, preparada para lhe perfurar. Guinando o corpo para a direita, conseguiu evitar a maior parte, mas ainda assim foi acertada do lado esquerdo do abdômen, a lança lhe atravessando. Nem bem conseguiu se levantar, o homem puxou a lança, arrancando-a dela e propôs a estocar com velocidade. Mesmo com o Primeiro Nível liberando mais Energia, estava tendo dificuldades em desviar. Por mais que conseguisse ler os ataques e ter capacidade para isso (mesmo na atual situação), ele conseguia prever suas ações, reajustando o ataque nos últimos instantes e errando por muito pouco, por vezes acertando uma perfuração superficial.

– Há! Você é realmente de outro mundo! – gritou ele em meio aos golpes – Também é de Percepção, não?!

– S-sou! – respondeu Jane, curvando-se para trás para evitar um ataque.

– Há tempos procuro alguém bom o suficiente! Vamos!!! – e gargalhou, aparecendo também em seu corpo um fluido de Energia arroxeado, mas não era tão grande feito o dela. Isso lhe deu uma pontada de esperança. Se pudesse ganhar tempo para poder usar a estaca de gelo novamente...

Enquanto recuava e tentava defletir os ataques com uma adaga, sentiu no canto de sua mente a outra que estava fincada ao chão. Foi então que lembrou da primeira parte de seu plano. Os ataques estavam ficando cada vez mais agressivos, lhe ajudando mais ainda. Ao desviar de uma estocada, acabou levando um soco no ombro, o que fez a soltar a adaga, tamanho o choque. Segurando o ombro, tentou correr até o local, com Maverick em seu encalço. Ele executou um golpe com a lança que bateu em suas pernas, a derrubando. Estava a poucos centímetros quando a ponta da arma perfurou sua mão. Ela gritou de dor, mas sabia que era um preço pequeno a se pagar.

– E então garota: o que tem mais na manga?

– Isso! Aqua Turbo!!!

Uma torrente de água partiu da ponta da adaga se elevando aos céus, com Maverick como centro. Ele foi jogado para o alto. Do chão, se via a especialista com uma mão caída e a outra com uma estaca de gelo de 3 metros flutuando. Atirou-a como uma azagaia. O ferimento provocado o paralisou, sua perna esquerda transfixada pela arma. Mas tão logo atingiu o chão, ele caminhou pela poeira formada.

– Que resistência insana...

– Gatinha, você faz um estrago e tanto. Consegue escapar da minha Previsão, utiliza água de várias maneiras e ainda consegue me deixar assim. Você me deixou muito satisfeito, e por isso, vou derrotá-la agora.

Sua mente estava a mil, tentando formar alguma estratégia. Esse oponente era seu pior inimigo. Conseguiu resistir a todos seus ataques e acabar com seus planos, além de lhe ferir no processo. A dor estava voltando, mesmo com o fluido de Energia e a adrenalina atuando. Ele caminhou calmamente, e sua lança foi ganhando um brilho roxo, enquanto que na ponta se formavam distorções que pareciam com uma lente arranhada. Parecia que o próprio ar tinha trincado. Ele ainda sorria, mesmo com partes da armadura estando furada e faltando, com sangue gotejando lentamente pelos ferimentos. Foi então que Jane teve uma ideia: recuou para perto de suas armas e as segurou, jogando os braços para trás. Concentrou-se no ambiente. Assim que o fez, sentiu a Energia no ar, e logo após a de Maverick e a sua própria. Propôs a passar a Energia de seu fluido e de seu corpo para as adagas. Era uma manobra arriscada, e se não funcionasse, poderia morrer.

Maximum Potentia: Cataracta Umbra!!!

Foi como se o mar surgisse pelo pátio. Volumes imensos de água brotavam do solo, elevando-se até cobrir toda a parte baixa de seu corpo. Atirou as adagas para cima, e o lago acompanhou. Gêiseres jorravam líquido para cima, como uma cachoeira invertida. Quando as armas caíram de novo em suas mãos, Jane disparou numa investida avassaladora, sendo impulsionada para frente como uma lancha, a “cachoeira” se transformando numa grande onda e lhe acompanhando logo atrás. Toda a água do lago foi lhe seguindo, arrastando tudo pelo caminho e lhe envolvendo numa proteção aquosa transparente.

Maverick não teve chance: a especialista avançou tão rápido que pareceu transpassá-lo. Em suas mãos, não havia nada. Milésimos depois, o grande volume de água sendo precedido pelas adagas girando em hélices o atingiu em cheio, lançando-o a vários metros adiante e parando numa das paredes. Assim que o ataque terminou, o homem estava caído com as duas armas perfurando seu tórax sem armadura. Uma no coração e outra no abdômen, o centro de Energia.

Assim que chegou perto, seu Primeiro Nível sumiu, fazendo-a cair e desmaiar.

Caminhando em círculos, Suzan mantinha a espada com a ponta para o chão, segura por uma única mão, enquanto que sua oponente segurava duas lâminas curtas da cintura. A espadachim ainda se questionava da armadura que usava. Além de ser reveladora, não se via como poderia protegê-la. Porém, a observação não lhe impediu de correr com a arma ainda abaixada e desferir um corte ascendente. Sua inimiga desviou por pouco, contra-atacando com um corte horizontal. Suzan não foi ferida, mas ficou atenta a qualquer continuação. Estocou em direção à cabeça dela, onde desviou o pescoço para o lado e atacou o braço da espadachim. Recuando bem a tempo, Suzan resolveu sobrepujá-la com força: deu um passo com o corpo de lado, em pose de esgrima. Sua oponente permaneceu de frente e com as armas acima da cabeça, expondo todo o abdômen em um ataque desesperado.

Flamma Scindo!

Através do movimento de um batedor de baseball, Suzan cortou diagonalmente, enviando uma lâmina em chamas voando e queimando o ar intensamente. Novamente, ela desviou por pouco, atirando as duas armas conectadas pelos cabos em direção à espadachim. Esta defendeu de mal jeito e a espada caiu a seu lado. Sem perder tempo e mantendo os olhos na oponente, pegou a empunhadura e manteve a postura, avançando instantaneamente com um golpe descendente. Porém, sua lâmina não tocou o pescoço dela, rebatendo como em pedra com um baque seco.

– Q-que?! Quem diabos é você?!

– Farah Nightclad da Rex Manus– disse com um sorriso, mas o olhar sério, enquanto acertou um soco potente em seu abdômen. A espadachim ficou sem ar, e levou uma joelhada no mesmo local, a atirando para trás. Tentando se recuperar, olhou e viu a inimiga com as armas na mão. Atônita, não viu o que se seguiu:

Motu Pulsus...– uma força invisível lhe atingiu, empurrando alguns metros para trás. Apesar de não lhe ferir, não era material, o que não entendeu. Observou em silêncio ela assumir a mesma pose de combate aberta e esparsa, com que em desafio.

Dessa vez, Farah tomou a ofensiva: atacava alternadamente em arcos diagonais, defendendo ocasionalmente dos balanços perigosos que a espadachim aplicava. Mais dois impactos imateriais a atingiram, mas eram bem menos intensos que o primeiro. Começou a ter uma pontada de esperança após sentir mais um destes não lhe afetar em nada, aproveitando para segurar a arma com as duas mãos e parti-la em dois com o movimento. A lâmina novamente refletiu na proteção invisível com um lampejo, porém trincou o ar quando ela aplicou um segundo golpe e partiu-se ao acertar o terceiro, a lâmina continuando o trajeto, mas atingindo o solo.

– Nossa... Você é muito perigosa – disse Farah, depois de um assobio.

– Eu não duvidaria! – disse Suzan, em meio a arquejos. Aquele balanço tinha lhe cansado, mas já estava se recuperando.

– Tenho que lhe eliminar logo. – disse Farah, o sorriso sumindo do rosto tão subitamente como uma chama de vela apagando. E instantaneamente deu uma estocada tão rápido que a espadachim não reagiu. A lâmina penetrou sua armadura tão facilmente como água, deixando um buraco com sangue. Ela arquejou, pondo a mão no ferimento. Não era profundo, mas sentia uma Energia no local. Novamente, a inimiga espetou com a arma, porém foi bloqueada pela empunhadura da espada bastarda que se incendiou violentamente, provocando um solavanco.

A inimiga manteve a guarda sólida, recuando aos poucos enquanto defendia com as duas armas, que estalavam perigosamente com as chamas voando para os lados e atingindo os móveis. Pedaços de pedra se mexiam pelo teto, como se o mesmo fosse ceder. Com um urro, as chamas aumentaram o comprimento da lâmina e soltou a mão do ferimento para apoiar o golpe:

Flamma Crux Foro!

Cortando na horizontal e vertical, duas línguas de fogo bateram na proteção e um soco explodiu no ponto cruzado, atirando Farah com um rastro de chamas e batendo numa das colunas. Um filete de sangue escorria pela cabeça e braços dela, mas não a impediu de manter uma mão em riste.

Motu Carcer...– uma força invisível prendeu seus membros. Forçou o quanto pôde, mas estava mais intensa que nunca, impedindo qualquer tentativa de movê-los. Nesse momento, seu ferimento latejou e começou a doer.

Motu Lacero!– gritou a mulher, fechando o punho.

Suzan gritou quando o ferimento começou a abrir, revelando uma esfera translúcida no local que aumentava de tamanho cada vez mais. Murmurou algumas palavras, reforçando o corpo e a expansão foi freada. Virou o olhar para a inimiga, que avançou com as duas espadas na frente. Trincando os dentes, conseguiuse libertar a tempo de desviar, com um barulho de vidro quebrando. Enquanto estava de lado, fincou a arma no chão, vermelha incandescente, e gritou, liberando o Primeiro Nível inconscientemente.

Imensas torres de fogo emergiram do chão, explodindo o teto. Em meio à fumaça, ela surgiu brandindo a lâmina envolta em fogo, pronta para atacar. Sentiu dois toques frios no corpo, e Farah do outro lado das lâminas. Novamente sentiu a estranha Energia nos pontos, mas não parou mesmo com as injúrias provocadas.

Motu Lacero!– disse Farah, e os ferimentos começaram a aumentar de tamanho, lhe provocando muita dor e interrompendo a continuação do golpe. Socando o chão, uma aura explodiu ao redor de seu corpo, destruindo parte do piso e as esferas em seu corpo. Os machucados cicatrizaram rapidamente, estancando o sangramento, mas não com perfeição, marcando cicatrizes.

Sua pele foi ficando avermelhada, seus olhos ficaram com a íris vermelho vivo e a cada piscada chamas brotavam e sumiam depois. Em seu corpo, traços longos e largos lembravam veios de lava, emitindo luz em meio a seu fluido de Energia. Suas mãos emitiam fogo enquanto seguravam a empunhadura. A inimiga espadachim arregalou os olhos e concentrou sua Energia, aparecendo várias esferas de cor violeta a seu redor. Trocou a direção das lâminas e começou a circulá-la.

– Q-que coisa é essa? – comentou baixinho – Nunca vi nada parecido...

Flamma Anima... – disse Suzan, e sua respiração também exalava fogo, que sumia logo depois. A cada passo, o chão ficava com uma marcha escura e fumegante. Sua armadura estava incandescente como sua espada, parecendo que tinha acabado de sair de uma forja. Movimentou em direção à inimiga, que recuou instantaneamente, e uma faixa em chamas brotou da ponta da lâmina, sumindo logo depois.

Farah suava frio, a tensão finalmente tomando conta de seus membros. Suzan percebia a mudança, mantendo a calma, mas as investidas ficando cada vez mais avassaladoras. Em vezes que cortava o ar, uma linha flamejante se desprendia da espada e caía no chão, queimando. Nas oportunidades que encostava no chão, a espada cortava tão facilmente quanto queijo. Saltou e girou lateralmente, jogando fogo para todos os lados, cercando tudo num mar de chamas. Em resposta, a oponente formou algumas esferas roxas a frente do corpo e lançava para Suzan. A mesma ia cortando e avançando até que escutou:

Motu Vacuus!– forças invisíveis lhe puxavam para o centro da sala. No meio desta estava um ponto negro que sugava tudo ao redor, reduzindo à nada. Tentou se equilibrar, mas a força lhe derrubou, tendo que segurar com os dedos no chão para evitar ser tragada pelo buraco negro logo atrás. Apesar disso, suas chamas resistiam. Procurou em sua mente algo que pudesse ajudar a enfrentar essa atração perigosa, um pouco deprimida quando encontrou.

Flamma Ego!– se seu corpo parecia um vulcão prestes a erupção, sua aparência atual dizia que era a própria Essência do Fogo: todo seu corpo foi envolto por chamas volumosas, que aumentou o comprimento de seus membros e seu corpo, formando um enorme boneco com ela como centro. De pé, virou o massivo punho para a inimiga e socou. Ela bloqueou precariamente, apesar de ter suportado todo o dano. O terror estava gravado em seus olhos e sucumbiu quando vieram o segundo e terceiro golpes.

O grande colosso se desfez no último golpe, derrubando a espadachim inconsciente no solo, mas que estava com uma grande satisfação em ter sobrevivido.

– Você é muito perigoso, mago.

– E você ainda diz isso?!

O samurai Getsu estava no ar, aparentemente pisando no mesmo como se fosse o próprio chão. Em sua mão direita estava a longa espada japonesa, a katana. A mão esquerda estava atrás do corpo, um estilo diferente do manejo de espada tradicional. Vislumbrava o castelo logo abaixo, o salão de convidados destruído com os embates. Pensou que seria castigado por isso, mas como estava cuidando dos responsáveis, haveria de ser absolvido da fúria de seu senhor.

Cole voava através do controle do vento, a altura oscilando, mas mantendo numa elevação constante. Lembraria um super-herói de quadrinhos se não estivesse cortado em várias seções do corpo, tremendamente ofegante, usando óculos e túnica e empunhando uma varinha.

A Energia daquele homem era muito imprevisível. Mesmo os golpes sendo fáceis de ler, eram quase impossíveis de desviar ou bloquear, e seu controle dos ares não fazia efeito algum. Sombras perpassavam a lâmina daquela espada de tempos em tempos, anunciando um terrível destino por vir. Sacudiu a cabeça enquanto descia a toda velocidade, gritando:

Ventus Frendo!– duas mãos gigantescas de ar quase visível se fecharam em torno do samurai com um baque sonoro. O mesmo surgiu saltando para cima em um turbilhão de cortes, reembainhando a espada. Disse algo que não entendeu, mas o calafrio na espinha lhe deu a certeza que viria outro ataque daqueles. Vislumbrou todos os lados desesperado, procurando a onda escura que sugava Energia de si além de cortá-lo. Ao ver o pequeno corte formado inteiramente de sombras pela segunda vez desde que começou a batalhar, aplicou um bloqueio de ar giratório capaz de destroçar aço na ponta da varinha, impedindo de as propriedades debilitantes lhe atingirem. Porém, se deu conta que aquele ataque era pequeno demais.

– Isso... – escutou o sussurro logo depois de ver sua arma branca curta cortada de uma única vez. Getsu estava a menos de 1 metro dele, usando a mão esquerda pela primeira vez para desferir um soco que mandou Cole para o chão com bastante violência.

O mago cuspiu e lutou para recuperar o fôlego. Não sofreu graves dados pelo encanto proferido logo antes da batalha de amortecer os danos com ar comprimido ao redor do corpo, mas a contusão foi suficiente para acabar com o ar que respirava. O inimigo caiu lentamente, pisando de leve no chão natural. Esperou lá, parado, enquanto Cole brigava para se levantar.

– P-por que não me matou? – disse em meio a arquejos.

– Não há honra em matar oponentes caídos... – respondeu sem hesitação.

– Heh – falou Cole, com falsa confiança – Vou fazê-lo se arrepender disso...

Olhou para a varinha partida na mão e a descartou para o lado, o que fez o samurai levantar uma sobrancelha de curiosidade. Moveu as mãos em movimentos circulares, juntando várias partículas de areia e solo ao disco quase sólido à sua frente.

Nixus de et Abyssus...

O disco de ar ficou quase esverdeado, repleto de partículas que não paravam com o movimento caótico que estava lá dentro. E reduziu, ficando logo acima do punho, do tamanho do mesmo. Getsu esboçou um meio sorriso, sumindo da visão do mago com um súbito movimento. Sem hesitação, este desferiu o punho no chão, que retalhou a terra e a espalhou para todos os lados, levantando muita poeira, o que interrompeu o movimento do samurai. Vendo que este desacelerou, apontou o dedo indicador e gritou:

Ventus Proiect...! – um projétil pequeno, de mais ou menos o tamanho do dedo polegar, viajou quase instantaneamente ao inimigo, envolto por um ciclone gerado quando perfurava o espaço que os separava. Getsu se limitou a apenas girar a espada e cortá-lo com precisão, não gerando mais que uma brisa que dispersou seus cabelos. Continuamente, mais projéteis eram disparados à toda direção da ponta do dedo, que o inimigo desviavam ou bloqueava com incrível precisão, se aproximando com lentidão.

Vacuus Perimo... – sussurrou Getsu, pondo a espada na horizontal e avançando mais rápido que o olho podia acompanhar, cobrindo a distância que o separava do mago. Do outro lado, ele bateu com a lâmina no ar, dispersando o sangue que se acumulara com o corte no abdômen de Cole. Este largou a já inutilizada arma e tentou segurar o sangramento, ajoelhando com a fraqueza repentina.

– Se é assim... – disse Cole entre os dentes – Então não vou mais hesitar! – gritou, liberando o Primeiro Nível, a Energia cinza lhe cobrindo e intensificando a ventania. A potência era tanta que arrancou duas árvores de mais de 30 metros de altura da parte do jardim real, logo atrás da torre central. Pedras rangeram quando o poder estava máximo e deslocaram-se ao passar voando quase à velocidade do som.

– Ho ho! – suspirou Getsu, olhando para a fúria dos ventos que estava logo acima de si. Sacou a segunda espada, que tinha o mesmo formato da primária, apesar de menor, e correu pisando no ar como se fosse sólido. Ambas as espadas estavam com a agora visível sombra: pareciam correntes de ar escuras, mas se moviam como líquido e aparentavam solidez. Fustigavam violentamente ao redor delas, envolvendo até a mão dele. Enquanto se aproximava, o rosto do mago exalava uma ira insaciável, os cabelos curtos chicoteando a cabeça e os músculos do braço exibirem veias pulsantes. O corte no abdômen já não passavam de uma linha vermelha manchada de líquido escarlate.

Manus Acies!!! – um urro que pareceu um furacão disparou inúmeras lâminas pressurizadas logo acima da cabeça dele e indo em direção ao inimigo. Logo após, fez movimentos de corte com as mãos esticadas e enviando mais e mais. Parecia ser impossível de desviar com essa quantidade, e a pressão não deixaria elas serem cortadas. Mas com movimentos fluidos e seguidos, o samurai defletiu os ataques, passando inofensivamente por eles até chegar à distância da arma. Foi aí que se arrependeu de ter feito isso: um punho que não sabia de onde tinha vindo o acertou no peito e o jogou para o chão, girando como um peão. Ao se levantar, constatou que o peitoral estava dilacerado, não existindo mais a parte de cima de sua roupa e exibindo um brilho vermelho que escorria. Seu rosto permaneceu oculto ao retomar a mesma posição anterior, invadindo a área de cortes mortais de Cole e chegando ao alcance corpo-a-corpo. Dessa vez, viu o punho se encaminhar para sua cabeça.

– Insolente! – rosnou, mostrando o rosto lívido de raiva e interceptou o ataque com sua própria arma. Barulho de metal em pedra, como uma broca perfurando rocha ecoou pela área. A outra lâmina traçou uma linha até perfurar o menino no abdômen, cuja expressão passou de cólera a surpresa. Só que ele não esperava que se tornasse um sorriso sarcástico, até ver que Cole o segurava com ambas as mãos. Um filete leve de sangue escorria pelo canto da boca, mas sua expressão mostrava que tinha vencido aquele combate.

Maximum Potentia: Oppugno Ventus!!! – pressão lhe jogou e cravou no chão, com tanta intensidade que não tinha como se mover de forma alguma. As nuvens se perturbaram, começando a girar ao redor do mago e ele, formando correntes visíveis de poeira e Energia cinza. A velocidade aumentou rapidamente e um funil começou a ser formado logo acima de sua visão. Nisso, Cole simplesmente baixou os braços, deixando que a corrente perfurante e destrutiva descesse e explodisse tudo num mar de areia, névoa e caos. O menino de óculos planou desajeitadamente até bater com um baque forte no solo revirado. Do outro lado, se via o inimigo parado, com o corpo em quase totalidade cortado e esmagado, mas seu rosto tinha um sorriso enigmático, como se tivesse cumprido o dever.

Cole caiu de costas, perdendo as linhas de consciência que o mantinha ancorado, apenas sentindo a Energia de seus amigos por todo o lado. Fechou os olhos e resolveu descansar.

Lumen Clausus! – gritou Kenneth, bloqueando algo. O escudo se desfez logo depois que fez seu trabalho, mostrando o estrago que havia ficado a seu redor: a parede de vidro havia sido fragmentada até virar areia, e parte da laje do andar também tinha sido vítima do ataque do homem da manopla. Ele recuava o braço com a arma, esticando-o como em alongamento depois. Seu rosto tinha feições europeias, mas com o nome Izarn se duvidava de que época era. Dobrou o corpo para frente, colocando as mãos nos bolsos do sobretudo, e visando o ponto onde o acólito se localizava, estirou a perna num movimento tão suave que pareceu que iria caminhar. Mas apesar disso, o movimento provocou uma onda de choque tão terrível que rachava o piso e o teto. Só conseguindo reagir pelo ponto de partida, Kenneth segurou seu livro sagrado confiável na mão direita e pôs na altura do abdômen, bloqueando o soco com a mão livre que Izarn desferiu.

Enquanto defendia, apontou dois dedos juntos para a face do inimigo. A luz provocada iluminou o rosto dele como uma lanterna e o do oponente como um holofote a um palmo. Atordoado, pôs a mão no rosto cobrindo os olhos, lacrimejando e resmungando. Sem poder agir, o acólito aproveitou para executar sua ofensiva, prejudicada assim que a luta começou.

Lumen Punire! – bradou firmemente. Seus punhos se envolveram com uma Energia branca, iluminando suavemente o local onde estava. Juntando as mãos numa única massa de destruição luminosa, desceu o ataque mortal na cabeça do indivíduo. O impacto plantou o alvo no chão, mas quando preparava a continuação, foi atingido no abdômen por uma retaliação irritada. Izarn estava de pé, com um filete de sangue escorrendo da cabeça, os dentes à mostra com a boca semiaberta e a mão fechada no local onde segundos antes estava o acólito. Este levantou-se do chão rapidamente e limpou a parte da batina que tinha sujado com o arrastão que sofreu. Sussurrou novamente o comando e partiu para cima com os punhos em Energia. Diante disso, o inimigo pisou uma vez no chão e as ondas de choque provocadas terminaram de destruir onde estava.

– Isso é um saco... – reclamou Izarn enquanto trocava socos com Kenneth. Ambos não se atingiam. Num dado momento, uma explosão ocorreu quando o punho iluminado se chocou diretamente contra a manopla de metal, destruindo o piso que estavam. Apesar disso, mantiveram a posição, mesmo quando caíram para as catacumbas do castelo.

O local era úmido e cheirava a mofo. As paredes eram de terra batida e pedras cinzas, bem diferentes da parte de cima do castelo. O barulho de gotas de água era constante, e observando se via estalactites esparsas pelo teto baixo. Caminhos tortuosos continuavam até além da visão, escura pela ausência de janelas ou tochas.

Kenneth socou para cima, que Izarn bloqueou com as duas mãos. Retornou com um ataque com as costas do punho, que o acólito desviou. Este ataque fez um buraco perfeito ao atingir a parede, e o menino de óculos olhou surpreso. Conjurou o escudo luminoso novamente, que o inimigo simplesmente juntou o dedo médio com o polegar e disparou uma pancada que destruiu a proteção.

– Droga! – reclamou quando pôs o livro para bloquear um novo soco. A força lhe jogou para trás, fazendo-o bater numa parede de pedra – Lumen Clausus Tris!– aproveitando que estava no chão, executou alguns movimentos com a mão tocando o solo e bateu com a palma, invocando um escudo côncavo totalmente branco e fosco com três camadas a sua frente. Com a cabeça a mil, resolveu procurar no livro onde estava a conjuração para lhe ajudar.

O homem pôs a mão atrás do pescoço, massageando o mesmo e franzindo o cenho, como se dissesse “O que você tá tentando fazer?”. Depois, suspirou entediado e bateu com o pé na proteção formada, quebrando uma das camadas.

Crinis de Judicium!!! – um ponto de luz se formou na página aberta do livro e foi disparado para cima, atravessando o teto e indo para o céu aberto pelo buraco provocado por eles. Enquanto isso, mais uma camada havia sido destruída, o inimigo já sem paciência e atacando com a manopla. Kenneth sabia que não teria muito tempo, então avançou para cima do inimigo com todo o peso do corpo, surpreendendo o mesmo. Este ficou lhe socando e atacando, mas a proteção ainda resistia, apesar dos efeitos já estarem evidentes em seu rosto. Usando a força que ainda lhe restava, carregou Izarn até o buraco aberto e o soltou.

Foi como se holofotes tivessem sido ligados todos ao mesmo tempo e a queima-roupa. Um raio de sol meio branco, meio amarelo, iluminou e esquentou toda a catacumba numa velocidade alarmante, com o oponente como centro. Deste, partiram seis raios de luz laterais que se ramificaram e viraram para o acólito, que se levantara e sentia toda a Energia concentrando em seu punho direito. Assumindo uma base de luta, ele avançou com o corpo de lado e seu soco veio radiante, como se relâmpagos o estivessem envolvendo, mas tão iluminado quando o sol. O punho atingiu Izarn com um flash repentino, e tudo ficou escuro. O corpo do lutador inimigo estava estatelado numa parede curva em meio à água e lama, todo chamuscado e escuro. O local onde o punho tinha atingido estava vermelho vivo, e fumaça ainda emanava do ponto, marcado não com os dedos, mas com uma cruz com uma cabeça de martelo na parte de baixo.

Kenneth também estava fumegante, e respirou fundo tentando recuperar a Energia desprendida, mas o cansaço o venceu e cambaleou até o chão, sem conseguir mexer mais nenhum dedo.

Recuou o braço suando frio. Jamais havia visto uma mente como aquela. Possuía tanta informação sendo jogada de vez como também a mostrava de um jeito caótico, louco, insano para qualquer ser humano. O cabo do machado deslizou até a palma da mão segurá-lo quase no fim, pronto para um corte circular. Ainda suava frio pela tentativa, mas não só dependia disso para enfrentar qualquer inimigo. Se aparecesse algum monstro ou animal de mente primitiva, sempre teria seus truques para duelar. O homem de cabelo azul abriu os braços como querendo abraçar a morena de armadura completa com um machado de duas lâminas afiado em uma das mãos. As correntes com pesos do tamanho de maças em cada ponta da manga pareciam não surtir peso algum para ele. O rosto estava triste, mas os olhos exibiam uma felicidade estonteante.

Libro Securis! – o machado brilhou levemente com uma luz azulada e ela disparou logo acima da cabeça. A arma girou na vertical várias vezes, o barulho de dissecação reboando nos ouvidos com veemência. Seu alvo simplesmente curvou o corpo para trás num ângulo que seria impossível caso não estivesse vendo com os próprios olhos, e evitou completamente os 3 quilos de aço cortante. A lâmina girou para cima e retornou sem ameaças à mão de Claire. Assim que o segurou, avançou e desferiu um corte lateral. Segurando uma das correntes, ele bloqueou o ataque e chutou-a no rosto. Ela recuou a face, mas não interrompeu o toque no peitoral dele.

Phasma Annullare! – um disparo roxo trespassou o inimigo. O alto homem ajoelhou-se, ofegante. A guerreira levantou o machado para finalizá-lo, mas foi recebida com dois chutes dados de ponta cabeça. Pondo-se de pé, balançou uma das correntes em direção à Claire. Esta bloqueou com o cabo da arma e brigou forças com ele.

Vis Anima...

A falta de gravidade foi o que lhe acometeu. Não sabia onde estava o céu ou o chão. Mal sentiu o impacto no piso pelo atordoamento da puxada; a resistência natural impedira ferimentos internos, mas a confusão prendeu suas ações por um tempo: tempo demais para seu inimigo. Levou dois golpes pesados que destruiu o local onde estava deitada. Ela rangeu os dentes e tentou um ataque mental, conseguindo parar seus movimentos momentaneamente. Rolou para o lado e pensou numa estratégia. Sem o machado e sua maior arma, teria que ir pela única alternativa: alterar os sentidos dele. Não iria ser nada fácil, mas era isso ou ser esmagada.

Volo Anima... – ouviu o sussurro sendo cortado pelo vento do deslocamento dele. Teria poucos instantes até que ele lhe derrubasse.

Sensus: Loginquitas! – seu pensamento expandiu pelo local, e Zarek estacou brevemente, começando a chorar. Claire até começou a sentir pena, mas quando viu o rosto com as lágrimas escorrendo, mas a expressão furiosa, perdeu qualquer compaixão que ainda tinha. Ele mostrava que não hesitaria em matá-la, então a guerreira teve sua resolução. Enquanto não encontrasse sua arma em meio aos escombros, iria utilizar toda sua capacidade a pará-lo.

Navitas Anima!!! – sua voz rasgou o ambiente como uma lousa arranhada. As linhas de Energia do ar ficaram visíveis, o que só ocorria quando havia uma tremenda concentração da mesma no local, que era o que estava acontecendo no momento: as linhas viraram cordas grossas amarelas que cresceram até encostar no corpo dele. Sua pele alva foi ficando ainda mais clara, seu cabelo azulado ficou totalmente branco e de seus olhos não via a pupila. Ele também aumentava de tamanho, ficando maior e maior até parecer um colosso grego de luz em tamanho natural, o que dava 10 metros de altura. Suas correntes pareciam seus próprios braços, chicoteando pelo chão e deixando marcas de queimado no que tocava.

A guerreira quase desistiu de tudo para correr dali, mas lembrou-se dos ensinamentos de seu treinamento com relação a seu oponente: jamais perder a calma. Os Sensitivos de Percepção eram poucos, mas eram inigualáveis em batalha. Foi aí que abriu os braços e gritou:

Sensus: Visum!!! – por um momento não aconteceu nada, mas o chão tremeu um pouco e dois buracos escuros apareceram onde seriam os olhos do inimigo. Ele urrou e pôs as mãos no rosto, recuando dois passos, mas girando a corrente gigante e amarelada pelo campo, retalhando as paredes do pouco do salão que ainda restava, derrubando todo o teto de vidro e encobrindo tudo com uma nuvem escura de pedras e fragmentos. Claire desviou enquanto avançava para perto dele, tentando chegar à distância de toque enquanto fugia das pisadas e jogadas de corrente ensandecidas após o impacto inicial. Ao conseguir encostar, foi recebida com um chute que a arremessou para longe, batendo com força numa parede de pedra. Cuspiu sangue do impacto e pôs a mão nas costelas, sentindo muita dor. A cabeça falhara um pouco, porém mirou com o olhar bem no abdômen dele e sussurrou:

Sensus: Praesentia...

Zarek gigante parou momentaneamente. Virou a cabeça com buracos nas órbitas para os lados e cutucou os ouvidos. Bateu com a mão de lado na orelha, como em tentativa de tirar algo de lá. Logo após se agachar um pouco, soltou um grito furioso e partiu retalhando tudo ao redor com as correntes e os pés, não importando nem um pouco onde iria atingir. A guerreira reagiu a isso formando uma proteção azulada côncava a sua frente e apontando as mãos para o inimigo, mesmo com dificuldade.

Sensus: Navitas... – uma grande espada fantasmagórica surgiu acima do colosso e o cortou ao meio num flash ofuscante. O golpe desfez toda aquela Energia, restando apenas um corpo caído aos pés da ruína do muro. Claire deu uma risada curta e caiu, maltratada demais para se mexer.

O solavanco de ar foi seu único aviso. Vergil tinha corrido numa velocidade tão intensa que sumiu da visão da inimiga, reaparecendo pouco antes de seu punho totalmente eletrificado girar como uma broca, tentando acertar o abdômen dela. Por milímetros ela conseguiu desviar, puxando a corda do arco escuro e a liberando, efetuando um disparo incomum: uma flecha prismática, feita de quartzo límpido que refletia azulado zuniu pelo ar tremendamente rápido, forçando o lutador a mudar sua posição para longe em medida do desvio. Olhou aturdido para onde atingiu, que havia expandido sua área como ao congelar um local com nitrogênio líquido.

Sabendo que ficar no salão central, com todos os inimigos por perto e sem possibilidade de pedir ajuda aos outros era má ideia, procurou uma brecha em meio aos tiros dela para escapar para fora. Um chute no vidro depois e ele estava parado no pátio central do castelo, com a porta principal caída e a entrada pesada com o “D” gigante solta pelo chão. Uma área aberta facilitaria seus desvios, e evitaria dela se esconder para atacá-lo desprevenido. Ficou parado com as pernas abertas como se fosse correr, mantendo um punho fechado em contato direto com o chão. Ela deu um sorriso sarcástico e puxou a corda da arma. Dessa vez, era visível as flechas de cristal em sua mão, e a luz do sol da tarde dava um ar psicodélico ao refletir nelas.

Fulgetra Orbis! – uma esfera pulsante de raios caóticos vermelhos do tamanho de uma bola de basquete voou de sua palma da mão enquanto desviava dos três disparos simultâneos. As flechas não foram páreas para o ataque, mas sua oponente esquivou do ataque, que atingiu uma das torres, explodindo-a em pedaços de parede, madeira e pedras.

– Caramba... – mencionou surpreso.

– Heh, você não é de todo ruim, garoto – comentou sua oponente, suando.

As flechas estavam começando a se acumular pelo local, e ao tocar na pele, cortavam com muita facilidade. A quantidade fazia parecer uma grande floresta de cristal azul transparente que tinha nascido através da pedra, imponente sob o céu e louca pela luz. Vergil não conseguia se movimentar direito, por vezes quando desviava, era cortado por no mínimo dois galhos pontudos. Seus braços estavam todos marcados, latejando pelo tempo que levava para se locomover.

Fulgur Sera Septem! – os pequenos orbes de raio escarlate entrelaçados voaram e atingiram algumas das “árvores”, mas destruíram poucas delas. Os flashes de luz marcaram sua localização, o que lhe custou duas flechas no corpo. Grunhiu em dor, se ajoelhando. Tratou de quebrar as flechas que estavam formando cristais em sua pele, como querendo lhe transformar numa relíquia futura. Olhou irritado para a inimiga, e reunindo uma grande quantidade de Energia, soltou um urro que dava para ser ouvido por todo o castelo.

Maximum Potentia: Fulgetrum Tempestas!!! – o chão a seu redor estalou com cargas errantes, formando arcos de eletricidade vermelha que convergiam para ele. Faíscas percorriam suas pernas, se elevando pelo torso e brotando da ponta de seus dedos, emergindo para todos os lados, principalmente para cima. Um grosso relâmpago partiu dos céus e atingiu uma área da floresta de cristais, a reduzindo a cacos de quartzo e chão preto. Poucos milésimos depois, outro relâmpago atingiu outro ponto próximo ao lutador, tendo mesmo efeito. O intervalo ficava cada vez menor entre um raio e outro, destroçando toda a imensidão das flechas que a oponente fez aparecer. Ele recuou os braços cansado, mas com um único foco: o reflexo da face da inimiga num dos cristais que voava denunciou a posição que estava escondida. Em um instante, ele cobriu a distância que os separava.

Fulgur Contumelia! – a perna emergiu em raios escarlates, atingindo a arqueira no flanco direito e a deslocando alguns metros para o lado. Ela evitou a continuação fugindo para atrás de algumas novas ruínas do castelo, feitas pelas outras disputas. Vergil disparou um raio da mão, atingindo o local onde ela estava, mas não a encontrou lá. Notou um vulto indo para a floresta ao lado direito, por um buraco no muro, e lançou outro relâmpago lá. Frustrado por não atingir nada, ele correu, atravessando o comprimento do pátio e adentrando na mata vicinal. Algo entre um minuto e poucos segundos revelou onde ela estava se escondendo. Mostrando incredulidade, ela tentou puxar uma flecha, mas o lutador foi mais rápido, engajando-a no combate corporal. Mesmo sendo uma guerreira à distância, ela era igualmente hábil ao lutar de mãos vazias.

Cerca de 3 minutos depois, Vergil conseguiu executar um contra-ataque com o cotovelo que a parou por uns instantes, dando a brecha que precisava para derrubá-la ao chão com uma rasteira e imobilizar suas mãos com uma mão e um joelho. A mão livre tocou a cabeça dela e emitiu um choque que reverberou por todo seu corpo, a deixando inconsciente na hora. Respirou fundo e sentou, tentando recuperar o fôlego.


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Notas finais do capítulo

Tiveram bastante palavras novas nesse capítulo, o que demorou também. O próximo já está em progresso, porém não posso dar promessas quanto a ele, mas está na reta final.
Eu normalmente tento escrever um pouco diferente disso, mas cada coisa mostrada tem um propósito...



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