Capítulo 3

Garotas Loiras

Fitei-me no pequeno espelho que havia no banheiro. Meus olhos estavam completamente vermelhos e inchados.

Parecia que um enorme caminhão havia passado diversas vezes por meu coração. Não conseguia parar as lágrimas que escorriam. Não conseguia parar de soluçar. Não conseguia parar de me lembrar do fora que havia ganhado. Tudo bem, eu já devia estar preparada para tomar um fora, mas mesmo assim doeu. Doeu muito. Acho que lá no fundo ainda tinha uma pequena esperança que o rosado ia aceitar meus sentimentos. Como fui iludida!

—Ele não gosta de loiras. Natsu não gosta de loiras. – Repeti baixinho. Passei as mãos por meus cabelos longos e dourados. Nunca senti tanta vontade de ser morena, ou ruiva, ou até mesmo albina.

Considerava-me uma das maiores stalkers daquele colégio. Mas não sabia que meu amado não gostava de garotas loiras. Como fui tão lerda? Suspirei.

—Lucy! –A porta tremeu. - Eu trabalhei o dia inteiro! A única coisa que eu quero é tomar um banho! –Laxus quase quebrou a porta em dois. – Sai logo!

Abri a torneira e lavei meu rosto. Tentei disfarçar minha cara de choro - vamos combinar que foi impossível-. Respirei fundo e abri a porta. Laxus me fitou e arregalou os olhos. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, corri feito uma condenada até meu quarto. Desviei do buraco do paviflex e me tranquei no quarto.

Sempre achei que Juvia exagerava quando me ligava de noite aos prantos, dizendo que Gray havia lhe rejeitado pela centésima nona vez. Por incrível que pareça, naquela noite eu conseguia sentir perfeitamente o que ela sentia. Mas meu caso era diferente. Gray gostava dela. Só era orgulhoso demais para admitir. Peguei meu celular do tempo das cavernas que estava encima da cama e liguei para única garota que podia me entender naquele momento.

Eram dez horas da noite quando o carro blindado de Juvia parou em frente a minha humilde residência. Juvia Loxar era a única herdeira dos Loxar, uma das famílias mais influentes do Magnólia. Então, Juvia tinha muito dinheiro. Ela com toda certeza do mundo, não tinha problemas com os buracos no piso do paviflex.

Agradeci a deus por minha mãe não me encher de perguntas. Abri a porta e senti os braços magros de Juvia me envolvendo.

—Lu-chan! –Ela tinha lágrimas nos olhos. – Juvia comprou várias barras de chocolate! –Me entregou uma sacola cheia de chocolates. É hoje que eu fico obesa.

—Obrigada por vir.. –Minhas bochechas estavam coradas. Eu nunca imaginei que precisaria da ajuda de Juvia para isso.

—Você sempre apóia Juvia quando o Gray-sama... –Ela deixou a frase morrer. Agarrei seu pulso e corri até a escada. Juvia não manjava dos buracos do paviflex, então ela acabou prendendo o pé do buraco.

—Juvia está sendo puxada pelo buraco negro! – Se debateu. Eu não pude evitar soltar uma risada. Salvei a pobre azulada da morte -dramática sempre- e voltei a correr até o quarto. Assim que Juvia adentrou o mesmo, fechei a porta e tranquei.

Joguei-me na cama. Juvia se deitou ao meu lado. O silêncio dominou totalmente o quarto. Novamente um garoto de cabelos rosáceos invadiu meus pensamentos. Senti uma enorme vontade de me estapear. Tire ele da cabeça!

—Você sente uma vontade de ser bater por estar pensando nele.. – A azulada me fitou – Juvia também.

Desfiei meu olhar da escuridão que eram os olhos dela. Nunca havia parado para pensar nisso, mas Juvia devia sofrer muito por culpa do Gray. Coitada. Foi se apaixonar por um dos caras mais galinhas do mundo.

1# Ranking dos caras mais galinhas do mundo.

1- Loke Lion (Jogador do time da escola).

2- Gray Fullbaster. (Matador de aula profissional).

3- Alzack Conell ( Não sei explicar sua função, mas tinha lindos olhos caramelo.)

—Ele não gosta de loiras... –Murmurei. Novamente senti as lágrimas escorrendo por meu rosto. Levei as mãos até os olhos com a intenção de limpar todos os rastros de choro, fui impedida por Juvia.

—Pode chorar. É bom... Como a chuva! Pinga,piga,molha,molha...–Fiquei meio confusa com aquele papo de chuva. Juvia era estranha, então acho que aquilo era uma coisa normal (?). Puxei a azulada e a esmaguei com um abraço de urso.

—ELE NÃO GOSTA DE LOIRAS! – Gritei.

...

Respira Lucy, respira Lucy, não se esquece de respirar Lucy! Prendi meus cabelos em um coque e puxei minha bolsa. Já fazia uma semana que eu não colocava os pés no colégio. Não estava com a mínima vontade de entrar na sala e avistar os olhos ônix daquele garoto. Senti um frio passar por minha espinha só de pensar em seus olhos, pensar naquele sorriso lindo, naquele cabelo rosáceo que devia ser perfeitamente macio e naquela empolgação que só ele tinha.

Confesso que fiz besteira no dia em que Juvia veio dormir aqui em casa. Não bastasse ter me empanturrado de chocolates,tive a brilhante ideia de cortar meus cabelos. Se arrependimento matasse, todos estariam no meu enterro. Meu cabelo não estava curtíssimo, só não batia nem na metade das costas. Merda de vida! Merda de paixão platônica!

—Lucy, vai pra escola? –Ouvi os gritos de minha mãe. Suspirei.

Agradeci a deus todos os dias por ela ter caído naquele golpe da cólica. Gritei um “sim” e aspirei todo ar que pude. Abri a porta do quarto e andei tranquilamente - Mentira! Eu queria voltar correndo para o quarto e ouvir bastante Adele, para chorar bastante -. Desvirei do buraco e mandei um beijo para mamãe. Como de costume, estava quase atrasada. Contei às moedas que havia na carteira e quase dancei waka waka ao notar que havia dinheiro para pegar o ônibus. Andei até a parada e fiquei poucos minutos esperando o transporte público chegar. Quando chegou, estava lotado. Graças a Deus! Achei um lugar para sentar!

...

Estava na frente dos grandes portões do colégio. Tentei andar rapidamente (lê-se: Corri feito uma maluca) até a garota de cabelos azulados que estava debaixo de uma grande árvore. Levy arregalou seus e abriu a boca num perfeito “o”. Quando me aproximei, achei que a baixinha iria me dar um abraço. Estava terrivelmente enganada. Levy me deu um belo soco no estômago. Se tivesse tomado café da manhã, teria vomitado tudo.

—F-ficou M-maluca? –Lhe dei um chute na canela.

—Eu fiquei maluca? Olha o seu cabelo! –A baixinha me deu um tabefe na cabeça. Soltei um gritinho. Ela conseguia ser bem agressiva quando queria. – Seus lindos cabelos dourados foram para o brejo! –Fingiu um choro.

—Resolvi mudar o visual! –Sorri forçada. Levy soltou uma risada forçada.

—Mudar o visual? Admite Lucy! A Juvia me contou tudo! –Levy respirou fundo. – Ele não te merece!

Abaixei a cabeça e me controlei para não começar a chorar. Precisava agir como homem e não derrubar lágrimas em públicos.

—O Natsu é passado! –Doeu. Doeu muito pronunciar aquelas palavras, mas era o único jeito de tirar Levy do meu pé.

No mesmo momento em que disse aquelas palavras. Encontrei seus olhos ônix. Natsu estava ali, parado na minha frente, me avaliando com um olhar intenso. Prendi a respiração e arregalei meus olhos gradativamente. Céus! Ele havia escutado tudo? Não! Não Natsu! Eu queria gritar para ele que aquilo era uma mentira e que ele podia falar comigo a qualquer momento.

O rosado estralou a língua. Estava começando a me desesperar. Foi quando ele abriu um sorriso. Seus cabelos rosáceos estavam rebeldes e bagunçados como sempre, seu uniforme folgado que ficava extremamente sexy no mesmo e... Acho que vou ter um sangramento nasal.

—Bom dia, Luce! – Foi a única coisa que ele disse. Meu coração queria sair pela boca. Soltei um suspiro de idiota apaixonada.

B-bom dia, Natsu-sama...