História sem nome escrita por Henry RedLima


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Voltei depois de quase 4 anos, será que alguém ainda vai ler?



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Acabara de deixar Ana em sua casa - digo - mansão. Apesar de ser tentador passar a noite com uma praticamente desconhecida achei melhor ir pra casa, preocupar minha mãe não é uma escolha muito inteligente. Nunca foi. Talvez eu esteja perdendo uma oportunidade única de viver algo novo,ou simplesmente, de finalmente viver algo, mas acho que é melhor assim.
  Uma sensação abstrata havia se formado em mim. Desde que resolvemos sair daquela praça e caminhar em direção a onde ela morava, um crescente sentimento foi surgindo. O que durante a caminhada não fazia o menor sentido, após vê-la entrando e subindo suas eternas escadas até o momento em que aparecera na janela de seu quarto se despedindo, tornou-se um desconforto latente. Virar as costas para ela, me daria a certeza de que a sombra, minha sombra, retornaria. Então simplesmente adiei o brusco movimento de ida, e esperei-a dar o adeus, na esperança de que ela nunca tivesse a coragem.
"Ei, eu realmente tenho que me trocar. Talvez você queira subir, eu deixei a porta aberta porque eu tenho certeza que você vai subir. Acho que temos muito o que conversar ainda e talvez fazer..." Apesar de realmente ter muito o que falar com ela, sabia que não podia. Já era tarde, caso eu entrasse teria de passar a noite lá.
"Melhor você trancar a porta..."
"Você não parece tão interessado em mim, SN."
"SN?"
"Sem-" interrompi-a rápidamente.
"Sem Nome"
"Pelo fato de você se preocupar mais com o significado de SN, do que contrariar minhas inseguranças vejo que estou certa. Até breve. Chegue vivo em casa!"
  Logo que Ana fechara a janela, percebi que não estaria ali sozinho. Finalmente minha real companhia havia retornado, e como se com ela viesse a resposta ao que estava sentindo: Melancolia. Não culpo meu fiel demônio por trazer esse sentimento a mim, apenas o culpo por ter acabado com o mistério do que podia ser o aquela sensação.
  Ficar observando da rua sua silhueta agitada atravessar o quarto de lá pra cá era realmente reconfortante . No entanto somente aquilo não cessaria a perseguição: a sombra se incomodava ao perceber que estava próxima a ela, mas somente quando eu trocava olhares com Ana que a sombra desaparecia. Ana era a resposta: talvez eu devesse simplesmente entrar na casa dela e observar seu corpo, não mais somente sua silhueta, e finalmente estaria livre e com quem eu am...
  Tomei coragem e virei-me. Por alguns instantes pude ver como aquele vulto copiava meus movimentos de forma atrasada. Aquele borrão preto saia de todo o meu corpo e com maestria se movia na mesma velocidade e da mesma forma que eu, apenas começava com um segundo de atraso. Devido a esse segundo eu me garantia sendo eu: sendo eu o original e aquilo a sombra. Segui pela avenida que me levaria para casa.
  Claramente era possível sentir outra presença ali junto a mim: quando parado sentia como se ouvesse uma densa, porém fina, camada sob minha pele. Ao mover-me, sentia um alivio que quase que de imediato passava, dando espaço para sentir aquilo retornando para dentro de mim.
Ao longo do caminho aquela melancolia havia se misturado com uma espécie de incômodo e a cada passo repetido o desconforto aumentava. Progressivamente fui sendo tomado pelo medo. A iminencia da morte trazida pela mistura da minha melancolia e inquietação da sombra transformou aquela caminhada numa espécie de tortura. Entretanto, aquela situação soava para mim como uma alegoria para uma bomba. Cada passo que eu dava sentia-me como um pavio em chamas, cada vez mais sendo consumido. Senti que caso continuasse a seguir por ali, ser consumido pelas chamas seria inevitável.
  Mesmo que não fizesse diferença alguma resolvi atravessar a rua só para atrasar o meu progresso de volta, no entanto algo me fez parar no meio da travessia. Fechei os olhos e passei a me lembrar de como estive em paz em cada minuto que passei ao lado dela: desde o primeiro, seu sorriso direcionado a mim na sala, até o último momento, seu rosto decepcionado fechando a janela... apesar de que nesse último havia me engasgado com as palavras, e apenas respondi às suas acusações de falta de interesse com um longo silêncio, me sentia bem por estar ali, frente a ela (mesmo que desconfortável).
  Diferentemente do medo que eu tive de virar bruscamente de costas na hora de me despedir de Ana, fui tomado por uma certeza que sequer me deixou pensar. Por alguns segundos eu mal pude sentir que havia alguém me perseguindo e fui as pressas àquela casa. Corri o mais rápido que pude motivado pelo medo de seguir o caminho contrário e a vontade que tive de vê-la. Chegando novamente ao endereço, pude ver que a luz do quarto estava apagada, mas havia algo iluminando seu interior. Gritei exatas 7 vezes por ela, mas ela n respondera.
  Subitamente fiquei paralisado. Por alguns segundos ouvi minha própria voz sussurrar repetidas vezes em meu ouvido: "Corre! Antes lá dentro do que aqui fora..". Senti que minha sombra havia se desprendido de mim, completamente dessa vez. Como se quisesse me conquistar, abraçou-me por trás e completou: "Não quero deixar as coisas tensas entre nós, talvez eu devesse te deixar mais a vontade..." e aos poucos foi soltando sons de quem tenta segurar uma risada e aos poucos desiste de esconder. Ao ouvir sua gargalhada caprichada o ataque de pânico levemente esvaiu-se, e pude fugir para dentro de casa -digo- mansão. Por sorte ela havia deixado a porta destrancada. Talvez houvesse se esquecido de trancar, talvez só fosse confiante o suficiente pra saber que eu voltaria. Pude ouvir, ao subir as escadas, que havia alguém me seguindo, não mais algo que saia de mim e copiava meus movimentos, mas agora um ser independente que se divertia ao ver meu desespero.
  Ao chegar ao topo da escadaria, pude sentir o vapor saindo de seu quarto e se espalhando por todo o corredor e pelos últimos 5 degraus. Os passos cessaram, o terror que havia dominado os últimos minutos desapareceu por completo. Conforme eu me aproximava do quarto melhor dava para ouvir Ana no chuveiro. A água fervendo se encontrando com seu corpo, e como aquilo a fazia suspirar, os sons dela passando as mãos pelo corpo e como esse ato mudava a forma com que a água caia no chão do banheiro. Sabia quando ela estava lavando o cabelo porque seu longo cabelo segurava a água por mais tempo antes de ser derramada de forma violenta no chão. Podia visualizar exatamente seu banho, antes mesmo de entrar no quarto.
  Finalmente havia entrado na suíte, e não seria exagero meu se afirmasse que era impossível enxergar qualquer coisa ali, devido ao denso vapor que facilmente se confundiria com a névoa das manhãs. Entretanto mais cedo naquele dia pude decorar cada parte do lugar enquanto ela se banhava. Sua cama encostada no canto direito do quarto; uma enorme janela que dava de frente pra rua, um armário tão grande que facilmente daria para esconder quatro pessoas, no canto oposto à cama; um tapete macio que caso deitasse sobre perderia de vista onde acaba; uma escrivaninha com uma cadeira e diversas pratelerias que se estendiam até próximas ao teto, na mesma parede que se encontra o armário, e logo ali do seu lado se estava a porta para o banheiro. Como se pudesse ver as coisas com clareza puxei a cadeira da escrivaninha e sentei esperando-a sair do banho.
  Passou-se praticamente uma hora quando ela decidiu desligar o chuveiro, nesse ponto talvez metade da escada estivesse envolta naquele vapor denso. Talvez esse hábito explicasse o mofo que fingi não ter visto mais cedo no dia anterior (acabara de passar da meia noite). Enrolada na toalha pude ver uma silhueta saindo do banheiro. Talvez pelo nervosismo não consegui dizer oi, apenas: "Como você é demorada, em?"


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