Era uma vez no Oeste escrita por nina


Capítulo 16
Na-gah


Notas iniciais do capítulo

Oi gente
Essa semana temos capítulo extra graças à Cristina Abreu e seu linda recomendação, então quero dedicar e agradecer à Cristina...eu ameei tudo o que você escreveu =)
Também quero dar boas vindas a todas as novas leitoras...e dizer que é muito bom ver vocês comentando =)
Boa leitura a todas

Ps: Eu peço desculpas por não responder a todos os comentários, mas eu os li e vou responder com tempo.





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Capítulo 16 – Na-gah

Todos estavam abalados, e esse foi o motivo pela qual passamos mais uma noite ali, no meio do deserto vermelho do Texas.

O sol laranja estava nascendo e todos tinham acordado cedo para partimos e deixarmos para trás uma parte que nunca seria preenchida novamente.

Eu estava sentada e afastada da maioria, comendo ovos mexidos, que não estavam tão saborosos como sempre foram. Dimitri percebeu que eu não falava e não ria desde ontem e por isso estava preocupado, ele se aproximou e se sentou ao meu lado, com seu próprio prato em mãos.

Nada precisava ser dito, apenas a sua companhia estava me acalmando agora.

– Tiro Certeiro. Você acha que deveríamos fazer um funeral antes de irmos? – Mason se aproximou com Christian e Adrian ao seu lado. – Acho que o Sr. Nagy gostaria disso.

Dimitri assentiu.

– Sim, eu quero que vocês cavem uma sepultura, enquanto isso os outros terminam de desfazer o acampamento. – eles acenaram e foram em busca de pás na parte traseira da carroça.

– Como você está se sentindo? – Dimitri achou que aquele era o melhor momento para quebrar o silêncio entre nós.

Um nó se formou na minha garganta pela milésima vez naquele dia e eu me forcei a engoli-lo.

– Estou bem. – minha resposta não saiu mais do que um sussurro rouco, mas era o melhor por agora. – Você? – eu procurei seus olhos.

Dimitri desviou o olhar.

– Eu vou segurar. Tenho outras coisas para pensar. – então ele acariciou minha mão da maneira como o Sr. Nagy costumava fazer. – Sorria, Sr. Nagy gostaria disso. – eu sorri pelas suas palavras o fazendo sorrir de volta.

Uma hora depois estávamos todos de pé ao redor de um buraco ovular no chão. Eddie estava cantando um hino suave com seu banjo. Eu mantinha minha cabeça baixa e as mãos cruzadas na frente do corpo.

Eu não tinha roupas pretas, mas usava um xale dessa cor que comprei quando estive em Guadalupe. A brisa quente fazia o tecido do meu vestido voar enquanto eu olhava para o sepultura.

Quando o hino acabou um silêncio mortal se seguiu, Dimitri foi quem rompeu com a angústia.

– Eu acho que nenhum de vocês conheceu o Sr. Nagy inteiramente, mas não há dúvidas sobre o grande e bondoso homem que ele era. – Eu sabia que era difícil para um cowboy bruto e reservado pronunciar tais coisas suaves, verdadeiras e em voz alta. Mas ele se forçou para continuar. – Ele... Ele era um bom homem. E ele fez mais por mim do que todos vocês vão saber. E...

Eu engoli o caroço na minha garganta, disposta a ajuda-lo.

– Sr. Nagy era... – eu disse, Dimitri me olhou agradecido. – Era um homem de coração mole. O tipo de pessoa que deveria ter nascido para morrer bem velho ao lado de sua esposa, enquanto bebia uma limonada na varanda e assistia a seus netos brincarem no quintal. Mas alguém lá em cima sabia o quanto ele era perfeito e decidiu que essa perfeição pertencia àquele lugar, porque não é todo dia que se encontra um anjo e mais alguém estava precisando dele mais do que nós. Eu agradeço por ele ter sido enviado para cuidar de mim todo esse tempo... – foi nesse momento que a minha voz falhou e as lágrimas que eu pensei não existirem mais, desabaram.

– Ele foi enviado para cuidar de mim também. – Dimitri disse, em seguida, me puxou para seus braços, na tentativa de me confortar.

– A mim também. – Mason disse.

– E a mim. – Christian e Eddie disseram juntos.

– E eu. – Adrian completou.

Ao redor do círculo todos declaravam como Sr. Nagy tinha sido especial, de alguma forma, em suas vidas.

...

Horas mais tarde eu me vi sentada ao lado do Dimitri na carroça. Na verdade, foi muito gentil da parte dele decidir por conduzir a carroça ao invés de seguir a cavalo com seus homens. Ele estava levando a promessa que fez ao Sr. Nagy de cuidar de mim bem a sério. Agora era o Dimitri que estava preocupado com os leves ferimentos que recebi no dia em que fui atacada por índios.

De vez em quando ele iria acariciar a minha mão, um pouco sem jeito, quando ele percebia que eu estava me sentindo sozinha ou triste e, por vezes, ele me chamava à atenção para coisas divertidas, como tentar adivinhar as formas das nuvens que passavam por nós. Mas diferente do Sr. Nagy, ele ainda tinha tempo para me irritar.

E era exatamente isso o que ele estava fazendo.

Sempre que o Sr. Nagy via que meu vestido estava prestes e se prendar na roda da carroça, ele me avisa dizendo “cuidado princesa, Kaluanã me esfolaria se eu deixasse algo acontecer a você.”. A culpa era de a carroça ser tão estreita, isso não tinha nada a ver com o fato de que eu não conseguia ficar parada na mesma posição por muito tempo.

Mas com Dimitri era diferente, quando ele percebia isso, me puxava pelo braço para perto mais dele, sem qualquer explicação.

E nesse exato momento, foi exatamente isso o que aconteceu. Quando meu vestido estava prestes e se enroscar na roda sem qualquer conhecimento meu, Dimitri me puxou. Fazendo-me resmungar e me afastar dele pela milésima vez naquele dia.

– Eu já avisei que o seu charme não funciona comigo, camarada. – Ele me deu um sorriso de lado e voltou e me puxar para seu corpo, praticamente colada a ele.

– O vagão é meu e eu decido aonde você vai se sentar. – ele piscou. – Agradeça por eu não escolher lugar pior.

Eu gemi e revirei os olhos.

– Olha, se eu quisesse algo com você já teria te agarrado, não preciso de incentivos. – E era verdade, eu sempre soube demostrar muito bem minhas intenções.

– É mesmo? Prove. – Ele disse.

No segundo seguinte eu tinha minha mão no seu pescoço o puxando para mim lentamente. A carroça diminuiu seus movimentos enquanto Dimitri me olhava com algo quente no seu olhar. Eu aproximei seu rosto do meu e em seguida percebi o que estava fazendo.

– Seu bastardo. – Eu me afastei, batendo no seu peito. – Era exatamente isso que você queria, eu não vou cair nos seus truques. – Ele riu alto.

– Você caiu. – Ele constatou. – Eu só não terminei o que você começou, mais uma vez. – Eu mostrei a língua para ele em um ato infantil.

– E você também não me provou nada. – Ele sorriu e tentou me puxar para seu lado novamente, mas eu me esquivei, cruzando os braços.

– Sabe o que eu acho?

– O que? – Ele perguntou curioso.

– Que você não é homem o suficiente. Por isso fica com esse papo de beijar só uma vez e com esses truques baratos, é apenas um disfarce.

– Disfarce para quê? – Ele me olhou indignado, seu orgulho masculino estava ferido. Muito bem Rose.

– Você sabe. Mas eu não o culpo, afinal, você passou a maior parte da sua vida com um bando de homens, no meio do nada, e durante as noites frias do deserto...

– Tudo bem Rose. Você ganhou dessa vez. – Definitivamente com o orgulho ferido. – Mas não reclame quando eu decidir te provar o contrário e mostrar o quanto eu sou homem de verdade. – Ele piscou e me deu seu sorriso torto que fazia todas as mulheres suspirarem.

– Você pode tentar. – Eu disse alto o suficiente para ele ouvir.

Um momento depois eu decidi perguntar algo que vinha tomando meus pensamentos desde a nossa visita a Guadalupe.

– Há quanto tempo você conhece a família Ozera? – Perguntei.

– Cinco, talvez quatro anos. – Ele deu de ombros. – Moira nunca foi de deixar caminhantes passando fome e depois que o seu filho entrou na minha comitiva, ela estava mais do que disposta a nos ajudar.

– Ela parece gostar de você. Principalmente a pequena Lucy.

– Sim, ela é uma mulher agradável quando você a conhece bem. E a Lucy é a criança mais inteligente que eu conheço e sempre será nossa mascote.

– Eu percebi que você tem grande influência, onde quer que passemos.

– É o que se ganha por morar na estrada.

– E quanto à Natasha? Ela parece gostar muito de você também. – Perguntei relutante.

– Nosso relacionamento mudou muito desde que nós nos beij... – Ele se interrompeu.

– Desde que você a beijou.

Ele coçou a parte de trás da cabeça e olhou para mim com o canto do olho. Algo sobre o seu rosto se parecia com um menino que havia acabado de roubar um biscoito do pote da avó.

– Na verdade, ela foi quem me beijou. – Eu dei uma pequena risada.

– Mas você não teve nenhuma objeção, não é?

Ele deu de ombros e evitou me olhar.

– Bem, você já olhou para ela? Honestamente, que homem em sã consciência teria se oposto?

Eu não entendia por que ele se sentia no dever de se defender sobre o assunto. Ele beijou muitas outras meninas e provavelmente não as deu uma segunda olhada. Eu percebi que só deveria haver uma razão para toda essa cautela.

– Você a ama?

– Claro que não, Rose! – A explosão do Dimitri me fez pular. Ele passou os dedos pelo seu cabelo e evitava olhar para mim, quando ele finalmente fez eu via... Exasperação? Perplexidade? Confusão? Eu não poderia dizer. – Como você... – Ele olhou para frente com a mandíbula tensa. – Eu não sei como você pôde pensar um absurdo desses. – Ele disse como se essa fosse a coisa absurda que ele já viu na vida.

– Bem. – Eu me defendi. – Sua reação faz com que pareça que sim.

Dimitri ficou sem palavras por alguns instantes, mas depois ele me puxou para perto dele gentilmente.

– Eu não quero que o seu vestido fique preso na roda. – ele murmurou.

Eu não fiz objeção, era algo preventivo no fim das contas. Mesmo que meu interior me dissesse que era muita mais.

...

Eu cantarolava enquanto eu estava sentada na minha barraca naquela noite, penteando os emaranhados do meu cabelo. O jantar tinha sido servido há algumas horas. Os homens tiveram que se virar para fazer um guisado descente, mas Dimitri sabia o que fazer e segundo ele era por conviver muito tempo com o ex-cozinheiro.

Através do tecido fino da tenda eu podia ver as brasas da fogueira morrendo aos poucos e sorri ao me recordar da dança que eu tinha feito com os homens antes de todos se aposentarem.

Eu estava muito desperta para me deitar e dormir, então estava gastando meu tempo trançando meu cabelo. Uma sombra passou em frente às brasas e o som dos grilos pulando ecoava no meu ouvido. Eu sabia sem ter que olhar através da tenda que esse homem era Dimitri.

Até agora eu estava acostumada a encontra-lo a olhar para a escuridão durante a madrugada, e sua desculpa era a de vigiar a carga.

Minha trança estava acabada e eu comecei a procurar, por entre os cobertores, pela minha fita, mas estava escuro demais para qualquer coisa, então, dando de ombros, eu deixei a trança desatada e saltei para fora.

Dimitri estava com o rosto parcialmente iluminado pelo fogo e perdido em pensamentos, mas ele balançou a cabeça quando percebeu a minha presença.

Eu me sentei ao seu lado, enquanto uma leve brisa trabalhava em desfazer meu cabelo.

Dimitri deve ter percebido meus tremores suaves, pois no segundo seguinte tirou o coberto do seu ombro e gentilmente colou sobre o meu. Alguns dias atrás eu teria recusado imediatamente e o atacado com palavras de raiva, mas o que me surpreendeu é que agora eu me sentia completamente segura ao lado dele. E a última vez que eu me senti assim foi quando Sr. Nagy estava ao meu lado.

– Não consegui dormir? – Ele finalmente perguntou.

– Não.

– Quer que eu te aborreça o suficiente para você tomar o caminho para sua tenda e dormir tamanha a raiva? – Eu não pude deixar de sorrir. Eu tinha feito muito isso.

– Isso seria ótimo.

Ele inclinou a cabeça para trás, olhando as estrelas. – Se contar carneirinhos não está funcionando, tente contar estrelas.

Eu inclinei a cabeça para trás também.

– As estrelas são fascinantes demais para me colocar para dormir.

Nós continuamos a olhar para elas de todo o jeito. Havia tantas. Aqui, longe de toda a civilização e das luzes, o céu parecia ainda maior e mais iluminado.

Depois de um tempo, Dimitri apontou para uma estrela.

– Polaris. – ele disse. – É a única estrela do céu que não se move. É uma antiga história indígena. Ouvi quando tinha uns 13 anos, eu estava do lado de fora de um saloon esperando pelo Nathan, quando uma velha índia me achou a atenção. Ficamos horas conversando e na ocasião eu ganhei meu apelido de Kaluanã, o grande guerreiro.

– Vai me contar?

– O que?

– A história da estrela. – Ele sorriu suavemente.

– Isso foi há muito, muito tempo atrás. Quando a terra era jovem, um filho do Sol vagava por aqui, seu nome era Na-gah. Ele podia subir até o topo de qualquer montanha e nunca se cansava ou fadigava. – A mão do Dimitri deslizou por sobre a minha e o meu coração se acelerou. – O sol estava tão orgulhoso do seu filho e para se provar ainda mais, Na-gah ao se deparar com a maior montanha que ele já viu, tomou isso como um desafio pessoal. – Seus dedos começaram a brincar com os meus. Eu queria prender a respiração, com medo de que qualquer movimento meu fosse afasta-lo. – Na-gah, com o apoio do pai começou a subir a montanha. – Seus dedos agora, se entrelaçaram aos meus e o seu polegar acariciava as costas da minha mão. Eu agradeci seus gestos fazendo o mesmo. – Depois de horas e horas escalando, Na-gah não chegava a lugar nenhum, mas nunca pensou em desistir. Ele tinha medo de ser a vergonha do Sol, mas então, ele se perdeu e acabou caindo em um buraco, fundo e escuro.

– Oh, não. – eu disse suavemente, mas minha mente estava na sua mão segurando a minha.

– Só mais tarde ele percebeu que aquele buraco era o topo da montanha, mas que ele ficaria lá até morrer, pois não havia como sair. O Sol, chamando o nome do filho perdido descobriu que ele tinha chegado ao topo, mas que nunca mais desceria de lá. Com orgulho, ele transformou o filho em uma estrela, para que todos soubessem eternamente que Na-gah tinha chegado ao topo da mais alta montanha.

Com o fim da história, nós dois ficamos ali sentados, ainda de mãos atacadas. Eu sentia borboletas vibrando dentro de mim, algo que eu nuca senti antes. Era como uma excitação nervosa que se sente antes da apresentação para um grande público, ou quando se vai pular de um lugar muito alto. Eu quase soltei uma risadinha, eu Rose Mazur, estava caindo de amor pelo homem que eu jurei odiar.

Eu deixei Dimitri saber que eu sabia da sua mão na minha, pois continuei jogando com meu polegar. Lentamente, eu deixei minha cabeça descansar sobre o seu ombro, enquanto dele deitou sua cabeça sobre a minha. Eu não sei quanto tempo ficamos ali de mão dadas, conversando sobre nossas vidas passadas. Mas lentamente, minhas pálpebras começaram a se fechar e pela primeira vez, eu dormi nos ombros do cowboy mais arrogante que eu conhecia.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu sei, nada de beijo ainda hahaha
Qualquer erro por favor me avisem, pois eu não consegui revisar esse capítulo, eu seria muito grata =)
Beijos e até o próximo



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