Shinigami escrita por Arthemisys


Capítulo 2
Amaranth


Notas iniciais do capítulo

Saint Seiya pertence à Masami Kurumada e empresas licenciadas. Bleach pertence à Kubo Tite e empresas licenciadas. O single Amaranth foi escrito por Tuomas Holopainen e é interpretado pela banda Nightwish.



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 Shinigami

 Por Arthemisys

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Dois anos. Foi o que constatou quando viu a data estampada no letreiro digital do relógio de rua. Desde seu último encontro com Hades, na noite anterior, Ikki tentava unir as peças do complicado quebra-cabeças do qual ele parecia ser a peça principal. Mas ao que tudo indicava, aquele jogo de lógica parecia que não seria elucidado tão rapidamente quanto gostaria.

 O som as impacientes buzinas dos automóveis o tirou da letargia dos seus pensamentos. Assim, endireitou o boné que usava e retomou seu caminho. Pensou em quem visitaria primeiro... Seu irmão? Algum de seus amigos? Não. Enquanto não compreendesse a sua própria realidade, Ikki não ousaria intrometer-se na realidade quem lhe era estimado.

Nesse instante, em um dos enormes telões Sony que ornavam as torres do centro da cidade, o som estático de um jovem VJ da MTV japonesa conseguiu desviar a atenção dos transeuntes, principalmente os mais jovens.

- Finalmente o grande dia chegou! Após render o mundo, finalmente o Japão será o próximo país a ouvir o som do maior fenômeno do rock!

“A hipocrisia desses caras não tem fim!” – Ikki pensou, enquanto o locutor continuava a declamar elogios infindáveis ao “fenômeno do rock”. – “Você dá seu sangue e eles dizem que não é suficiente... Nós tivemos tudo para conseguir sermos os melhores, mas eles ignoraram nossas súplicas!” – e olhando as palmas das mãos, concluiu. – “O mundo e seus habitantes são sujos!”

- E enquanto a noite do grande concerto de rock não chega, fique com o clip de Amaranth, o grande sucesso de Preludiun!

A primeira nota invadiu a rua e muitos pararam para ver o clipe que mostrava dois rapazes encontrando nas margens de um riacho, um belo anjo cujos olhos fechados sangravam sem parar. Logo em seguida, a câmera seguiu rapidamente para outro ponto da floresta, mais precisamente para uma caverna, onde mesmo com a escuridão, um rapaz tocava a melodia que iria embalar a sina do anjo caído. A voz feminina e maviosa de uma mulher que surgiu da penumbra deu à música, uma história a ser contada:

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Baptised with a perfect name
The doubting one by heart
Alone without himself…
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Enquanto isso, garotas vestidas de colegiais utilizavam canetas para melhor imitarem o estilo de cantar de Pandora. Alguns rapazes apontavam para o pianista e faziam comentários sobre como o líder daquele grande sucesso teve um fim tão infeliz.

Ikki ficou estático ao ouvir a música. Com lentidão, levantou o rosto para o telão e comprovou aquilo que pare ele até aquele momento, parecia ser o fruto de mais um devaneio.

Mas o rosto pálido de Pandora Heinstein, a vocalista daquela banda de ópera rock, comprovou que tudo aquilo era real.

O rapaz que administrava as teclas do grande piano clássico com maestria, às vezes lançava olhares furtivos para a câmara que o focava. Parecia avisá-lo que aquela realidade, era apenas o começo de seu pesadelo pós-morte.

- A banda... A minha música... Deu certo.

Era realmente triste saber que Ikki Amamiya, o líder da grande banda Preludiun, havia morrido sem ter provado do adocicado sabor da vitória.

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“Todas as pessoas são dotadas de uma alma, o reiko. No momento em que uma pessoa morre, o reiko desta se une ao reiko de seus antepassados. Se alguém morrer de forma violenta ou se no momento de sua morte este guardar um grande ressentimento ou um sentimento de dever não cumprido, o reiko então se transforma em um yurei, um fantasma que apenas vive do medo dos que ainda vivem.

 

Eu morri, mas voltei ao mundo dos vivos.

 

Quero vingança, mas não sou um yurei completo.

 

Sou um shinigami incompleto.”

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Amaranth

Parte 1

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Parecia um anjo negro a caminhar entre as lápides que brotavam do solo cuja grama estava cuidadosamente podada. Os longos cabelos negros emolduravam o rosto de pele branca e olhos intensamente violetas. Nos lábios, apenas um leve brilho e nas mãos, lírios brancos.

As flores que ele mais gostava.

Quando finalmente havia chegado à frente do sepulcro, ajoelhou-se, depositando as flores aos pés da pedra de mármore repleta por inscrições douradas. Nesse instante, sentiu mais uma vez uma saudade tão grande... Como da primeira vez que soube de tudo.

- Você faz falta... – disse num tom melodioso. – Mas de todos, sou eu a que mais sinto falta de você.

Sentiu que lágrimas brotavam dos seus olhos. Tentou impedi-las, mas foi tarde. O cristalino líquido percorria sua face e repousava na seda preta da qual era feita seu vestido. Uma leve brisa passou naquele momento. O som das folhas secas... Parecia um tom musical criado por ele. Ah, tanta nostalgia!

Se ao menos pudesse ter previsto o futuro tão nefasto que se aproximava dele a cada dia... Se não tivesse sido tão covarde a ponto de ter escondido seus verdadeiros sentimentos... Se tivesse sido corajosa a ponto de dizer que o amava...

- Ou apenas, pedir um único beijo... – balbuciou, enquanto levava seus lábios ao encontro do frio mármore, num beijo repleto de amor. – Mas já é tarde... Então, eu te peço perdão por tudo que não tive coragem de fazer enquanto você ainda era vivo... Porque eu mesma já não me perdôo mais.

Quando se levantou, percebeu alguns flashes de luz. Ao se virar na direção dos vultos luminosos, percebeu um homem de feições grotescas, mas de olhar devoto, a segurar uma câmara fotográfica. Não precisou perguntar nada. Já havia se acostumado com aquele tipo de abordagem.

- É... Que eu... – o rapaz de vinte e poucos anos balbuciava, visivelmente nervoso ante o olhar iluminado da mulher.

- Já tirou as fotos que queria? – perguntou num tom de voz que não demonstrava sentimento algum.

Ele balançou a cabeça afirmativamente e então, dois homens vestidos de terno preto e usando óculos escuros, apareceram com cara de poucos amigos.

- Que bom. – ela finalmente sorriu. – Agora, se me permite, tenho que ir.

Quando a mulher já era escoltada pelos homens se afastava, o fotógrafo finalmente conseguiu coragem para dizer:

- Você é magnífica, Pandora Heinstein. – e olhando para a lápide, rosnou. – Mas você... Você é um verme desprezível!

Após as palavras rudes, vários chutes foram dados contra a pedra que não se moveu. Após minutos nessa estranha forma de vingança, o horrendo homem se afastou, arfando. Apesar das inúmeras tentativas, os símbolos que formavam o nome de Ikki Amamiya não se moveram um centímetro sequer.

...x...x...x...

Os repórteres já estavam a postos com suas filmadoras, Ipod’s e câmeras. A qualquer momento eles chegariam e finalmente a coletiva de imprensa começaria. E assim o foi. A porta à direita da sala abriu, dando passagem para os membros da banda de rock mais celebrada nos últimos anos. Como sempre, eles foram ofuscados pelo intenso brilho dos flashes das máquinas fotográficas. Após sentarem em seus devidos lugares e checarem se os microfones estavam em perfeito estado de uso, o empresário deles foi o primeiro a falar.

- Façam uma pergunta de cada vez. Não sejam evasivos. Quanto mais objetividade, melhor.

Os jornalistas engoliram em seco. Como sempre, essas bandas e essas exigências malucas. 

- Só não pergunte qual é a cor da minha cueca, ok?

Todos riram com a disparada feita pelo guitarrista da banda. Ele era o mais novo dos membros e por sinal, o mais palhaço.

- Senhores. O Seiya está a fazer esse aviso porque ele não usa tal peça intima.

O som de gargalhadas soou ainda mais alto. Seiya olhou de soslaio para aquele que fez a provocação. Este por sua vez, fingiu que não o viu.

- Quem quer ser a primeira vítima? – um rapaz loiro e de voz definida continuou. – Vamos, não tenham medo. O máximo que podemos fazer com vocês é... – olhou para a vocalista, procurando ajuda.

- Oferecer seus corações em algum ritual satânico. – fechou a jovem que parecia uma princesa gótica em seu vestido negro de grife famosa. – Ah gente, é brincadeira. Não somos satânistas... Ou somos?

Os repórteres já se sentiam mais à vontade com os integrantes. Diferente do que se imaginavam, parecia que os músicos que formavam a banda Preludiun eram mais dados ao que se poderia chamar “mundo dos normais”.

- Em primeiro lugar poderiam fazer uma rápida apresentação e dizer o que estão achando de fazer o primeiro grande show em Tóquio? – a primeira “vítima” deu inicio a rodada de perguntas.

- Certo... Eu sou Seiya, guitarrista, e bom, acho que esse show será especial. – disse o jovem de aspecto oriental e usando vestes que mais pareciam ser remanescentes de alguma banda de rock underground.

- Shiryu Suyama, baixista. Essa apresentação de hoje confesso, está me dando calafrios. É como se fosse minha primeira vez.

- Alexei Yukida. – o loiro falou, enquanto exibia um leve sorriso. - Baterista. E sobre a apresentação de hoje... Posso resumi-la em uma única palavra: vitória.

Em seu lugar, Seiya não deixou de aplaudir.

- É isso mesmo. – Shiryu retomou. – O show de hoje brindará o nosso esforço e há mais sentimentos escondidos por detrás dele do que todos possam imaginar. Será único. – e ao se virar para a moça, passou a vez de falar para ela.

- Pandora Heinsteim, alemã de nascença e japonesa de vivência. – seu tom de voz era melodioso até mesmo numa conversa informal, graças a anos de aulas de canto lírico. – E quanto ao show... Esse concerto será muito especial para todos... Eu falei de tudo para que a noite de hoje seja o melhor tributo aquele que fez tudo isso acontecer hoje...

- Por acaso se refere ao tecladista morto? – outro jornalista disparou.

- Sim, me refiro ao Ikki. – ela retrucou, baixando o olhar violeta.

Outro entrevistador se levantou, bastante empolgado.

- É verdade que vocês já tem um novo integrante que ocupará o lugar do que foi assassinado?

- Ninguém ocupará o lugar dele! – a vocalista disse em um tom áspero. – Como pode pensar que alguém pode ser tão descartável a ponto de outro tomar-lhe o lugar? O que pensa que somos?! Nós demos vida às composições dele e agora falam de um substituto? Não existe nada que possa compensar a falta dele. Não há nada nem ninguém, entendeu?

Todos se calaram ante a explosão de fúria da jovem. Todos os olhares se voltaram para o baixista que diziam, costumava ser o apaziguador da banda.

- Torço que a próxima pergunta não seja sobre time de futebol, porque do contrário...

Os jornalistas voltaram a sorrir, mas à vontade. Alexei discretamente tocou a mão trêmula de Pandora, como se naquele gesto ele lhe desse razão. Ela por sua vez o olhou e suspirou. Ainda precisava aprender a caminhar sem ele.

Quando a coletiva finalmente terminou, eles voltaram à ala presidencial do hotel que era nada mais do que um pavimento inteiro à disposição dos célebres hóspedes. Na sala principal que dava acesso a todos os outros cômodos, eles encontraram algumas pessoas ligadas diretamente à banda. Mesmo sem querer, o olhar da vocalista cruzou com o esverdeado olhar de um homem na casa dos trinta anos, feições másculas acentuadas por suas sobrancelhas bem definidas. Imediatamente virou o rosto. Como detestava ter que conviver com a presença daquele homem.

Inglês de merda.” – pensou, enquanto se retirava para seu quarto sem nada a dizer.

Ignorando o desprezo dado por ela, o homem se levantou, buscando mais uma dose de uísque.

- Por que você não quis participar da coletiva? – Seiya indagou, pegando uma lata de coca-cola no frigobar. – Afinal você é o novo pianista.

- Porque se colocar a Pandora e eu em um espaço limitado por dois segundos é provável que haja um óbito.

- Essa situação não pode continuar Radhamantys. – Alexei interveio. – Por mais que ela não queira aceitar, agora você é da banda.

O inglês suspirou resoluto. Sim, ele agora era integrante fixo da Preludiun e poderia se sentir por conta disso, um músico realizado. Mas nem em seus piores pesadelos conseguiu imaginar que a alemã de olhar nobre e voz encantadora iria ser tão hostil a ele. Por mais que os outros membros o entrosassem, a dama sempre que o via como uma constante ameaça. Logo ela...

- Já falei isso para ela várias vezes. Mas ela prefere viver no passado.

- Dê tempo ao tempo, amigo. – Shiryu disse, tocando o ombro de Radhamantys amigavelmente. – A Pan ainda sente falta do Ikki, mas um dia a falta vai se transformar em nostalgia. Enquanto isso... Continue tocando como sempre fez.

- Sou bom naquilo que faço, podem deixar.

...x...x...x...

O sol da tarde já estava a terminar o seu caminho através do horizonte. Naquela grande metrópole, Ikki caminhava a esmo, sem uma direção certa a tomar. A música e imagem presenciadas naquela manhã ainda ribombavam em seus pensamentos que de tão embaralhados, pareciam pertencer a algum lunático. Quando sentiu que todo o turbilhão de sentimentos começava a se transformar em um nó em sua garganta, sentiu uma imensa vontade de correr. E talvez até o fizesse, se não fosse uma mão que o segurou pelo braço.

- Você? – reconheceu o garoto de cabelos descoloridos da noite anterior.

- Vem comigo. – ele respondeu, olhando para os lados. Estava vestido como um aluno do ensino médio, a bolsa com cadernos e livros pendendo de um lado do corpo. – Você anda exposto demais.

Ikki pensou em retorquir, mas achou melhor acompanhar o jovem. Deveria primeiro se entender para depois, compreender o seu redor. Assim, entraram em uma rua mais tranqüila e continuaram a caminhar sem trocarem mais nenhuma palavra por mais algum tempo até que se aproximaram de uma clínica cuja placa intitulava Clínica Kurosaki.

- Recebi ordens do shinigami-rei para ser seu guia no mundo dos vivos. – começou, enquanto se encostava a uma mureta. – Aí, eu pensei: “Droga, serviço de office boy de novo.” Mas aí, ele me falou que se eu for bem sucedido nessa missão, eu ganharei o status de shinigami e... Hei! Ta prestando atenção no que eu to falando?!

Realmente, foi frustrante perceber que Ikki parecia mais interessado num pôster colado no muro e que avisava de um concerto de bandas de rock.

- Se acha que vou ser trampolim pra sua ascensão de carreira, pode esquecer. – Ikki respondeu com um sorriso irônico. – Já sei qual é a do seu chefe. E pode dizer a ele que eu não preciso de guarda costas, principalmente um moleque como você.

- Trampolim?! Quem disse isso? – e perdendo o resto da paciência, explodiu. - Mas... Como você é burro! Preste atenção: na minha frente, você não passa de um recém nascido debilóide, sacou?!

- Você não está sabendo conduzir bem a sua missão, Ichigo. – a voz pautada e feminina fez com que os dois homens voltassem seus olhares para a imagem de uma garota baixa e magra, que também usava uniformes escolares. – E quanto a você... – disse, apontando para Ikki. – Se quiser uma explicação de tudo o que está acontecendo, é melhor nos seguir e ficar calado. Fui clara?

- Rukia... – Ichigo bufou o nome da jovem que não se sensibilizou com a ira estampada na face do rapaz.

- Ela é sua namorada? – dessa vez foi Ikki que interrompeu.

- Não! – Ichigo gritou a negativa.

Rukia por sua vez, já havia atravessado a rua, indo em direção à entrada de serviço do hospital.

...x...x...x...

- Então... É isso.

Ikki havia escutado toda a explicação de Rukia calado, até porque tudo começou a fazer algum sentido... A origem de um fantasma se dava quando do exato momento da morte, o moribundo exprimisse uma vontade imensurável de retornar... O sentimento de dever não cumprido, somado a violência da transição entre os mundos criava o yurei, um ser que em uma quantidade demasiada, poderia colocar o mundo dos vivos e dos mortos em desequilíbrio.

Os shinigamis, diferentes do imaginário popular, não conduziam almas para outro plano. Na realidade, esses espíritos mais evoluídos controlavam o fluxo de almas para que não houvesse uma superlotação em nenhum plano. Se por algum motivo acontecesse algum desequilíbrio e se o fator dessa variação fosse um homem – ou vários deles -, o shinigami teria a permissão de ele próprio dar cabo ao “fator de desequilíbrio”. Mas para se tornar um shinigami, essa alma especial deveria antes, passar por uma bateria de testes, conhecidas apenas como missões e após alcançar êxito, conseguiria o título de shinigami e consequentemente, ganharia seu novo nome e um Dom Único dentro da equipe que atualmente, era chefiada pelo shinigami-rei Hades. Quanto ao novo nome, isso dependeria das Cartas, um conjunto de lâminas de tarot que somente eram manuseadas por Perséfone, a esposa de Hades e rainha dos shinigamis.

- Conseguiu entender?

- Sim. Mas teria sido mais fácil para você se não tivesse tido esse trabalho de... Desenhar cada etapa da sua explicação concorda?

- Ah, se quiser conviver bem com a Rukia vai ter que aturar esses rabiscos que ela chama de desenho. – Ichigo disse sussurrando para que a mocinha que já guardava seu material de desenho não ouvisse o comentário, mas o rapaz de cabelos rebeldes não havia prestado atenção em um detalhe importante: ela era uma shinigami.

- Estilo de ligação, número 1... Sai!

- AAAHHH!!! – Ichigo berrava enquanto tentava se sair de uma posição que faria inveja até mesmo a um contorcionista profissional. – Merda! Me tira disso, sua pirralha dos infernos!

- O que diabos você fez com ele? – Ikki indagou, completamente indiferente aos gritos e apelos do estudante.

- Estilo do demônio... É uma magia nobre dominada apenas por shinigamis.

- Me solta!!!

- E ele vai ficar quanto tempo assim?

- Até o momento que eu desejar... Ou ele conseguir se livrar das cadeias invisíveis, o que é menos provável.

- duvidando da minha capacidade, Rukia Kuchiki!?

- É bom deixar ele amarrado por algum tempo. – Ikki concluiu, enquanto se levantava da cadeira. – Então vou morar por aqui? Não daria muito na vista da família dele?

- A Clínica Kurosaki estava precisando de um faxineiro que morasse nas dependências da clínica. – Rukia falava enquanto ajeitava a mochila nas costas. – Acho que você se encaixaria no perfil.

- Parem de falar como se eu não estivesse todo enrolado nesse chão, seus filhos da...

O som estridente de celular fez com que Ichigo se calasse e Rukia olhasse apreensivamente para o visor do aparelho que acabara de retirar da mochila.

- Droga, missão extra. – disse, enquanto lia a mensagem. – Hades-sama quer que eu execute um yurei-macabro e quer... Que você venha comigo, Ikki.

- Yurei-macabro?

- Hades quer que o novato vá com você? – Ichigo indagou ao mesmo tempo.

- É. Quem vai entender. – e virando-se para Amamiya, respondeu com a sua típica voz marcante. – Yurei-macrabro é uma espécie de fantasma que virou demônio. Mas se quiser, eu posso te expli...

- Tudo bem, já entendi. – Ikki arrematou, puxando Rukia pelo braço. – Vamos logo ver isso. Ainda preciso resolver algumas coisas.

- Hei!!! Não me deixem aqui, seus desgraçados!

O som de porta sendo fechada bruscamente fez com que Ichigo Kurosaki soltasse um impropério. Fixado atrás da porta, o pôster de uma de suas bandas de rock preferida balançou, quase caindo devido ao impacto. Prestando atenção na parte de baixo da moldura que balançava tal qual um pendulo, o rapaz demoveu todos os esforços que empregava de se libertar do encanto de Rukia e começou a prestar atenção na imagem dos integrantes da banda de rock Preludiun e percebeu que um dos homens, por sinal o mais alto, lhe parecia familiar.

E aquela tardia luz da resposta que insiste em aparecer nos momentos mais inusitados, surgiu em meio à ignorante escuridão da mente de Ichigo.

- É... Ele!

...x...x...x...

Já era noite.

A shihakusho que Rukia vestia balançava ao sabor da brisa ocasionada pela corrida desta até o local informado pelo aparelho de celular. Com graciosidade, a pequena shinigami desviava dos transeuntes que sequer notavam a sua existência, uma vez que ela naquele momento, estava na sua forma espiritual. Acerca de cinco metros de distância, Ikki tentava acompanhar seus passos. Mas o fato de não ser apenas um espírito vagante e ter um corpo de um metro e noventa, estava deixando essa parte da missão um tanto mais difícil.

- Corra mais rápido! – ela falava, quando viu seu companheiro de missão quase estraçalhar uma peça de vidro que era cuidadosamente manuseada por dois rapazes que só não o chamaram de santo.

- Como se isso fosse possível para mim! – ele bradava, atraindo olhares curiosos dos homens e mulheres que se apinhavam na calçada. Afinal, não era comum ver um homem que parecia estar a correr da polícia ainda ficar conversando sozinho.

Enquanto estava preocupado em dar satisfações à Rukia, Ikki derrubou uma outra pessoa ao chão. Praguejando baixo por ter que se atrasar ainda mais, o oriental ainda assim estendeu a mão para auxiliar o homem de estatura baixa que parecia pronto para ir a uma festa de gala, dada a roupa de talhe fino que usava.

- Desculpe... – Ikki balbuciou, ainda com o braço em riste, mas que não foi recebido pelo outro que se levantou e voltou a caminhar apressadamente, sua cabeça estava abaixada, como se estivesse se certificando de que não havia deixado nada cair.

Quando já estava a uma distância considerável, finalmente levantou a cabeça e seu olhar acastanhado se cruzou com os azulados do jovem. Este tempo não passou de alguns segundos, mas este breve momento foi suficiente para que os instintos de Ikki permanecessem em alerta.

- Pelas coordenadas que recebi, já estamos próximos... Ikki?!

Não havia mais nenhum sinal do yurei naquela rua.

...x...x...x...

Pandora seguia na frente, ignorando por completo a presença de Radhamantys atrás de si. Os seguranças abriram a porta da limousine e a jovem os dispensou. Aquela seria uma noite bastante importante em sua vida e não iria permitir presenças alheias. Ao se sentar na confortável assento do automóvel, disse com os olhos fechados.

- Pode seguir...

- Motorista, onde está a garrafa de uísque?

- Radhamantys?! – a cantora quase gritou, boquiaberta. – Saia já daqui! Você tem um carro disponível e preciso ficar sozinha!

- Não dá. Eu dispensei o outro carro, já que este é bem mais confortável e como estou tão atrasado como você... – e olhando em direção ao motorista, indagou. – O que você ainda está fazendo parado?

- Cretino! – Pandora resmungou pálida de raiva. O inglês não deixou de sorrir ante a reação da cantora.

- Já disseram que você fica encantadora quando está irada?

Ela deu muxoxo como resposta. Entretanto, quando finalmente sentiu que possuía novamente o controle sobre suas ações, tornou a falar.

- Quer conhecer um segredo meu, Radhamantys Wyvern?

- Se achar que sou a pessoa mais adequada a escutar tamanha dádiva...

- Sempre desejei que você morresse.

A revelação da moça desceu ainda mais agressiva do que a dose de Red Label doze anos que o pianista estava a degustar.

- Às vezes... Também sinto o mesmo desejo. – respondeu seco, sem encará-la.

O motorista deu a primeira marcha no motor e o carro começou a deslizar no asfalto. Naquela noite, não seria apenas a vocalista que desejava a morte de Radhamantys Wyvern.

...x...x...x...

Permaneceram calados durante todo o trajeto. Pandora de olhos fechados e Radhamantys de olhos bem abertos. Afinal, porque o tal motorista estava fazendo um caminho em círculos? Mal terminara seu pensamento quando o veículo desacelerou, estacionando em frente ao cemitério da cidade.

- Hei! Porque parou aqui?

O tom de voz do inglês despertou Pandora de sua letargia.

- O que está acontecendo?

A portinhola de acesso ao banco do motorista abriu e o cano de um revólver surgiu em direção a Radhamantys que antes de pensar em qualquer ação, sentiu seu peito arder. Ao ver o corpo dele deslizar debilmente, Pandora gritou tomada pelo pânico, mas logo em seguida também se calou ante uma inexplicável dormência que se apossava de seu corpo. Seria essa a sensação da morte?

 

Continuará.


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Notas finais do capítulo

Revisado por Harpia e Akane Kittsune



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