A Chipped Cup escrita por log dot com


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Bom, quero deixar mais uma vez registrado que os créditos são todos dos criadores de Once Upon a Time e à escritora do episódio. A fanfic não teria se realizado sem eles.E boa leitura!! o//



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Um novo brinquedo.

É apenas isso que eu considero ser a jovem que, nesse exato momento, está atrás de mim, limpando os móveis.

Faz três dias que eu roubei ela de sua família. “Roubar” é uma maneira engraçada de dizer que pressionei o pai dela até colocar todo o reino dele em risco, e ela se habilitar para ser a heroína. Eu me impressionei com isso, afinal, quando ela se tornou minha escrava, ela deixou de ter livre arbitrio. Nunca poderia sair do meu castelo, nunca mais poderia ver o mundo. Ela se tornou uma prisioneira.

A Guerra dos Ogros estava acontecendo há tempos, e eu, como o mais apto feiticeiro e mágico pelas redondezas, estou bem atarefado. Muitos chamam por mim e pedem garantias de proteção, garantias de que os ogros não penetrem em seus reinos. E eu aceito todas essas propostas, desde que me paguem bem.

No caso do pai de Belle, o rei de um dos maiores reinos, o preço nem foi tão alto assim. Eu só queria que sua filha, virasse minha escrava. E ele, apesar de negar veementemente que não aceitava esse preço, foi vencido pela dócil garota a quem ele chama de filha que se ofereceu para salvar o reino.

Não que eu realmente precise de uma escrava. Não, não. Com um estalo faço toda a sujeira e toda a baguça desaparecer. Mas o fato de saber que separei um pai e uma filha, um noivo de sua amada (sim, aquela menina estava prometida a um sujeito impetuoso e pomposo...), uma jovem e inexperiente princesa de sua família, não tem preço.

É disso que me alimento a cada dia. Sofrimento, dor, arrependimento, mágoas... Eu me alimento das Trevas que compõem o ser humano.

No momento, ela olha para mim. Apesar de estar longe da família, das pessoas que ela ama, do seu lar, Belle parece feliz. E começo a me perguntar o por quê...

***

Faz uma semana que fui levada do meu castelo.

Não posso dizer estar triste por ficar longe de casa. Tipo, eu quase nunca saí do castelo, sempre tinha que conviver com as mesmas pessoas, além de ter que fingir estar apaixonada por um principe que não conheço e nem tenho interesse em conhecer. Isso sem falar do tédio que era obrigada a suportar com os jantares e os chás da tarde com as Madames da Realeza, e principalmente das lições que diziam que eu deveria me submeter aos homens, sendo uma eterna escrava e amante deles.

Ridículo. Digo apenas isso.

A única coisa que eu realmente gostava do castelo do meu pai era a biblioteca. Eu sempre fui apaixonada por livros. Quando eu abria um dos variados e extensos livros, eu submergia num mundo só meu, onde eu podia virar um cavaleiro de armadura que salavaria a princesa do dragão, ou viraria a bruxa escrevendo suas maldades no diário, ou até mesmo uma simples camponesa, que narrava seu romance proibido com um belo e charmoso príncipe.

Os livros eram a única saída para eu me aventurar. Afinal, donzelas não podem lutar contra dragões na vida real. Não podem sair de seus castelos, nem lutar contra bruxas malvadas, nem nada.

Mas, quando aquele homem misterioso apareceu um dia no meu lar, oferecendo ajuda para todo o reino que meu pai governava, eu vi a chance de ser uma heroína. Eu vi a chance de conhecer novos lugares, de viver uma aventura. Eu sinto saudades da minha família e de meus amigos, mas saber que eu os salvei é tudo que eu preciso.

Rumplestilskin realmente é um homem muito ocupado. Quando os Ogros se revoltaram com todo o mundo e decidiram atacar toda a sorte de reinos, simplesmente choveu pedidos ao Senhor das Trevas. E ele, é claro, adora aquilo.

Eu estou servindo o jantar dele nesse momento. O palácio de Rumplestilskin é bem grande, e cheio de itens que o Senhor das Trevas juntou ao longe dos anos. Era tudo muito mágico, e tudo bem assustador.

Uma mesa longa se estende à minha frente, e o Senhor das Trevas está sentado próximo a ela, esperando o jantar.

_Você me servirá as refeições e limpará o castelo. – Diz Rumplestilskin, com um sorriso malicioso.

_Eu entendi. – Digo eu. Aquele homem me assusta. A pele asquerosa e esverdeada dele me enoja, e seu jeito de parecer ficar feliz com as desgraças da vida me dá ódio.

_Espanará minha coleção e lavará minhas roupas. – Diz ele. Argh, que homem repugnante.

_Sim, claro. – Digo eu, séria.

_Buscará palha fresca enquanto eu estiver fiando.

_Entendi. – Digo eu novamente. Eu não sentia vontade de conversar com ele. Estou triste pela minha família. Meu pai, coitado. Ele pode ser duro e frio às vezes, mas me ama. E eu amo ele. Aquele homem, Rumplestilskin, tinha me tirado do meu pai. Eu gosto da nova perspectiva de aventuras, e às vezes me repreendo por isso. Mas algo que tenho certeza é de meu ódio pelo Senhor das Trevas.

_E você irá tirar a pele das crianças que eu caço. – Nesse momento, eu deixo cair uma das xícaras que eu trazia na bandeja. Aquilo me deixou espantada.

_Brincadeirinha. Nada sério, realmente. – Riu ele, balançando os dedos. Eu me agacho rapidamente e pego a xícara. Eu posso odiar ele, mas ainda o temo. Ele é poderoso demais.

Pego a xícara e vejo estar lascada. Meu coração dispara imediatamente. Será que ele se importaria com a xícara lascada? Por muito menos, meu pai me trancaria no quarto como castigo. O que o Senhor das Trevas em pessoa seria capaz de fazer?

_Desculpe, mas... Está lascada. – Digo eu, com receio. Rumplestilskin franze a testa, me olhando de cima a baixo.

_Mal dá para ver. – Acrescento eu, com medo. A testa dele continua franzida, como se estivesse estranhando algo em mim. Eu me pergunto o que seria.

_É só uma xícara – Diz ele, ainda com a testa franzida. Ele parece estranhar meu medo, como se uma xícara lascada não fosse importante. Eu suspiro aliviada, recolho a xícara, e volto ao trabalho.

***

Hoje faz quase um mês que estou com Rumplestilskin, dividindo o lar.

Devo dizer que minha opinião sobre ele mudou. Ele não parece mais tão assustador e brutal como antes. De certa forma, eu comecei a captar pequenos momentos em que ele demonstrou mais humanidade e bondade que muitos heróis por aí.

O primeiro foi quando um menino, ao ser pego numa forte nevasca, pediu abrigo no palácio de Rumple. E o Senhor das Trevas, encarando aquela atitude como uma desavença e um desrespeito, estava prestes a transformar o garoto em um animal asqueroso.

O garoto tinha cabelos pretos lisos, e belos olhos, devo dizer. Devia ter seus catorze anos, arrisco eu. E, no momento que Rumplestilskin ia matar o garoto, eu vi ele vacilar. O brilho mortífero e malévolo dos seus olhos sumiu, e eu só vi um homem, desesperado, carente e triste.

Ele deixou o menino ficar, embora tivesse deixado claro que, se alguém ficasse sabendo da piedade dele, o menino iria “desaparecer misteriosamente”. O menino apenas sorriu e concordou.

Acredite ou não, naquele momento eu cheguei a ver resquícios de amor nos olhos frios e duros do Senhor das Trevas.

Há momentos em que eu estou limpando a casa dele, e ele está lá. Fiando a roca, transformando palha em ouro. Eu vejo ele observando a roda girar, como se ela fosse a coisa mais importante de todas. Quando eu perguntei o por quê daquelas atitudes, ele disse que era para esquecer. E quando eu perguntei o que ele desejava esquecer, ele apenas sorriu e disse:

“Pelo visto, funcionou”. Nesse momento, rimos juntos. Eu fui então abrir as janelas, com a ajuda de uma escada (as janelas estavam bemno alto) para deixar a luz entrar naquele lugar. Descobri que elas estavam pregadas. E, quando eu usei toda a minha força para desprega-las, eu me desequilibrei da escada e caí.

E Rumplestilskin me pegou.

Naquele momento em que eu estava aninhada no colo dele, eu senti mais uma vez humanidade e bondade naquele ser misterioso. Rumplestilskin pareceu desconcertado e envergonhado da situação, e logo assumiu aquela postura dura e fria novamente.

As cortinas tinham caído, percebi eu, e a luz tinha inundado aquele lugar há tanto tempo escuro e cheio de trevas.

_Eu vou colocá-las de volta no lugar – Disse eu, mas Rumplestilskin negou.

_Eu posso me acostumar desse jeito. – Disse ele, dando de ombros.

Naquele momento percebi que o Senhor das Trevas estava longe de ser o monstro terrível e inumano que eu achava ser.

***

Belle é uma garota estranha.

Ela tem longos cabelos castanho-avermelhados, e um rosto bonito, por assim dizer. Apesar de quase não parar naquele palácio, nós compartilhamos alguns momentos juntos. Eu tenho que admitir, ela é legal. Parece tentar me desvendar, e tem aquele jeito dócil de lidar com as coisas.

Como aconteceu com a xícara lascada. Ela parece se importar tanto com os pequenos detalhes, com as coisas mais insignificantes.

Eu sempre fui acostumado a permanecer com a janela fechada, me trancando no palácio. Mas Belle trouxe a luz do dia para mim. Não sei exatamente o que isso significa, mas começo a sentir algo que não sentia há anos. Não, não. Eu repugno o amor. O amor me machucou, me violentou, me quebrou. Me transformou no que sou hoje. Um monstro.

Eu não posso estar amando Belle.

Há alguns minutos atrás, Belle veio até mim e perguntou o real motivo pelo qual ela estava ali.

_O lugar estava nojento – Disse eu, desviando do assunto. Ela ergueu as sobrancelhas.

_Eu acho que não. Eu acho que você se sentia solitário. – Disse ela, parecendo medir as palavras. Eu me paralisei, meio assustado.

_Afinal, continuou dizendo ela, você mora sozinho nesse lugar gigante. – Permaneci em silêncio.

_Eu estava limpando lá em cima, depois das escadas, e eu encontrei uma roupa pequena, de uma criança. Suponho que você tenha tido um filho... – Insistiu ela. Deus, aquela garota parecia gostar de me atormentar. Mas ela o fazia de um jeito tão dócil e temeroso que eu não consegui resistir.

_Sim, eram do meu filho.

_E o que aconteceu com ele?

_Morreu. Ele e minha mulher, todos se foram. – Disse eu, cortando o assunto. Ela persistiu.

_O que aconteceu, afinal? Me conte.

Eu disse que não, e logo bateram à porta. Imediatamente me lembrei do garoto que batera há vários dias atrás, e como hesitei em matá-lo. Ele me lembrou tanto meu filho, meu menino. Eu não seria capaz...

Quando eu fui atender, vi que era o ex-noivo de Belle, Gaston.

_Você está com minha noiva. Devolva-a – Vociferou ele, me apontando sua espada. Não pude deixar de ficar impressionado com a coragem e a burrice desse rapaz. Afinal, eu sou o Senhor das Trevas. Com um mero movimento, transformei-o em uma bela rosa de pétalas vermelhas.

Voltando para dentro de casa, entreguei a rosa para Belle. Eu não sei porque fiz isso. Ela era dócil, meiga, carinhosa, gentil... Não parecia se importar com o fato de minha pele ser asquerosa e horrenda, nem de eu me parecer com uma fera.

Não posso negar, eu sentia algo por ela.

Belle pegou a rosa com carinho, e agradeceu, sorrindo. Nesse sorriso eu vi algo que há séculos não via em alguém que olhava para mim. Amor. Compreensão. Ternura.

Meu coração disparou no mesmo momento.

Eu fui me sentar, enquanto ela colocava a rosa num vaso. Depois, ela voltou-se para mim.

_Você está me devendo uma história... – Eu percebi então aonde ela queria chegar. Eu não podia contar a ela. Agora que eu sentia que nós estávamos nos ajeitando, que ela parecia me aceitar como sou... Se eu contasse para ela a verdade, estragaria tudo. Ela me odiaria, ou pior, ficaria com nojo de mim.

Olhei para o chão, e percebi que nunca daria certo. Meu passado era sangrento e violento demais para Belle me aceitar, e meu coração era duro e negro, cheio de trevas, onde o amor não conseguia alcançar.

_Você está livre para ir, disse eu, afinal a palha está acabando. Vá na cidade mais próxima buscar palha para mim.

_Mas... Eu não posso sair. – Disse Belle. Eu assenti. Ela fez uma pausa.

_E você confia que voltarei?

_Não. – Disse eu, escondendo minha tristeza por traz de um sorriso animado e psicopata. Nunca daria certo, eu não parava de repetir para mim mesmo. Ela é uma heroína, você é uma vilão. Ela é a Bela, você é a Fera.

_Okay. – Disse Belle, animada, pegando o cesto e saindo.

Nesse exato momento, estou de pé olhando pela janela. A escuridão já colore de preto os campos. Está anoitecendo. Eu posso ver a estrada de onde estou, e eu espero por ela. Por Belle. Mesmo que eu saiba que as chances são mínimas de alguma hora ela aparecer.

Nunca daria certo, não paro de repetir. Eu sou a Fera, e ela é a Bela. Nunca daria certo.

***

Há algumas horas atrás, Rumple me deixou sair. Me libertou, por assim dizer. E confesso que fiquei tentada em fugir. Por mais que o Senhor das Trevas fosse as vezes simpático, ele era assustador. Eu vi bondade nele, mas acho que essa bondade é inalcançável. Ou melhor, achava.

Enquanto fugia pela estrada, uma carruagem me parou. E uma mulher desceu dela. Essa mulher em questão estava trajada de preto, com seus cabelos negros amarrados num nó e um belo chapéu na cabeça. Ela não revelou seu nome, nem o que fazia, mas suponho que ela é rica, pois não é qualquer um que compra estonteantes vestidos e anda de carruagem.

Ela me acompanhou na minha caminhada, e parecia estar a par da minha situação. Quer dizer, eu nem abri a boca e ela já parecia saber tudo. Sobre minha relação com Rumplestilskin, sobre meus problemas, sobre minha fuga...

Ela me informou que Rumplestilskin sofria uma terrível maldição, que só poderia ser quebrada com um beijo de amor verdadeiro. Por isso estou voltando para lá. Eu amo Rumple, e eu sei que ele me ama.

Agora percebo porque nunca deveria ter pensado em abandonar Rumplestilskin. Existe algo entre nós...

Sabe, às vezes penso no coração de Rumple como um grande campo cercado por trevas, no qual se você olhar bem fundo enxergará uma luz ínfima. Por mais que esse campo envolto por escuridão seja frio, duro e difícil de destruir, há maneiras de penetrar por ele e chegar até a luz. Com o amor, que seria algo parecido com uma pá, você pode escavar e espalhar por todo o lugar.

É disso que eu preciso. Um beijo e eu escavaria até o âmago do coração de Rumple. E então ele se libertaria.

É tudo que eu preciso.

***

Belle se aproxima. Ela está voltando para mim. Para mim.

Ela abre a porta nesse momento, enquanto corro e me sento na minha cadeira, fingindo estar fiando palha na roca. Finjo não me importar com a chegada dela, mas a verdade é que algo mudou dentro de mim. Eu sinto.

Ela chega até mim, carregando um cesto cheio de palha seca. Ela sorri para mim, mas não olho para ela. Não pode dar certo, repito a mim mesmo. Não irá dar certo!

_Trouxe a palha! – Diz Belle, sorrindo e se sentando ao meu lado. Eu olho para ela e digo:

_Ótimo. A palha estava acabando mesmo. – E volto a fiar. Belle toma a palha da minha mão e desvia a roca de fiar de mim.

_Você me prometeu uma história, não lembra? – Diz ela, me olhando fixamente. Eu desvio minha atenção.

_A única história é que eles morreram, fim, acabou. Não há nada para contar.

Belle pega minha mãe e me olha no rosto.

_Você pode se abrir comigo. Você pode abrir seus sentimentos para mim. Não é tão difícil quanto parece, Rumple. – Rumple. Belle me chamou de “Rumple”. Meu coração palpita enquanto o rosto dela se aproxima do meu.

***

Meu rosto está muito próximo do dele.

Posso sentir o coração dele disparar, e sinto como se o meu fosse explodir dentro de mim mesma. Eu o amo. O amo demais.

***

Nossos lábios enfim se tocam e nossas línguas se entrelaçam. Eu a amo. Não há como negar mais.

Eu a amo.

***

Posso sentir o calor dele no meu rosto. Posso sentir a pá que é o amor tirando as trevas dele e abrindo espaço até o âmago de seu ser, até a luz que logo se espalhará por ele. E enquanto penso nisso, percebo que nunca poderia ter deixá-lo.

Pois eu o amo.

***

É como se todas as trevas deixassem o meu ser. É como se todo o mal...

***

... fosse expulso, é como se a luz o invadisse e o dominasse. É como se...

_Funcionou!, digo eu, a maldição foi quebrada.

Rumple separa abruptamente seus lábios do meu, e me olha espantado. Eu vejo como o beijo o deixou. Sua pele não é mais verde e leprosa, é lisa e bonita como a de qualquer ser humano. Seus olhos não tem mais aquele brilho assustador, tem um brilho calmo e normal.

A Fera agora é bela e encantadora. Eu fico feliz com isso, mas Rumple parece estar assutado.

_C-Como assim... O que você disse? – Ele franze o cenho, e percebo que sua voz também mudou um pouco. Para melhor, é claro.

_Uma mulher que eu encontrei. Ela me disse que era uma maldição. Mas agora está quase quebrada, Rumple. Está funcionando! – Digo eu, toda feliz.

Então, acontece. Rumple grita comigo, e toda sua feiura e monstruosidade de antes volta com força total. Sua pele se enruga e fica leprosa novamente e sua voz fica estranha, como se o próprio Mal falasse por ele. Mas são seus olhos que me assustam. Pois neles brilham um brilho mortal, assassino. O mesmo brilho que quase o fez matar um menino que só pedia por abrigo. O mesmo brilho que poderia ser a última coisa que eu veria em toda a minha vida.

_VOCÊ SE ALIOU A ELA, NÃO FOI? VOCÊ SE ENCONTROU COM ELA E COMEÇOU A PLANEJAR CONTRA MIM, NÃO É? OU TUDO ISSO É COISA SUA? – Ele me empurra e anda com raiva até um espelho, com quem ele começa a gritar.

Eu não sei o que está acontecendo. Não sei por quê ele grita, ou por quê ele está tão bravo. Mas eu sei que as trevas voltaram a cobrir o buraco que eu tinha aberto até a luz. Um buraco que eu não sei se um dia se reabrirá.

***

Ela se foi. Para sempre.

Eu recebi a notícia a alguns minutos atrás, e meu coração pesa dentro de mim. Ela era tão inocente, tão bondosa. Nunca quis me machucar. Eu a amava. Eu ainda a amo.

Logo depois do beijo, alguns meses atrás, eu a trancafiei numa masmorra. E a deixei lá, por uma semana, quase. Eu estava com raiva, achando que ela tinha se aliado à Rainha Má.

Então, eu a soltei. Disse para ela partir, e dessa vez para sempre. Eu fui grosso com ela, eu a magoei profundamente. E ela se foi.

Mas alguns minutos atrás, ela chegou. Não, Belle. Não, quem me dera. A Rainha Má chegou.

Zombou de mim. Disse que Belle voltou para o pai, e que o maldito rei não a aceitou mais. A expulsou de seu lar por ter dividido o mesmo lar comigo. Disse também que, quando Belle estava prestes a partir aos prantos, ele mandou trancafiarem ela numa torre, onde ela passaria por um processo de purificamento. Onde ela seria esfolada e flagelada até estar completamente pura do “mal que plantei nela”.

Mas Belle não aguentou a tortura e se jogou da torre. Belle está morta.

E a culpa é minha. Eu duvidei dela e a expulsei. Eu sou um monstro, uma Fera indigna de compaixão e compreensão. Eu matei minha própria esposa, Milah, há anos atrás. E agora matei Belle, o amor que me inspirava a viver.

Milah mereceu o que teve, admito. Fugiu com um certo pirata boboca e me deixou com um filho pequeno, que perguntava todos os dias pela mãe. E anos depois, quando meu filho já tinha partido para um outro mundo, ela voltou. Eu já era o Senhor das Trevas na época, mas ela não sabia.

Então, um dia, quando vi ela e o pirata juntos, eu ataquei. Arranquei o coração dela e o esfarelei até virar pó.

Mas Belle... Ela não merecia morrer. Eu tenho certeza que, se ela fosse mãe do meu filho, ela nunca o abandonaria. Ela ficaria com ele até sua morte, não importasse as circunstâncias. Ela não merecia. Não merecia.

No momento olho para a única coisa que restou dos nossos dias juntos. Uma xícara lascada. Olho para ela e percebo que ela tem o cheiro de Belle. Que ela, de alguma forma, representa o que algum dia foi nosso amor.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto e cai na xícara.

Uma xícara lascada. Tudo o que restou de Belle.


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Notas finais do capítulo

Meus agradecimentos para quem leu até aqui, eu sei que a fic ficou um pouco grande. Deixem reviews, se possível, para saber o que ficou bom e o que ficou ruim na história. Obrigado mais uma vez, e... Até a próxima! o//