Love Story escrita por AnnieJoseph


Capítulo 5
A rotina da depressão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/47088/chapter/5

Ali mesmo, eu tirei os meus sapatos e os coloquei na sacola das compras. A minha pequena e fina blusa de frio – eu não diria de frio, pois ela não esquenta o suficiente, mas no calor é uma coisa – branca e a guardei na sacola também. Estava apenas de regata azul clara e uma bermuda jeans preta. Os meus pensamentos voavam conforme sentia o vento trazer o ar puro, e segurei o meu amuleto. É um cordão com a letra M .

Todos me perguntam o por que, pensam que eu namoro e eu tenho tanta raiva disso. Por que todos que vêem um cordão pensam que é a letra do tal namorado !? Quando fico com raiva, eu digo que é M de mamãe, ou digo que gosto muito de mamão... Agora, quando estou de bom humor digo o verdadeiro significado . E é claro que significa Michael.

Esse amuleto sempre me trás paz. Eu sinto como se Mike estivesse comigo, e sempre aperto ele contra o peito, e a dor passa. Eu nunca tiro ele de mim, é uma coisa tão preciosa que não me vejo sem. Eu nunca deixaria alguém roubar, ele não tem um valor significativo já que é de prata mas, tem um valor imenso pra mim. Muito grande.
Eu sorri, sentindo uma lagrima rolar por meu rosto. Me sentia cansada, a caminhada era longa mas eu já estava chegando no subúrbio.
Michael... Eu estou acabada, sentia uma grande dor por dentro. Sentia aquelas crises que sempre tinha. Nunca irei vê-lo.
Era muito difícil parar pra pensar na nessa possibilidade. Eu sempre entrava em depressão quando sabia que a realidade era dura. Que a realidade era eu aqui, e ele nos holofotes, ele com outra.
A essa altura eu já me arrastava mais do que andava. Além do calor e o cansaço, tinha me lembrado de novo que eu nunca,  na realidade da vida, beijaria aqueles lábios.

Finalmente já estava chegando em casa, a avistei entre meus olhos cheios de lágrimas e ao mesmo tempo tentava limpar o rosto vermelho e os olhos inchados. Minha mãe perceberia, ela não gostava de me ver assim. Mas eu não pude controlar.

Caminhei pelo pequeno gramado após ter fechado um portãozinho branco baixo, e sentia a grama queimar meus pés de leve pelo calor. Entrei na varanda com o chão de madeira e virei a maçaneta com pressa, mexendo nos cabelos agora pretos.

Lindsay estava esparramada pelo sofá, com um baby doll rosa.
Me abaixe e retirei meu tênis da sacola, os encostei na parede perto da porta. Coloquei minha blusa apoiada no braço.
Lindsay pareceu perceber minha cara e me observou.

– Ugh... Não acredito que você veio passando da rua com essa cara. Chorando pelo Mikinho denovo mana ? – Ela deu um sorriso e voltou a olhar pra TV ligada a sua frente.

– Cala a boca Lindsay. – Minha voz saiu fanha pelo choro, sai andando e joguei minha blusa na cara dela. Entrei na cozinha enquanto escutei um riso dela atrás de mim.

Ela achava isso engraçado. Era engraçado ver a tristeza de sua irmã ? Só podia ser . Acho que ela pensava que isso era bobeira. Que era tolice.

– Annie ! O que aconteceu ? – A voz de minha mãe interrompeu meus pensamentos.

Levantei a cabeça que se encontrava olhando pro chão da cozinha. Ela estava recolhendo o café da manhã, posto sobre a mesa.
Ela largou os potes de queijo presunto e manteiga sobre a mesa e veio em minha direção.

– Nada mãe. Está tudo bem – Eu a abracei quando ela me abraçou e depois andei até a pia, tirando as compras da sacola.

– Como tem coragem de dizer que ta tudo bem ? Olha só pra você ! – Ela falou um pouquinho mais alto dessa vez, estava do meu lado me vendo tirar as coisas da sacola, apoiando a mão no mármore branco da pia.

– É sério. Já passou. E você, pode ir se deitar. É eu que vou fazer a comida hoje. – Fungava enquanto tentava recompor minha voz. Coloquei a sacola plástica numa sacola pendurada bem em cima da pia, que guardava sacolas e andei até o armário pra pegar um escorredor.

– Eu vou, mas você não me escapa. Terá que me falar se é sobre esse Michael. Já passou da hora de você se desiludir. E isso não passar, eu vou atrás dele, ele que é o culpado. – Ela se virou pra me observar de braços cruzados, ainda escorada na pia.

Eu ri sem vontade, isso era tão visível que eu rapidamente tratei de parar de rir quando vi a cara que minha mãe fazia.

– Ah, mãe. Até parece que você conseguiria. – Eu falei com um tom de brincadeira. Não sei por que, mas eu sentia que não era esse o sentido dos meus pensamentos.

– HAHA, até parece. Você não me conhece filhinha ! – Ela zombou e caminhou pra fora da cozinha, repetindo isso três vezes.

Eu suspirei enquanto colocava a panela com água pra esquentar no fogão.
O macarrão já estava na vasilha ao lado, juntamente com as outras coisas pra o preparo.
Andei até a pia de novo e percebi que o pote de sorvete estava ali.

  Droga ! –  Eu gritei.

O sol derreteu todo o sorvete, eu não precisei abrir o pote pra saber. Rapidamente, levei o pote ao freezer, suspirando.
Era pra mim saber que isso aconteceria, mas estava tão desligada que não percebi. Agora já aconteceu, vamos ter que esperar pra tomar o sorvete.

Limpei uma lágrima que escorria pelo meu rosto e caminhei, chegando na porta que dava a varanda de trás. Uma pequena varanda com plantas de minha mãe. Observei a árvore, que amava subir pra me sentir livre, e sem ninguém pra me incomodar.

Lindsay era uma idiota e não gostava de coisas assim, e nem minha mãe tinha coragem de subir nos grandes e grossos galhos, eu me refugiava muito lá.
Após alguns minutos olhando o vento atingir a árvore com delicadeza, eu caminhei até ela. Comecei a escalar, e logo já estava numa altura consideravelmente alta. Eu podia ver algumas casas, e sentir melhor o vento lá de cima. A formação dos galhos grossos me deixavam sentar neles sem ter medo de cair. Eu podia deitar ali com um travesseiro e ainda teria espaço.

Respirava mais lento, e com mais intensidade, tentando me concentrar só nisso. Ficaria aqui até a água ferver, e voltar pra  fazer o almoço. Era melhor assim.
Comecei a passar minhas mãos pelo tronco da árvore, sentindo-a. A natureza é incrivelmente linda. Eu sempre me impressionava com as coisas simples.

O sol não conseguia me pegar aqui, as folhas da árvore me protegiam. Eu não gostava muito de sol, não gostava se sentir ele queimando minha pele. Prefiro assim, na sombra. É por isso que sou quase pálida, fujo de sol o tempo inteiro.
Olhei no relógio, e calculei o tempo. A água já estaria fervendo.
Com raiva de ter de descer, desci da árvore tentando capturar bastante ar puro.

A água já feria quando levantei a tampa de inox. Olhei pro macarrão e peguei a vasilha, colocando- o na água fervente.
Numa frigideira, coloquei azeite de oliva e deixei esquentando enquanto ia na geladeira. Peguei alguns filés de frango já cortados e temperados e dei uma olhada rápida no sorvete.
Um suspiro saiu de minha boca.

Enquanto colocava os filés de frango na frigideira, cantarolava Black or White e remexia os quadris de leve. Eu queria me manter feliz, mas enganava a mim mesma com isso. Não estava feliz. Estava depressiva por lembrar mais uma vez que nunca teria Michael pra mim. Isso acontecia de tempos em tempos. Na verdade, isso poderia acontecer frequentimente, mas eu conseguia me controlar, pelo menos por 2 semanas seguidas.

O frango já estava bem fritinho quando parei de pensar nessas coisas. Desliguei o fogo, me concentrando em apenas pegar os frangos e passar para a tigela com a salada que minha mãe tinha feito antes de chegar.
Era horrível ter que controlar meus pensamentos quando eu estava em depressão por causa dele. A todo o momento eu me controlava, isso era difícil pois muitas vezes agia ou pensava por impulso. E sempre que eu deslizava, uma lágrima escorria.

– Você está mal. –  A voz de Lindsay me assustou.

Olhei em volta enxugando o rosto. Ela estava na geladeira, segurando a garrafa de refrigerante. Abriu-a em cima da mesa, e colocava num copo.

  Me assustou. –  Eu murmurei colocando a tigela de frango com a salada na mesa.

  Desculpa Annie. Eu falei sem pensar. Você tá sofrendo mesmo. –  Ela disse baixo me olhando um pouco, e percebendo como eu mexia na tigela desnecessariamente. Guardou o refrigerante na geladeira e se sentou na cadeira da mesa, dando uma golada no refrigerante.

– Obrigada. – Disse baixo também, me voltando ao macarrão. Não demoraria muito pra ele ficar pronto.

– Oba, frango com salada – Ela tentou parecer entusiasmada. Mas eu conhecia Lindsay o suficiente pra saber que ela não ligava pra coisas como essa, ainda mais que a engordasse, como o frango com azeite.

– Sim... Faz um favor pra mim ? – Me virei pra ela, a olhando.

– Hm ? – Ela bebia mais refrigerante lentamente.

– Toma conta do macarrão. Vou tomar um banho rápido e voltar.

Ela quase derramou o refrigerante que tinha na boca.

– O que ? Eu não sei fazer isso ! – Ela falou surpresa, com os olhos arregalados.

  Tá na hora de aprender –  Eu sorri sem vontade me retirando da cozinha.

  Annie ! –  Ela me gritou da cozinha. Eu ignorei.

Subi a escada da sala. No segundo andar tinha apenas o quarto de minha mãe, o quarto da Lindsay e o meu quarto.
A primeira porta era do quarto de minha mãe. Avistei ela escorada na janela do quarto e entrei no quarto, indo até ela.

– Mãe, você sabe onde está a extensão ? Eu queria escutar musica em cima da árvore... –  Olhava a rua, alguns carros passavam .

  Você realmente é maluquinha. Eu sei sim filha, está do lado da máquina de lavar, na varanda de trás.    Ela bagunçou meu cabelo trincando os dentes, mas sorrindo.

Eu sorri sem mostrar os dentes e caminhei  em direção a porta.

  Filha ? –  A voz dela me fez parar de andar.

  Oi ? –  Eu não me virei. –  Minha voz já me denunciava o bastante pra saber que o choro viria.

  Não fique triste. Por favor. Eu sei que é difícil pedir isso, mas, por mim. Por mim –  Ela falava com tristeza.

  É difícil. Não posso prometer. –  Fiquei calada após dizer, e depois caminhei, saindo do quarto.

Entrei na próxima porta, que era o meu quarto e parei no centro dele. Os posters  com o sorriso mais lindo do mundo me fazia chorar e rir ao mesmo tempo.
Era tão lindo, tão forte o que sentia. Tudo nele me fascinava. Eu encarei as fotos e fui até uma e a beijei. Fiquei sentindo meu rosto tremer em contato com a foto na parede, e depois de 10 segundos afastei meus lábios dela, caminhando entre soluços pro banheiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love Story" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.