Acordo com o corpo adormecido de Haymitch ao meu lado. Levanto minha cabeça que até então estava deitada em seu peito e sorrio ao vê-lo ainda dormindo. Não sei quanto tempo estamos assim, mas acredito não ter sido muito.

Me estico até alcançar seu rosto, distribuindo beijos nesta região. Seu corpo não está mais suado, mas ainda posso sentir o cheiro de álcool que, acredito eu, nunca vai sair. Já faz parte dele.

– Acorda, dorminhoco – digo, vendo-o começar a se mexer devagar. Haymitch abre os olhos lentamente e se vira para mim.

Me apoio nos cotovelos para vê-lo melhor. Sorrio ao vê-lo lutar para abrir os olhos.

– Que dor de cabeça – ele diz, pondo a mão na testa e faz uma careta.

– Sabe o que é isso? - digo, levantando uma sobrancelha. - Você bebeu demais.

– Eu não mandei você ir embora – retruca.

– Então a culpada sou eu? - indago, ainda sem sair do lugar. - Você enche a cara – continuo – e a culpa é minha.

– Bom, se você tivesse ficado comigo esse tempo todo – ele diz, virando-se de lado para me encarar, apoiando-se num braço enquanto o outro foi até as minhas costas nuas, puxando-me para mais perto – nada disso teria acontecido. Eu teria mantido minha promessa.

– Ah, ótimo, Haymitch – digo e me viro na cama, olhando para o teto. - Agora você vai ficar jogando isso na minha cara o tempo inteiro!

Bufo e puxo o lençol para cobrir o meu corpo e acabo descobrindo o dele.

– Ei! - protesta e puxa o lençol de volta. Começamos a rir juntos e ele se movimenta para cima de mim.

– Que fogo! - digo. - Onde está sua dor de cabeça?

Haymitch olha para cima como quem procura algo e balança a cabeça.

– Sumiu! - diz, curvando-se para me beijar. Enlaço meus braços no seu pescoço. - Eu poderia ficar aqui pelo resto do dia – ele diz e volta a me beijar.

– Eu também – sussurro entre os beijos.

Ouço batidas na porta e deixo escapar um gemido, desanimada. Haymitch toma um pouco de distância, revirando os olhos.

– O que foi? - pergunta, deixando explícita a sua impaciência.

– Não quero atrapalhar o namoro do casal, mas – ouço a voz hesitante de Peeta do outro lado da porta – vocês não vão jantar?

– Não acredito que você veio perguntar isso – berra Haymitch. Abafo uma risada e ponho uma mão na boca. Com a outra, dou um tapa de leve no braço de Haymitch.

– Achei que vocês iam querer vir – dessa vez percebo sua voz um pouco triste.

Faz-se silêncio por alguns instantes.

– Nós já estamos indo, Peeta – digo e vejo Haymitch me lançar um olhar contrariado.

– Tudo bem – ele responde com um pouco mais de entusiasmo.

– Por que você tem que me contrariar em tudo? - pergunta Haymitch, voltando-se para mim. Ele me encara por alguns instantes e percebo que não está brincando.

– Ah, Haymitch! Eles devem ter alguma coisa para dizer – respondo, passando a mão pelos seus cabelos rebeldes. - Ou então não nos chamariam.

– Ou talvez só queiram ser incovenientes – retruca.

– Não, Haymitch – digo, empurrando-o para o lado e Haymitch cai de costas na cama. Sento-me ao seu lado e selo meus lábios nos dele. - Depois a gente volta, hm? - sussurro e pisco para ele antes de me enrolar no lençol e sair da cama.

Caminho em direção ao banheiro quando Haymitch puxa o lencol de volta, fazendo-me ficar nua novamente. Deixo escapar um grito de susto e quando estico minha mão para pegar o lençol de volta, Haymitch é mais rápido e o deixa fora do meu alcance. Lanço-lhe um olhar fulminante e sigo o caminho até o banheiro.

– Ei – ele diz e me viro. - Você é linda, sabia?

E mais uma vez Haymitch conseguiu me transformar em um tomate.

{...}

Saímos do quarto alguns minutos depois e encontramos Katniss e Peeta já sentandos à mesa. Pareciam não ter comido ainda, estavam conversando e pareciam bem empolgados, mas não demoraram a notar nossa presença. Haymitch me levava com sua mão que não estava enfaixada.

– Achei que não viriam mais – diz Katniss, impassível.

– Mas estamos aqui, queridinha – respondo, sentando-me com Haymitch ao meu lado.

– Então – começa Haymitch, juntando suas mãos em cima da mesa, olhando de Katniss para Peeta. - Vocês querem dizer alguma coisa? - por mais que ele não quisesse, sua voz sai um pouco ignorante ao fazer esta pergunta.

Seguem-se alguns instantes em que todos olham de um para outro ahuardando uma resposta. Acho a situação engraçada, mas consigo conter minha vontade de rir.

– Bom – diz Peeta e todos olham para ele. - Eu sei que isso parece chato, mas eu queria agradecer a vocês dois – então aponta para mim e para Haymitch – por tudo que fizeram para nos manter vivos. Sei que era o trabalho de vocês – acrescenta – mas, como a Effie disse, somos um time.

Abro um pequeno sorriso ao ouvir as palavras de Peeta. Ele realmente sabe como usá-las.

– Então eu acho que podemos ser um time na hora do jantar também, sabem? - diz Peeta, subitamente, fazendo-nos rir um pouco. - Até porque não voltaremos a embarcar neste trem com o mesmo propósito de antes.

Sinto rapidamente um frio na barriga. Peeta está certo. Os Jogos acabaram.

Vejo Haymitch levantar uma taça na mão. Provavelmente com vinho. Todos enchemos nossas taças com o mesmo líquido para acompanhá-lo.

– Um brinde – ele diz – ao time.

– Aos amantes desafortunados – digo.

– Ao fim dos Jogos – diz Katniss.

– À esperança – diz Peeta. Então todos brindamos.

Tudo seria diferente agora.

{...}

Depois que Katniss e Peeta se retiram, eu e Haymitch continuamos sentados. Estou com um olhar distante.

De repente minha ficha começa a cair e imagino como será minha vida daqui para frente. Nada mais será como antes, nada mesmo. Minha vida na Capital simplesmente acabou. Não vejo mais motivos para querer voltar. Por mais estranho que isso esteja sendo para mim, sei que é minha melhor opção. É por ele que estou fazendo isso. E por mim também.

Sou surpreendida por Haymitch passando a mão na miha perna de uma forma delicada. Desvio meu olhar do ponto distante em que estava e encontro seus olhos me fitando, ele parece preocupado.

– Aconteceu alguma coisa? - pergunta.

– Ah, não, não – me apresso a responder, baixando a cabeça e balançando-a rapidamente. - É só que... - mordo o lábio – acho que me dei conta de que tudo será diferente a partir de agora.

Sinto sua mão agora pousada no meu rosto e encontro seus olhos novamente. Desta vez sustento o olhar.

– Olha Effie – ele começa, se arrumando na cadeira – eu sei que vai ser difícil no começo, mas não impossível – vejo sua mão enfaixada se esticar até segurar a minha de leve. Ele não pode fazer tanto esforço com ela ainda. - Eu vou estar com você. Sempre.

Sorrio e então me inclino para selar meus lábios nos dele.

– Sempre – repito.