Acordei cedo e fui ver o e-mail de Henry.
Iwy.ch:
Vou te ver amanhã?
Amanhã? Não entendi. Ah, ele tinha mandado o e-mail ontem à noite.
Mandy-06:
Não dá, tenho que pagar umas contas, não vai dar tempo.
Iwy.ch:
Ok, então.
Será possível que ele ficava 24h na frente de um computador? Sempre que eu mandava um e-mail, a resposta vinha instantaneamente. Tanto faz. Eu só queria tomar um banho e tinha que ir para o trabalho.
-x-
De volta pra casa, finalmente. O dia foi chato, o almoço foi chato, o trabalho foi chato. Não vi Henry. Mas que droga de dia. Mal tinha chegado em casa, quando a campainha tocou. Seria Mark de novo? Olhei pelo olho mágico. Polícia? O quê? Abri a porta, confusa.
- Amanda Carter?
- Sim? – Pisquei, sem entender.
- Se incomoda se entrarmos?
Sim, eu me incomodava. Mas era a polícia, o que eu podia fazer?
- Não.
Abri a porta e uns quatro homens entraram mexendo nas minhas coisas.
- Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?
O que tinha falado da primeira vez, um moreno alto, disse:
- Desculpe. Eu sou o chefe de polícia Taylor Moore. Reconhece esse homem? – Disse isso e colocou uma foto na minha frente. Claro que conhecia. Era Mark.
- Sim. – continuava sem entender nada. O senhor Moore continuou olhando para mim, como se esperasse uma continuação. Suspirei. – Ele é meu... ex-namorado.
- Bom, seu “ex-namorado” – sim, ele fez as aspas com a mão. – Foi encontrado morto ontem à noite.
Fiquei estática. Emudeci. Empalideci. Tremi.
- O.. O quê?
- Assassinado. - Ele falava friamente, como se dissesse que o dia estava bonito. Quando percebeu que eu não estava bem, finalmente resolveu se preocupar - A senhora está bem?
Tive que me segurar em algum lugar para não cair. Mark? Assassinado? Não, não, me recusava a aceitar. Sentei-me no sofá, e pus a mão no peito. Porque doía... tanto? Ok, eu estava chorando. Droga. O senhor Moore sentou ao meu lado.
- A senhora é nossa principal suspeita.
Olhei para ele, indignada. Ele não via o quanto eu estava sofrendo? Eu tinha acabado de saber que meu ex-namorado tinha sido assassinado, droga! Como eu poderia tê-lo matado?
- Como é?
- Sabemos que ele veio aqui ontem à noite. Sabemos que vocês discutiram. Uma hora depois, ele foi assassinado. O que quer que pensemos?
- Não... – Fechei os olhos, não parava de chorar. – Quero dizer... não. Como... Eu não poderia... Eu... Meu Deus!
- O que aconteceu ontem à noite?
- Ele veio aqui.. – Minha voz falhava – Queria que reatássemos, eu disse que não... ele foi embora transtornado e eu fui dormir, apenas.
- A senhora não saiu com ele?
- Não.
- Não foi atrás dele em nenhum momento?
- Não, pode perguntar ao porteiro, ele saiu sozinho.
- Alguém além do porteiro, pode comprovar que você ficou em casa?
- O senhor Miller. Ele estava passando no exato momento que Mark saiu e eu fechei a porta. – Estava quase recomposta agora, esqueci de chorar por Mark, tinha que provar minha inocência.
- Ok. Por quanto tempo vocês namoraram?
- Oito meses.
- Nesse meio tempo, sabe de alguém que gostaria de fazer algum mal a ele? Algum inimigo... - Ele falava e ia anotando em um bloco.
- Não. Mark era muito esquentado, às vezes. Mas não sabia de ninguém capaz de fazer isso.
- Como assim “muito esquentado”?
- Ah... De arrumar brigas no trânsito, de partir para cima de qualquer pessoa que olhasse pra mim, essas coisas.
- Entendo. A senhora está.. saindo com alguém?
- Não. Quer dizer, sim. – Apertei os olhos, tentando me concentrar. – Não.
O senhor Moore levantou as sobrancelhas como se esperasse uma explicação.
- Eu tenho um.. amigo. Fomos almoçar juntos duas vezes, mas só. Nada aconteceu, e não quer dizer nada, certo?
- Mark sabia da existência desse “amigo”?
- Bom, ele saiu daqui transtornado porque jurava que eu tinha outra pessoa, por mais que eu negasse. Então saiu dizendo que ia encontrá-lo e...
- Isso muda tudo. Alguma chance de Mark ter encontrado esse seu amigo?
- Não. Ninguém sabe dele. Quer dizer, minha amiga sabe, mas duvido que...
- Qual o nome dela?
- Natalie Parker.
- Supondo que Mark saiu daqui ontem a noite, foi à casa de Natalie, que acabou contando sobre a existência desse... qual o nome dele?
- Henry Adams.
- Sobre a existência de Henry. Mark foi ao encontro dele, brigaram e Henry o matou.
- Nenhuma possibilidade. – Minha resposta foi quase instantânea.
- Tem certeza?
- Claro. Henry nem ao menos sabia sobre Mark. E ele é só meu amigo, além de não ter motivos pra matar ninguém, ele não seria capaz.
O policial suspirou. Olhei em volta pela primeira vez, os outros tinham parado de mexer nas minhas coisas, graças à Deus. Eles não precisavam de um mandado? Ok, deixa pra lá.
- Ok, obrigada pelas informações senhora Carter, desculpe pelo incômodo. Entraremos em contato assim que soubermos de alguma coisa.
Quando ele virou de costas, e depois de muito tempo de relutância, sem saber se queria ou não, resolvi perguntar:
- Senhor Moore?
- Sim.
- Como ele foi... você sabe, assassinado?
- Facadas. Não muito longe daqui.
Afundei o rosto nas mãos.
- Obrigada.
- Achamos que, ou a pessoa que o matou tem experiência, ou contrataram alguém. Porque o assassino foi completamente profissional, não deixou nenhum rastro.
Não respondi, e ele se retirou. A única coisa que eu tinha certeza era que nas últimas semanas, meu mundo tinha virado de cabeça pra baixo.
-x-
Fui para a privacidade do meu quarto. Embora morasse sozinha, me sentia melhor lá. Chorei até ficar com os olhos inchados, quando recebi um e-mail.
Iwy.ch:
Oi. Tudo bem?
Bem conveniente essa pergunta agora. Mas tudo bem, vamos lá.
Mandy-06:
Não.
Iwy.ch:
O que houve?
Mandy-06:
A polícia esteve aqui. Meu – passei um tempo para escolher a palavra apropriada – amigo foi assassinado.
Iwy.ch:
Oh, Amanda, sinto muito. Quer sair?
Ok, ele estava fazendo pouco caso da minha perda ou o quê? Estou sofrendo e ele me chama pra sair?
Iwy.ch:
Assim, você precisa de um ombro amigo pra chorar, você sabe.
Ah tá. Ele se explicou. Que fofo. Eu não iria em circunstâncias normais. Mas...
Mandy-06:
Sim. Onde?
Iwy.ch:
Você escolhe.
Mandy-06:
Tem uma praça um pouco perto daqui. Na Times Square, sabe qual é?
Iwy.ch:
Sei sim. Estou indo pra lá.
-x-
Ele já estava lá. Assim que me viu, abriu os braços e não pensei duas vezes. O abracei, passando os braços em volta de seu pescoço e chorei. Chorei muito. Ele fazia carinho na minha cabeça, pacientemente. Quando finalmente me recompus, soltei ele e disse:
- Sinto muito..
- Não, tá tudo bem. – Ele colocou a mão em meu rosto e sorriu.
Coloquei as mãos dentro do bolsos do casaco e sentamos num banco perto dali.
- Eu sei como é perder alguém, é muito ruim mesmo.
- O pior é que sinto como se fosse minha culpa.
Ele me olhou, sem entender, mas não perguntou:
- Não é sua culpa.
- Antes de ele ser... assassinado, ele estava na minha casa, pedindo uma coisa. Talvez se eu tivesse dito sim, hoje ele não estaria...
- Teria acontecido do mesmo jeito. – Ele estava muito sério, levemente irritado.
- Eu...
- Pare de se culpar, Mandy. – Ele ficou calmo outra vez, e me chamou pelo apelido. Sim, ele já tinha me chamado de “Mandy” por e-mail, mas pela primeira vez ele tinha verbalizado isso e soou tão... fofo.
Abaixei a cabeça. A próxima coisa que eu senti foi a mão dele levantando meu queixo e seus lábios tocando os meus.