Estava tudo perfeitamente bem. Fazia quase dois meses. Saíamos juntos sempre, ele já tinha até dormido lá em casa. Eu me sentia completamente bem com ele, segura, feliz. Perfeitamente bem, até aquele dia.

-x-

Iwy.ch:

Vamos sair hoje?

Mandy-06:

Pra onde?

Iwy.ch:

Surpresa.

Mandy-06:

Vamos! Mas eu preciso saber pelo menos que roupa usar...

Iwy.ch:

Hum...Formal.

Levantei as sobrancelhas. O que ele estaria planejando agora?

Mandy-06:

Certo. Que horas você passa aqui?

Iwy.ch:

Às 19:00

Mandy-06:

Ok.

-x-

Estava com um vestido preto simples, justo, que ficava um pouco acima dos joelhos. Era um dos meus favoritos, não sei por quê. Na hora combinada, Henry apareceu, entrei no seu carro, ele olhou pra mim, sorriu e disse:

- Você está linda.

- Obrigada. – Sorri de volta.

Enquanto avançávamos, olhei pelo caminho e disse:

- Conheço esse caminho. Estamos indo...?

- Para minha casa.

- Nossa. – Não quis mostrar decepção, mas não deu pra evitar. Ele me fez colocar uma roupa formal, me arrumar toda pra uma surpresa e estávamos indo para a casa dele. Legal.

Ele percebeu minha decepção mas não disse nada, apenas continuou. Devo admitir, foi uma quase surpresa. Ele havia colocado a mesa no meio da sala de estar, tinha tirado os outros móveis, e havia pouca iluminação. A mesa também estava bonita, com uma toalha vermelha, tinha até velas, duas cadeiras, uma de frente para a outra e uma rosa em cima da mesa. Mais uma vez, assim como tinha feito quando entrei naquele apartamento pela primeira vez, disse “Uau”, e ele riu:

- Sabia que ia gostar.

Fomos até a mesa, ele puxou minha cadeira para que me sentasse. Foi até a cozinha pegar uma espécie de “carrinho” com a comida, e eu me senti num restaurante. Quando ele voltou, sentou-se e disse:

- Fui eu que cozinhei.

- Não sabia que cozinhava. – Não pude evitar sorrir.

- Eu tento.

Ri.

- E qual a ocasião?

- Não posso preparar um jantar pra minha namorada?

Ri mais ainda. Namorada. Ai ai.

- Claro que pode.

Ele nos serviu, e devo admitir, a comida estava extremamente deliciosa.

- Está muito bom Henry, você cozinha melhor do que eu.

Ele riu. Até que depois de alguns minutos, finalmente disse:

- Mandy, eu não vou mentir. Preparei tudo isso por um motivo mesmo.

- Sabia.

Ele suspirou.

- Apenas escute e me deixe falar até o final.

- Certo.

- Eu sei que é um pouco cedo... – Ai. Meu. Deus. Ele ia me pedir em casamento? Não, não, não. Eu precisava sair dali, antes que ele pedisse e... – São só dois meses. Ou quase isso. Mas eu sinto, Mandy. Sei que sente também. Esse desejo de ficar junto o tempo inteiro, querer te ver a cada segundo, te ter. Ficar feliz só de te olhar, só de ver o seu sorriso. Eu acho que nunca senti por ninguém o que sinto por você. – Eu estava muito tensa. – Então, te chamei aqui pra dizer que... – Ele suspirou. Parecia lutar com as palavras. – Eu amo você.

Perdi o ar.  Ele me amava. Ele – me - amava. Ai meu Deus. Eu não acreditava, eu... Estava sem palavras. De fato, eu sentia uma coisa muito especial quando estava com ele também. Tudo o que ele disse sentir por mim, eu também sentia. Mas, amor? Eu não tinha certeza. Amor pra mim é uma coisa tão séria. Amor é eterno. Amor não acaba. Eu não sabia o que dizer. Ele segurou minha mão:

- Não vai dizer nada?

Quando abri a boca, o telefone da casa dele tocou. Fechei a boca e comprimi os lábios. Ele suspirou.

- Deixe tocar.

Quando ia falar novamente, a voz dele me interrompeu:

“ Oi é o Henry, não posso atender agora. Ou simplesmente não quero. Deixe seu recado após o bip.”

E aí uma voz de mulher me interrompeu mais uma vez:

“Josh, é a mamãe. Você sumiu filho, por favor, liga.”

Olhei para ele e arregalei os olhos. Puxei a mão que ele segurava. Ele me olhou sem entender:

- O que foi?

- Josh? Josh?

- É o meu nome. Henry Josh Adams. O que há de errado?

- Eu não sabia...

- Mas agora você sabe.

- Henry, eu... Eu nem ao menos sabia o seu nome! Como posso não saber o nome do cara que saio há dois meses. Henry a gente já dormiu juntos! E... Mamãe? Você me disse que seus pais tinham morrido! O que... O que está acontecendo? Porque você mentiu, porque você mente?

- Eu não disse que meus pais tinham morrido.

- Disse sim! Num acidente de carro. – Eu estava nervosa, alterada, enquanto ele mantinha a calma.

- Eu disse que meu pai tinha morrido num acidente de carro.

- Não Henry, eu tenho certeza...

- Eu não disse, Amanda. – Ele se alterou um pouco.

- Você disse.

- Eu não disse! – Ele gritou. Gritou mesmo. E bateu o punho na mesa com muita força, fazendo copos pularem, pratos pularem, e eu também.

Fiquei muda. Ainda com os olhos arregalados, olhei para ele. Sem saber o que dizer. Ele estava com muita raiva, eu não o tinha reconhecido. Não era o Henry, não o meu Henry.

- Agora termine de comer, e deixe esse assunto pra lá. – Ele falou rispidamente. Ele nunca tinha falado comigo naquele tom, nunca.

 Olhei para o prato.

- Perdi o apetite.

Ele colocou um braço na mesa e pôs a mão na testa, impaciente.

- Amanda...

- Vou embora. – Peguei minha bolsa e praticamente corri até a porta.

- Mandy, Mandy! – Ele gritou e se levantou, indo atrás de mim, e em dois segundos, ele chegou perto e segurou meu braço com força.

Olhei para ele.

- Por favor, Henry. Deixe-me ir. – Sim, eu estava suplicando. – Amanhã conversamos. Eu preciso ir para casa, pensar. Por favor.

Ele suspirou.

- Eu te deixo em casa.

- Não. – Falei um pouco rápido demais. – Não precisa. Obrigada.

Derrotado, abriu a porta para que eu saísse.

- O jantar estava ótimo.

Ele não respondeu, nem olhou pra mim. Desci correndo e fui para casa, chorando o caminho inteiro. Eu estava... Com medo.