o taxista se assustou. não pelo fato de eu ter voltado logo para o táxi, mas sim por eu estar chorando feito uma criança. ele pediu se estava tudo bem e pediu se podia dar a largada. apenas assenti com a cabeça.

assim que o carro começou a andar, me recolhi dentro do veículo como se estivesse com frio. encostei minha cabeça sobre o vidro do táxi que já estava embaçado por causa do frio que se aproximava. o outono já estava a caminho, junto com ele o inverno sempre tão esperado por uns, e por outros não.

fiquei observando as ruas mas não prestei atenção em nada. minha cabeça estava muito distante. como Mari pode fazer aquilo comigo? a quanto tempo ela estava mantendo um caso escondido com lucas?

eu fui um tolo em achar que ela me amasse, e não sentisse mais nada pelo lucas. como ela mesma disse, ele foi o seu primeiro amor.

assim que o táxi parou, pude reparar que já estava na frente da república. agradeci ao taxista e sai. eu pensei em entrar na república e quem sabe encarar olhos curiosos, comer minha pizza fria,dormir ou fazer qualquer outra coisa. mas não, resolvi andar pelas ruas, tentar me acalmar e parar de chorar.

o céu estava nublado, o vento era gelado. e já podiam se ver algumas folhas caindo do topo de grandes árvores. me sentei em um banco embaixo de uma delas, e fiquei olhando um ponto fixo no chão. apenas pensando no que meus olhos acabara de ver.

mariana narrando.

lucas estava me beijando! e já se faziam alguns segundos.

assim que nos separamos eu arregalei meus olhos.

– você está maluco?

– qual o problema? - me perguntou na maior cara-de-pau.

– você me-me beijou.

– achei que estivesse gostando, pelo fato de não ter me contido.

– e-e seria possível? não! seria inútil eu tentar me afastar. olha o jeito que você estava me segurando!

– desculpe. - sorriu maliciosamente. - você não gosta mais de meus beijos?

lembrei-me de mau-mau que devia estar me esperando. eu estava me sentindo super culpada por ter deixado lucas me beijar. na verdade, eu não sei o que me deu!

– lucas... e-eu não quero nada com você, me desculpe. você foi uma pessoa muito importante para mim, e ainda é. porém, eu só não quero que tenhamos nada além da amizade. espero que você me entenda! agora preciso ir. - me levantei rapidamente da cadeira.

– mas já? foi por causa do beijo?

– não, eu realmente preciso ir. - sorri fraco.

– eu não te entendo mari. mas não vou te questionar, você ainda vai entender que me ama como sempre amou. e vai voltar pra mim.

– tchau lucas. fique bem.

sai dali e chamei um táxi. peguei meu celular que estava na bolsa, e droga!! muitas chamadas perdidas de mau-mau. meu celular estava no silencioso novamente. tentei ligar para mau-mau já dentro do táxi, mas foi em vão. seu celular devia estar desligado.

fiquei pensando no beijo de lucas. como eu pude ser tão ingênua? eu amo mau-mau e não tenho dúvidas, porém teria de contá-lo sobre o beijo.

eu e lucas estávamos conversando normalmente quando de repente, o sinto me beijando. me segurou forte e eu pensei em me debater. mas isso sempre é inútil. afinal, estávamos em uma lanchonete, não seria nada elegante eu fazer um escândalo ali mesmo.

porém, eu estava me sentindo muito culpada. era como se eu quisesse lucas me beijando, mas não! eu juro que não.

pensei em várias maneiras de contar a mau-mau, a maneira certa de falar sobre isso. eu sei que ele não gostaria nada, porém como sua namorada, eu tinha o dever de lhe contar. e estava rezando pra que ele acreditasse em mim.

assim que paguei o taxista, desci do carro e corri em direção da república. assim que entrei, encontrei Samira sentada no sofá. provavelmente já havia terminado com seus estudos.

– como está frio não é? - me questionou ela.

– é sim. - sorri fraco.

– ainda bem que alguém deixou essas pizzas maravilhosas aqui. apesar de estarem frias, não a nada que um microondas não resolva não é mesmo?

apenas sorri a ela.

– e ainda encontrei esse cobertor aqui no sofá. não pensei duas vezes e me deitei nele, na televisão à cabo está passando um filme muito bom. gostaria de assistir o resto comigo?

–não... eu na verdade quero falar com mau-mau. você o viu?

– não. ele deve estar no quarto dele, sei lá. na verdade, acho que ele saiu, mas não tenho certeza. provavelmente foi ele quem preparou tudo isso aqui que eu estou desfrutando. achei que fosse para vocês dois, pelo fato de ter duas taças e estar tudo tão romântico! porém, você saiu e mau-mau sumiu. poxa! as pizzas estavam frias, alguém precisava comê-las!

– tudo bem Samira. não se preocupe com isso, pode continuar desfrutando desse paraíso. - sorri para ela e fui em direção a escada.

– espera Mari! o mau-mau..... acho que saiu atras de você. ele estava preocupado veio até meu quarto pedir se eu sabia o que você tinha tanto que resolver a sós. como eu não sabia, ele desceu nervoso então não o vi mais.

– tudo bem. - sorri fraco. - obrigada.

mesmo assim, subi as escadas e adentrei seu quarto. ele não estava lá, e tudo estava arrumado como antes. encontrei seu celular quebrado. um risco na parede e constatei que ele havia atirado seu próprio celular contra a parede. me assustei ainda mais com aquilo.

ele devia estar preocupado e revoltado.

procurei em seu quarto, talvez algum bilhete que ele poderia ter deixado. eu estava muito nervosa que pensei nessa bobagem.

abri a gaveta de seu criado-mudo, onde ele havia guardado o contrato da Inglaterra. me assustei por que o contrato não estava mais lá. ele poderia ter guardado em outro lugar, mas eu fiquei preocupada do mesmo jeito.

desci novamente as escadas e encontrei Samira chorando no sofá.

– haa mari, você deveria ver como esse filme é romantico e lindo! se for realmente o mau-mau que fez isso pra você.... mesmo não sendo pra mim, vou agradecê-lo.

eu não respondi nada. estava na cozinha preparando algo para comer. estava muito preocupada com mau-mau, e não parava de pensar nele.

– mari, eu sai da república antes. fui até a padaria comprar pães os quais a senhora está comendo.

– faz tempo isso?

– não muito. quando o filme foi para o intervalo e as pizzas acabaram, eu ainda sentia fome. então fui até a padaria, tentei voltar logo por causa do filme mas demorei bastante. deve fazer uns quinze minutos que voltei.

– tudo bem. - respondi.

– tem certeza? você parece ansiosa e preocupada.

– na verdade, acho que enquanto você saiu até a padaria, mau-mau voltou para a república. encontrei o celular dele quebrado no chão de seu quarto.

– minha nossa! porque ele quebraria seu celular?

– eu-eu não sei. - um frio percorreu a minha barriga toda.

eu precisava fazer alguma coisa. mas o que? o único jeito era esperar mau-mau voltar.

logo depois, Ricardo e Bruna chegaram sorridentes.

– vocês já almoçaram? - perguntou Ricardo. - espero que não, trouxe isso aqui lá do restaurante onde a gente foi. é maravilhoso vocês precisam provar!

colocou uma sacola sobre a mesa, e eu pude sentir um delicioso cheiro de comida. ele riu ao ver que eu estava comendo pão no almoço. agradeci pela comida e comecei a comê-la. estava maravilhosa!

– com certeza a melhor da cidade não é?

apenas assenti com a cabeça.

depois que terminei satisfeita, fui até a sala onde todos estavam, agora até Tadeu que havia terminado seus estudos.

– Ricardo, você tem notícias do mau-mau? - perguntei ainda preocupada.

– eu o vi faz algumas horas. enquanto a gente estava caminhando pela cidade eu o encontrei caminhando apressado. ele parecia não estar bem, disse que ia pegar uma condução e ir até a casa de seus pais. porque?

– obrigada.

não respondi mais nada. apenas vesti minha bota peguei minha bolsa e sai da república.

chamei um táxi e dei o endereço. eu estava muito preocupada e esperava encontrar mau-mau na casa de seus pais. assim aproveitaria para matar a saudade dos meus!

foi uma longa viajem que custou quase tudo o que eu tinha na carteira.

assim que cheguei, vi meu irmão. ele veio me abraçar e eu o peguei no colo. falei com ele por alguns minutos, e ele disse que mau-mau esteve mesmo ali, porém já havia ido embora.

fui até a casa dos pais de mau-mau. sua mãe me atendeu sorrindo e me abraçou.

– poxa vida! quanto tempo! você está tão bonita Mariana!

– obrigada, é muito bom te ver. - sorri.

logo perguntei sobre mau-mau. ela parecia surpresa por eu não saber de nada. então pediu para que eu me sentasse. assim que o fiz, veio a noticia.

– mau-mau apareceu aqui faz algum tempo. ele estava decidido, trouxe novamente todos os documentos e pediu minha opinião. eu o apoiei na sua decisão, foi difícil mas eu concordei.ele só tinha até hoje para dar a resposta. então, ele saiu e disse que voltaria para a república fazer suas malas, em seguida passaria na empresa onde ele trabalha e assinaria o contrato - fez uma pequena pausa - Mariana, ele vai para a Inglaterra.