"And you can't fight the tears that ain't coming

Or the moment of truth in your lies

When everything feels like the movies"

- Goo Goo Dolls

A saudade me consumia, sugando minha alegria e minha sanidade. Conversar por celular ou por um computador não é, nem de longe, a mesma coisa. Eu queria abraça-lo com todas as forças de meus braços, beija-lo até ficar sem nenhum vestígio de ar nos pulmões e nunca mais soltar Zach.

Gabriela e Harold estavam na mesma situação que eu e Zach, o dono dos cachos vivia enviando flores para ela, o que provavelmente deveria ser caro, pois encomendar algo para outro pais deve levar boa parte de seu dinheiro, e a minha amiga dizia que o amor sempre iria vencer a saudade, não se importando tanto com o fato de estarmos muito tempo sem eles.

Juliet e Liam estavam cada vez mais ligados, conversando aos sussurros e nos cantos da casa como se estivesse passando códigos secretos, ela ria sozinha ao ler alguma mensagem e vivia distraída, mas acho que sei o que estava acontecendo com a morena.

Olhei para a tela do celular, sentindo um aperto no coração por não ter recebi nenhuma mensagem de Zach no dia, depois do "bom dia". Meus olhos estavam doloridos e meus pés pediam para eu me sentar, não aguentando mais estar de pé.

Richard estava explicando alguma coisa para uma nova garçonete quando me intrometi na conversa, pedindo para poder voltar para casa. Nos últimos dias eu realmente estava me sentindo péssima, dormindo mal, comendo mal, cogitando até a ideia de voltar para os Estados Unidos algumas vezes.

- Pode ir, Valerie, você trabalho bastante hoje - ele sorriu simpático para mim e estendendo a mão para pegar o avental verde. Entrei-o e fui sai da Starbucks aos passos lentos.

Meu celular vibrou no bolso da calça e meu coração deu um pulo de alegria, mas quando vi de quem se tratava, o sorriso que havia se formado em meu rosto se desmanchou.

Era Thomas Shoure, um rapaz que eu havia ficado amiga depois do mesmo derrabar um imenso pote de sorvete em mim enquanto eu e as garotas andávamos no parque alguns meses atrás. Ele era um cara legal, engraçado e muito simpático, que fez questão de me comprar uma blusa nova depois do que havia acontecido.

"Preciso conversar com você." fora as únicas coisas que estavam escritas naquela mensagem. Dei de ombros e respondi um tudo bem, guardando o aparelho no bolso mais uma vez.

Não demoroumuito para eu chegar em casa, pois mesmo estando cansada eu fui rápida.

Quando cheguei Thomas me enviou mais uma mensagem e nessa dizia: "Vamos ao pub perto do meu trabalho às oito?"

Franzi o cenho e cocei a testa olhando aquela mensagem. Olhei ao redor para ver se as garotas estavam em casa e constatei que estava sozinha.

"Por mim tudo bem, está tudo bem Thomas?" respondi preocupada, pois normalmente quando ele queria conversar convidava nós três para sair.

Olhei para o relógio no meu pulso e vi que eram ainda seis horas. Poderia tomar um longo banho, conversar com Zach e ainda estaria adiantada.

Subi para o segundo andar e fui direto para o banheiro, retirando toda minha roupa e me deliciando com a água quente relaxando meus músculos.

Quando terminei de tomar banho liguei o computador novo que Zach havia me dado e comecei a me trocar.

Um short jeans, uma blusa branca um pouco transparente de botões, um lindo terninho alaranjado e uma bota de cano baixo caramelo estava de ótimo tamanho para ir a um pub.

Me sentei à frente do computador e pedi uma chamada de vídeo no Skype, e Zach demorou tempo suficiente para passar rimel e lápis nos olhos.

Ele estava suado, com os cabelos bagunçados e mastigando alguma coisa. Franzi o cenho e tombei a cabeça para um dos lados, encostando a orelha no ombro.

- Oi minha pequena - ele disse sorridente.

- Você não me mandou nenhuma mensagem hoje - disse ignorando os cumprimentos.

- Me perdoa - ele fez bico e eu quis morde-lo, mas então lembrei que ele estava em outro pais - Eu e os garotos passamos a tarde toda fora, estou almoçando agora.

Ao dizer isso levantou uma das mãos, segurando um pacote de cookies de chocolate. Arqueei as sobrancelhas e sorri de lado, compreendendo-o.

- Tudo bem... Você está bem? - perguntei e dei uma breve olhada na tela do celular, para ver se Thomas havia me respondido.

- Está tudo ótimo princesa, e como esta a Irlanda? - ele perguntou abrindo um sorriso magnifico.

- Péssima sem você - disse e suspirei, sorrindo de lado para tentar me sentir melhor por estar conversando com ele.

- Logo iremos nos ver, pequena - ele disse mordendo outro cookie. Arqueei as duas sobrancelhas e olhei para baixo, o teclado do computador parecia bem mais interessante do que olhar os olhos de Zach naquele momento, pois sabia que ele estava mentindo.

- Sabia que te achei ainda mais linda assim? De cabelo curto... - ele comentou e eu deixei um riso escapar mordiscando o lábio inferior e olhando para a imagem de Zach na tela do computador.

- Eu preciso ir, amor, Thomas disse que precisa conversar comigo - disse querendo rir dos olhos vermelhos de Zach que brilharam na tela ao falar o nome de meu amigo. Desdo momento em que havia comentado sobre Thomas, Zach não havia gostado dele.

- Juízo - ele disse suspirando.

- Tchau, baby- sorri me aproximando da tela e desejando beija-la, mesmo sabendo que caso alguém visse a cena iria ser extremamente estanho.

-Tchau minha pequena - ele sorriu largo e desligou a chamada de vídeo. Desliguei todas as luzes da casa e deixei um bilhete na geladeira para as garotas, avisando que estaria no pub com Thomas, caso acontecesse algo era só me ligar.

Tranquei a casa e fui andando até o prédio onde Thomas trabalhava. Na frente do prédio da editora havia um pub tipicamente irlandês, muito bonitinho. Vi um ser de sobretudo em pleno verão, com a cabeça baixa e de cabelos levemente raspados.

Tive que me aproximar um pouco mais para conseguir notar que aquele ser de sobretudo era Thomas e que seus olhos negros estavam vermelhos e seu rosto estava ensopado de tanto chorar.

Franzi o cenho ver seus olhos lentamente subirem até o meu rosto. Thomas estava com as mãos escondidas nos bolsos, mas eu consegui notar que ele tremia como bambu no vento.

- O que aconteceu Thomas? - perguntei desesperada. Ele havia sido o único amigo que havia feito na Irlanda, depois dos cinco garotos.

Ele retirou uma das mãos do bolso e passou-a no rosto, tentando respirar e relaxar, para conseguir falar.

- Samanta me largou para ficar com outra garota - ele disse com a voz extremamente rouca e chorosa. Arregalei os olhos e fiquei olhando para ele.

Samanta era namorada de Thomas à mais de dois anos, o pobre coitado estava esperando eles fazerem três anos para pedi-la em casamento, o que eu pessoalmente achei fofo.

- Vem, vamos no pub - disse segurando a mão de Thomas, entrelaçando nossos dedos e atravessando a rua movimentada para ir ao pub.

Nos sentamos em uma mesa um pouco mais ao longe da porta para que nós tivéssemos privacidade e Thomas pudesse falar tudo o que é preciso.

- Ela... Ela disse que esta apaixonada por uma tal de Pricila - ele disse fungando e chorando em silencio. Fechei os olhos e suspirei. Que estava sendo díficil para ele, isso era obvio!

Thomas começou a falar sem parar e eu respeitei, deixando ele desabafar, sem abrir minha boca. E no final, depois que Thomas bebeu três enormes copos de cerveja simplesmente se levantou e pediu um abraço e eu como amiga concedi o pedido, abraçando-o com todo o afeto que pude, eu não conseguia imaginar a dor que ele estava sentindo, mas precisava faze-lo parar de sentir.