The King's Crown escrita por Lara


Capítulo 3
Ato 2 – The son and the father




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You're lost and so afraid

Where is the hope in a world so cold?

Looking for a distant light

Someone who can save a life

Living in fear that no one will hear your cries

(“Not Alone” – Red)

Enquanto eu lia um livro, dentro da biblioteca, sentado no sofá próximo a janela, Joana encolhida do outro lado do sofá brincava de atirar pequenas bolinhas de papel na capa do livro que eu lia. Obviamente ela estava entendida já que eu havia recusado de brincar de espada com ela. Só existia uma coisa pior do que treinar com alguém que sempre ganha de você e isso era lutar com um fantasma que sempre me derrotava. Apesar de achar que desta fez eu provavelmente ganharia dela, recusei a oferta pensando no risco em que correria se um dos meus irmãos me visse falando e lutando sozinho.

Pare de usar os seus irmãos como desculpa e seja um homem. – a voz arrogante dela interrompeu os meus pensamentos. – Você só não aceitou lutar comigo porque sabia que ia perder. De novo.

– Pare de ler a minha mente. – este era um dos vários momentos em que eu me via desejando que ela estivesse realmente viva para que pudesse dar um belo de um soco no rosto dela.

Mas a sua mente é tão interessante. – ela se espreguiçou que nem um gato. – Tão previsível e fácil de se entender. Se resume em apenas dois nomes: Pai e Henry. Só por curiosidade, isso não cansa você? Ficar o tempo todo pensando dessa forma? Pai, pai, pai, pai, Henry, pai, pai, Henry, Henry, Henry, pai, pai, pai... – tapei a boca dela usando a mão e ela me encarou com um olhar que dizia: “Sério? Esta sua mão esta pedindo para ser mordida.”.

– Se você queria que eu lesse o livro em voz alta era só ter pedido ao em vez de se comportar como uma criança. – vi nitidamente a raiva em seus olhos e por isso retirei a minha mão rapidamente de perto dela. – Quer dizer então que você pode ficar brava com as minhas brincadeiras, mas eu não posso com as suas. Não acha isso um pouco injusto?

O mundo inteiro é injusto, Richard. – o rosto dela estava bem próximo do meu. – Aceite isso de uma vez por todas antes que eu perca a minha paciência. – e ao se afastar desapareceu de vista. Ultimamente ela andava mais sensível que o normal e eu não tinha ideia do por que disso. Dei de ombros e voltei a ler, porém ao em vez de continuar o livro desdobrei um papel e comecei a ler. Era uma carta endereçada a mim enviada por alguém que se autonomeava “Shepherd” (tradução: pastor). Ainda me lembro de quando recebi a primeira carta dele. Imediatamente soube de quem era e quase chorei de alegria. Desde então ele me escreve uma vez a cada três meses e às vezes eu respondo. Estava lendo o final da carta quando a porta se abriu e eu por instinto fechei a carta dentro do livro.

– Então era aqui que você estava! Te procurei em todos os lugares. – George entrou sem fazer qualquer cerimonia e segurou o meu pulso já me puxando para fora da biblioteca. – Papai esta te chamando. Parece ser algo importante. – ele riu. – Será que ele vai te promover para algum cargo legal?

– Duvido. Ele está muito ocupado para se preocupar com essas coisas fúteis. – mantive o livro fechado perto de mim. Não poderia deixar ninguém ler aquela carta. No corredor em que caminhávamos logo apareceu Catesby, meu fiel servo, e eu tratei de aproveitar essa oportunidade. – Leve isso para o meu quarto, por favor. – entreguei o livro e vi que ele havia entendido o significado daquilo.

– Entendido, Lorde Richard. – e seguiu pelo caminho oposto em que íamos.

Ao chegarmos ao salão notamos que o pai estava conversando com alguns outros nobres em volta de uma mesa cheia de papeis e mapas. Quando ele nos viu fez um gesto com a mão para que nós entrássemos. Aguardamos ele terminar a reunião em canto do salão enquanto conversávamos. Para falar a verdade, George falava e eu apenas escutava. Ele contava com entusiasmo sobre o aprimoramento das suas habilidades físicas, os seus estudos, sua paixão ainda não correspondida por uma princesa do leste, seus sonhos e desejos. Sempre achei que de nós três, ele era o mais sortudo. Bajulado por todos que o cercavam foi assim que ele cresceu e se tornou o rapaz que era hoje.

– George, gostaria de ter uma conversa em particular com o seu irmão. – a voz do pai atraiu as nossas atenções. – Obrigado por tê-lo trago.

– Sem problemas, pai. Já vou indo. – e antes de fechar a porta ele me fez um sinal positivo com o polegar e mexeu os lábios sem usar a voz me desejando sorte.

– O seu irmão parece que teve grande dificuldade em encontra-lo. Onde você estava no final das contas? – ele me perguntou com curiosidade enquanto arrumava uma papelada de papeis.

– Na biblioteca. – não pude deixar de notar a risada rápida que ele deu. – O que foi?

– Este seria o primeiro lugar em que eu te procuraria. – depois de ouvir essas palavras até mesmo eu ri com alegria. Já deveria esperar uma resposta dessas vindo dele, afinal ele parecia me conhecer melhor do que eu mesmo. Esta era uma das razões de eu gostar tanto dele.

– Teve noticias de Edward? – perguntei me aproximando da mesa.

– Sim, ele me envia cartas com certa frequência. Parece que ele e Carolina estão esperando por um filho. – gostaria de ter ficado mais surpreso do que fingia estar, no entanto a mãe não parava de falar nisso desde anteontem então eu acabei escutado por acaso enquanto ela conversava com alguma amiga. – Acho que logo logo nós teremos mais um membro para a família.

– Transmita os meus mais sinceros parabéns para o casal.

– Eu irei. – o pai indicou a cadeira com a mão e me sentei. – Acho que já sei a resposta para a pergunta que farei a você, mas mesmo é melhor dizê-la para confirmar se estou enganado ou não. – ele se sentou na cadeira mais próxima da minha. – Richard, você sabe que dia é hoje? – fiquei por um instante sem saber o que responder. Até onde eu me lembrava hoje era um dia tão comum quanto foi o dia de ontem.

– Hm... Dois de outubro? – ele sorriu me deixando mais frustrado. – Três?

– Meu filho, como depois de todos esses anos você ainda não se lembra da própria data de aniversário? – meu sorriso quase desapareceu por completo. Claro que eu não me lembrava, fazia questão de apagar da minha memória desde o dia que fui abandonado na floresta. Às vezes Joana me lembrava somente para me irritar, porém na maior parte das vezes esse dia passava despercebido do jeito que eu prefira. Não fazia sentido lembrar de um dia que não era comemorado por ninguém. – Por ser o seu aniversário eu tenho um presente muito especial para você.

– Você realmente não precisava se incomodar...

– Não foi incomodo algum. – sobre a mesa de frente para mim ele depositou uma pequena caixa de veludo preto. – Abra. – ainda um pouco ressentido com tudo o que estava acontecendo, segurei a caixa e a abri me surpreendo em reconhecer o conteúdo que vinha dentro. O anel da família York. – Eu quero que você seja o próximo herdeiro do trono.

– O quê? – não nego que desde que era criança sonhava com este dia. O dia em que o meu pai iria recolher a minha força e depositar a sua confiança em mim quando eu reinasse depois dele. No entanto acabei parando de pensar assim desde a última vez em que vi Henry.

– Você não esta contente?

– Não, não é isso. É só que... – engoli em seco tentando pensar o que exatamente eu queria dizer. Acalmei-me e tratei de pensar racionalmente. Levantei-me da cadeira e ajoelhei no chão com a mão direita sobre o coração e a cabeça abaixada. – Sinto-me honrado em receber tal presente de você, pai. – honestidade era a melhor solução. – Você não sabe o quando desejei e lutei para que esse dia chegasse e por essa razão sou muito grato pelo senhor. Uma das poucas coisas que me fez seguir em frente foi este afeto especial que você tem por mim, contudo acredito que se tratando de um assunto tão delicado como este você não deveria agir de forma que me favorece perante os meus outros irmãos. – fiz uma pausa. – Sou o mais novo e por isso não posso esperar que vá ter o direito ao trono antes dos meus irmãos mais velhos. Peço humildemente que reconsidere na sua decisão, Majestade. – podia jurar que estava vendo Joana sentada ali perto batendo palmas para mim.

– Levante-se, Richard. – e assim o fiz como foi pedido. – Nenhum filho meu deve se ajoelhar dessa forma perante mim, principalmente você que esta fazendo aniversário hoje. – ele me abraçou com força e carinho como sempre fazia. – Nossa... Como você cresceu. Parece até que foi ontem que a sua cabeça batia no meu peito. – beijou o topo da minha cabeça. – Feliz aniversário, filho. – e somente quando nos afastamos é que percebi que ele havia colocado um colar ao redor do meu pescoço. Havia um camafeu como pingente. Ao abri-lo quase exclamei ao reconhecer de quem era a foto que lá estava. – Este presente foi mais difícil de se conseguir, porém no final não existe nada que um rei não possa fazer para agradar o filho.

– Como você...? – comecei a dizer.

– Eu o vi quando ele te salvou no campo de batalha. Poderia ter deixado o arqueiro acerta-lo, contudo a sua segurança era mais importante. – pai sorriu para mim. – E também tinha uma ideia de quem poderia ser o pastor que tem o costume de te enviar cartas. – ele colocou a mão sobre o meu rosto. – Não importa que caminho você escolha percorrer, sabia que eu o apoiarei. Como um filho ou uma filha. – sem perceber lágrimas deslizavam pelas minhas faces. Lágrimas de alegria.

– Muito obrigado, pai. – ele limpou as lágrimas com o dedo e depois beijou a minha testa.

Ao sair do salão e fechar a porta atrás de mim escondi o colar dentro das minhas vestes e caminhei em direção ao meu quarto. Comecei a contar quantos anos havia se passado desde aquela batalha final. Cinco anos. O comprimento do meu cabelo era uma prova viva da passagem desses anos. Agora eu o prendia em um rabo de cavalo deixando dois pedaços compridos de franja soltos. Ficava imaginado que tipo de expressão Henry faria se me visse assim. Talvez nem me reconhecesse. Ao abrir a porta do meu quarto vi Joana sentada sobre a minha mesa de estudos com as pernas cruzadas segurando o cabo de uma rosa vermelha.

Feliz aniversário, Richard. – como ela nunca antes tinha me parabenizado dessa forma, eu estranhei achando que algo ali estava errado. – Como hoje é o seu dia vou ignorar os seus pensamentos e te contar o que acabou de chegar para você. – ela ficou brincando com a flor girando para os lados. – Esta rosa e uma carta.

– E quem me mandaria uma rosa vermelha? – comecei a me aproximar. – Aposto que isso é mais de uma das suas brincadeiras. – ela apoiou as mãos sobre a mesa rindo.

Por que você não descobre então? – quando peguei a carta observei que o envelope estava completamente em branco a não ser pelo o meu nome escrito em uma caligrafia elegante. Abri-o pegando o papel dobrado e comecei a lê-lo. Não demorei muito até descobrir que aquele um presente de Henry para mim. Como ele tinha descoberto sobre essa data eu não tinha a mínima ideia, mas não me importei com isso. Toda a minha atenção estava voltada para as palavras escritas naquele papel pardo. – Devo preparar os cavalos? – ao terminar de ler virei o rosto na direção dela e sorri.

Comecei a andar pelo castelo como se aquela fosse a última vez em que faria isso. Observei as coisas com mais cuidado, conversei com os empregados sobre coisas cotidianas, andei pelo jardim, passei a mão pelos vários livros na biblioteca, cheguei a dar língua para um dos quadros que eu mais detestava, passei pela cozinha para furtar um pedaço de torta e por fim fui me despedir de certas pessoas. Inventei uma mentira para George pensar que eu iria fazer uma excursão pelo país; para Catesby palavras não foram necessárias, apenas nos abraçamos; não consegui me despedir do meu pai e agora me encontrava de frente para a porta do quarto da última pessoa com quem eu iria conversar. Aquela era a primeira vez que me encontrava ali porque sempre que possível, não importando onde tivesse que ir, eu evitava ao máximo de passar por aquele corredor. Respirei fundo fechando os olhos. Se parecesse para pensar não realmente importava o que ela iria me dizer, eu só não queria passar o resto a minha vida me arrependo por não ter tido a coragem de fazer o que estava prestes a fazer. Bati na porta e a abri pedindo licença. Ela estava sentada perto da janela lendo um livro que eu logo reconheci como sendo um dos meus favoritos.

– O que foi, George? – ela mantinha os olhos sobre o livro. – Estou um pouco ocupada.

– Peço desculpas em incomoda-la. – puder notar quando ela reconheceu a minha voz ao quase deixar o livro cair de suas mãos. – Tem uma coisa que gostaria de te informar. Vou ser o mais breve possível.

– O que você quer? – a mudança drástica no tom da voz não me afetou. Já estava demasiadamente acostumado com ele para começar a ligar agora.

– Só queria te avisar que vou sair e ficar fora por um tempo. – ela escondeu o nervosismo fingindo estar lendo o livro ao virar a página.

– Você não precisava se incomodar em vir me dizer isso. – tive vontade de rir, mas me segurei. Esta frase que ela tinha acabado de dizer era exatamente a frase que achei que ela fosse me dizer.

– Eu sei. – falei com honestidade. – Contudo não queria deixa-la preocupada e por isso decidi vir avisa-la. – abaixei a cabeça, reverenciando-a. – Tenha um bom dia, Majestade. – dei as costas e comecei a me retirar.

– Faça uma boa viagem. – mesmo que tenha escutado as palavras com clareza eu ainda não conseguia acreditar que ela tinha realmente as dirigido para mim. Eram simples e gentis demais.

– Obrigado. – abri a porta. – Adeus, mãe. – e sai fechando a porta atrás de mim.

Estava terminando de equipar Max quando fui quase surpreendido por uma adolescente de cabelos ruivos encaracolados. Tinha me esquecido que ela estava se hospedando aqui. Trajava em um vestido amarelo nobre com o cabelo preso em um penteado de princesa. Descendo pelo seu pescoço estava um colar banhado em ouro e enfeitado com pedras preciosas. Sua pele se encontrava branca avermelhada devido ao sol e o seu par de olhos azuis estão mais intensos do que nunca. Anne Neville estava zangada provavelmente porque eu a havia ignorado nos últimos quatro dias desde a sua chegada.

– E aonde você pensa que vai? – a jovem garota tentava me intimidar com o seu olhar raivoso e as mãos sobre a cintura.

– Lugar nenhum. Porque essas suas duras palavras me intimidaram. – ela sorriu juntado as mãos para frente como uma inocente criança que acreditava em tudo o que lhe diziam.

– Sério? – sua voz trasbordava de felicidade.

– Não. – ao subir em Max tive que olhar para baixo para encará-la. – É preciso mais do que uma princesa zangada para me intimidar. – agora Anne cruzou os braços me encarando com ódio. – Porque você simplesmente não me esquece e vai procurar por um real pretendente? Há essa altura já deve ter percebido que eu não tenho nenhum interesse em você.

– E eu gostaria de saber o porquê disso! – ela exclamou com raiva deixando Max um pouco chateado, mas eu logo o acalmei passado a mão sobre ele com gentileza. – Tem algo de errado comigo?

– Não tem nada de errado com você. – suspirei passando a mão pela cabeça. Se dependesse daquela garota essa conversa duraria horas e eu realmente estava com presa de sair dali. – Escute o meu conselho: da próxima vez que se interessar por alguém, certifique-se de que essa pessoa é um garoto, esta bem?

– O que quer dizer com isso?

– Você vai entender eventualmente. Eu espero. Vamos, Max! – ele relinchou e saiu em disparada quando Anne começou a dizer algo que não consegui ouvir. Depois que passamos pelo portão corremos com mais facilidade. – Nós estamos indo encontrar o Henry. – em resposta o cavalo grunhiu. – Sim, eu sei. Demorou demais.


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