Perfect Life escrita por Carol Masen


Capítulo 2
O Estranho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/470288/chapter/2

Como em qualquer dia eu queria pular para noite. Queria pular toda aquela história de acorda, fingir ser feliz, sorrir para Charles, pega minha caminhonete, chegar a FHS e ignorar todos. Sempre achei que eu sofria de um distúrbio. Distúrbio esse chamado antissocialismo [n/a: palavra desconhecida no dicionário, mas conhecida por mim]. Tudo piorou quando Renné e Charlie morreram. Não gosto de lembrar como aconteceu e tudo que eu vi, segundo Charles – irmão de meu pai – eu já era depressiva demais e não ajudava nada eu ficar recordando essas coisas.

Minha vida se tornou monótona demais no segundo que tive que me mudar para Forks e viver com meu único parente vivo. Meu tio quarentão e gay! Não que eu tivesse qualquer tipo de preconceito com isso, nenhum, mas era estranho pensar na equação meu tio+ outro homem = quarto ao lado do meu.

Segundo Charles eu sou uma depressiva comediante, eu já acho que sou realista. Eu sabia que não poderia sair daquele fim de mundo, que iria para uma faculdade em Seattle e cuidaria daquele homem até o dia que ele decidisse me abandonar igual aos meus pais. O consolo era que um dia eu iria rever todos. E eu esperava que fosse cedo, cedo até demais.

...

Minha mãe sempre dizia: Deve dar uma chance para as pessoas Bells, nunca as julgue sem conhecer. Mas o que ela não sabia era que eu já sabia como as pessoas eram antes mesmo de conhecê-las, digo isso por causa das pessoas de FHS. Todos eram tudo de ruim na face da terra, esnobes, metidos, mesquinhos e adoravam dizer que estariam fora de Forks no próximo ano. Já eu os via aqui mesmo, com uma loja de artigos esportivos como a Sra. Newton, mãe de um dos meus colegas de classe.

Estacionei minha picape velha e barulhenta bem longe dos demais. Caia uma leve garoa e eu teria que andar um pouco até chegar ao meu prédio, porém era melhor isso do que aturar o olhar daquelas pessoas. Não eu não era uma garota indefesa, triste que sofria algum tipo de preconceito e logo um garoto chegaria para me salvar, por favor, isso só existia nas novelas. As pessoas nunca me enxergaram e sempre que me olhavam era de uma forma estranha, acho que eles sabiam o que aconteceu com meus pais e de uma forma me culpavam, eu me culpo.

Joguei meu capuz sobre a cabeça e andei olhando para o chão. Tinham muitas pessoas sussurrando por onde eu passava, escutei o nome Cullen algumas vezes e por impulso olhei para uma das famílias mais velhas na história de Forks. Bom eles não eram nenhum tipo de vampiros nem nada parecido, só que seus tataravôs praticamente fundaram essa cidadezinha e todos sempre moraram aqui. Acho que eles eram os únicos naquela escolha que eu respeita um pouco porque eles não pisavam nos outros ou tentavam ser melhores, apenas ficavam na deles, como eu.

Surpreendi-me ao ver um garoto alto e loiro abraçado a Emmett. Ele estava de costa e eu não pude ver seu rosto, também não queria, devia ser algum aluno novo e ele devia conhecer os Cullen’s, apenas isso.

O sinal logo tocou e os suspirou e reclamações começaram. Segui até a minha primeira aula, biologia. Todos tinha uma dupla menos eu. Segui até meu lugar e abaixei o capuz me sentando e esperando o professor.

Todos entraram devagar e logo atrás Sr. Banner entrou empurrando levemente um garoto pelas costas, um garoto que reconheci como amigos dos Cullen’s, um garoto que tinha olhos extremantes verdes e um rosto de modelo, um garoto que seria meu parceiro, pelo que me parecia.

...

Toda sala paralisou ao vê-lo sentar ao meu lado. Eu podia escutar os pensamentos de todos, o aluno novo sentando com a esquisita do colégio, sinto pena dele e todas essas coisas. Não ligo. Ele vai sentar comigo, isso não quer dizer que seremos amigos e ele ira se tornar um esquisito como eu.

Qual é gente, ele é amigo dos Cullen’s.

– O que disse?

Demorei a perceber que ele fala comigo. Olhei para o lado como quem não quer nada e quase suspirei como uma boba ao olhar em seus olhos. Uma imensidão verde, era como cair em um abismo, se olhasse mais perto eu poderia ver sua alma. O ar me escapou por alguns segundos e percebi que tinha parado de respirar.

– Você está bem? Quer que eu chame o professor? - sussurrou se aproximando mais um pouco.

Sem pensar levantei minha mão direita até seu peito e o empurrei de leve. Temia parar de respirar no segundo que ele se aproximasse mais.

– Sr. Cullen? Senhorita Swan? Tudo bem com vocês? – Sr. Banner se aproximou de nós.

No momento que nossos nomes foram chamados 28 rostos se viram em nossa direção, mas eu nem liguei, um fato me chamou atenção. Sr. Banner se referiu ao aluno novo como Cullen, será que ele era mais um?

– Sim, Sr. Banner – sussurrei – Tudo bem.

O professor nos olhou por alguns segundos até voltar para o quadro negro. Algumas pessoas ainda nos encaravam, mas depois de um tempo viram que mais nada seria dito se viraram para frente. Eu podia sentir o olhar do recente descoberto Cullen encima de mim, mas decidir ignorar.

As horas demoraram a passar e assim que o sinal tocou eu sai da sala ofegante pelas descobertas. (a) o aluno novo, aquele cuja me deixou sem fala, era um Cullen, (b) eu queria entender o que fora a minha reação ao encará-lo.

Segui para minha próxima aula esperando não encontrar com esse Cullen hoje, para o bem dele.

...

Pegue meu exemplar de Cidade de Papel e me sentei embaixo de uma árvore no grande pátio. Todos estavam do lado de fora agora, já que era incomum um sol tão forte como aquele, ainda mais em um dia de semana. Deixei minha mente ser preenchida pelas palavras de John Green, porém minha paz não durou, uma bola voou em minha direção e acabou batendo no copo de cappuccino que havia em minha mão, fazendo que o liquido se derramasse todo em meu livro.

– Merda – praguejei enquanto tentava limpar aquela grande sujeira.

– Ei, me desculpa, juro que não foi minha intensão ...

Olhei para cima esperando ser qualquer um, menos ele. O Cullen. Sua blusa estava um pouco suada – sinal que estava jogando – e ele passou a mão pelo cabelo, sorrindo torto de um jeito super atraente.

– Tudo bem – sussurrei

– Eu sujei seu livro não é? – ele se ajoelhou ao meu lado fazendo todo meu corpo se arrepiar – Só você dizer onde comprou, que eu te compro outro, igualzinho.

Sorri de lado, um sorriso sincero, um sorriso que há muito tempo eu não dava. Peguei a bola ao meu lado e lhe entreguei.

– Obrigada, mas não precisa – me levantei – Sei que foi um acidente, pode voltar ao seu jogo agora.

– Então me deixa fazer alguma coisa para compensar – disse ainda me encarando.

– Eu já disse, está tudo bem, não precisa virar um chato que vai me perseguir até que eu aceitei um presente como desculpa – disse de uma forma séria, porém ele sorriu – E demais a mais você é um estranho, me ensinaram a nunca aceitar nada de estranhos.

Ele levantou a mão em minha direção – Edward Cullen, novo na cidade, e não mais um estranho.

Pensei em aceitar sua mão e um filme passou em minha cabeça. Eu era uma pessoa diferente, sorria frequentemente, sempre feliz e Edward estava ao meu lado, eu era feliz com ele. Porém como um balde de água fria vi seu nome passando por minha mente, pude vê-lo descobrindo tudo que eu havia feito há anos atrás e me deixando, logo depois eu caia em um precipício sem ninguém para me salvar. Preferir deixar minha mão parada.

– Não precisa se apresentar – meu tom surpreendeu até a mim mesma – Volte para sua família e esqueça o que aconteceu.

Segui meu caminho até a caminhonete, eu precisava sair daquela escola, precisa pensar, colocar minha cabeça no lugar. Edward me parecia um cara legal, todos pareciam na verdade, só eu que tinha uma vida fodida e havia acabado com a vida de todos que passaram pela minha.

Logo parei o carro em La Push e admirei o mar. Como queria Renné e Charlie comigo agora. Queria ser acordada com o cheiro de ovos e bacon que minha mãe sempre fazia todas as manhãs, queria sentir o bigode de meu pai fazendo cosquinha em minhas bochechas quando ele me beija todo dia. Eu queria minha família de volta.

E como naquele mesmo pensamento que tive ao escutar Edward se apresentar, me vi caindo em um precipício. Um poço, cheio de culpas, cheio de rancor e infelicidade. E não, eu nunca poderia ser feliz ao nado de ninguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perfect Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.