Depois da quarta aula, os alunos foram chamados para se reunirem na quadra. Me sentei no meio da arquibancada , ignorando a empolgação da maioria ali. Mas confesso, vidrei em cada palavra que saiu da boca da diretora.

Haveria uma competição na sala, sugestão da bibliotecária Geovanna e de alguna professores. Os alunos seriam divididos em grupos, e durante todo o bimestre, participaríamos das mais diversas atividades, seria quase como uma gincana.

Essas atividades valeriam pontos, e o grupo, de cada ano, que tivesse a maior pontuação ganharia uma viagem com tudo pago para um sítio-hospedaria e uma surpresa.

– Dou a palavra para nossa querida bibliotecária, Geovanna. - a diretora anunciou. - ela agora vai sortear os grupos.

– E se eu não quiser participar? - algum aluno da turma do fundão perguntou, e outros repetiram a pergunta.

– Não são obrigados, mas vai valer nota. - uma coordenadora respondeu, fazendo com que o interesse em participar aumentasse.

Dividiram os grupos do primeiro ano, e eles foram levados para o refeitório. Levou cerca de meia hora, até começarem a falar dos alunos do meu ano. 24 grupos do primeiro ano foram formados.

– Agora, a divisão de grupos dos alunos do segundo ano! - Geovanna falou.

– Melinda May, Erik Parker, Juliane Albuquerque, Ágatha de Oliveira, Gabriel Tavares, Juliano Henrico, Joyce de Oliveira e Daniel Alves. Vocês serão o grupo 25. Repetindo...

Vi Melinda se levantando, indo em direção ao professor de português Thiago, que sinalizava para que os membros do grupo 25 fossem até lá. Melinda olhou pra mim, como se pedindo internamente que fóssemos do mesmo grupo. Dei de ombros, e voltei a prestar atenção a Geovana.

Mais oito alunos foram chamados, formando o grupo 26. Geovanna olhou pra mim de um jeito suspeito antes de começar a falar os nomes do próximo grupo.

– Daisy... - Geovana mal terminou de falar o nome dela que Daisy pulou do lugar, correndo na arquibancada e indo em direção aos professores. Algumas alunos deram risada, e ela mandou um beijo pra eles. - Continuando... Tamires da Silva, Vivian Santos....

– Qual Vivian Santos? - perguntou uma garota da frente.

– A Vivian Santos do segundo ano. - Geovana respondeu. - Só tem uma do segundo ano.

A garota, do lado da que fez a pergunta, se levantou, e Geovanna prosseguiu.

– Gustavo Felicissimo, João Falé, Taylor... - ela fez uma pausa, olhando pra mim. Me levantei, descendo a arquibancada. - Lucas Inácio e Marcus....

Meu coração deu um pulo ao ver o Marcus se levantando também. Antes que pudesse pensar em algo, Daisy correu na minha direção, como um cachorrinho indo em direção do dono. Ela praticamente pulou em mim, quase me derrubando, fazendo mais alunos darem risada.

– Dá pra acreditar? Nós vamos ficar juntas, vamos ficar juntas! - ela dizia, toda empolgada enquanto andávamos até o Thiago. - Vai ser incrível, não acha Taylor?

Encontrei os olhos de Marcus em mim, e dei um sorrisinho pra ele. Ele ficou meio sem jeito, mais retribuiu, e tentei permanecer o mais impassível possível.

Quando todos os integrantes chegaram, nos reunimos em um círculo. O Thiago nos entregou uma folhinha, e começou a falar.

– Vocês serão o grupo de número 27. Vão precisar de um líder, pra representá-los, e escolher um nome. Antes de começar, alguém quer sair?

Ninguém disse nada. Olhei pra todos eles, a vontade de ser a representante latente em mim. Eu tinha que representar.

– Muito bem, votação rápida. Quem se candidata a representante? E tem que ser alguém responsável hein, vai arcar com o grupo.

– Eu me candidato! - eu disse, antes que alguém pensasse em falar um A. Iniciativa era tudo.

– Voto na Taylor. - Daisy disse, e senti vontade de abraça-la. Quase.

– Voto nela também. - O Marcus disse, e por meros segundos, senti meu rosto corar.

Os demais foram dizendo que votavam em mim também, que não tinham nada contra.

O professor Thiago fez algumas anotações, e continuou.

– E o nome da equipe? - ele perguntou.

– Ei, ei, ei. - Daisy sinalizou, levantando a mão. - eu vi um trailer super legal, de um filme que tem um livro. Que tal se a gente colocar o nome deles?

– Que seria...? - Thiago questionou.

– Esquadrão Suicida. Ou Suicide Square. ES ou SS. - Daisy respondeu.

Eu já tinha conseguido o que queria, que era ser a representante, então não me opus.

– Voto na sugestão dela. - eu disse, e os outros concordaram também.

– Muito bem, aguardem ali no canto um instantinho, okay? - o Thiago pediu. Comecei a andar junto com os demais até a onde ficava o arame que rodeava a quadra, quando ele me chamou. - um instante, Taylor. Os demais podem ir.

– Pois não, professor? - perguntei.

– Como representante, você deve ir nas reuniões da comissão. A primeira reunião será amanhã, quarenta minutos antes das aulas começarem. Avisaremos qual será a primeira tarefa lá, não falte.

Fiz que sim com a cabeça, e me juntei ao meu grupo. Alguns liam suas folhas, comecei a ler a minha também. Se tratava das regras e das coisas que não podíamos fazer, caso contrário, seríamos expulsos.

Evitei olhar para o Marcus, e fiquei do lado de Daisy. Ela estava postando uma foto no instagram.

– Só pra contar a novidade aos meus seguidores. Essa atividade vai ser o máximo, ainda mais com você.

Assim que a foto carregou e foi postada, ela fechou o aplicativo, e fiquei intrigada com o papel de parede dela.

– Quem são esses? - perguntei.

– Ai minha nossa, você não sabe? - ela perguntou, escandalizada. - Como pode não conhecer a melhor banda de rock de todos os tempos?

Num primeiro momento, fiquei meio intrigada. Daisy gostava de rock? Isso era novo pra mim. Olhei mais uma vez pra tela dela, e o motivo apareceu. Os integrantes eram bonitos, admiti. Aposto que conseguiam muitas fãs com aquele rostinho.

– Toda adolescente tem que ter um ídolo. Um ator, cantor, banda. Alguém pra se inspirar, copiar, ter de poster na parede e seguir nas redes sociais.

Ela começou a dar um daqueles discursos, e me arrendi de ter ido ficar do lado dela.

Daisy era legal, uma garota extrovertida. Só que ela tinha essa matraca e não tinha botão do mute. O instantinho do professor Thiago durou mais meia hora, antes que fóssemos levados ao refeitório e meus ouvidos estivessem doendo. Retiro o que disse, ela conhecia mesmo a banda, porque parecia uma wikipédia.

Eu e Melinda nos olhamos de novo, dessa vez como rivais. Que maravilha. Eu teria que vencer uma amiga.