Você Pertence a Mim escrita por Katherslyn


Capítulo 10
Debates acalorados


Notas iniciais do capítulo

1) Gostaria de pedir desculpas por não ter postado na semana passada, fiquei atolada aqui e não deu.

2) Atentados, terremotos, mortes... Paz para o mundo, please.

3) Espero que curtam, me inspirei numa conversa que vi.



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Com o tempo, Melinda May acabou se tornando uma espécie de amiga. Eu a convidei pra passar os intervalos da escola comigo, pra ser minha dupla em atividades de sala de aula, pra ir na minha casa. Ela era uma companhia agradável, principalmente pelo fato de passar a maior parte do tempo calada.

Ela ficava do meu lado, lendo. Quando precisava dizer algo, era coisas como "o que tem de lance hojr?", "já fez aquela pesquisa?" ou "viu aquela manchete do jornal?".

Tínhamos algumas coisas em comum. A gente era viciada em leitura, apesar de eu gostar de livros e ela de mangás. A gente gostava de assistir filmes, apesar de eu curtir fantasia e aventura e ela doramas. E nós éramos extremamentes estudiosas.

Apesar de gostar da companhia dela, Melinda tinha muitas aulas comigo. Ela vinha se destacando nas matérias, e eu me sentia mal por sentir um certo grau de ciúmes dela. É só que, a vida toda eu fui taxada de nerd, e junto com isso, o título de melhor aluna da sala. Eu sempre fui a queridinha dos professores, dos funcionários. Nem Marcus, que era inteligente, conseguia passar de mim. Então chega uma asiática e me coloca em estado de alerta.

Era uma segunda-feira, e isso queria dizer que Daisy passaria o intervalo conosco.

Eu sabia que alguns alunos vinham reclamando disso. "por que elas passam os intervalos no lado de fora, e a gente tem que ficar aqui dentro presos?".

Quando era só eu, os inspetores nem se preocupavam com isso. Com Marcus, ficaram de olho em mim. Com Melinda, eles só olhavam. Mas com uma Daisy da vida? Ela fazia a maior bagunça, e eu sabia que era uma questão de tempo até um inspetor proibir a gente de ir pra lá.

Daisy trazia um piquenique completo. Garrafas térmicas, caixas de suco, garrafas de refrigerante, salgados, um lençol pra estender no gramado. Ligava uma musiquinha no celular e começava a falar.

Daisy tinha que narrar cada detalhe do fim de semana dela, mesmo que nossas caixas de entrada estivessem lotadas com mensagens dela contando tudo.

– Vocês perderam mais um fim de semana incrível, como sempre. Teve a festa do John, na sexta feira á noite. E foi tipo, incrível. Eu acabei chegando bem atrasada na festa porque no meio do caminho, eu vi uma mancha no meu vestido, era um vestido preto. E eu tive que voltar pra casa ne, porque não iria assim. E perdi tempo tendo que escolher outro vestido de última hora. Por sorte, encontrei um vestido verde de lantejoulas. A minha prima me deu num aniversário que eu tive, mas achei muito brega na época. Mas sabe que até que ficou bom em mim? Então eu cheguei na casa dele, pra festa, e estava uma loucura lâ. Pessoas bêbadas dançando em cima da mesa, alguns doidos se jogando na piscina. E então o John me convidou pra subir para o segundo andar, porque ele queria me mostrar uma coisa. Daí...

Olhei para Melinda e ela me olhou de volta. Trocamos um sorriso cúmplice e dei de ombros, era a nossa linguagem própria.

Era nesses momentos que eu queria que Daisy desencravasse de mim. Se bem que ela era uma companhia interessante. Às vezes. De vez em nunca.

– Eu disse que não, obviamente, por causa daquele lance do Leo, lembra do Leo? E aí...

Peguei meu caderno e procurei me concentrar no texto que eu tinha feito. Bathilda tinha passado uma pesquisa para o fim de semana, As Motivações do Grupo Jihadista que se Auto Intitula Estado Islâmico. Minha pesquisa tinha umas oito folhas, e resolvi dar uma lida de última hora pra dar uma corrigida.

Não cheguei nem na metade, Daisy ficou curiosa e quis saber o que eu estava lendo.

– O que é isso que você ta lendo? O que é? - ela perguntou, se pendurando no meu ombro pra conseguir ler. - Ei, espera, isso aí é a resposta daquele trabalho de história?

Confirmei com a cabeça, curiosa. Até onde eu sabia, ela não tinha aulas com a professora Bathilda.

– Entrou uma velha lá na minha sala, e ela vai substituir meu professor de história por algumas semanas. O Silvio pegou licença de novo, e essa mulher que entrou no lugar dele é doida. Não sei como vocês aguentam a aula dela, ela só sabe falar e falar e falar.

– Bathilda? - perguntou Melinda. - Eu acho ela legal. Essa última pesquisa que tivemos que fazer foi interessante.

– Eu copiaria de você, Taylor, mas ta muito longo isso ai. - Daisy comentou. - Pode me explicar do que se trata a pesquisa? Me explica que quando eu for pra sala, faço um resumo.

– Você já ouviu falar do estado islâmico, certo? - perguntei.

– Sim. Tem o estado líquido, o estado gasoso e o estado islâmico. BOOM. - Daisy respondeu, fazendo graça.

– Bom, um grupo de islamistas extremistas, chamados de jihadistas, acreditam que as pessoas precisam se converter ao islã, religião deles. Quem não segue o islamismo, é considerado infiél. Eu e você, pra eles, somos infiéis. Esses jihadistas acreditam que o mundo só vai se tornar um lugar melhor quando todos os humanos da terra se converterem na religião deles, e quem não quiser, tem que morrer.

– Eles se auto proclamam um Estado. - Melinda continuou. - Na visão deles, são salvadores. Os homens/bombas vão morrer matando infiéis, e serão recompensados por Alá. Vão para o céu, comer do bom e do melhor, ter mulheres a seus pés. Eles acham que estão salvando o mundo, mas pra nós, não passam de terroristas.

– O Silvio falou algo sobre isso. - Daisy disse. - ele falou que esses islamistas extremistas estão fazendo o que os cristãos fizeram no passado. Querem converter todo mundo na crença deles e quem não quiser, morre.

– Mas não vamos focar nisso. - interrompi. - Basicamente, o que você tem que escrever é que eles fazem isso pela fé deles, que o que os motiva é sua religião.

– Desculpa interferir. - Melinda me interrompeu. - Mas acho que você está um pouco equivocada nessa parte. Eles fazem por vingança.

Encarei Melinda, e Daisy ficou olhando pra nós duas, apreensiva.

– Como assim, vingança? - perguntei, o mais educadamente possível. Eu realmente detestava que me interrompessem, ainda mais pra me dizer que eu estava errada.

– É só voltar séculos atrás. Esses extremistas querem se vingar de tudo o que fizeram com o povo deles no passado. Por que acha que estão crucificando cristãos em tantos países do oriente médio? Estão queimando, torturando. É vingança, retaliação.

– Só que eu li que eles estão recrutando pessoas dos mais variados países, principalmente jovens. Eles querem espalhar a religião Islã. E estão matando qualquer um que se oponha no caminho deles, não só cristão. Estão matando o que eles chamam de infiéis. Eles querem que todos reconheçam Alá como o único e verdadeiro deus.

– Vingança. Veja comk eles tratam os judeus, eles odeiam judeus. E não é só pelo fato de que os judeus não vão largar a crença deles. Quero dizer, nem romanos, nem gregos, nem cristãos, nem islamistas, ninguém vai mudar a religião deles. Mas vai bem além disso. O território hoje denominado Israel era a antiga palestina, que perdurou até metade do século 20. Os muçulmanos foram expulsos de lá, e foi criado o Estado de Israel. Décadas depois, os extremistas ainda lembram desse fato e querem expulsar os judeus de lá. Nada do que eles fazem é por acaso, tem todo um contexto histórico. É vingança.

Eu estava começando a ficar irritada, mas não iria parar agora.

– Concordo em partes. Pra começar, os judeus não invadiram nenhuma palestina e não expulsaram ninguém. Antes de se chamar palestina, foi Israel. O que eles fizeram foi colocar de volta o que já existia antes. Quando os judeus foram expulsos de Israel pelos romanos e ficaram espalhados pelos quatro cantos da terra, os árabes foram pra lá e quiseram apagar a marca judaica de lá. Mas todos sabem que ali swmpre foi Israel, antiga Canaã. No século passado, depois de Hitler e do nazismo, os judeus resolveram retornar para suas casas. E não invadiram, eles compraram e por preços exorbifantes aquelas terras. O território era hinóspito, por isso os árabes venderam. Depois de um tempo, conforme a quantidade de judeus aumentava por ali, a terra voltou a dar frutos depois de décadas, e os árabes que ali moravam queriam voltar. Os árabes querem uma terra que eles mesmos venderam, mas que se for olhar no contexto histórico, nunca foi deles.

Depois de todo esse discurso, Melinda me olhou com imcredulidade e Daisy fingiu que estava acordando de um longo sono.

– Se quer voltar para o passado, vamos para Abraão. Você conhece a história dele, ne? Biblicamente falando, Deus prometeu a terra de Canaã pra ele e para os descendentes do filho da promessa. Que era...

– Isaac. - eu respondi.

– Ismael. - ela respondeu ao mesmo tempo.

– Os descendentes de Ismael são os árabes. - ela disse. - e alguns árabes são muçulmanos.

– Eu sei disse. - foi a minha vez de a interromper. - e os descendenres de Isaac são os judeus. Isaac foi o filho da promessa, portanto, Israel é dos judeus.

– Quem disse que o filho da promessa foi Isaac? Tudo depende do ponto de vista. Segundo o Al Corão, foi Ismael. Quem garante que a bíblia hebraica não foi modificada pelos judeus? Foi escrito por eles, eles podem muito bem ter modificado. - ela debochou.

– E o Al Corão ter sido dado por um anjo para Maomé é super lógico, ne? O cara some por uma noite toda, aparece com o que ele chama de "a última revelação de Deus aos humanos" e ainda tem gente que acredita.

– Parem com isso, por favor! - Daisy gritou, se levantando. - Já me perdi toda aqui com esse papo. Nossa, quanta coisa. Obrigado pela aula, mas cansei.

Melimda e eu ajudamos Daisy a guardar as coisas, e pedi desculpas por ter discutido com ela.

– Ah, que isso, Taylor, foi só um pequeno debate. Lembra o que a professora de sociologia disse na última aula? - ela perguntou pra mim.

– A Joyce? Ela disse que os debates são bons, porque trocamos pontos de vistas. Conhecemos as opiniões dos outros, melhoramos nossos argumentos. - respondi.

– Exatamente. - Melinda disse. - Então se prepare para o nosso próximodebate.

Melinda sorriu pra mim, e eu sorri de volta. Com cerreza eu estaria preparada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que ninguém tenha se ofendido. E pessoal, não sei se semana que vem eu vou conseguir atualizar essa fic, vou me mudar daqui a uns dias e posso ficar sem net.

Beijos



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