– Você não vai dizer nada? - Dick perguntou em meio ao longo silêncio que ficou após a saída da alienígena.

– Olha... Eu nem sei o que falar... - A empata dizia parecendo confusa.
Mais uma vez o silêncio toma a enfermaria por inteiro. Ravena se apressava em juntar o lixo hospitalar originado dos cuidados com o líder, enquanto este não se contentava com a quietude.

– Rachel... ele começou - Desde pequeno, logo após ser adotado pelo Bruce, eu aprendi a não me envolver muito com as pessoas, talvez isso tenha contribuído para o fato de eu preferir trabalhar sozinho, e infelizmente vocês descobriram isso da pior maneira, quando criei o Red X.

A empata tratou de sentar-se perto da cama e continuava a ouvir atentamente:

– Então, me envolver com pessoas me faz acreditar que elas serão atingidas de alguma forma, por eu ser quem eu sou, sabe?! Eu me envolvo com algumas mulheres diferentes, mas além de ter o devido cuidado e discrição, eu preciso ser sincero, elas não significam muita coisa pra mim, então não acho que elas seriam um alvo pra quem quer me ferir...

Embora parecesse duro, Ravena não quis repudiá-lo pela última frase, afinal ele estava dizendo apenas a verdade, Robin parou de falar por um momento e se sentou encarando a colega de equipe.

–Até mesmo com vocês eu tenho medo. Tenho medo que aconteça qualquer coisa a cada um dos Titãs por motivos de relacionamento, embora seja isso o que nos torne mais forte, a nossa amizade. Mas se eu tenho esse medo com todos os Titãs, imagine com a Estelar! Ela é uma pessoa muito boa e doce - ele dizia com uma expressão boba no rosto, e Ravena imaginou o quão brilhoso deveriam estar seus olhos ao dizer isso - Eu sei que ela gosta de mim. E eu também gosto dela, mas não sei se é do mesmo jeito... Sabe... Essas coisas profundas e românticas. A única coisa que eu tenho certeza é que eu sinto uma atração física muito grande por ela - ao dizer isso seu rosto ficou vermelho instantaneamente, Ravena ria por dentro - e geralmente quando sinto isso, vou buscá-la no corpo de outras mulheres, e eu sei que isso não resolve o problema, mas ainda não descobri o que eu sinto pela Estelar, e sinceramente... Não sei se quero descobrir. Admiti pra você que gostava dela, mas não gosto de dizer nada incerto. Vi o que aconteceu ao Bruce e à mulher que ele amava quando se envolveram seriamente, e não quero esse destino. Prefiro nunca sentir nada mais forte pela Kory, e tê-la todos os dias aqui, sob minha asa e minha vista, do que me render a um sentimento e colocar a vida dela em risco...

Ravena realmente não esperava ouvir o que ouviu. Aquele lado mais sentimental e menos temeroso a se abrir era algo que parecia estar guardado no fundo de um baú. Durante muito tempo, ele realmente parecia estar alheio ao grupo, e embora gostasse de trabalhar e se aventurar sozinho, em sua mente apenas tentava cuidar de seus bens, de longe e bem atento. A empata se sentia feliz por ele confiar nela a ponto de expor coisas íntimas, mesmo que no fundo ela já imaginasse tudo aquilo há muito tempo.

–Eu realmente te entendo... E imagino o dilema que deve te assolar todos os dias na sua cabeça. Só não concordo com algumas coisas. A Kory é uma guerreira, passou por muita coisa lá em Tamaran que talvez aqui a gente não suportasse, tanto física quanto emocionalmente. E também acho que nós mulheres da casa - ela sorriu - já provamos há muito tempo que não somos donzelas em perigo e que também sabemos bater...

Richard gargalhou e concordou:

–É verdade! Eu que sei, já apanhei daquela ruiva... E não foi fácil... ele disse se recuperando do riso e percebendo o quão bom era falar daquela moça dos cabelos cor de fogo. - Não sei... não sei o que fazer.

– Vai se encontrar. - A empata dizia se levantando e apertando as mãos de Dick. Saiu do local para jogar o lixo e deixá-lo pensar.

Era o que ele queria fazer: se encontrar. Mas se perguntava se isso seria bom. Em meio a devaneios pensou "Por que diabos a Estelar foi me seguir?!". Lembrou-se da manhã que antecedeu o incêndio, ele estava mesmo fora de seu normal. Estranhamente feliz, mas nada fora do comum pra quem vence uma batalha. Naquele dia os Titãs provaram pra si mesmo que não havia exército que os derrubasse, e o que mais entusiasmava o líder, é que no momento da batalha viram a derrota passar pela sua frente. Foram de um momento no fundo do poço para o topo do mundo. E ter a confiança de que a vitória chegaria, contribuiu muito para isso. Embora estivesse cansado pela manhã, o sentimento de missão cumprida o tornava imbatível e destemido para qualquer coisa... Qualquer coisa, menos para o olhar intimidador da moça à sua frente. Aqueles grandes olhos verdes o engoliam, sem nenhuma preocupação com que pensariam do olhar furtivo. O mais engraçado é que ele sabia que da parte dela era algo inocente, mas da parte dele mesmo, não. Admirá-la o fazia imaginar coisas um tanto libidinosas, mas nos últimos dias, essas eram as últimas coisas que ele pensava, o que vinha em seu lugar era o simples pensamento de estar junto dela, numa conversa, num jogo de vôlei ou em qualquer outro canto, fazendo qualquer outra coisa... Isso o assustava.

Aos poucos tudo voltava ao normal, os Titãs treinavam cada vez mais, e Dick falava com Kory cada vez menos. Por dentro, a moça estava realmente chateada, mas aprendera a se acostumar com a distância de alguém, com quem mais queria estar perto. Ela era forte, e passaria por isso de cabeça erguida. Para ele, essa era a solução.

Os Titãs aproveitaram uma tarde de sábado para diversão: piquenique no parque da cidade, com direito a um jogo de futebol e beisebol. Há muito tempo não iam lá e esqueciam um pouco de toda aquela responsabilidade. A ideia partiu de Mutano, que acordou com os insistentes filetes de Sol em seu quarto. Os dias ensolarados lembravam-no o quanto era divertido sair com seus pais para fazerem pesquisas. Lembrava-se do sorriso estonteante de sua mãe, uma mulher entusiasmada, animada e completamente apaixonada pelo que fazia. Seu pai Mark Logan costumava dizer "Para Marie não tempo ruim!". Mutano também lembrava de seu pai como alguém super otimista e bem humorado, o menino animal acreditava ter herdado isso dele e de fato herdou. Em outros tempos os Titãs o viam como uma pessoa imatura e infantil, embora muito prestativo, mas na contemporaneidade não era assim. Todos estavam muito maduros de certa forma e Mutano participou muito bem disso. Não deixou de possuir seu jeito brincalhão e otimista mesmo nos momentos ruins. Mas também já era visto como um homem, tomando decisões e atitudes de um homem. Ele não se lembrava de seus pais com tristeza e remorso, mas sim com muito carinho e felicidade, e foi esse sentimento que o fez pensar como seria bom passar um dia tranquilo com sua nova/velha família.

Lá se ia mais uma partida de futebol, com Ravena como juíza. O time de Mutano e Estelar perdia, e o verdinho colocava a culpa na juíza, até ameaçava, de vez em quando, avançar em cima da empata, de forma divertida. Cyborg se preparava para ir buscar a bola que caíra do outro lado do parque, quando ouviu um barulho muito alto como o de uma explosão e seu olho cibernético começara a piscar. Ao olhar para os outros Titãs, via as luzes de seus cintos acenderem e apagarem constantemente. A confusão estava acontecendo na cidade e perto deles, pois não demorou muito para que eles vissem o tumulto um pouco mais ao norte.

As lojas fechavam rapidamente, com funcionários dentro e fora delas. As mães carregavam seus filhos de qualquer jeito nos braços, correndo pelo parque. O cheiro de fumaça se espalhava, e barulhos de explosões podiam ser ouvidos ao longe.

Robin tomou a dianteira e saiu correndo por entre as pessoas, não demorou muito para que ele visse uma multidão de homens com macacões laranjas. Eles traziam pedaços de madeira nas mãos e bombas caseiras. Destruíam tudo o que viam pela frente, quebravam lojas e transportes públicos; aterrorizavam os cidadãos do local, que corriam sem parar na tentativa de não serem cercados por um grupo daqueles homens uniformizados. Ravena, Mutano e Estelar sobrevoaram o local e viam parte do presídio de Jump City destruído, como se tivesse sofrido uma explosão, ao olharem um pouco mais a sudeste, viram um grupo de policiais tentando conter toda aquela confusão e alguns deles já estavam levemente feridos, logo os super-heróis se apressaram a ajudá-los. Robin tenta usa o comunicador para contatar os Titãs ao mesmo tempo.

– Titãs, eu não sei quem soltou todos esses presidiários, mas nós vamos colocá-los em seu devido lugar. Ravena, não deixe que nenhum se disperse. Vamos manter a luta aqui, não deixe nenhum deles fugir, vá agora! Estelar e Cyborg, tentem fechar o presídio com qualquer coisa metálica de forma que quando isso acabar eles possam ficar lá temporariamente. Mutano você ajuda os policiais a conterem os presidiários. Eu vou procurar o desgraçado que fez isso! Vão e façam o possível pra que eles não machuquem ninguém, batam se for preciso, mas não matem nenhum, mesmo que eles peçam por isso!!!

– Okay - todos responderam, prontos para aquilo que tinham que fazer.

Robin corria a procura do responsável pela explosão e volta e meia algum dos homens tentava socá-lo ou machucá-lo de alguma forma, ele também batia, dava socos e golpes num grupo dos presos e logo depois se preparava para se defender dos golpes de outros. Robin via também que havia presidiários confusos, e parecendo completamente perdidos naquela situação, sem saberem o que fazer. Parou por um instante tentando recuperar o fôlego e ao olhar um pouco para cima, avistara uma figura muito conhecida em cima de um prédio. Um homem de máscara, metade preta e metade laranja. Robin só podia ver um de seus olhos, mas sabia claramente que por trás daquela máscara havia alguém sorrindo de forma vitoriosa.

Era Slade.