O Filho da Lua escrita por Murillo França


Capítulo 9
IX – Aprendendo algumas lições.


Notas iniciais do capítulo

Devemos deixar de lado os pensamentos egoístas, e focar no que é melhor para todos.



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–Ok, agora você tem que aprender como dormir embaixo d’água! – comentou Guilherme acordando ele na manhã seguinte – Aquele buraco, se você tivesse entrado você veria que é acolchoado no teto, por que? Porque flutuamos quando dormimos, sendo assim dormimos no macio. Aquele espelho não é um espelho, é uma tecnologia similar ao que na superfície é chamado de Tablet, nele você tem acesso as nossas redes sociais, nossos canais, e também as redes sociais humanas e aos canais humanos de qualquer país.

–Magia ou ciência? – perguntou Matheus.

–Pra todos os defeitos, Ciência. O campo de força ao redor da cidade não serve apenas pra nos proteger dos satélites humanos e demônios aquáticos, serve pra manter a comunicação entre os sete reinos marinhos. – explicou Guilherme. – O armário onde você guarda suas roupas marinhas, no nosso caso apenas cintos colares e braceletes já que somos homens, e o armário lá em cima na parte seca é pra roupas terrenas, e a escada como você deve imaginar é pra hora de pular na água, até porque no momento não tem como você usar agora né?

–Lá em cima vai ter uma cama armário e essas coisas né? – perguntou – porque até agora só vejo uma sala branca com algumas janelas fechadas.

–Assim que você tiver pernas, sua mãe já mandou comprar. – respondeu Guilherme – Hoje vou te ensinar a falar por telepatia, o som não se propaga direito na água, então isso é útil caso estejamos longe, e você precisa aprender a canalizar seu pensamento, se pensar aberto demais todos vão poder ouvir, se você pensar do modo correto, só aquele que você quer pode ouvir.

Demorou, demorou muito, mas Guilherme ensinou Matheus a canalizar o pensamento para um outro ser, o caso, ele.

–Não, você não pode ler mentes, essa comunicação é só entre Atlantis, e só quando estamos embaixo d’água. – explicou Guilherme respondendo a pergunta mental de Matheus.

–Tá, e agora, o que mais eu vou aprender? – perguntou Matheus.

–Falar com golfinhos e outros mamíferos marinhos, e alguns peixes também, mas vamos ter que sair da cidade – respondeu Guilherme – primeiro vamos almoçar.

–Espera, porque temos que sair da cidade? – perguntou.

–Você deve ter visto vários peixes, mas quantos golfinhos viu aqui dentro? – perguntou em resposta – Mamíferos marinhos normais, o que não significa, tritões e sereias, precisam de ar pra respirar, é muito difícil pra eles entrar e sair da cidade o tempo todo. Mas relaxe, todo mundo sai pra nadar com os golfinhos.

–Gui, quando exatamente essa cauda vai... – começou Matheus.

–Virar pernas? – perguntou Guilherme pra confirmar – Em cinco meses.

–Em Janeiro? – perguntou Matheus – Então porque tenho que ficar aqui por um ano? – perguntou.

–Para a adaptação ser completa, vamos almoçar logo que tem hora pra encontrarmos os golfinhos.

Os dois comeram com Venus na mesa do salão de jantar. Descrevendo direito a casa. Ao entrar se deparava com uma luxuosa sala com sofá e “espelho mágico” (como Matheus apelidou os espelhos Tablets) encostado na parede, a escada que levava pro andar de cima (as pessoas nadavam por cima da escada mas não a usavam, Matheus nunca entenderia isso), a direita a enorme mesa de jantar, e a esquerda a entrada para a cozinha que era realmente grande. No andar de cima tinha os quartos, banheiros, e outros aposentos. E se você tem curiosidade de como se usa o banheiro, essa curiosidade não vai ser respondida na hora do almoço. Matheus pedia pra voltar em Janeiro a tempo das aulas humanas.

–Uma garota né? – perguntou Venus colocando um pedaço da lagosta na boca.

–Não! – exclamou Matheus em resposta.

–Um garoto? – perguntou Venus de novo.

–É uma garota, mas ele não vai admitir – respondeu Guilherme.

–Pode voltar, e agora que você sabe o segredo, e que precisamos proteger e mudar a pedra da lua, não vejo razão pra nós três não irmos.

–Espera, vai mover a pedra? – perguntou Guilherme.

–Seu tio tá ficando atrevido, é melhor afastarmos a lua do mar. – justificou Venus. – sua prima vem com a gente.

–Eu não vou ficar em terra firme com uma garota extremamente feminista e que odeia homens! – respondeu Guilherme estalando os dedos de raiva.

–Se conseguir pode bater nela, talvez dessa vez você ganhe a luta! – respondeu Venus.

–Eu sempre venço dela! – respondeu Guilherme.

–Na boa, vocês brigam como irmãos, mas transam como campeões! – respondeu Venus.

–TIA! – gritou Gui depois de quase engasgar embaixo d’água.

–Que foi? Deu pra ouvir do meu quarto! – respondeu ela – Foi ano passado Math, ela veio aqui e os dois não pararam de brigar... até a noite quando a briga acabou em...

–TIA! – gritou Gui mais uma vez.

Matheus se acabava de rir o que fez Guilherme atirar uma bola d’água pra ver se ele calava a boca. Depois que os três acabaram a refeição, Matheus e Guilherme saíram da sala, da casa, da rua, e da cidade. Encontraram vários outros Atlantis nadando alegremente perto da superfície, e logo a frente, estavam eles, os magníficos mamíferos marinhos que nadavam velozes juntos numa enorme sociedade.

–Ali, a sociedade está vindo! – comentou Guilherme.

–Sociedade? – perguntou Matheus.

–Cardume de peixes, matilha de lobos, sociedade de golfinhos, faz sentido, alem deles seres sociáveis, eles vivem em comunidade! – respondeu Guilherme. – Eles se comunicam por sonar, como falamos todas as línguas do mundo, nós podemos entendê-los.

Guilherme fez um som com a boca que parecia uma risada. Matheus ouviu o riso ao mesmo tempo que ouviu a frase “Bilbo onde está você?”.

–Bilbo? – perguntou.

–O nome dele na linguagem de sonar parece como se alguém gritasse Bilbo, mas o nome dele na nossa língua é Olaf – explicou Guilherme.

–Olaf? – perguntou Matheus.

–Eu tinha cinco anos quando o conheci, dá um desconto! – justificou Guilherme.

–Cinco? Quantos anos os golfinhos vivem? – perguntou Matheus.

–Vinte, trinta, essa espécie vive quarenta, e como eu o vi nascer, significa que seremos amigos por muito tempo! – respondeu Guilherme. – Bom, um tritão vive em media 200 anos, mas podemos dividir nossa vida com alguém da nossa escolha. Geralmente escolhemos um golfinho ou tubarão, alguns gostam das serpentes brilhantes. Ah, ali está eles, venha Olaf.

Golfinhos são realmente enormes. Olaf nadou até eles e deixou que Gui e Matheus fizessem carinho em sua cabeça perto do respiradouro. Em seguida os dois tritões se seguraram na barbatana dorsal enquanto o golfinho nadava puxando e pulando com eles. Todos os Atlantis tinham escolhido algum membro do grupo social para conversar e serem guiados, e ainda trabalharam juntos num esquema de pesca. Matheus foi o pior, não conseguiu pegar nenhum peixe sequer.

–Por isso fazemos isso depois do almoço, assim damos tudo pra esses guerreiros! – comentou Guilherme.

–Vamos nadar até a Escuridão de novo? – perguntou Olaf na linguagem de sonar.

–Hoje não, não sei se Matheus vai estar pronto. – respondeu.

–Duas perguntas, a primeira, ele nos entende mesmo que a gente não faça aqueles sons? – perguntou.

–Obvio, golfinhos são muito inteligentes. – respondeu Guilherme

–Segunda pergunta, porque não posso ir pra essa tal escuridão? – perguntou Matheus.

–Como você já deve ter notado, Atlântida fica no topo de uma montanha submersa, por isso vemos o sol, afinal estamos exatamente no meio do oceano Atlântico. A Escuridão é uma área bem funda onde gostamos de nadar pra testar nosso sonar e visão noturna! – respondeu Guilherme.

Matheus realmente insistiu, até que Olaf e Gui concordaram em leva-lo pra Escuridão. Mas antes eles tinham que fazer uma aparição. Tinha um navio de cruzeiro que passaria ali, os golfinhos iam saltar, e alguns Atlantis corajosos também.

–Ta vendo aqueles três ali? – perguntou Olaf – São mestiços.

–Não como eu e você – complementou Guilherme – nós somos filhos de Atlantis com humanos, eles são filhos de Atlantis com Sereianos, o ruim é que a cauda deles nunca vira perna, e bem, eles podem parecer normais, mas olha só o que acontece.

Os três jovens fizeram uns movimentos com o rosto e o corpo INTEIRO deles ficou coberto por escamas, justamente como os sereianos (na verdade os sereianos não tinham escamas, mas sim uma pele igual a dos golfinhos, lisa e fria), membranas entre os dedos, e os olhos maiores, a pele deles ficou acinzentada.

–Isso vai chamar mais atenção dos humanos, agora vamos! – disse Guilherme se segurando em Olaf e se preparando pra saltar bem perto do navio.

–Mamãe um sereio! Mamãe! – gritava uma menininha francesa ao olhar Guilherme e Matheus saltando – E a Sereia – apontou pra outra, mas a mãe não parecia dar importância, somente as crianças do navio continuavam a olhar. Até que a menina e as outras crianças berraram

–Monstros! Monstros. – as crianças e alguns adultos realmente se assustaram, mas também, apesar de não serem feios, eles eram bem excêntricos, e fazer caretas mostrando os dentes enquanto pula não causa a melhor das impressões.

Depois de rirem a custa dos susto os tritões e os golfinhos voltaram ao limite da cidade. Guilherme Matheus e Olaf se afastaram do grupo e nadaram descendo a montanha lentamente, até que seus olhos brilharam e Olaf teve que começar a usar o sonar.

–Sinto algo! – exclamou Olaf.

Guilherme fez o som dos golfinhos junto com Olaf, e Matheus tentou imita-los, surpreendeu-se ao ver uma imagem mental sendo formada em sua cabeça. Parecia humano, os três fizeram de novo, era um tritão. A água envolveu os braços e a cauda de Matheus, em seguida Guilherme, depois Olaf também foi imobilizado.

–Otavio! – exclamou Guilherme – reconheço a dobra dele.

–Acertou meu sobrinho! – exclamou a voz fria que ecoou na mente deles – Agora vamos, me revele o que você e minha querida irmã escondem de mim.

–Não vai entrar na minha mente! – exclamou Guilherme.

–Na sua talvez não, mas Matheus é tão despreparado... – continuou Otavio falando com sua voz mental – como ele pode me barrar?

O colar de Matheus começou a brilhar, e uma onda luminosa cortou o mar até acertar Otavio no fundo.

–Nossa, esse colar até que é útil! – comentou Matheus.

–Olaf, Leve Matheus daqui! – mandou Guilherme tirando o tridente do cinto e fazendo-o brilhar.

Olaf segurou Matheus com a cabeça antes que ele pudesse protestar, mas Guilherme deu uma rápida imagem mental de um tornado de água e Matheus entendeu. Aquilo ia ser muito perigoso até pra Gui. Gui concentrou a água quente e a água fria num único ponto, onde a água fria seguia a água quente girando, girando, e girando, quando o tornado ficou num tamanho perigoso Guilherme usou o tridente pra aumenta-lo mais ainda e o mandou na direção de onde deveria estar seu tio.

–Nadem! – gritou na linguagem de sonar pra garantir que todos fossem avisados, em seguida mandou imagens mentais do tornado que só fazia aumentar.

Olaf já tinha levado Matheus pra um lugar distante e seguro, e os dois esperaram Guilherme. Quando ouviram o grito, receberam a imagem mental, e viram todos os Atlantis nadando desesperados, a boa noticia era que o tornado tinha dado certo. A noticia ruim, é que o tornado tinha dado certo.

–Cadê o Gui? – perguntou Matheus.

–Eu sinto ele! – respondeu Olaf – ele está nadando na velocidade turbo pra cá, mas o tornado está atrasando-o.

–Vou ajuda-lo! – exclamou Matheus tentando nadar até lá.

Olaf ficou na frente e o impediu de proseguir.

–Nem pensar, vamos pra Atlantis. – respondue.

–Pera? Você disse Atlantis? Não era Atlântida?

–Atlantis é o nome da cidade em inglês e em grego, Atlântida é o nome da cidade em português, e Atlantes com e deveria ser o nome do povo, mas geralmente usamos o nome com i pra se referir aos tritões e sereias, e o nome com e pra se referir aos frios – explicou Olaf – como Gui ainda não te explicou os termos?

–Que termos? – perguntou.

–Imagine chamar um soteropolitano de Salvador, é isso que fazemos com os Atlantes que são sereias e Tritões, os chamamos pelo nome da cidade, Atlantis, você nunca percebeu isso?

–Sabia que tinha algo errado – mentiu Matheus.

–Escute, porque é exatamente dos Atlantes com “e” que temos que fugir agora, quando a cidade afundou, alguns não conseguiram se salvar e fizeram um pacto com uma entidade muito perigosa, quase tão ruim quanto o Lúcifer, eles levam os nomes de Atlantes, enquanto os tritões e sereias levam o nome da cidade, entendeu?

–Ah, então quando a lua encontrar o mar, nós, os tritões e sereias, vamos ficar expostos a esses seres que morreram a mil anos? – perguntou Matheus.

–Fique achando que eles morreram! O que importa é que seu tio quer controla-los, e esse tornado vai atraí-los por causa da grande energia que Guilherme usou. É pra isso que serve o escudo da cidade

–Você perdeu tempo explicando isso a ele? – perguntou Guilherme que acabara de chegar – é só um detalhe gramatical que nem tem muita importância, mais cedo ou mais tarde ele ia notar! Vamos, temos que entrar na cidade.

Os três voltaram a nadar em alta velocidade. Matheus olhou pra trás, e viu várias sombras se aproximarem deles, mas como estavam perto da cidade ele não se preocupou. O rei Tritão foi pessoalmente interroga-los, depois usou o tridente dele não pra acabar com o tornado fora da cidade, mas pra aumenta-lo.

–Isso deve manter os demônios e seu tio ocupados! – justificou. – Os Atlantes viraram almas atormentadas Matheus, mas não é justo que esquecemos de onde eles vieram, por isso a pronuncia diferenciada, imagino que ele já saiba né? – perguntou o rei.

–Eu expliquei – respondeu Olaf.

–Seu grupo social será escoltado pra uma bolha de ar, sei que não gostam de ficarem confinados, mas até o tornado passar...

–Agradecemos o apoio rei Tritão! – garantiu Olaf.

–E vocês, recomendo que descansem, amanhã terão que ir pra escola! – informou o Rei antes de sumir numa bola de luz dourada.

–Escola? – perguntou Matheus.

Na manhã seguinte, Matheus e um grupo de adolescentes estava nadando até um prédio sombrio e assustador. Que mentira. Era uma enorme e linda casa branca com várias salas em diferentes andares, qualquer um amaria estudar ali. Ao entrar nas salas, os alunos tinham que nadar até buracos no teto onde eles ficavam da cintura pra cima vendo a professora dar aula no seco. Os buracos em teoria serviam como mesas, e era bom pra Matheus ter aulas no seco, ia ser muito mais fácil dele se concentrar.

–Bom dia turma! – exclamou uma mulher saindo do buraco na frente da sala, ela saiu de corpo inteiro, e sua cauda prateada virou um par de pernas que usava uma calça jeans folgada e rasgada, ela também usava um top roxo, e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo – sou a professora de curiosidades de Atlântida, vou ar a aula de introdução pra vocês, e meu nome é Michele.

Matheus já fora instruído a não se enganar com a aparência, Michele tinha cabelos castanhos e pele lisa e clara, aparentava ter uns vinte anos, mas essa era justamente a idade que a mãe dele aparentava ter, que todos os Atlantis aparentavam ter. Por questão de sobrevivência e adaptação, os Atlantis paravam de envelhecer ao chegarem aos vinte dois anos, eles podem morrer de velhice, claro, mas nunca se veria sinais de idade em sua pele ou qualquer parte de seu corpo.

–Bem, imagino que todos devam ter duvidas sobre seu corpo né? – perguntou Michele – são as duvidas mais comuns depois que ganham a cauda. Como vou ao banheiro? Como vou amamentar com essas escamas em meus peitos? Ou a melhor de todas, como vou fazer sexo?

A sala se acabou de rir com aquela ultima, então Matheus aproveitou pra olhar em volta, algumas garotas tinham biquines e tops cobrindo os seios, mas outras, tinham escamas da mesma cor de suas caudas.

–Bem, as escamas nos seios são algo raro, e não são apenas mestiços que tem, ao contrario das escamas no braço que é uma marca nossa, e sim, eu sou mestiça – continuou a professora – as escamas nos seios somem na hora da amamentação ou do sexo, e falando em sexo, todos nossos órgãos agora são internos, iguais aos golfinhos, eles saem na hora das relações ou das necessidades. Essa aula foi marcada pra hoje levando em conta a chegada de todos os mestiços que faltavam nesse mês, a ultima foi a senhorita Jones que chegou ontem não foi?

Uma garota do fundo confirmou com a cabeça. Tinham apenas dez pessoas na classe, todos com seus treze anos e confusos. Michele explicou sobre a fundação de Atlântida o funcionamento das bolhas de ar, o fato de todos falarem todos os idiomas do mundo, o que inclui a língua dos animais terrestres e aquáticos.

–Mas sobre nossa comida, geralmente só comemos peixes que não falam, por isso a maioria das sereias quando vai pra terra evita comer carne de vaca o porco, crescemos comendo animais que julgamos burros e acéfalos e em seguida temos que comer algo tão inteligente como uma vaca.

–Mas professora, os camarões não são acéfalos. – comentou um aluno na frente.

–Querido eles não emitem sinais telepáticos e fazem coco pela cabeça – argumentou ela e todos na sala concordaram – outra pergunta comum é: “Porque eu tenho que ficar cinco meses com essa cauda?” cinco meses com a cauda, e mais sete no mar, é o tempo recomendado pra adaptação, e não, vocês realmente não vão ter pernas antes desses cinco meses. Podem tentar mas o maximo que vão ter vai ser queimaduras de primeiro grau na cauda.

Ela continuou falando sobre mais outras curiosidades, e no fim da aula antes de liberar pro intervalo falou que eles teriam uma aula pratica do que realmente significa ser um Atlantis. Depois do intervalo Matheus estava bem animado achando que ia sair da cidade e caçar monstros marinhos ou aprender a usar os poderes, mas se deparou com uma realidade bem diferente de sua visão.

Sim ele saiu da cidade, sim eles todos estavam usando seus poderes, mas para caçar lixo. Eles estavam limpando o mar, caçando qualquer plástico metal ou vidro abandonado. Pra isso eles tiveram que usar um portal que os mandou para o litoral dos Estados Unidos, Nova York pra ser mais exato, e realmente o mar estava sujo. Quando Matheus achou que a coisa ia esquentar pela chegada de um monstro marinho gigante, um garoto de camiseta laranja atravessou ele com a espada de bronze e o destruiu.

–Monstros são trabalho para semideuses – comentou a professora – pelo menos esse tipo de monstros.

–Professora Michele, eu não entendo – começou Matheus – esse é o nosso trabalho? – perguntou – limpar sujeira dos humanos?

–Não, nós defendemos o mar, os Atlantis sempre se candidatam pra cargos de guardiões, ou interferem em ações políticas mágicas, mas no momento a nossa casa precisa da gente, o mar pede socorro, e nós vamos limpá-lo! – respondeu Michele.

Naquela noite quando Matheus chegou em casa cansado, Venus perguntou como foi o dia do filho, e ele respondeu que foi horrível.

–Não gostou da aula? – perguntou.

–Gostei, não gostei de ter ido limpar o lixo dos humanos – respondeu.

–Seu lixo também, eu conheço sue pai, aposto que ele não levava saquinhos de lixo pra praia! – comentou ela.

–Mãe, eu não sou gari, não devia limpar a praia. – argumentou ele.

–Não tem gari entre nosso povo em nenhum dos sete reinos, todos trabalhamos duro e limpamos o mar pra pelo menos tentar ajudar os seres marinhos – argumentou ela – já pensou alguma vez no dano que o lixo pode causar a todos os animais.

–Mas não é minha obrigação limpar o que eu não sujei! – respondeu ele.

–Alguém tem que limpar, e não é você, e nem os Atlantis, somos todos nós, todos que vivem na terra independente de humano ou tritão! – argumentou ela ficando irritada – não imaginei que teria um filho mimado.

–Eu não sou mimado, mas isso não é minha tarefa, o que vai ser depois? Vou ter que ser voluntario num grupo de apoios a golfinhos machucados? – perguntou.

–Depois de amanhã! – respondeu ela – Acha que nós só salvamos navios e cuidamos dos monstros? Nós protegemos tudo e a todos e você vai fazer sua parte!

–Eu não quero nada disso, eu imaginei que iria combater demônios marinhos, e não o lixo terrestre! – argumentou ele.

–Pare de ser egoísta, somos o mais próximo que esses seres do mar tem de deuses, e nós vamos ajudá-los, sabe, de todos os tritões e sereias que eu vi, você é o único que eu vejo criando caso com isso, os mestiços são os primeiros a quererem ajudar o mar porque eles veem o quanto os humanos são rudes, e não vou admitir que você aja desse jeito! Vou te inscrever como voluntario dos grupos de limpeza pra ver se o trabalho duro te ensina algumas lições de humildade.

–Isso é ridículo, eu sou humilde, só acho que se não fui eu que fiz não sou eu que tenho que resolver! – argumentou ele.

–Chega disso, vá pros seus aposentos e pense no que fez! – mandou ela – A vida não é só nadar com golfinhos e cantar, é muito mais complexa que isso!


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Notas finais do capítulo

No capitulo seguinte:
—Posso falar com você? – perguntou Guilherme.
—Entra – autorizou Matheus.
O garoto estava debruçado sobre sua mesinha de cabeceira. Guilherme se aproximou dele agitando as nadadeiras e ficou flutuando atrás dele.
—Quero te levar a uma lugar! – informou.
—Minha mãe mandou eu ficar no quart! – respondeu Matheus.
—Desde quando você obedece as pessoas? – perguntou Gui.
—Tem razão, vamos – respondeu Matheus.



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