O Filho da Lua escrita por Murillo França


Capítulo 8
VIII – Adaptação.


Notas iniciais do capítulo

Mudanças vem e vão, devemos então nos concentrar em nos adaptarmos a uma nova realidade, pra aprender a melhor forma de lidar com elas.



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Matheus sempre achou que tinha os olhos do pai, afinal ambos tinham olhos azuis, mas os olhos de Venus eram literalmente os olhos dele. O mesmo formato, e a mesma luz de vida, ela usava um tecido alaranjado cobrindo os seios, e o cinto dela era dourado brilhante. Venus nadou até seu filho e o abraçou apertando-o com toda sua força, Matheus fez a mesma coisa chorando de emoção... mas as lagrimas não saiam o que ele até estranhou até se lembrar de onde estava.

–Esperei tantos anos meu bebe de sol! – exclamou ela abraçando-o com tanta força que parecia até que ele sumiria se ela o largasse, mas ele não se importava, também a abraçava intensamente.

–Mãe? – perguntou, como se precisasse de confirmação.

–Me desculpe meu amor, não devia ter te deixado. – respondeu ela.

–Não acredito que eu te conheci! – exclamou animado.

–Você descobre ser um tritão, tá falando embaixo da água, viu tecnologia de ultima geração, e é nisso que não acredita? – perguntou Guilherme.

–Vem cá Gui! – Venus soltou Matheus e abraçou Guilherme – Obrigado por guiar ele até aqui e cuidar dele, você entende porque não pude ir eu mesma não entende? – perguntou.

–Claro tia Venus, não fiz nada demais – respondeu Guilherme – bem vocês dois precisam de um videoclipe dramático cantando sobre como é bom estarem juntos, depois eu vou arrumaras coisas dele, ele vai ficar no quarto grande com a bolha ou o quarto maior com a bolha? (todos os quartos tem bolha, em todas as casas) – acrescentou olhando pra Matheus.

–Sem musica, não quero que ele enjoe disso tão cedo! – comentou ela rindo – mas vamos, vamos ver Atlântida!

Os dois passaram o dia juntos, nadaram por toda a cidade submersa, pararam em restaurante por um momento pra ele provar os frutos do mar feitos por Atlantis, foi um prato estranhamente gostoso com camarão e lagosta, a sobremesa parecia chocolate, mas tinha alguma diferença. Depois passaram em várias lojas comprando camisas, colares de cristais, e braceletes pra colocar nas barbatanas do braço.

–Mãe não precisa de tudo isso. – argumentou ele.

–Precisa sim, depois Guilherme vai te levar pra você comprar seu cinto. Vai precisar de um! – comentou ela.

–Um cinto é tão importante assim? – perguntou.

–Claro que é, nele você vai levar seu dinheiro, documentos, armas caso haja necessidade... bem, seus braceletes já são armas de defesa.... mas filho meu não andará por essas águas sem armas de ataque. E depois temos que te levar ao castelo pra você receber seu amplificador de magia.

–Amplificador? – perguntou.

–Em algumas lendas dizem que é nossa fonte de magia, que absurdo, mas todo Atlanti tem algum objeto mágico que aumente um lado de sua magia, o meu é esse anel e o do seu primo é um tridente compacto.

–Eu vi, ele usou contra o tio Otavio! – disse Matheus deixando escapar aquela informação.

–Otavio foi atrás de você? Ele tentou pegar sua magia? – perguntou ela ficando pálida.

–Sim mas resolvemos isso, ele não volta tão cedo, como não estou flutuando? – perguntou ao notar que estava sentado embaixo d’água e a água não o puxava pra cima.

–Você não tem mais pernas, a cauda impede que flutue do nada. – respondeu ela – Você fala embaixo d’água quando deviam sair bolhas quando abre a boca, esta num reino cheio de tecnologia mesmo sendo embaixo d’água, fala inexplicavelmente todos os idiomas do mundo e sua maior preocupação é porque você não está flutuando pro ar? – perguntou.

–Tenho que reavaliar minhas prioridades! – comentou ele sorrindo.

–Filho isso é serio, Otavio é perigoso. Você nem imagina o quanto! – exclamou ela colocando algumas moedas de ouro sobre a mesa e flutuando da cadeira – Venha, temos que ir direto pro castelo.

Guilherme também flutuou e nadou atrás da mãe, os dois tiveram que refazer o mesmo caminho dessa vez carregando mais três sacolas de compras. Venus enfiou tudo numa caixa ao lado da porta da casa dela, e depois guiou o filho pra entrada do castelo.

Estranhamente os guardas deixaram eles passarem sem nenhum problema. Ao atravessarem a imensa porta de ouro, se depararam com mais uma câmera de escoamento de água, mas Venus colocou a mão na parede e as portas se abriram sem que a água escoasse. Matheus esperava um salão de ouro, afinal aquele castelo parecia ser todo de ouro, mas o salão circular que entraram era coberto de prata com várias janelas de cristal onde dava pra ver todos os Atlantis nadando.

–Bem vindo a sala do trono Matheus – cumprimentou um tritão com longos cabelos loiros e cauda verde.

O tritão usava uma coroa dourada, e estava acompanhado por um outro tritão, negro de cauda vermelha e uma pequena e fina coroa de prata.

–Até logo Daniel, cuide-se bem filho – disse o tritão loiro abraçando o outro.

–Voltarei em breve pai! – respondeu antes de sumir no ar numa bola de luz vermelha.

–Ele tem seus olhos Venus! – comentou o loiro se aproximando – Sou o Rei Tritão, aquele era meu filho mais velho Daniel, sinto não poder apresenta-los, ele tá enfrentando muitos problemas na colônia da Austrália.

Matheus tentou curvar-se embora fosse difícil fazer isso embaixo d’água, e Venus o impediu de prosseguir.

–Realeza não se curva a realeza – instruiu Tritão – você é o filho da lua jovem tritão, venha, vamos escolher seu objeto.

Os três nadaram saindo do salão principal e seguindo por um corredor, no caminho Matheus ouviu Venus contar pra Tritão sobre Otavio:

–Eu vou falar com Guilherme, mas eu achava que Matheus estava protegido, e se ele não estava...

–Você teme que ele vá atrás dela? – perguntou Tritão.

–Sim, eu a escondi com as Amazonas, mas acho melhor trazê-la pra cá. – respondeu Venus.

–De quem vocês estão falando? – perguntou Matheus.

–Conte, ele vai saber mesmo – aconselhou Tritão.

–Seu tio pretende sugar o poder de todos os membros da família pra ter energia necessária pra usar a pedra da lua. – começou ela – Se a pedra da lua tocar em apenas uma gota do mar, todos os sete reinos de Atlantis, serão de algum jeito expostos. Não aos humanos, mas a outros seres. Seres das sombras, acredito eu que ele quer controla-los.

–Ele sugou o poder do pai, do tio, e de um primo, foi atrás de você, e estamos a quinze anos protegendo mais um ser da família, alguém que ele provavelmente não sabe da existência. – disse Tritão.

–Quem? – perguntou Matheus.

–A filha dele! – respondeu Venus.

–Mas esqueça isso, no momento você tem que ter um objeto que represente seu poder e energia! – disse Tritão mexendo a mão e fazendo um tridente dourado aparecer, ele bateu o tridente no chão, e uma sala surgiu do nada.

A sala redonda em que Matheus entrou era repleta de objetos, tiaras, coroas, colares, broches, literalmente tudo que se pudesse imaginar. Como ele saberia qual era o objeto? Uma sereia de cauda verde apareceu de repente segurando um colar de cristal azul.

–Quem é você.

–Sou a responsável pelos objetos, esse colar será perfeito pra você – o colar brilhou quando ela colocou no pescoço dele.

–O que esse colar faz? – perguntou segurando o colar, mas quando voltou a olhar, ela já não estava mais lá. – Bancando o Batman? No fundo do mar?

–Um cristal da Ilha das Sereias, que lindo filho! – exclamou Venus.

–O que ele faz? – perguntou Matheus.

–Como assim? – perguntou Venus de volta.

–Sei que seu anel concede desejos, a fivela de Gui vira uma arma mortal, isso aqui só amplifica minha magia? – perguntou.

–A Ilha das Sereias tem uma grande propriedade espiritual, esse cristal é muito raro – argumentou ela – deve ser o único de toda a sala.

–Mas não me dar visões do futuro ou me faz voar ou me transforma em golfinho? Ou sei lá, me permite invocar tridentes e braceletes? – perguntou.

–Filho, se orgulhe, esse é o objeto que te reflete.

Os dois nadaram pra casa onde Venus pediu pra Guilherme comprar um cinto com Matheus. Enquanto nadavam pra loja, Matheus contou sobre o frustrante colar de cristal azul. Guilherme disse que ele refletia a personalidade dele, sendo assim, Matheus devia se orgulhar. Matheus imaginou as luzes apagando e um holofote brilhando sobre ele:

–É assim então, que todos me veem? Um diamante oco sem nada de poderoso. Finamente penso que me tornei especial, dai ganho então, algo sem valor, e tão banal.

–Tá fazendo uma performance musical? – perguntou Guilherme – meus deuses alguém tem que filmar, é sua primeira musica. Cristian, filme – pediu ele.

–Eu sinto então, uma completa frustração, se é assim que todos me veem, devo mudar então – continuou ele aumentando o ritmo. – Eu vou fazer a festa, vou ser meu próprio cristal, eu vou fazer a festa, vou ser meu próprio poder, vou simplesmente evoluir, sei que posso vencer.

“O espelho dela mostra futuro, a fivela dele derrota tudo, com o anel dela é simplesmente desejar e ele vai realizar. Se acha que eu vou me abater porque meu colar nada pode fazer, enganado está, pode apostar, meu talento eu vou provar. Eu vou fazer a festa, meu talento vou mostrar, eu vou fazer a festa, meu enorme poder vou usar, eu vou fazer a festa, simplesmente aproveitar.”

“Agora que estou no mar, simplesmente vou brilhar.”

–Espera ai! – cantou Guilherme – Não é bem assim. Seu talento não é vazio, basta uma chance dar, pois se observar eu sei que vai acabar por gostar. Basta uma chance dar, sei que vai aproveitar, seu talento está ai, nesse diamante bruto que pode sim brilhar. Se quer uma festa fazer estou com você, mas tente explorar, pois sozinho sei que não está, vamos agora nadar, a musica está a tocar, basta acreditar, seu talento foi feito pra brilhar.

–Não vou nem questionar, você realmente quer negar, que esse colar, pra nada vai me ajudar, é um talento frágil que eu não quero pra mim – continuou Matheus nadando no ritmo da musica – Quero me divertir, quero curtir, e sei que isso não vai servir!

–Não vou discutir, não dá pra argumentar, mas sei simplesmente que se explorar você vai amar, basta acreditar, o seu talento vai brilhar, basta acreditar, você vai achar o seu lugar ao mar! Basta, acreditar! – essa ultima palavra durou por uns dez segundos até a musica terminar. – Chegamos, empório de cintos.

–Guilherme, que bom ver você! – uma sereia de cabelos curtos e coloridos de diferentes tons nadou até eles recebendo-os na porta da loja, ela tinha uma cauda rosa com vários detalhes e desenhos vermelhos e laranjas.

–Trouxe meu primo pra comprar o cinto dele e... – começou Guilherme, mas Matheus o interrompeu.

–Dessa vez eu escolho! – disse.

–Ele é novo? – perguntou a sereia de cabelos coloridos.

–Tá na cara né? – respondeu Gui.

–Meu amor, não é você que escolhe o cinto, o cinto, escolhe você! – corrigiu ela.

–Outra canção? – perguntou Guilherme.

–Claro, não existe espetáculo, sem mim, Emy Delaviega – respondeu Emy Delaviega, a sereia de cabelos e cauda colorida. – Like a virgin – ela estava cantando uma musica em inglês, e Matheus entendia fluentemente a letra.

–Eu não sou uma virgem! – contestou Matheus rodando pela loja enquanto eles cantavam Like a Virgen fazendo encenações um pouco eróticas, porem bem leves, e a maioria era demonstrando a variedade de cintos que se encontravam ali.

Assim que viu Matheus entendeu. Ele viu o cinto perfeito, azul igual as suas barbatanas da cauda, com detalhes no mesmo tom verde da cauda e de suas barbatanas do braço. Era perfeito, ele sentiu-se atraído de um modo único, sentiu desejo, naquele primeiro cinto, ele viu a perfeição. E o colocou, assim como o de Guilherme, parecia até que estava camuflado com a cauda, apesar de sua maior parte ser azul, e a parte da cauda onde ele prendeu ser verde.

–É, ele te escolheu! – encerrou Emy.

–Isso é estranho! – comentou Matheus, ele estava tentando dormir, mas era a parte mais difícil da adaptação.

Assim que Matheus entrou no quarto, ele se deparou com outra câmera de filtragem, obvio que a água não foi drenada, e ele entrou nadando no quarto fantástico, não tinha bem uma cama, tinha um buraco enorme na parede, mas ao olhar pra cima, viu uma escada, ele nadou e se deparou com o ar. Estava agora na piscina de um cômodo branco, ele nadou e se deitou perto da escada, ficou boiando olhando pra o teto. No ar era muito mais fácil de dormir. No dia seguinte ele iria explorar e descobrir o que era tudo aquilo no quarto dele, mas até lá, só queria sonhar.


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo
—Ok, agora você tem que aprender como dormir embaixo d’água! – comentou Guilherme acordando ele na manhã seguinte – Aquele buraco, se você tivesse entrado você veria que é acolchoado no teto, por que? Porque flutuamos quando dormimos, sendo assim dormimos no macio. Aquele espelho não é um espelho, é uma tecnologia similar ao que na superfície é chamado de Tablet, nele você tem acesso as nossas redes sociais, nossos canais, e também as redes sociais humanas e aos canais humanos de qualquer país.
—Magia ou ciência? – perguntou Matheus.
—Pra todos os defeitos, Ciência. O campo de força ao redor da cidade não serve apenas pra nos proteger dos satélites humanos e demônios aquáticos, serve pra manter a comunicação entre os sete reinos marinhos. – explicou Guilherme. – O armário onde você guarda suas roupas marinhas, no nosso caso apenas cintos colares e braceletes já que somos homens, e o armário lá em cima na parte seca é pra roupas terrenas, e a escada como você deve imaginar é pra hora de pular na água, até porque no momento não tem como você usar agora né?
—Lá em cima vai ter uma cama armário e essas coisas né? – perguntou – porque até agora só vejo uma sala branca com algumas janelas fechadas.



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