O Filho da Lua escrita por Murillo França


Capítulo 5
V- Escamas


Notas iniciais do capítulo

O Destino as vezes nos parece inevitável, mas o futuro é incerto!



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No dia seguinte as mudanças começaram. Como era da rotina, Matheus foi escovar os dentes, quando já estava quase acabando, ele notou uma coloração esverdeada brotar em sua mão, indo do polegar ao pulso. A coloração começou a assumir uma textura diferente, até que viraram escamas. Várias escamas.

–Gui! – chamou Matheus – Venha cá!

–O que foi? – perguntou Gui seguindo-o até o banheiro – Olha, as escamas apareceram! – exclamou animado – depois que ganhar sua cauda e for um tritão completo vou te ensinar a ocultá-las, serio, essas sim aparecem com qualquer gota de água nas mãos e no antebraço amenos que você saiba contê-las!

–Ah cara! – exclamou Matheus enxugando as mãos – pra onde nós vamos hoje mesmo? – perguntou.

–Pegue sua sunga, vamos mergulhar numa lagoa de sereianos! – respondeu Gui.

–O que? – perguntou Matheus – Eu já respiro embaixo d’água? – perguntou.

–Tem uma mascara criada na dimensão 2, a tecnologia inclusive já está fazendo intercambio pra nossa dimensão, a 1, porem o que importa é que ela consegue filtrar o oxigênio da água.

–E onde é essa tal lagoa? – perguntou Matheus.

–Perto da fronteira entre Salvador e Santo Amaro, é um lago que parece ser raso, mas... – Guilherme fez uma pausa e mostrou as escamas vermelhas em sua mão e em seu antebraço, que se juntavam dando lugar a sua barbatana – As aparências enganam!

Demorou quase uma hora pra chegarem no lugar desejado. Depois que passaram pelo pedágio de Salvador, tiveram que dirigir mais uns quilômetros até chegarem a lagoa. Que realmente era enorme. Rafael ficou esperando no carro enquanto os dois foram pra água.

Matheus colocou a mascara, que era bem pequena e confortável, e Guilherme simplesmente pulou na água. Gui segurou a mão de Matheus e os dois foram mergulhando cada vez mais fundo. Matheus não podia acreditar no que vira. Eram várias construções com materiais que ele nem podia imaginar o que era. E lá estavam eles. Ok, fora algumas mulheres serem carecas, eles não eram tão estranhos, alguns tinham uma crista na cabeça, a cauda de todos era diferente da de Guilherme, e os tons de pele variavam de verde, passando pelo azul, e indo pro cinza pra se camuflar com o ambiente. Eles estavam nas águas dos sereianos!

Uma deles, de pele verde e de longos cabelos castanhos esverdeados e longos nadou até eles. Ela mexeu a boca e Matheus pode ouvir sua voz angelical perguntar o que eles desejavam. Guilherme respondeu que queriam falar com o “Xamã Raru”, ela fez um sinal com a mão, e nós a seguimos. As mãos dela tinham membranas entre os dedos, e ela nadava muito diferente de Guilherme, enquanto Gui rebolava o corpo todo do mesmo modo que os golfinhos ou as sereias no filme faziam, ela movia apenas a cauda. Matheus percebeu o quanto era difícil pra Guilherme permanecer atrás dela, dava pra ver que ele nadaria muito mais rápido.

–Parece raso e pequeno de fora, mas olhe ao seu redor – comentou Gui enquanto eles nadavam – É muito mais do que aparenta.

Raso Matheus já vira que estava longe de ser, agora ele percebeu que a água do lago continuava por muito alem naquele espaço subterrâneo.

–Acredite, essa é uma das menores reservas mágicas de sereianos! – comentou Guilherme.

Ele tinha tantas perguntas pra fazer pra Gui, mas ali embaixo com aquela mascara seria impossível. Os dois seguiram a “sereiana” até uma caverna subterrânea, eles nadaram por vários metros até submergirem numa caverna, uma enorme caverna subaquática com o que parecia ser uma praia. Era uma praia, e não só isso, tinha um povoado humano, com várias casas, e o teto estava a quilômetros acima deles.

–Aqui é um dos povoados dos bruxos de Salvador, estamos de volta a cidade, você nadou tanto em tão pouco tempo que nem notou? – perguntou Guilherme.

–Não, eu realmente não notei! – respondeu Matheus tirando a mascara do rosto.

–Pra aquele lado, é a escola de magia que abriga a todo os estudantes do Nordeste, fica embaixo do Elevador Lacerda, mas é muito longe, porem é enorme, e os estudantes que moram em Salvador têm permissão pra fazer magia em casa e não precisam dormir na escola, e se você for de alguma outra cidade e estado e fizer um amigo daqui você pode ir morar na casa dele durante o ano letivo e também ganha a permissão. – comentou Guilherme.

–Como sabe de tudo isso? – perguntou Matheus confuso.

–Sou um tritão, mas estudo as espécies semelhantes. – Guilherme respondeu como quem falava o obvio.

–Você estuda todos os seres mágicos? – perguntou sem acreditar.

A sereiana que os acompanhou fez um som estranho com a boca, parecia um grito agudo e horrível, depois mergulhou.

–Ela disse que era pra esperarmos ele! Aqui em cima as vozes delas são horríveis, você viu isso no livro quatro, você tem que ser perito na língua dos sereianos pra entender um deles na superfície, e como Atlantis sabem falar todas as línguas do mundo...

–Os povoados mágicos são todos nos subsolo? – perguntou.

–Não, os feiticeiros costumam viver com os norminhos disfarçados,e a maioria dos bruxos se escondem em territórios que os trouxas acham que só tem árvores, aqui em Salvador, o povoado mais habitado, na verdade é na Bahia e não em Salvador, se estende pela fronteira entre Salvador, São Francisco, e Santo Amaro. Por isso o lago dos sereianos fica aqui, pra que fique seguro. Olha ali ele.

Guilherme apontou pra um sereiano que estava tomando banho de sol na praia. Se é que pode chamar ficar parado recebendo a luz mágica de um teto mágico de banho de sol. Ele não era o único, vários outros sereianos também faziam, mas com toda certeza ele era o mais notável. Usava uma espécie de manto construído de algas do lago, e vários outros adereços estranhos. Ele pulou na água depois que a sereiana falou alguma coisa no ouvido dele.

–Taira disse que queriam falar comigo! – exclamou depois de nadar até eles.

–Ele não está gritando. – comentou Matheus olhando pra Gui.

–Ele domina a língua humana – justificou – Sou eu Xamã Raru, Guilherme o filho da lua.

–Guilherme... Devia ter sentido sua áurea, perdoe esse velo ser das águas, a visão interior dele não é como antigamente! – exclamou rindo – e ele? Hum, a áurea dele é mais forte, ele é seu irmão? Primo? Só sei que também é o filho da lua.

–Sim, é meu primo! – respondeu Guilherme.

–Quando a Lua tocar o Mar, os Atlantis vão se revelar! – recitou o Xamã Raru.

–O que é isso? – perguntou Matheus.

–Uma lenda antiga que descende da sua família – respondeu o Xamã – mostrou a ele a “Pedra da Lua”?

–Porque as aspas? – perguntou Matheus estranhando o Xamã ter feito o gesto com os dedos naquela única palavra.

–Porque? Realmente é melhor ele se transformar antes de... Antes de... – ele fez um gesto com os dedos apontando pros olhos.

–Olhar? – perguntou Guilherme – Ver?

–Isso, ver! Eu as vezes me esqueço, não deixe a crista te enganar, nossa cabeça não é tão grande assim! – comentou ele rindo – Na minha mente esse nome alem de aspas também está em negrito, itálico, e em letras maiúsculas.

–Eles tem computadores? – perguntou Matheus confuso, realmente, literalmente confuso.

–Claro que não, os Atlantis sim, mas os sereianos não. Porem eles tem que se adaptar aos tempos modernos, então ele sabe o que é itálico e negrito! – respondeu Guilherme.

–Diga-me filho – começou o Xamã olhando pra Matheus – só conheceu a magia agora?

–Sim – respondeu Matheus – De uma hora pra outra acordo e descubro que tudo é real! Tem alguma saga ou serie de livros ou de desenho né?! Que não seja?

–Bem, tem uma teoria de física que diz que todas as ideias vão pra uma realidade paralela... – comentou o Xamã colocando a mão no queixo – Sendo assim acho que até os desenhos infotis são reais.

–Ok, não vou aguentar tudo isso! – desabafou Matheus – Porque tanto segredo?

–Cada espécie conta uma versão diferente, em honra ao seu primo, vamos começar com os semideuses gregos – começou o Xamã nadando até uma roxa e fazendo os dois seguirem-no – eles dizem que não se escondem, que a nevoa é criada pelos próprios mortais porque eles não aguentam a magia. Na minha opinião eles estão certos – riu sentando-se na roxa – Os bruxos dizem que eles começariam a pedir favores mágicos, a perseguir ou a julgar... também estão certos, os feiticeiros dizem que não querem ser forçados a fugir dessa dimensão pra evitar uma guerra como fizeram os dominadores que agora estão na Dimensão 2, eles fugiram porque se ficassem e lutassem muitos dos não dominadores iriam morrer... As fadas de Avalon chamadas de fadas modernas...

–Avalon? – perguntou Matheus.

–Deixe as perguntas pro final, ainda nem disse as dimensões mágicas mais famosas! – cortou o Xamã Raru dando um sorriso no canto da boca e mostrando suas presas – Elas dizem que todo mundo iria querer ter uma fada madrina, e antes que interrompa, sim, elas existem, as fadas de Avalon são praticamente feiticeiras aladas, diferentes das fadas da Terra do Nunca que são elementais com magia apenas pra natureza, essas e todos os elementais como duendes, gnomos, elfos dizem que os humanos precisam ter fé! As razões pra esconder esses segredos são inumetas, mas as nossas... são muito mais maiores, seres aquáticos seriam facilmente explorados e caçados, teríamos que nos esconder no fundo onde a luz não toca?

Apesar de alguns erros de pronuncia que eram cometidos pelo fato do Xamã se enrolar quando falava demais (“inumetas” e “mais maiores” quase fizeram Guilherme rir, infontes e madrina não doeram tanto)a mensagem era clara. O melhor era manter em segredo, os humanos mortais trouxas norminhos não tem ainda meios de encarar esse grande segredo.

–Bem seu Xamã, já passamos uma hora aqui e o trato com o Sr. Simon foi de apenas duas horas e ainda tem o tempo de volta... – começou – só o trouxe aqui porque ele precisava conhecer o senhor!

–Adorei a visita, quando for em Atlântida avise a Triton que minha tribo irá visita-los em breve! – despediu-se o Xamã.

–Como? – perguntou Matheus antes de colocar a mascara e mergulhar.

–Todo rio deságua no mar, e esse enorme lago tem cavernas que serve de caminho pra rota dos rios! – respondeu Guilherme – vamos, temos que nadar.

Demorou pras escamas sumirem, mas Guilherme explicou que quanto mais tempo ele ficasse exposto a água, mais as escamas continuariam na pele. Os dois chegaram em casa as 14:00 e tratara de almoçar, depois que comeram Matheus fez algo tão inusitado que até Guilherme se surpreendeu. Sr. Simon colocou um copo de água no canto do balcão enquanto ia pegar um remédio no armário. Matheus viu claramente de sua cadeira na mesa quando o pai esbarrou na bancada e o copo caiu.

Matheus moveu a mão instantaneamente, e a água parou no ar, flutuando com o copo de cabeça pra baixo. Ele e Guilherme se olharam pasmos e o copo já ia cair quando Gui tomou controle do poder e ergueu o copo até a bancada. Sr. Simon também estava pálido, mas ele não entendia o quanto aquilo era complexo.

–Matheus, você usou o poder da água! – exclamou Guilherme.

–Isso é normal né? – perguntou Matheus.

–Não no primeiro dia! – respondeu Guilherme animado – Vei, sue poder é muito forte, geralmente você primeiro demonstraria habilidade eletromagnética, depois pele aderente, e sim, você até vai conseguir escalar paredes, as vezes até grito sônico, mas o poder com água é sempre o ultimo a aparecer!

–Nossa isso foi demais! – exclamou Matheus tão animado quanto Guilherme – Eu senti a água, era como se ela fizesse parte de mim.

–Isso é fantástico! – exclamou Guilherme – Vamos lá pra cima, tenho que te mostrar uma coisa! – exclamou puxando Matheus, como os dois tinham acabado a refeição Guilherme decidiu mostrar naquele momento.

Os dois subiram pro quarto e Gui empurrou Matheus na cama, depois apagou a luz e trancou a porta. Uma luz azul iluminou o ambiente, vinha do sinto de Guilherme, da fivela em forma de tridente na verdade. Gui tirou e ativou o mecanismo que fez o tridente ficar vinte vezes maior.

–Hora de você ver a Pedra da Lua! – comentou ele batendo o tridente no chão.

O tridente não tinha nenhuma pedra preciosa ou nada destacando-o, era simples ao mesmo que era elegante. O brilho azul mostrou uma imagem que parecia até ser a de uma televisão. Um enorme salão dourado com várias bancadas pratas, a imagem foi avançando pelo salão, até focar numa pedra de um azul profundo. Essa não era a melhor descrição, parecia que a pedra estava dentro de uma bola de vidro.

–Está envolta por um cristal inquebrável, herança da nossa família a gerações! Ela que nos dar tanto poder, é o poder da lua! – comentou Guilherme.

–Que massa! – comentou Matheus.

–Tenho certeza que você vai ser ainda muito poderoso! – comentou Guilherme.

No dia seguinte Matheus teve que ir pra escola, ele tomava cuidado pra que seus braços e mãos não encostassem na água perto das pessoas, e estava indo bem, ninguém parecia notar nada de diferente. A educação física só era quinta-feira então ele não teve problemas com o suor. Aparentemente suor em grande quantidade faz aparecer as escamas no braço. Luna não chegou muito perto dele, mas Diogo estava toda hora tentando se aproximar dela, isso o deixou incomodado, ele tinha mandado Diogo e Igor ficarem longe dela. Igor havia obedecido, mas Diogo pelo visto...

–Por favor, mande seu gorila de QI abaixo de 5 parar de me encher o saco! – pediu ela quando os dois ficaram sozinhos na sala no final da aula.

–Já mandei – garantiu ele – vou falar de novo com ele.

–Vem cá, eu e você estamos um ano adiantado na escola né? – perguntou Luna.

–Sim, na serie que estamos devíamos ter catorze, ou pelo menos devíamos estar fazendo catorze. Mas e dai? O Marcos também é adiantado.

–Exatamente, eu estava pensando, que geralmente são só um ou dois alunos que são adiantados numa turma normal, o Marcos tem nossa idade, mas ele age como se fosse mais velho que a sala inteira! – comentou Luna – Estava pensando sobre isso ontem enquanto lia sobre sátiros.

–Acha que ele é um? – perguntou.

–O poder de eletroestática já apareceu? – perguntou de volta.

–Não sei... – respondeu ele mas ela ignorou e agarrou a mão dele.

O coração de Matheus começaram a bater aceleradamente e ele não soube explicar o porque. Ok, ele sabia muito bem o porque. Ele sentiu a descarga elétrica invadir, e viu os cabelos negros de Luna se arrepiarem.

–Faça isso com ele! – mandou ela – Se ele for um Sátiro, a nevoa vai sair tempo suficiente pra vermos os chifres.

–Espera, eu estou liberando uma corrente elétrica, e se eu exagerar? – perguntou assustado.

–Ele é um espírito da natureza, não morre tão fácil... Se ele for humano ai você dá outro choque no coração e pronto! – respondeu ela puxando ele pra fora da sala.

Luna o empurrou na direção do garoto de óculos com cabelos “black” e pele escura. Assim que Matheus esbarrou ele sentiu a energia passar de seu corpo pra o de Marcos. Os cabelos crespos do garoto arrepiaram ainda mais, e os chifres marrons apareceram do nada em sua cabeça.

–Desculpa eu acabei empurrando ele! – pediu Luna segurando Matheus de novo.

–Tudo... Tudo bem! – gaguejou o garoto se apressando em sair dali e mexendo no cabelo.

–Sempre achei que ele andava estranho! – comentou a garota animada.

–Então, embaixo daquele jeans tem...? – começou Matheus.

–Pés de Bode! – exclamou ela rindo – Vamos, temos muito o que explorar!

Os dois saíram da escola e foram pra praia. Ele mostrou a ela o que já sabia sobre controle da água fazendo vários chicotes de água brotarem do mar e rodearem o corpo da menina. Ela mostrou o que já conseguia fazer canalizando magia, era muito pouca coisa (palavras dela) mas ele achava fantástico. Ele mostrou as escamas, ela mostrou o amuleto de verbena misturado com mirra e incenso que ela usa pra afastar os mares. E os dois se beijaram por vários minutos sentados na areia.

Luna teve uma visão assim que se separaram, ela viu Diogo jogando um balde de água em Matheus, e as escamas do braço dele crescendo no meio do pátio da escola e na frente de todos que olhavam abismado. Os sapatos dele rasgaram e as barbatanas dos pés também cresceram no mesmo momento.


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Notas finais do capítulo

Os sapatos dele rasgaram e as barbatanas prateadas apareceram, escamas verdes e azuis percorriam suas pernas. Matheus não pode pensar em outra coisa a não ser o quão magnífica a cauda dele seria quando suas pernas se unissem, mas pra isso ele teria que chegar no mar, e era meio difícil considerando que ele estava na escola.



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