Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores. Tem uma coisa que eu queria falar quando eu ia postar a história, mas esqueci: eu tinha feito uma revisão da outra fanfic, que é o capítulo extra de A Casa de Hades, e vi que os dias não batiam com a história no livro, então eu tive que fazer algumas mudanças. Nada muito sério.
E obrigada Alice Di Angelo, por comentar a história, sua diva!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/469973/chapter/3

Arregalei os olhos. Vinte mil dólares? Só podia ser brincadeira. O que eu faria com tanto dinheiro?

– Porém, – o homem disse – temos um problema. Você não tem uma conta no banco. Então, não temos como lhe dar o dinheiro.

– Aceito em notas.

Ele abriu e fechou a boca. Pensou mais um pouco e disse:

– Bem, nessas circunstâncias... parece mais apropriado.

– Espere aí. – Madrasta ergueu as mãos – Você está me dizendo que vai entregar... vinte mil dólares para ela em notas, aqui em casa?

– É uma boa maneira de resolver o problema.

Ele se levantou, fechou a maleta e a levantou pela alça.

– Acho que posso resolver com o júri e passar aqui amanhã com o seu dinheiro. Pode ser?

– Claro. – respondi.

Então, ele andou até a porta e foi embora.

O meu dinheiro realmente chegou no dia seguinte. Consegui me rematricular nas minhas antigas aulas sem que Madrasta soubesse. Mas era só para eu treinar um pouco mais. Não aguentaria viver com Madrasta até completar 21 anos e só depois morar sozinha.

Eu ia fugir de casa.

Alguns dias depois de receber o dinheiro, eu estava no pátio da escola, sentada embaixo de uma árvore, bebendo refrigerante em uma lata e lendo um livro. Rúben chegou por trás de mim e olhou as páginas.

– Que livro é esse?

– Um livro bom. Como a maioria deles. E se não se importa, prefiro continuar lendo sozinha.

Rúben se sentou ao meu lado.

– Mariana, eu soube o que aconteceu com o seu pai. – a expressão dele era de preocupação – Se você quiser conversar com alguém, pode falar comigo.

Não respondi. Em vez disso, peguei a lata de refrigerante com a mão esquerda e ofereci a ele.

– Você quer?

Ele pegou a lata e a examinou.

– Mas está vazia.

– Se ainda estivesse cheia, ia espirrar refrigerante para todos os lados enquanto você morde o metal.

Ele me encarou com se eu fosse louca e engoliu em seco.

– O que você disse?

Enchi os pulmões de ar, achando até um pouco de graça da situação, e disse:

– Rúben, eu sei que você é um sátiro. E eu sei que você só fala comigo porque sou uma semideusa e é o seu dever. E essa não deve ser a sua primeira vez com semideuses, então desembucha: o que tem de errado comigo? Eu sou tão diferente dos outros semideuses?

Ele gaguejou e parou. Ergui as sobrancelhas, exigindo uma resposta. Ele olhou em volta, mas ninguém estava prestando atenção.

– Tudo bem. Por essa eu não esperava. Sim, você está certa. Eu sou um sátiro. E você é uma semideusa. E tem alguma coisa em você que não se encaixa nos padrões

– Não se encaixa nos padrões dos filhos de Atena ou nos padrões de semideuses?

– Em ambos. Parece ser uma coisa... sombria.

– Por que os sátiros têm que ficar amigos dos semideuses?

– Porque nós precisamos levá-los para o acampamento, que é o único lugar considerado seguro para vocês.

– Fica em Long Island?

– Fica. Como sabe?

– Meu pai me deu o endereço. Então você está me dizendo que você tem que me levar para esse acampamento para que eu fique segura. O que eu vou fazer lá?

– Você vai treinar. Vai conhecer seus irmãos.

– Prefiro ficar sozinha. E não preciso de treinamento. Treino lutas e coisas do tipo há anos.

– Você pode treinar mais. Ou você prefere ficar aqui, onde todos odeiam você?

– Quem garante que vou ter amigos nesse acampamento?

Sabia que o havia pego de surpresa quando ele não respondeu de imediato.

– Você é só uma filha de Atena. Por que as pessoas não gostariam de você?

– Por que eu sou diferente. E não é só porque meu cabelo e meus olhos são escuros. Com certeza alguém vai me perguntar se eu já pintei o cabelo.

– Dá para ver só de olhar para a raiz que não.

– E talvez algum idiota venha me perguntar se uso lentes de contato, sendo que está claro que uso óculos.

– Seria uma pergunta ridícula. – concordou Rúben. – Mas isso não significa que você não terá nenhum amigo. Como você é boa em luta e defesa, pode fazer amizade com os filhos de Ares. Se é boa em arco e flecha pode fazer amizade com os filhos de Apolo. É inteligente e esperta como qualquer outra filha de Atena, então deve se dar bem com seus irmãos. Além disso, temos muitas outras preocupações que o fato de que apareceu uma filha de Atena morena passe quase despercebido.

– Ou talvez só seja mais um item na lista de “Coisas Com As Quais Temos Que Nos Preocupar”.

– Pode até ser, mas por pouco tempo. Quíron já viu de tudo. Ele deve ter uma resposta para isso.

Senti como se uma lâmpada tivesse ligado meu cérebro.

– Quíron? Tipo, o Quíron das histórias? O centauro?

– É. Ele é o diretor de atividades do acampamento. Ele é bem simpático e tem três mil anos, então deve resolver o seu problema. De qualquer forma, você precisa ir para o acampamento. Os monstros não vão te atacar lá.

– Mas nenhum mostro me atacou.

– Nenhum monstro te atacou ainda. Não me lembro qual foi a última vez que vi um em Denvan, mas eles podem vir para cá a qualquer instante.

Ele se levantou e examinou novamente a lata de refrigerante. Depois, deu de ombros.

– A propósito, valeu pelo lanche extra. Nos vemos depois.

Os dias seguintes foram horríveis.

Madrasta ainda achava que eu estava indo para aquelas aulas que ela me colocou e nem suspeitava que eu voltei com minhas antigas atividades de luta. Eu ia em segredo, passava horas na biblioteca pesquisando sobre os deuses e os “mitos” e Rúben me ajudava algumas vezes. Ele disse que falou com Quíron que em alguns dias poderia voltar para o acampamento comigo e ele resolveria o mistério.

Ela (Madrasta) também me mandava limpar a casa como se eu fosse uma empregada. Mas eu só limpava os cômodos que me interessava: meu quarto, a sala, os banheiros, o corredor, a escada e o quintal da frente e o de trás. Em pouco tempo, ela veio reclamar comigo que seu quarto e os de Hilary e Gavin estavam todos sujos. E eu respondi:

– Eles não vão se limpar sozinhos. Então, acho melhor vocês pegarem a vassoura e fazer esse serviço.

– Eu mandei você fazer isso.

– Você me mandou limpar a casa. Os seus quartos não fazem parte da minha casa porque vocês não têm mais nenhuma ligação comigo. São quase hóspedes.

– A casa é minha. Não se lembra que seu pai a deixou para mim?

– Ele só deixou para você porque é a adulta. – e porque eu sou uma semideusa e preciso ir para o acampamento. Pensei, mas Madrasta não devia saber disso – Tenho certeza de que se eu tivesse 21 anos ele teria deixado para mim.

Madrasta massageou as têmporas, reunindo toda a paciência que restava. Ela ergueu as mãos.

– Tudo bem. Eu vou fingir que não ouvi o que você acabou de dizer. Eu vou limpar os quartos. Mas é bom você não pisar na bola comigo de novo.

– Ou o que?

Ela olhou pela janela da sala, para o sol que estava se pondo e sorriu.

– Você vai ver.

Se eu estava querendo arrumar uma maneira muito rápida de descobrir o que significa “você vai ver”, eu consegui no dia seguinte, quando, ao chegar do trabalho, Madrasta largou a bolsa em cima da mesa da sala e me pegou fortemente pelo pulso e me puxou para a cozinha. Estava vermelha de raiva.

– Sabia que hoje eu fui para a academia ver como estavam os clubes em que eu te coloquei e eu não te vi? Eu perguntei por você e todos disseram que nunca haviam ouvido falar de você. Por que será?

Não respondi, apenas encarei seus olhos desafiadoramente.

Sua nojentinha ingrata. – disse Madrasta entre os dentes – Você não tem ido às aulas, não é mesmo?

– Não. E qual é o problema nisso?

– Está me fazendo gastar dinheiro por nada. Não sei por quanto tempo vou conseguir ficar no emprego e estou gastando o dinheiro que nos resta para tentar lhe dar uma vida normal e é assim que você agradece?

– Agradecer? Você está tentando mudar completamente a minha vida. Eu não vou sucumbir as suas ordens. Você não é minha mãe. Você não manda em mim. Minha mãe fez mais por mim me visitando uma vez e deixando alguns objetos em frente a nossa porta, do que você morando nesta casa desde que eu tinha dois anos e não fazendo nada além de reclamar de tudo o que eu fazia. E agora você vem na minha cara e diz que eu tenho que te obedecer? Nem nas profundezas do Tártaro!

Não sei se ela entendeu a última frase – vai ver achou que eu estava falando do molho ou daquele negócio que dá nos dentes – mas não parecia se importar. Achei que fosse me bater, mas ela fez algo muito pior: pegou uma das facas que estava em cima da pia, e antes que eu pudesse processar o que ela estava fazendo, pegou meu pulso e fez um corte no meu antebraço.

A ferida ficou vermelha e começou a sangrar na mesma hora de tão profundo que foi.

Isso foi por você não ter ido à aula de dança. – ela fez outro corte – Isso foi por você não ter ido à aula de teatro. Isso foi por você ter voltado às aulas de arco e flecha. Isso foi por você ter voltado às aulas de esgrima. Isso foi por você ter voltado às aulas de karatê. Isso foi por não ter limpado a casa direito. E isso foi por ter gritado comigo!

A cada frase ela fazia um novo corte. Eu tentava me afastar ou me defender, mas ela me agarrava e se aproximava novamente. Quando olhei meus antebraços novamente, havia sete marcas finas e sangrando que os percorriam com pulseiras.

– Você é maluca? Eu vou ter uma hemorragia! – gritei.

Ela me agarrou pela gola da blusa.

– E lembre-se: para cada ordem descumprida, vai ser um corte novo. E vou continuar fazendo isso até que você aprenda a me obedecer, nem que eu precise deixar os seus braços em carne viva ou amputá-los. Você me entendeu?

Finalmente abandonei parte do desespero e corri para o meu quarto. Abri uma das gavetas do meu armário de coisas das aulas de esgrima e arco e flecha e procurei bandagens, algodão, esparadrapo, qualquer coisa. Tanto o antebraço esquerdo quanto o direito estavam cobertos de sangue.

Peguei um pedaço de algodão e comecei a passar nos ferimentos para ver se pelo menos o sangue saía, mas... o algodão estava limpo. Era como se eu passasse o algodão com o braço limpo, e não ensanguentado. Esfreguei com força, mas o sangue não saía, tampouco passava para o algodão. Não estava pingando nem manchando nada.

– Por que você não sai? – sussurrei. Já estava começando a entrar em pânico.

Passei o dedo indicador pelos braços e não saía nem uma gota de sangue. Meu dedo continuou limpo. Mas os cortes ainda estavam sangrando, mesmo lentamente.

Peguei um rolo de bandagem transparente e enrolei os meus antebraços até ficar parecendo uma múmia. Isso poderia pelo menos parar o sangramento. Meus antebraços não ficaram mais grossos por causa das bandagens, mas era um pouco desconfortável usar. Tomei cuidado para deixar um pouco longe dos pulsos. Mesmo no calor que se aproximava com o verão, eu teria que usar casaco o tempo todo para esconder isso.

Bem, as bandagens só serviram para eu não ter uma hemorragia. Eu as tirei no dia seguinte e elas estavam limpas. O sangue não manchava nada, exceto o meu casaco preto de veludo. Por dentro, ele estava ensopado. Mesmo que eu lavasse e esfregasse com força, as manchas vermelhas não saíam, tanto da minha pele quanto do casaco. Mas pelo menos, agora meus antebraços só estavam vermelhos onde havia marcas.

Decidi que só usaria aquele casaco. Não ia arriscar manchar os outros. As pessoas me olhavam de um jeito mais estranho, como se eu fosse louca. Não posso culpá-las. O verão estava chegando eu só andava de casaco. Nem adiantava arregaçar as mangas até os cotovelos, pois assim todas as marcas iam aparecer. Madrasta fez assim de propósito. Ela quer me fazer sofrer. Mas eu não vou ceder agora.

Os dias foram passando e as marcas não curavam, nem paravam de sangrar. E para piorar, Madrasta me marcava todos os dias. Se eu fizesse qualquer coisa errada, por mais insignificante que seja, ela pegava uma faca e me cortava.

Eu examinei as facas. Porém, não havia nada nelas, nenhum produto químico ou coisas do tipo. E não acho que Madrasta conseguiria acha um produto químico que fizesse esse tipo de coisa sem nos envenenar depois com isso.

Rúben me perguntou por que eu ando agasalhada agora, e eu disse que isso não era da conta dele. Ele insistiu, mas eu continuava me recusando a responder.

– Mariana, se está acontecendo alguma coisa... – ele agarrou o meu pulso.

– Não toque em mim. – puxei meu braço de volta.

O sátiro olhou espantado para mim.

– Tudo bem. Relaxa. Hã... você tem alguma ideia do dia em que nós vamos para o acampamento?

Eu o encarei.

– O que você que dizer com “nós”?

– Eu e você. Eu tenho que te levar para o acampamento.

– Na verdade, até onde eu sei, eu tenho que chegar ao acampamento. Não é você que tem que me levar. Tenho o endereço e sei lutar se aparecer algum monstro. Eu vou sozinha.

– Você é louca? Você vai atravessar... o que? Seis estados? Sozinha?

– Exatamente. Não vou comprar uma passagem de avião. Assim é muito fácil. Eu vou andando sozinha.

Ele examinou o meu olhar, que para mim significava, como na maioria das vezes, desafio.

– O que você está tramando?

– Nada. Contudo, vou te dizer o seguinte: eu vou fugir de casa e você não sabe quando, nem vou te dizer. Se você notar o meu sumiço e quiser vir atrás de mim, não posso fazer nada para impedi-lo. Mas eu vou começar isso sozinha.

Eu comecei a me preparar para fugir. Troquei as lentes dos óculos e passei uma tarde inteira no shopping comprando coisas que eu levaria para o acampamento.

Primeiro, um caderno fino para fazer anotações. Rúben me ajudou com o básico, como o nome dos deuses e monstros e algumas outras informações. Depois, uma escova de dentes nova, garrafas de água. E, para tentar parecer um pouco mais normal, também coloquei um vidro de esmalte preto novo com uma lixa de unha e uma tesoura. Eu ainda sou uma menina e gosto de manter as unhas com uma boa aparência.

Também comprei alguns lençóis. Depois eu conto por quê.

Comecei a treinar mais pesado. Passava mais tempo na academia e treinava em casa.

Madrasta estava com muito dinheiro guardado no quarto dela e bolei um plano para pegá-lo. Eu não ia sair sem primeiro dar o troco.

No dia em que havia marcado de fugir, o dia em que fazia um mês que meu pai tinha morrido, sai apressada da escola. Cheguei à academia e cancelei minhas matrículas. Quase de noite, liguei para Madrasta por um telefone público, já que eu não tinha celular. Rúben me avisou sobre tecnologia.

– Alô? – Madrasta havia atendido.

– Boa noite senhora. Quem fala é Michael Weslon, diretor do sorteio de trinta mil dólares do programa The Best Saturday, e de acordo com meu relatório, você é a ganhadora! – disfarcei a voz, claro.

The Best Saturday é um programa muito chato que Madrasta gosta de ver porque tem sorteios todo os meses. Michael Weslon é o apresentador do programa.

Madrasta ficou sem fala com a falsa notícia. Então, eu a ouvi dando gritinhos de felicidade do outro lado da linha.

– Sério? Eu ganhei? Que demais!

– Escute o que tem que fazer senhora. – eu disse – Pegue uma bolsa vazia, completamente vazia, e venha para o nosso estúdio pegar seu prêmio. Ah, e traga seus filhos também. Você vai precisar de ajuda para colocar tanto dinheiro.

– Claro, claro, claro! Obrigada! Estou ficando mais rica a cada minuto! – escutei-a gritar antes de desligar o telefone.

Eu estava a mais ou menos uma quadra de casa e me escondi atrás de uma árvore, esperando ela sair com Hilary e Gavin com o carro e indo na direção contrária.

O estúdio fica do outro lado da cidade. Eu tinha no máximo uma hora para fazer tudo.

Saí correndo e destranquei a porta de casa. Subi as escadas e joguei minha mochila dentro do meu quarto. Atravessei o corredor e entrei no quarto de Madrasta, que fica em frente ao meu.

Comecei a abrir gavetas e armários até encontrar o estoque de dinheiro, embaixo da cama. Estava tudo guardado dentro de uma bolsa grande amarela e vermelha. Quando a abri, coloquei a mão lá dentro e puxei as notas até esvaziar a bolsa completamente. Deixe a pilha de dinheiro no canto perto da porta e fui procurar mais. Revirei o resto do quarto, porém era só aquilo. Levei o dinheiro para o meu quarto e vi que estava em notas de 10 e 20.

Contei tudo e o total era um pouco mais de mil dólares.

Ela não pegou tudo direto no banco. Percebi. Todavia, aquilo era melhor do que nada.

Tirei tudo que estava dentro da mochila e coloquei cuidadosamente os itens que eu ia levar. Coloquei quase tudo no bolso maior: o caderno, um mapa, a boneca que meu pai me deu, a minha foto com ele, alguns pequenos pacote de biscoitos e salgadinhos, as garrafas de água – que eram bem pequenas – e, embaixo de tudo, todo o dinheiro da minha herança e o que eu peguei de Madrasta. Nos bolsos menores do lado, coloquei a escova de dentes, o vidro de esmalte, a lixa e a tesoura.

Deixei a mochila em cima da cama e peguei uma vassoura na saleta do andar de baixo. Varri meu quarto todo. Não sabia quando ou se ia volta, mas se voltasse, quero meu quarto limpo.

Depois da sessão limpeza, peguei os lençóis que tinha comprado e coloquei por cima de todos os móveis. Isso levou um pouco mais de tempo, já que os armários iam quase até o teto. No fim, só o chão estava descoberto.

Eu já estava com a roupa que ia sair: uma camiseta preta com o casaco de veludo ensanguentado, uma legging preta um ou dois números maior do que o meu tamanho, tênis pretos de cano longo e um pedaço de tecido escuro que costurei e formei uma bainha para minha faca.

Escutei a porta da frente se abrir e Madrasta entrar reclamando:

– Mas eles tinham me ligado! Aí você chega lá e dizem que ainda nem fizeram o sorteio e é aí que eu me dou conta disso. Eu devia saber que era um trote!

Fui até a porta e coloquei a mão na maçaneta, mas parei. Olhei para trás e olhei meu quarto. Havia deixado o equipamento de arco e flecha porque seria inútil contra os monstros. Minha escrivaninha estava, pela primeira vez em meses, vazia, exceto pela luminária e um porta lápis cobertos com o lençol. Os livros da escola estavam arrumados em pilhas na abertura ao lado. Ainda tinha mais alguns dias de aula, mas eu não iria. Todos os meus livros estavam na enorme estante, perfeitamente organizados. A janela trancada e com as cortinas fechadas.

Finalmente, sabendo que se permanecesse ali por mais um minuto desistiria, apaguei a luz a abri a porta.

Segurei a alça da mochila enquanto trancava a porta do quarto e jogava as chaves no buraco da parede.

Madrasta, Hilary e Gavin ainda estavam na sala e me encararam enquanto eu descia as escadas.

– Pra que a mochila? Vai a algum lugar? – perguntou Madrasta com as mãos na cintura.

Eu a encarei.

– Não te interessa. Aliás, não tenho que te dar satisfação.

Caminhei até a porta, mas Madrasta se colocou na minha frente.

– Você não vai. Não importa a onde esteja indo, você não vai.

Tive um acesso de fúria. Estava cansada de ouvir ordens dela, como se ela fosse a rainha do mundo. Eu a peguei pela gola da blusa, exatamente do mesmo jeito que ela fez comigo no dia em que fez as primeiras marcas, e a empurrei para o lado. Ela caiu em cima da mesa de centro, quebrando o enfeite florido novo que havia comprado.

Hilary e Gavin gritaram e tentaram fazer a mãe levantar. Abri a porta de casa, sem me importar em fechá-la. Eu só queria sair de lá.

Andei poucos metros para minha direita antes de sentir uma mão me puxando pelo ombro. Madrasta me segurou e tentou me arrastar.

– Você vai vir comigo agora. Quem sabe marcando seu braço inteiro e o seu rosto você aprenda a me obedecer.

– Não! – eu gritei. Um silêncio seguiu pela rua, e eu vi que alguns dos vizinhos foram até as janelas para ver o que estava acontecendo – Eu não vou seguir suas ordens estúpidas. Você não pode mandar em mim.

– Eu vou chamar a polícia se você fugir!

– E o que você vai dizer? Vai dizer que eu fugi de casa porque você é uma psicopata que esfaqueia os outros quando não consegue o que quer? – arregacei as mangas do casaco, deixando as marcas expostas. Não sei como, mas elas ainda estavam sangrando – Olha o que você fez. Se der queixa no polícia sobre qualquer coisa sobre mim, eu mostro isso.

– Ninguém vai acredita na palavra de uma menina idiota de doze anos! Vão acha que você caiu em algum lugar!

– Eles são testemunhas! – apontei para os vizinhos que espiavam pelas janelas de suas casas – Eles sabem que eu tinha isso antes de sair de casa. Você não pode fazer nada contra mim. Nunca mais vai me dar ordens. Nunca mais vai me forçar a fazer coisas que não quero fazer. E principalmente, nunca mais vai enfiar uma faca em mim!

Dei outro empurrão nela, que só cambaleou. E isso foi o suficiente para eu me soltar de suas mãos e sair correndo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz Carnaval para vocês, e comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tudo por Nico di Angelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.