– Victoire –alguém me chamou – Victoire, querida – parecia a voz da vovó Weasley – O que você está fazendo aqui, menina?

– Vovó? – chamei abrindo os olhos e me deparando com minha velha avó sorrindo.

– Vou preparar algo pra você comer, ai você me explica por que está aqui – vovó se distanciou e eu me levantei.

Olhei ao redor e percebi que tinha adormecido no Cabeça de Javali, então lembrei o que tinha me levado até lá. Rapidamente, apaguei o mapa que estava ao meu lado e o guardei no bolso do meu moletom. Peguei minha capa e pendurei numa cadeira próxima.

Me mantive ocupada para que não me lembrasse que meus amigos pensam que sou louca. Mas nada conseguia tirar aquilo da minha cabeça. Fiz um feitiço convocatório para conseguir tomar meu remédio da manhã. Segui para a cozinha, onde minha avó mexia nas panelas.

– Seus primos estarão por ai daqui a pouco! Tenho que fazer tortas e biscoitos! Até porque hoje os alunos de Hogwarts vêm pro povoado e isso aqui ficará cheio e... Nossa! Tenho muita coisa pra fazer – ela disse ao colocar uma jarra de suco de abóbora na minha frente.

– Quer ajuda, vovó? – perguntei quando ela colocou bolinhos na mesa.

– Não precisa, querida! Daqui a pouco Monstro aparece pra me ajudar. – Ela fez um gesto para que eu comesse e foi o que eu fiz.

– Monstro? Ele vem? – perguntei depois que engoli o bolinho que estava na minha boca.

– Seu tio Harry me emprestou ele enquanto eu não arrumo ninguém para me ajudar – vovó corria pela cozinha separando os ingredientes.

Terminei de comer e me juntei a ela para começar a fazer as comidas. Olhei para o relógio e vi que ainda eram 5h da manhã. Eu gostava de cozinhar, mas só de vez em quando e eu não deixava ninguém saber que eu sabia cozinhar, era meu segredo com a vovó. Quando eu ia pra Toca, eu sempre acordava cedo para ajudar vovó com o café-da-manhã. Era o meu momento neta e avó com Molly Weasley.

– Afinal, o que fazia dormindo aqui? – ela me perguntou enquanto eu separava a gema dos ovos.

– Eu estava chateada e precisava sair um pouco do castelo, então lembrei da passagem que trazia para o Cabeça de Javali e como ele agora é seu, achei que seria um bom lugar para ficar – dei de ombros.

– Posso saber o que te incomoda, querida? – questionou.

– Meus amigos estão acreditando nas coisas que Ted está falando sobre mim e agora acham que eu sou maluca – com minha avó eu não media palavras, ela tinha uma energia tão intensa e aconchegante que derrubava todas as muralhas que construí.

– O que ele diz é mentira ou são coisas que você queria que fossem mentiras?

– Acho que eu queria que fosse, eu não sei! Está tudo tão confuso, vovó!

– Lembre-se que você esteve internada com problemas psiquiátricos recentemente, querida. Será que eles não estão preocupados com você? Você acha que Ted faria algo pra te machucar? – vovó sabe fazer a gente enxergar as coisas.

– Não sei – murmurei.

Estávamos conversando a tanto tempo que vovó já tinha terminado de fazer a massa das tortas, eu peguei as formas e fui colocando a massa.

– Victoire, Ted pode ser muitas coisas, como irresponsável, bagunceiro e metido, mas ele jamais faria algo para machucar alguém, principalmente, se esse alguém é você – ela chamou minha atenção. Ele sempre te protegeu, quando você aprontava, ele puxava a culpa pra ele para que você não levasse bronca – como ela sabia disso?

– Isso não acontecia, vovó! – menti.

– Victoire! Não minta para sua velha avó! Eu via tudo que acontecia n’A Toca! Vi quando quebrou aquele vaso de cristal que eu e seu avô ganhamos de bodas de prata. Ted disse que foi ele quem quebrou, estava acostumado a levar bronca dos pais.

– Você é impossível de enganar, Sra. Weasley! – ri ao constatar que ela sabia das coisas.

– Quando se trata dos meus netos, eu sei de tudo! Então, senhorita, continue cozinhando! Sei de muitas coisas que seus pais adorariam saber! – ela se apoiou na pia e apontou pra mim com a colher de pau.

– Sim, senhora! – eu bati continência fazendo-a rir.

Estávamos concentradas em fazer a comida e levamos um susto quando ouvimos um estalo.

– Bom dia, senhora! Menina Victoire, você também está por aqui, muito bom – Monstro disse sorridente.

Meus tios me contaram da época que ele era rabugento, mas eu acho difícil acreditar que Monstro tenha sido um elfo malvado.

– Bom dia, Monstro. Vamos, faça os bolinhos! Estamos atrasados! – vovó falou com Monstro.

Ficamos umas três horas ali, cozinhando e conversando. Eu pensei sobre o que tinha acontecido ontem e me lembrei do que Jenny disse. Meus remédios não impediam que distorcesse a verdade, só me impediam de definhar.

Quando deu 8h30, eu peguei minhas coisas e passei pelo quadro de volta ao castelo. Antes de sair da passagem, verifiquei o mapa para ver se alguém passava naquele corredor. Como eu esperava, ninguém estava por perto, era um corredor pouco utilizado mesmo. Saí da passagem e corri para meu dormitório. Quando cheguei no quarto, Jenny estava no banho. Peguei minhas coisas e quando ela saiu entrei no banheiro, não respondendo quando ela me perguntou onde eu tinha ido.

– Onde você esteve, Victoire? – ela me perguntou assim que saí do banho.

– Fui dar uma volta – eu disse enquanto secava meus cabelos com a varinha.

– De pijama? – ela questionou.

– Esqueci de trocar antes de sair – respondi tranquilamente – Só fui dar uma volta mesmo, acordei cedo demais, então peguei minha capa e fui andar pelo castelo.

– Ta bom, então – ela deixou passar.

Ela já estava saindo quando eu a chamei de volta.

– Você não quer ir comigo para o Cabeça de Javali? – convidei.

– Não, vou deixar você com seus primos. Vou dar uma volta com Ethan e Nate e depois te encontro lá pro almoço. Pode ser? – ela sugeriu.

– Você vai para Hogsmeade com Nate Müller? – perguntei incrédula – Quem é você e o que você fez com minha amiga?

– Eu vou para Hogsmeade com Nate e Ethan! Não é um encontro, nem nada do tipo, ok? – ela corou.

– Mas você bem queria que fosse, né?! – provoquei.

– Idiota – ela disse se virando para sair do quarto.

– Isso não foi um “não”! – eu observei – Nos vemos no almoço, Sra. Müller! – gritei para que ela ouvisse na escada.

Terminei de me arrumar, peguei o mapa e fui correndo para o salão comunal da Grifinória.

– Hey, Victoire! – Fred me cumprimentou quando me aproximei do retrato da mulher gorda.

– Olá, Frederico! Que cara de horror é essa?

– James perdeu o mapa do tio Harry! – ele andava de um lado para o outro – Se James não encontrar, tio Harry mata ele. Se bem que James já deve morrer por ter roubado o mapa – observou.

– Ninguém vai morrer! – eu o acalmei – O mapa está comigo!

– O mapa o que?! – Fred ficou horrorizado – Como você pega o mapa sem avisar, Victoire!

– Hey, pirralho, olha como fala comigo! – ralhei com ele.

– Pata de leão – Fred falou para o quadro e este se abriu – James! Ted! Roxanne! – ele gritou para dentro do buraco.

– Achou? – Roxanne perguntou aparecendo do outro lado do buraco – Hey, Victoire!

– Está com a veela aqui! – ele disse aborrecido.

– Graças a Merlin! – ela respirou aliviada – James! A parada está com a Victoire! – ela gritou se virando para o lado de dentro.

– Como ela pegou? – ouvi James questionar.

– Não importa! – esse era Ted - Passe logo por esse buraco!

Então James passou pela passagem, depois veio Ted e Roxanne. Entreguei o mapa para James e seguimos para o Saguão de Entrada, onde encontramos Dominique que mora nas masmorras com o restante das serpentes, e caminhamos até o povoado.