Apesar das palavras de Túlius serem verdadeiras a respeito de Asha, ele sabia mais do que qualquer um que um bom plano era um bom plano, independente da hora em que foi planejado. Fato que colocava Asha acima de todos os outros estrategistas do batalhão das tropas do rei.

— Túlius quero que preste atenção no que irei te dizer.

Túlius se voltou para Asha e se pôs a escutar com muita calma e seriedade apesar do caos eminente ao seu redor, pois sabia que tudo a partir de agora dependeria do plano de Asha. Então ela continuou.

— A fumaça que está ao nosso redor pode ter nos ajudado contra os dragões por enquanto, mas ela não vai durar para sempre, além de que a situação neste momento pode ser vantajosa tanto para nós quanto para eles.

— Porque você diz isso, Asha? — disse Túlius sem entender muita coisa.

— Eles não podem nos ver neste momento, o que é bom... Mas nós também não podemos vê-los, certo?

Asha estava certa. O campo onde estavam naquele momento parecia muito mais traiçoeiro do que a neblina da chuva, a qual ainda era um problema.

— Então arrumamos mais um problema disse Túlius.

— Nem tanto — prosseguiu Asha — Como disse, essa fumaça pode ser boa pra qualquer lado se usada corretamente. A nossa vantagem é que como seres humanos nós podemos raciocinar e usá-la a nosso favor, ao contrário desses filhotes de dragão que apenas estão com fome.

Quando os alunos ouviram as últimas palavras de Asha, todos param e ficaram olhando em sua direção sérios e ao mesmo tempo mais assustados do que já estavam antes.

— E-Eles est-t-t-t-tão com f-f-fome? — gaguejou um aluno.

— Eu achei que seríamos os caçadores e não a caça! — gritou outro apavorado.

— Eu sou nova demais pra morrer! — gritou uma aluna mais alto do que o anterior.

Então, todos os alunos começaram a gritar e correr pela fumaça cheios de medo. Todos achavam que aquela seria a primeira e última batalha que travariam.

Foi quando Túlius subiu em uma pedra mais alta no terreno e chamou a atenção de todos para tentar acalmá-los:

— Escutem todos! Eu sei que a situação parece muito desconfortável nesse momento. Aliás, é uma situação muito desconfortável, com toda certeza — disse rindo, e continuou — Mas não se preocupem! Eu irei dizer aos seus pais sobre toda a coragem que vocês tiverem aqui. Iram cantar hinos em homenagem a cada um de vocês! E os filhos dos seus filhos vão honrá-los por toda a história. Agora, quero que honrem ao rei de Outrora e batalhem ao meu lado, para juntos, derrotarmos nosso inimigo!

Todos os alunos o olharam com um ar de interrogação.

— Dizer aos nosso pais o que? — disse um com outro amigo ao lado.

— Não sei, não! — respondeu o outro.

— Filhos dos meus filhos? — indagou o outro com uma aluna ao lado.

— Eu sou novo demais pra morrer! — gritou um mais ao fundo.

E novamente a correria e gritaria começava. Ninguém mais queria saber sobre os dragões, o que fazia muito sentido, pois quando o medo toma conta de uma pobre alma, é preciso muito mais coragem do que o normal para enfrenta-lo.

Asha via aquela situação e não conseguia pensar no que dizer, então olhou para Túlius que tentou se justificar.

— Há, há, há, há, há! Parece que eu não levo mesmo jeito com as crianças.

A professora levou as duas mãos ao rosto sem acreditar em tamanha deficiência de um cavaleiro do rei.

— Você não pensa em seus discursos, não é mesmo Túlius? Porque usou o mesmo discurso da batalha contra os bárbaros de cem anos atrás?

— Hmmm... Desculpe, eu achei que eles iriam gostar.

— Tudo bem, vamos deixar eles assim por enquanto, que o meu objetivo era te contar o meu plano, mas parece que não ocorreu do jeito que eu queria. Mas agora preste atenção.

Novamente Túlius ficou sério e passou a ouvir as palavras da estrategista do exército do rei.

Enquanto isso Lara e Tarso eram os únicos que se mantinham calmos entre todos os outros alunos.