“Enrolei” um pouco até chegar em casa. Eu sabia que Loki estaria lá quando eu voltasse, como sempre fazia, então resolvi não ter pressa. Andei pelas ruas, observei as pessoas, respirei fundo. Era fim de tarde, me misturei às pessoas que também voltavam para suas casas naquela hora.

Quando finalmente cheguei, ele estava lá como eu previ. Lindo, com as mãos para trás, sua expressão séria. Não me contive e dei um beijo nele. Era um beijo urgente, cheio de saudade, vários sentimentos misturados - de minha parte. Eu estava ficando sem fôlego e resolvi me afastar.

– Já tomou sua decisão? - perguntou sorrindo.

– Sim. - respirei fundo - Tomei.

– Então diga.

Uma expressão séria se formou no meu rosto.

– Não vou com você. Respondi.

– Não vai? - o rosto de Loki se tornou sério também.

– Não.

– E posso saber por quê?

– Não vou abandonar a minha vida aqui. Não nasci pra ser rainha ou algo do gênero.

– Pelo visto aquele amor que você dizia sentir se foi rapidamente.

– Ele está aqui, Loki. Mas só esse amor não basta pra mim. - nesse momento Loki agarrou meus braços e me jogou contra a parede. Gritei ao sentir o impacto nas minhas costas. Comecei a deslizar para o chão, mas Loki me ergueu pelos braços até eu ficar com o rosto na altura do dele.

– Não basta para você? - aumentou o tom de voz - Esse amor não basta para você?! E o que basta? - os olhos dele revelavam ódio e mágoa misturados.

– Eu sou uma agente, é isso o que basta. É o que eu sou. Não vou abrir mão disso para sumir com você. - falei friamente, sentia que precisava acaba com aquilo logo. Era torturante, e sentimentalismo não ajudaria ali.

– Ótimo. - me soltou no chão, me fazendo quase cair de joelhos, mas me equilibrei e fiquei em pé - E todo esse sentimento? Você age como se não fosse nada.

– Guarde o sentimento que tem por mim. - olhei em seus olhos - Ou o mate. Faça o que bem entender.

– Eu deveria te matar por fazer isso comigo. - falou sombrio.

– O que você deveria fazer era voltar para Asgard e cuidar de seus assuntos.

– Apenas me responda uma coisa. Você realmente gosta de mim?

– Gosto. - senti que começaria a chorar, mas pisquei rapidamente para evitar que lágrimas se formassem e caíssem. Eu não podia chorar. Não queria - Por mais que neste momento talvez você não acredite, eu gosto de você.

– Eu... - acariciou meu rosto - Não acredito nisso que está fazendo.

– Acredite. - suspirei - Tente me esquecer. É melhor.

– Eu deveria te esquecer ou matar você. Mas não consigo fazer nenhum dos dois. - fez uma expressão sombria novamente - Espero que sua decisão não tenha a ver com aquele Capitãozinho.

– Esqueça o Steve. Essa decisão só tem a ver comigo. E ninguém mais.

– É o que eu espero. - falou em tom de ameaça. Ficamos nos encarando por algum tempo. Não havia mais nada para ser dito. Senti um aperto no peito, mas me mantive com a expressão inalterada.

– Acho que agora não há mais nada a dizer. Adeus. - falei.

– Adeus? - ironizou - Não tenha tanta certeza disso. - caminhou até a porta e antes de sair olhou para mim - Você ainda me verá, querida Kelly. Não duvide.

Assim que Loki saiu, fechei a porta e encostei minha testa nela, encarando o chão. Senti meus olhos se encherem de lágrimas novamente, e dessa vez as deixei rolar. Não desabei em prantos, apenas chorei. Disse a mim mesma que não iria mais me permitir chorar por Loki depois dali. Acabou. Eu escolhi que acabasse, eu quis assim. Então deveria seguir.

Bati os punhos na porta, sequei minhas lágrimas e resolvi sair. Andar sem rumo por aí ou ir até a S.H.I.E.L.D.. Me decidi pela primeira opção, aproveitei que Steve havia deixado a moto dele na garagem e saí com ela. Era bom andar por aí sem ir a lugar nenhum, apenas para respirar um pouco e não pensar em nada, e era ótimo dirigir aquela moto. Pensei em parar em algum lugar para fazer qualquer coisa, porém resolvi ir até a S.H.I.E.L.D., a pessoa que eu queria ver estava lá.

Não me dei o trabalho de entrar, liguei para o celular de Steve e avisei que o estava esperando do lado de fora. Ele desceu com uma expressão séria.

– Veio... se despedir? - perguntou.

– Não. - sorri, toda aquela seriedade era tristeza por achar que eu iria embora - Não vou a lugar algum. - o rosto de Steve se alegrou assim que ouviu isso.

– Isso é... ótimo! Por que resolveu ficar?

– Meu lugar é aqui. - respirei fundo - Me leva para algum lugar?

– Tudo bem. Mas me diga por que pegou minha moto.

– Eu sempre quis dirigi-la - sorri -, mas eu não devia ter feito isso hoje. Estou com as costas doloridas por conta do choque contra a parede. - falei subindo na garupa da moto, me segurando em Steve.

– Choque?

– Sim. Loki me empurrou, mas não precisa se preocupar. Estou bem.

– Bem mesmo?

– Sim. Vamos. - Steve arrancou com a moto.

Fomos a uma lanchonete que estava com pouco movimento. Sentamos ao lado da parede de vidro com vista para a rua e pedimos hambúrgueres. Contei a Steve sobre a conversa com Loki, ocultando a última frase dita por ele. Não porque eu iria esconder essa parte, mas porque comecei a refletir sobre aquilo.

Apoiei minhas costas no encosto da cadeira e fiquei encarando a rua através do vidro. “Você ainda me verá. Não duvide”, foram as palavras que ele usou. Por que aquilo? Por que eu o veria de novo? Senti meu coração acelerar. Eu não duvidaria de Loki. Fiquei pensando o que eu deveria esperar, entretanto acreditei que naquele momento isso não importaria, pois ele tinha acabado de partir. A cena do nosso último beijo se passou dezenas de vezes na minha cabeça, a sensação se repetiu: saudade, urgência, despedida, tudo misturado. Eu não tirava os olhos da rua, suspirei inúmeras vezes.

Decidi fazer o que eu fazia sempre: deixar os problemas para serem resolvidos quando realmente fosse preciso. Por hora não era necessário remoer aquilo, por mais que eu já tivesse remoído.

Não sei quanto tempo fiquei perdida em meus pensamentos, só “acordei” quando ouvi a voz de Steve.

– Kelly? - chamou.

– Oi. - finalmente parei de olhar o movimento lá fora - Desculpe, eu estava longe.

– Percebi.. Algum problema?

– Ele falou que vai voltar.

– Voltar? - arregalou os lindos olhos azuis - Para quê?

– Não sei. A frase exata foi “Adeus? Não tenha tanta certeza disso. Você me verá, querida Kelly. Não duvide.” - fiquei impressionada com a clareza dessa lembrança.

– Esse cara não dá sossego. - pareceu irritado - Por que ele ainda veria você? Só se... - calou-se.

– Se atacar a terra novamente. Ou se vir me visitar regularmente para matar a saudade. Duvido que a segunda hipótese seja válida. - sorri - Ele também pode querer me seqüestrar, para que eu viva em Asgard de qualquer forma.

Steve não falou nada ao ouvir isso, ficou com a expressão séria, parecia preocupado e perdido nos próprios pensamentos.

– Ele realmente pode querer te levar. - falou - Você precisa de proteção.

– Eu serei minha proteção. - respondi - Sei me virar sozinha.

– Mas você não precisa, Kelly. - sorri ao ouvir isso e olhei em seus olhos - Eu estarei aqui até o fim da linha.

Me perguntei quantas pessoas tinham a sorte de ter um amigo como Steve.

– Muito obrigada, Capitão. - falei sorrindo.

Levantamos para ir embora e seguimos até a moto. Ao sair da lanchonete, olhei para o céu acima de mim e sorri para o nada. Steve já estava pronto para partir, subi na garupa e ele acelerou.

Eu não sabia quando, onde, e nem como veria Loki novamente, mas eu tinha certeza que o veria. Porque ele falou que seria assim. E seria. Eu também tinha certeza de que não voltaria atrás na minha decisão, mesmo que ele me amarrasse e me levasse arrastada para Asgard; e eu sempre teria alguém do meu lado, me apoiando, e me resgatando, se fosse o caso. Até o fim da linha.

No dia seguinte Fury nos deu uma nova missão e partimos no mesmo dia. Continuei decidida a não me preocupar com assuntos sentimentais. Minha vida estava seguindo sem Loki.