27 escrita por AoiRaito


Capítulo 2
28


Notas iniciais do capítulo

E aqui chega o final do livro. Bom, ainda falta o epílogo... Mas é isso aí. Espero que gostem!



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Acordo somente na metade da manhã seguinte. Deviam ser umas dez horas pela posição do sol. Sinto minha cabeça doer profundamente, como se várias agulhas me atacassem. Meu estômago revira e percebo que virá algo nada agradável. Pulo da cama e corro rapidamente para o banheiro, entornando meu corpo em frente à privada e vomitando tudo o que consumi na noite passada. Acho que o álcool não compensa tanto assim no fim das contas. Quando termino, limpo o canto da boca com a mão e dou a descarga, vendo todo meu vômito ser engolido pelo esgoto. Levanto-me com dificuldade, caminhando cuidadosamente até a pia e tentando não cair de novo. Abro a torneira, coloco água na boca e bocejo aceleradamente, tentando tirar o gosto ruim da boca. Depois de três vezes finalmente fica mais agradável, mas a queimação no esôfago persiste e a dor de cabeça não faz menção de ir embora. Caminhando ainda cautelosamente, desço as escadas para me encontrar sozinha em casa. Nem mesmo Buttercup estava por perto. Ainda bem que ninguém me veria daquele jeito deplorável. Vou até a cozinha e me surpreendo com uma cesta cheia de pães de queijo. O cheiro ainda estava tão agradável que nem parecia ter saído do forno há algumas horas. Só podia ser obra de Peeta. Imagino se ele teria ficado a noite comigo, e só então as lembranças da noite passada me invadem.

Vergonha. É só o que sinto. Fui uma fraca insolente e novamente egoísta, pensando só nas minhas necessidades e não nas de Peeta. E ele, gentil como sempre, trouxe para mim um café-da-manhã com certeza necessário. Pondero se ele viu Greasy Sae e se ela sabe, de alguma forma, se ele dormira aqui comigo. Mas acho pouco provável. Depois que desmaiei ele deve ter ido para casa. Suspiro e sento-me à mesa, agarrando os pães e comendo-os desesperadamente. Não sabia que estava com tanta fome e sede. Nossa, que sede eu estava. Quase bebi um litro de água direto. Acho que isso é o que chamam de ressaca. Decidi terminantemente não beber mais, afinal só serve para te trazer mais culpa e um terrível mal estar. Sinto pena de Haymitch por ele não conseguir se agarrar a mais nada para superar as dores do passado, muito embora isso não possa ser chamado de superação.

O telefone tocando me assusta um pouco, mas vou atende-lo mesmo assim. É Dr. Aurelius um tanto quanto surpreso por finalmente conversar comigo após meses. Acho que ele fica feliz em me informar que os remédios serão reduzidos – não o informo de que nunca os tomei – e logo, logo ficarei livre de suas ligações. Tento ser simpática e lhe digo que isso não é tão ruim quanto ele fez parecer, mas nós dois somos breves e encerramos a ligação. Após isso eu precisava arrumar algo que ocupasse melhor meu dia. Definitivamente sem condições de caçar por causa da dor de cabeça, e provavelmente sem ânimo para dormir. Poderia ligar para minha mãe, mas ela provavelmente estava trabalhando. Sinto falta de Gale, pensando se conversar com ele me faria algum bem, mas isso nunca foi uma possibilidade. Haymitch não queria ver por mais um ano, se possível. Nunca parei para pensar em como uma tarde com ele pudesse enjoar tanto assim. O pior é quando percebo que todas as minhas opções me levam a Peeta, mas me recuso a encontra-lo. Ele provavelmente estava com Delly Cartwright e bem longe de mim. Olho pela janela e vejo que as prímulas estavam plantadas ao longo da fachada da minha casa. Volto para dentro e tomo um banho quente, vestindo após ele apenas um roupão cinzento que veio do Distrito 13 e que me irrita muito, mas pelo menos é fresco e confortável. Confortável o suficiente para não usar roupa íntima. No fim, passo meu dia sozinha mesmo. Quer dizer, até a hora do almoço quando ouço alguém bater à porta. Imagino ser Greasy Sae, mas suspeito disso quando me lembro que ela vem pelos fundos e sem bater. Faz isso para não me incomodar. Vou lentamente até à entrada de minha casa e, ao abrir, dou de cara com Peeta. Olhos azuis, tranquilos, sorriso sereno e uma expressão divertida no rosto.

– Oi. – Digo seriamente tentando desvendar seu sorriso.

– Oi. – Ele responde arqueando as sobrancelhas que cresceram após serem chamuscadas pelo bestante de fogo. Engulo em seco e dou espaço para que ele entre, mas antes de ele fazer isso fica me olhando de cima a baixo. Logo faz um comentário sarcástico. – Gostei da roupa.

Reviro os olhos e aponto para dentro de casa impacientemente, fazendo com que ele se apressasse e entrasse logo. Suas piadas também voltaram junto com seu velho eu. Aquilo me deixou mais tranquila e segura para ficar a sós com ele.

– Vim aqui só para ver como você está. Você não parecia nada bem – ele diz ainda com a mesma expressão divertida no rosto.

– Tirando a dor de cabeça está tudo ótimo. – Respondo apressadamente e cruzo os braços, dando na cara o quanto estou nervosa por ele estar ali. Não é nervosismo de irritação, mas sim de inquietude. A presença de Peeta me deixa tão balançada que nem eu mesma sei o motivo.

– Foi o que pensei. Trouxe um remédio pra sua dor – ele diz ainda brincalhão, tirando do bolso uma caixinha que guardava uma cápsula colorida. Olhei e reconheci o remédio da Capital imediatamente. A minha primeira reação foi evitar aquela cápsula, mas eu sabia que hora ou outra iria toma-la apenas para sarar o terrível mal estar. Sinto-me como se pregos perfurassem minhas têmporas.

– Obrigada – digo indicando a mesa da sala como local de depósito para o objeto. Peeta entende e deixa o remédio no local. – Então... Você me carregou para cá ontem, né?

– Eu não tive escolha. Melhor do que passar a noite com Haymitch, não? – ele pergunta ainda brincando. Rio imaginando como eu ficaria assim que acordasse. Provavelmente vomitaria só de sentir o cheiro terrível que a casa dele tem durante a manhã.

E ficamos em silêncio durante um tempo. Peeta olha para os lados e coloca as mãos no bolso, como se buscasse alguma coisa para dizer, mas não sabia por onde começar. Nesse mesmo instante as imagens de eu implorando que ele ficasse comigo ontem à noite vêm até mim, fazendo com que a curiosidade também me invada. Será que ele ficou comigo mesmo ou foi embora? Imagino que não por causa dos pães que apareceram durante a manhã. Se ele estivesse aqui e saísse teria me acordado por causa do barulho que ele faz. Não que seja culpa dele, mas mesmo antes de sua perna ser substituída por uma prótese seu caminhar fazia bastante barulho. Suficiente para me acordar.

– Eu pensei em plantar arrudas, também – ele diz interrompendo meus pensamentos. Rue. Olho para o chão e me lembro do pesadelo da noite retrasada. – Bom, isso se você quiser.

Apenas aceno positivamente. Não me faria muito feliz, mas também não me entristeceria. É como ele diz: uma lembrança positiva vale mais que uma negativa. Tudo vale quando se trata do quanto os Jogos Vorazes nos mudaram e o quanto devemos lidar com isso a cada dia de nossas vidas. O único que parece intacto é Peeta e, mesmo assim, a Capital fez dele um robô que até hoje sofre com imagens falsas plantadas em sua mente. Não tão falsas assim, aliás. Lembro-me de quando ele conversou comigo pela primeira vez voluntariamente. Foi quando ele me perguntou se Gale beijava bem e eu disse que sim. Naquele dia eu tive certeza absoluta de que as coisas jamais voltariam a ser como eram e hoje, quanto mais noto que Peeta volta a ser como era, tenho vontade de sentir tudo de novo. Tenho saudades de seus braços me acalmarem no trem e no nosso quarto no Centro de Treinamento antes do Massacre Quaternário. E pensando nisso sofro mais um pouco, pois sei que é um desejo impossível – sem falar no quanto é egoísta. A essa altura Peeta já seguiu com sua vida sem me amar, e eu devo deixa-lo fazer isso. É um direito dele.

– Gostou dos pães? – ele perguntou novamente interrompendo meus pensamentos.

– Sim. - Sorrio de forma sincera. Os pães estavam mesmo deliciosos, como sempre. Há muito tempo eu não me alimentava com prazer verdadeiro.

Ouço a porta bater nos fundos e então Greasy Sae aparece. Imagino que ela vá preparar o almoço e se sentir surpresa com a presença de Peeta ali. Talvez eu devesse chama-lo para almoçar conosco. A velha aparece na sala e sorri ao nos ver ali, provavelmente imaginando coisas que não fizessem o menor sentido. Suspiro profundamente e cumprimento-a. Peeta faz o mesmo. Greasy Sae nos saúda simpaticamente e leva no saco algo que mais se parece com um animal morto. Reconheço o formato da cabeça e o rabo peludo. É um esquilo e fora comprado naquele momento. Percebi que aquela aquisição representava o meu descaso ao adquirir suprimentos para minha casa. Lambi os lábios e ajeitei meu roupão na cintura, encarando Peeta meio envergonhada por causa da situação que acabara de encontrar. Mesmo assim, fui suficientemente cordial para não dizer grossa.

– Quer ficar para almoçar? – pergunto sem verdadeira convicção. Greasy Sae nos deixou na mesma hora, indo para a cozinha cuidar do esquilo.

Peeta sorri sem jeito. Vejo pela maneira que ele desvia o olhar que de forma alguma aceitaria o convite. Noto também que Greasy Sae nos deixou pelo mesmo motivo. Acho que a situação ficou bem constrangedora.

– Não. Eu vou almoçar com a família da Delly hoje – um nó se formou na minha garganta. Novamente meu sangue borbulha e eu sinto como se minha cabeça fosse explodir. Suspiro profundamente e apenas faço um sim com a cabeça, dando a entender que pouco importava e que era apenas um pedido cordial. – Fica pra próxima, certo?

Acenei positivamente e crispei os lábios. Olhei para baixo para evitar o rosto de Peeta. Ele deu um tchau e eu respondi quase inaudível. Creio que ele não se importou porque no mesmo instante ouço a porta se fechando atrás dele. Praguejo em silêncio por ter de ficar sozinha – não que a presença de Greasy Sae não fosse importante, mas que há muito anseio por uma companhia que me entenda e que não fique bêbado como Haymitch. Poderia muito bem ser Gale, mas ele estava longe e não acho que vamos nos aproximar por um bom tempo. Poderia ser Cinna, mas ele estava morto por minha causa. Quem sabe seria Johanna, mas ela não era exatamente equilibrada. Todavia nem eu sou. Acho que por isso simpatizamos uma com a outra. Beetee, Annie, Finnick... Droga, esqueci que Finnick também morrera por minha culpa. Sinto a minha cabeça doer e bufo de raiva. Pego o comprimido que Peeta me trouxera e o levo até a cozinha, já enchendo um copo com água e engolindo-o junto com o líquido. Não demora muito para que toda a sensação de tontura e dor suma do meu corpo. Provavelmente o remédio fora feito para que os cidadãos da Capital pudessem beber horas afinco, sem terem quaisquer efeitos colaterais provenientes da bebedeira. Duvido, contudo, que o remédio possa ser milagroso a ponto de evitar uma cirrose hepática. Sei disso porque vários dos cidadãos já sofriam da doença antes mesmo da rebelião. São pequenas coisas que aprendemos quando nos tornamos mentores dos Jogos Vorazes. As festas, reuniões e ocasiões na Capital fazem com que você descubra coisas desse tipo. Imagino o que Finnick saberia além daquilo que foi exposto nos propos, então. Com certeza seriam segredos obscuros que deixariam qualquer mente fora da Capital perturbada o suficiente para custar a dormir.

Greasy Sae fez o almoço para mim. Comemos em silêncio até o momento que Buttercup aparece e requisita o seu prato, também. Ela resmunga algo como se fosse um agradecimento pelo gato apreciar aquilo que nós dispensamos na comida. E, de fato, Buttercup devora o intestino do esquilo. Como não gosto muito da carne do fígado ela também serve de alimento para ele. Que bom que Greasy Sae também sabia disso. Imagino como minha mãe estará se saindo no 4. Sei que ela deve estar mais ocupada que eu e por isso evito ligar para ela com frequência, mas meus dias têm se tornado cada vez mais insuportáveis que contatá-la tem sido a única maneira de trazer minha vida de volta. A minha velha vida, na época em que eu caçava com Gale e minha única preocupação era me manter fora dos Jogos. Alimentar Prim, minha mãe e Buttercup, ir à escola e pronto. Não sinto exatamente saudades desse tempo, mas com certeza queria Prim aqui comigo. Seria a única coisa que tornaria meus pesadelos menos assustadores, e provavelmente faria com que eu não fosse à casa de Haymitch para me embebedar e reclamar que Peeta não me ama mais. Droga, tudo que penso sempre me leva à ele. E nada do que tenho agora o traz de volta a mim.

– Ele ficou aqui, sabia? – pergunta Greasy Sae. Temo não saber do que ela fala, mas então me lembro de quem estive pensando desde o último dia. – Ele só saiu hoje de manhã para buscar o pão. Por isso nem precisei arrumar o café-da-manhã para você.

Eu pensava que ele tinha ido embora. Ele não me deixou sozinha. Será que dormiu comigo? Não. Com certeza eu teria acordado se ele tivesse deitado comigo na cama. Provavelmente ficou na poltrona ao lado, aconchegado precariamente e sem dormir direito. Uma felicidade estranha me invade, mas logo me desanimo ao saber que ele fez isso apenas para me vigiar. Peeta não me ama mais. Sempre me convenço de que assim é melhor. Como o esquilo e Greasy Sae, que já havia terminado seu prato, apenas me observava. Nunca a agradeci de maneira efetiva pelo tanto que me ajudava. Era um empenho diário me manter viva, e acho que nunca agradeci por eu querer morrer. Só que isso não é certo, então decidi que devo fazer mais por ela e por sua netinha.

– Eu acho que devo te pagar pelo que faz por mim. – Digo e vejo a surpresa se formar em seus olhos. – Estou falando sério. Posso fazer isso.

Ela não se força a dizer não. Apenas um sorriso se forma em seus lábios. Era tímido e suficientemente iluminado para que valha à pena a minha oferta. Greasy Sae pega meu prato e o dela e leva para a pia sem dizer uma única palavra. Creio que comerciantes como nós não tenhamos muito o que dizer a não ser quando queremos vender algo. Isso me traz sempre lembranças do tempo em que eu caçava ilegalmente e tinha que ir ao Prego para tirar o sustento da minha família. Velhos hábitos são difíceis de abandonar. Deve ser por isso que atravesso a cerca do Distrito 12 da mesma maneira que fazia, mesmo que ela não esteja carregada eletricamente e haja uma forma mais segura de ir à floresta simplesmente por atravessar um portão. Decido ligar para minha mãe para que possamos chorar juntas. Cansei de fazer isso sozinha e, de alguma forma, fico mais aliviada. Enfrentar os fantasmas da minha casa enorme não é algo que eu possa fazer por mim mesma todos os dias.

Ligo para minha mãe assim que Greasy Sae sai de casa. Conto a ela que Peeta voltou, que conversei com Dr. Aurelius e que agora posso tomar menos remédios – não digo que nunca tomei um sequer -, omito os detalhes da minha visita à Haymitch e o fato de eu ter ficado completamente bêbada. Lembramo-nos de coisas engraçadas de família que há muito eu esquecera. Talvez por instinto protetor. Não queria chorar sentindo falta daquilo que não pode mais voltar. Conto a ela que Peeta seguira com sua vida, e que agora estava com Delly Cartwright. Ela me diz que não tem notícias de Gale, e eu digo que também não tenho. A grande novidade é que Plutarch Heavensbee conseguiu contatar outros países distantes de Panem. Por muito tempo estivemos isolados e nos virando sozinhos, como nossos ancestrais nos deixaram. Surpreendentemente há outras pessoas vivendo bem longe de nós, e provavelmente de uma maneira muito melhor que a gente no regime do nosso ex-presidente Coriolanus Snow. Paylor desistiu daquilo que se chamava comunismo planejado por um filósofo chamado Karl Marx – finalmente entendi o que Haymitch tentara dizer na noite passada. Segundo ela, era muito bonito mas radical demais para ser implantado nas condições atuais de Panem. Isso pouco me importa. Não é algo que eu queira me meter e, sinceramente, estou cansada de governos e rebeliões. Tudo o que quero é morrer ou, na melhor das hipóteses, viver o mínimo que puder.

– Então quer dizer que Peeta arrumou uma namorada? – ela faz a pergunta que me causa aquele borbulho esquisito no sangue. Aperto o telefone na minha orelha e engrosso a voz.

– Pelo jeito, sim. – Respondo friamente. Minha mãe percebe meu tom de voz, mesmo eu fazendo tudo para disfarça-lo. Sou uma péssima mentirosa.

– Katniss, - ela começa de uma forma bem sutil, tentando fazer com que pareça uma conversa normal entre mãe e filha – você está se sentindo mal em relação a isso, não está?

– Não! – exclamo abismada. Claro que não. Peeta tinha direito de ser feliz e eu não podia prendê-lo a mim. – De forma alguma. Eu nunca quis impedi-lo de ficar com outras garotas. Na verdade isso faz bem para ele.

– Katniss...

– Mãe, ele merece alguém melhor do que eu – digo com a voz rouca. Não sei porque as palavras saíram dessa forma. Não sei porque eu disse isso. Só sei que aquilo foi um grande desabafo. Percebi, então, que tudo diz respeito a mim. Não é pelo fato de eu querer o melhor para Peeta, mas sim porque eu não consigo ser isso. Ainda não entendo a razão desses pensamentos, mas ouço a respiração preocupada de minha mãe no telefone.

– Você devia conversar com ele. Peeta é um bom garoto e você não precisa remoer isso sozinha – ela diz e eu fico calada.

Não conversamos muito depois disso. Nos despedimos e eu desligo o telefone, ainda remoendo as últimas palavras dela que foram significantes para mim. Conversar com Peeta, isso me parecia surreal demais. Uma das coisas que eu nunca soube direito é como me expressar e, depois de tantas entrevistas, de tantas encenações e mentiras, creio que estava terminantemente provado: conversar não era para mim. Para Peeta era natural como dormir ou comer, só que a audiência sempre me travou. Mesmo quando estava sendo eu mesma para o público, sentia-me como um boneco ventríloquo sendo manipulado o tempo todo. Depois que termino a conversa com minha mãe olho para o vazio da minha casa. Percebo que ela tinha razão e ficar aqui sozinha remoendo esse sentimento não ia adiantar de nada. Subo as escadas, tomo um banho rápido e visto uma roupa, simplesmente deixando o roupão jogado em minha cama. Saio de casa e sigo para o centro do distrito, indo à padaria onde eu tinha certeza que Peeta estaria. Sua casa estava fechada e isso era prova de ausência. Peeta gostava das janelas abertas.

Passo pela praça, os escombros do Edifício da Justiça... Ah, a padaria da família Mellark. Olho para o local, reconhecendo cada detalhe. Peeta estava dando um duro danado, pois o local estava ainda mais reerguido que ontem. Ele estava mesmo trabalhando enquanto eu só continuava a lamentar meu azar de continuar viva. Esta era a maior causa da minha vergonha. A minha cena de bebedeira não conseguia combater isso. Adentro o local e noto os cantos sujos, o teto ainda desconstruído, os escombros acumulados e, de alguma forma, a porta que dá para os fundos que já estão suficientemente reconstruídos a ponto de abrigarem um forno. Sei disso porque Peeta está fazendo pães e distribuindo-os por aí, inclusive para mim. Lembro-me desse gesto como um dos mais carinhosos que já tive em minha vida. Novamente lamento por ter cuspido no amor que o garoto do pão tinha por mim. E novamente penso em como perdi tudo isso.

– Katniss! – ouço a voz e passos rápidos atrás de mim. Aquela presença ingênua só podia pertencer à mesma pessoa que fizera Peeta se recuperar no Distrito 13. – Que bom que você está aqui!

– Delly – digo girando meu corpo e pondo-me a encará-la. Ali está ela, bonitinha e meiga como sempre. Eu nunca faria frente a isso tudo. Peeta estava com ela e ponto final.

– Veio ver Peeta? Ah, quando ele não vem aqui assim que alguém entra é porque está pintando ou fazendo algum desenho. Não se preocupe. Ele não deve demorar nada. – Ela diz entrando e me dando um abraço. Fico com o corpo rígido e sinto novamente meu sangue borbulhar. Temo falhar em esconder isso de Delly, mas ela é inocente demais para perceber minhas reações hostis. – Quer que eu o chame?

– Não precisa. – Respondo sinceramente após ela me soltar do abraço. Cruzo meus braços na frente do peito e dou um sorriso torto.

– Ora, não seja boba. Ele ficará todo feliz porque você está aqui. – Ela diz e por um minuto fico confusa. Imagino se eles estarão mesmo juntos e se nada disso fora uma história inventada pela minha cabeça.

Delly some nos fundos da padaria e eu fico lá fora, imóvel. Sinto meu corpo enrijecer com a possibilidade de ela e Peeta não estarem namorando. Não consigo descrever a sensação, mas sei que já a senti antes. Como quando observei o broto de dente-de-leão na floresta ontem de manhã. Sim. Esperança. Um tanto irônico sentir isso a essa altura, quando quase tudo está perdido. Uma pontinha de esperança é saudável, mas um gole demasiado pode ser veneno. Acho que é isso que chamam de expectativa. Ouço os passos se aproximando e a porta se abre, saindo de lá um Peeta sorridente e uma Delly saltitante. Ele me olha surpreso e com aquela mesma feição serena de sempre. Faço menção de dizer algo, mas não consigo. Fico apenas ali, sem nada a falar e cometendo gafes como sempre.

– Que surpresa você aqui – ele diz sorridente. Vejo a farinha espalhada pelo seu corpo e um pano depositado acima de seu ombro largo. Esqueci que Peeta é forte, e por um minuto admirei seu corpo de maneira descarada. Para minha sorte, nem ele nem Delly perceberam isso.

– É só que... – fale. Ele está te olhando. Fale. – Eu... Não queria jantar sozinha hoje.

Soou mais frio do que eu queria, mas pelo menos consegui falar. Ele franziu a testa e percebi que Delly deu um risinho. Ela saiu de perto dele e foi para os fundos, deixando-o encafifado e olhando-a enquanto se afastava. A reação dela foi a prova: Peeta e Delly Cartwright não estavam namorando e eu fui uma idiota. Ela ainda fez questão de nos deixar a sós para marcarmos um jantar que parecia bem romântico. Peeta estava visivelmente sem jeito e sem palavras – eu fico surpresa por vê-lo assim. Ele me encara, com um leve rubor nas bochechas, dá um sorriso tímido e responde com segurança, apesar da visível falta de jeito:

– Sim, claro. Quer que eu vá lá a que horas?

– Tanto faz. Pode ser assim que sair daqui – digo sorrindo timidamente. Sinto um estranho frio na barriga. Não é algo incômodo, mas me deixa desconsertada o suficiente para permanecer em silêncio assim que digo isso.

– Quer que eu leve algo? – ele pergunta arqueando a sobrancelha.

– É melhor. Não há nada muito comestível lá em casa. A não ser que queira cozinhar Buttercup – brinco. Ele ri e faz “não” com a cabeça. Há muito tempo espero pela nossa reaproximação. E vejo, finalmente, que o menino do pão estava de volta. Só não sei se ele ainda me amava. Precisava ter certeza disso. Por algum motivo que ainda não consigo explicar.

– Então até mais tarde – ele diz sorrindo. Sorrio de volta e aceno positivamente, enquanto ele se retira para os fundos.

Saio da padaria e me lembro que Delly estava nos fundos com Peeta de novo. Sinto meu sangue borbulhar, mas isso não importa muito. O frio na barriga é melhor. É gostoso. Caminho sentindo uma leveza nas minhas pernas, tanto que fico desengonçada demais. Demoro demasiadamente até chegar a minha casa. Subo para o meu quarto e deito na cama, tentando descansar e ver se recobro os movimentos das pernas. Acho que o cansaço proveniente da noite mal dormida me deixara descoordenada. Deve ser coisa da bebida, também. Mais um motivo para nunca mais ingerir álcool. Nem percebo quando adormeço e tenho um pesadelo perturbador: cada pessoa que morreu por minha causa me enterra numa cova, jogando cinzas do Distrito 12 sobre meu corpo e minha boca, impedindo que eu pudesse gritar. O pior de tudo era ver Prim ali, junto às pessoas a me enterrar enquanto eu suplicava por ajuda. Finnick, Prim, Madge, Cato... Todos estavam ali para me atormentar. Acordo com meus próprios gritos e sinto as lágrimas descerem meu rosto. Assusto-me com a figura de Peeta aparecendo na porta, com uma feição preocupada e acolhedora.

– Katniss? – ele pergunta aproximando-se rapidamente de mim. – Está tudo bem?

Entrego-me às lágrimas e o abraço. Abraço o mais forte que posso, sem querer soltá-lo de forma alguma. Sinto suas mãos me envolverem e me apertarem contra seu corpo. O calor dele me invade e aos poucos me acalma, como se fosse o melhor dos remédios do mundo. Finalmente me lembro das noites no trem e no meu quarto no Centro de Treinamento. Redescobri o motivo de querer ele ao meu lado naquelas noites, pois só assim eu conseguia me acalmar. Aos poucos minha respiração fica mais controlada e posso ao menos recuperar a voz, a ponto de podermos conversar tranquilamente. A única coisa que sai da minha boca é:

– Fica comigo aqui, por favor.

Vejo a expressão de Peeta assumir uma forma suspeita. Sinto novamente que ele pode não me amar mais, só que eu precisava dele. Ele era o único que me entendia de verdade e o único cujos braços me tiravam a dor que os pesadelos causavam. Depois ele sorri e eu sinto o frio na barriga de novo. Gostoso como antes. Não consigo sorrir, mas sinto as minhas bochechas queimarem e percebo que sou mais garotinha do que gostaria.

– Por quanto tempo? – ele pergunta se levantando.

– Não sei. Por quanto tempo quer ficar? – perguntei sem me importar de fato com sua pergunta. Só não tive coragem de dizer que não queria que ele fosse embora alguma hora.

– Eu vou na minha casa pegar algumas roupas, então. Tudo bem? – ele diz e eu confirmo. Fico feliz por saber que ele vai ficar aqui e que terei o conforto dos braços dele para me acalmar.

Peeta sai pela porta do meu quarto dizendo que voltaria logo. Suspiro profundamente e me sento na beirada da cama, pensando em tudo o que acontecera até ali. Só soube da volta dele ontem, e agora já estou aqui exigindo demais dele. Tiro uns fios de cabelo da frente dos meus olhos, tentando sarar a minha visão falha e buscando algo que me deixe menos culpada por não ser suficientemente boa para o garoto do pão. Mesmo assim, com todo esse constrangimento e culpa, uma felicidade que há muito não sinto invade meu corpo por saber que ele estará comigo e que não ficarei sozinha. Pode até parecer egoísmo da minha parte, uma pessoa como eu que não merece nada de bom, ter alguém como Peeta para me acalentar. Talvez eu não seja tão azarada assim e possa até mesmo agradecer a vida pela segunda chance, muito embora a ausência de Prim ainda faça com que um pedaço de mim se sinta triste demais para seguir em frente. Agradeço minha mãe em silêncio pelo conselho de procura-lo e penso no quanto foi fácil. Eu esperava um grande desafio, ainda mais vindo de uma pessoa como eu que não sabe medir as palavras.

Noto que estou com as costas apoiadas na cabeceira da cama. Ele já deve ter saído há uns vinte minutos. Está demorando demais. Será que desistiu? Não. Ele não pode. Saio às pressas de casa nem me preocupando com meus calçados. Vou até sua casa e bato na porta. Nada. Começo a sentir o desespero subir pela minha garganta. Não conseguiria dormir sozinha, não depois daquele pesadelo horrível de Prim, Finnick e todos os outros tributos me enterrando naquela cova. O que eu mais odiava era o subsolo, daquele jeito então só ficava pior. Bato na porta mais altivamente e nada.

– Peeta! – grito.

Nada. Nada. Nada. Abro a porta bruscamente e procuro por algum sinal dele na sala. Subo as escadas e vejo a porta do seu quarto entreaberta. Aproximo-me cautelosamente, esperando que ele estivesse ocupado ou algo do tipo, mas tudo o que percebo é silêncio absoluto. Imagino se ele tenha desistido de ficar comigo, afinal não me ama e não queira mais minha presença. Pode não estar namorando Delly Cartwright até o momento, mas estaria logo em seguida. Os pensamentos me invadem à medida que me aproximo da porta de seu quarto e, quando a toco, sou assustada por ele fechando-a bruscamente.

– Não Katniss! Não se aproxime! – ele gritou.

Sou empurrada pela pressão da porta. Ouço uns batidos agudos, deixando-me nervosa. Só podiam ser os flashes atormentando-o. Será que ele me atacaria? Será que ainda existiria uma possibilidade de o Peeta telessequestrado voltar e tomar o garoto do pão de mim? Isso era pior do que ficar sozinha em minha casa com o pesadelo de todos que morreram me jogando numa sepultura. Encosto-me na parede e deslizo até o chão, esperando que as batidas do outro lado da porta se cessem e com esperança de que Peeta abra a porta com a mesma expressão de sempre. Sendo ele, não uma máquina. Demorou um tempo até que ele abrisse a porta com uma expressão envergonhada e razoavelmente cabisbaixo. Suspiro e o encaro, perguntando mentalmente o que tinha acontecido.

– São os flashes. Eles vêm com uma quantidade de dor que não consigo suportar sempre. Não que eu fosse atacar você, mas é que eu não queria que você me visse relutando e tendo convulsões – ele explica fechando a porta atrás de si e boto os olhos na sua mala. Ele ainda viria comigo e estava bem. Como ele costumava ser. Deixo o alívio irradiar meu interior e então me levanto preocupada.

– Há alguma chance de você se perder? – pergunto desesperada para ter a certeza de que ele nunca mais deixaria de ser o Peeta que eu gosto. Ele sorri de um jeito brincalhão.

– Não. Eu me lembro de tudo. – Fico parada assimilando aquilo. Então todas as memórias dele haviam voltado, mas ele se corrige. – Bom, quase tudo. Algumas coisas ainda ficam confusas e certas memórias falsas me invadem, mas nada que eu não consiga lidar atualmente. Acho que melhorará ainda mais com o tempo.

Aceno afirmativamente e ele me convida para ir à minha própria casa. Pelo jeito o nosso jantar seria pães de queijo com frango assado. Nunca imaginei que carne assada seria tão prazeroso. Há tanto tempo Greasy Sae me entope com caldos que eu me esquecera como é a sensação de ver a carne queimada de fora para dentro. Ela fica seca e umedece apenas na boca. Não que a comida que Greasy Sae prepara seja ruim, mas que há muito eu ansiava por algo diferente. Peeta é um ás na cozinha em todos os sentidos e penso, por um instante, que se ele vier ficar comigo para sempre eu poderia muito bem me acostumar. Não consigo ainda identificar o motivo de tais pensamentos, mas eles não me incomodam. Aliás, nada parece me incomodar. Eu nunca estive me sentindo tão bem desde que voltei para o Distrito 12. A sensação de estar viva me invade e eu recebo novos estímulos, novos desejos... Olho para o sorriso de Peeta, para seu queixo, para seus ombros... Lembro-me de seus beijos quentes, de seus abraços e suas palavras aconchegantes. Cada risada que eu dei durante o nosso jantar foi absurdamente sincera. Com ele não preciso mais fingir, pois não há câmeras e não preciso bancar Katniss: a garota em chamas apaixonada pelo garoto do pão. Não preciso bancar porque eu sou Katniss a garota apaixonada pelo garoto do pão. Não sei quando aconteceu, mas agora eu tenho certeza. E sei que o frio na minha barriga também não é à toa.

– E então, onde eu posso dormir? – ele pergunta ainda terminando de rir da sua última piada. Penso um pouco a respeito disso, não porque eu tivesse alguma dúvida, mas porque era difícil para eu falar.

– Você pode dormir no meu quarto. – Digo tentando não dar muita importância, mas isso sai de um jeito mais tímido do que eu mesma pensei.

Peeta fica encabulado. Ele não me contraria nem diz nada. Sei que no fundo ele se sente confuso quanto a tudo isso tanto como eu, mas isso provavelmente indica que ele ainda me ama. Levanto-me da minha cadeira e caminho até ele, tentando ter no mínimo convicção do que fazer ao invés de apenas falar – sei que sou um desastre nisto, então me focarei em agir. Quando chego perto dele, vejo seu corpo se enrijecer e tomar uma postura defensiva. Não que ele tivesse medo de mim, mas que provavelmente estava despreparado para o que eu fosse fazer. Neste momento eu sei que ninguém está preparado para isso, a gente simplesmente faz e tenta não se arrepender depois. Mas pela maneira com que meu coração batia, eu tinha certeza que arrependimentos estavam fora de questão.

Toco o rosto dele e vejo-o fechar os olhos. Sinto apenas sua respiração acariciar meu rosto, quando aproximo nossos lábios e eles se tocam. Foi muito tímido e simples a princípio, mas aos poucos o beijo se intensificou e ele já acariciava minha bochecha. O frio na minha barriga ficou intenso, e eu sabia que queria mais a partir dali. Era algo sem volta, e se fosse para ter segurança seria desse jeito. A certeza de que eu quero Peeta Mellark é o que me guia nesse instante. Se eu pensar demais corro risco de desistir e desistir não é uma opção. Ele separa os nossos lábios e por um minuto eu tenho medo de ele recuar, de não me querer e até mesmo ir embora. Tenho medo também da pergunta que ele pode fazer. Se eu tenho certeza. Ele sabe muito bem que eu sou ruim com as palavras, e talvez eu responda algo que ele interprete mal e tudo vá por água abaixo. Mas ao invés disso, ele apenas diz:

– Vamos pro seu quarto, então.

Meu coração acelerou mais ainda. Peeta se levantou e me beijou de novo, de forma que me deixou arrepiada. Toco os braços dele e peço por mais, querendo que ele me envolvesse e deixando, pela primeira vez na vida, que eu fosse vulnerável e ele pudesse me proteger. Caminhamos desajeitadamente, ora beijando ora respirando, até a escada. Ele não me carregou, apenas deixou que eu o guiasse pelos degraus até a porta do meu quarto. Tropeçamos e ele me prensa na parede, ainda com seus lábios colados aos meus. O calor de seu corpo e gosto da sua boca anestesiaram o choque do meu corpo contra a madeira, então eu apenas agarrei seu pescoço implorando por mais daquilo. Aquele sentimento que me trazia vida. Que me fazia ficar cheia de desejo e vontade. Então ele me carregou por uma pequena distância, deixando que eu caísse na cama e distribuindo uns beijos no meu pescoço. Arrepiei-me toda e baguncei seus cabelos, sussurrando seu nome entre suspiros. Aquilo o motivou ainda mais e, por fim, começou a me despir. Eu o ajudei e inclusive despi ele também. E foi então que aconteceu. Deixamos que nossos desejos nos guiassem e que a certeza não nos trouxesse arrependimentos ou questionamentos. Eu, pelo menos, busquei a mesma essência que me fez viver até agora. Descobri que o que eu precisava não era do fogo de Gale, aceso com raiva e ódio, pois eu mesma já tinha muito disso. Peeta, por outro lado, era vívido e radiante como o sol do entardecer, e generoso e doce como um dente-de-leão na primavera. E era isso que me fazia não apenas sobreviver, mas viver também. Tenho certeza de que nunca esquecerei das dores que os Jogos Vorazes me deixaram, tampouco as perdas que a guerra me trouxe. Sei que minha irmã e os outros tributos me visitarão nos pesadelos, mas Peeta Mellark estará comigo a cada manhã para me lembrar das coisas boas e me fazer ter a certeza de que os pesadelos são só os fantasmas que querem nos atrapalhar com suas mentiras. Isso conforta minha alma. Então, durante a madrugada, enquanto ele acaricia meus cabelos e respira suavemente em minha testa, ele pergunta com um tom ainda mais sereno na voz:

– Você me ama: real ou não-real?

– Real. – eu digo.

E nos beijamos novamente. E nos unimos novamente. E no outro dia acordamos juntos, acalmando um ao outro dos pesadelos e fazendo ter certeza que, mesmo nas piores manhãs, a gente ainda pode dar um sorriso de satisfação. É disso que eu mais preciso. É por isso que eu amo Peeta.


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Notas finais do capítulo

Novamente digo que falhei em escrever no ponto de vista da Katniss. Mas, fazer o quê... Como interpretar o ponto de vista de uma mulher tão autêntica? Eu pelo menos não tenho uma experiência assim. No mais, espero que tenham gostado até agora :)



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