Um engano do destino? escrita por Natallya Lopes


Capítulo 3
Capítulo 3




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Ao entrar no quarto do Sr. Weasley, Hermione sentiu o perfume de flores. Sem dúvida a notícia de que ele se encontrava lá já tinha sido espalhada, porque vários arranjos haviam sido trazidos, e uma enorme cesta de frutas estava perto do armário.

Qual desses presentes seria o mais querido? Será que Lilá Brown também enviara o seu?

Pare com isso!, ordenou a si mesma. Não é da sua conta! Porém olhou ao redor e viu que muitas cadeiras tinham sido colocadas ali, denotando visitas. Quanto às roupas que trouxera e o próprio Sr. Weasley, não se encontravam mais.

Ansiosa, Hermione saiu do quarto, e se dirigiu à enfermaria. En­tretanto, antes que lá chegasse, um grupo animado de pessoas veio em sua direção, e ela teria passado por elas, se não tivesse reparado, no centro do burburinho, o homem alto e moreno que usava o roupão e o pijama que comprara no dia anterior.

Seus olhares se cruzaram, e Hermione sentiu o impacto dos olhos cinzentos, que a deixaram paralisada. Não importava que ti­vesse curativos na fronte e na linha do queixo, pensou. O rosto viril era muito bonito. Aliás, Ronald Weasley era lindo da cabeça aos pés!

Quando percebeu que as demais pessoas também haviam se detido e a fitavam, sentiu as faces em fogo. Percebeu que pre­cisava dizer alguma coisa.

— Muito prazer, sou Hermione Granger.

— A moça de quem Lilá nos falou — disse o mais velho do grupo, com forte sotaque texano. Se não tivesse descoberto a confusão, a família ainda estaria em busca de Ronald. Estamos em dívida com a senhora. — Estendeu a mão. — Sou Arthur, pai de Ronald. Esta é minha esposa, Molly, nossa filha Gina, e Jorge. Temos mais um filho, Fred, que está de férias com a esposa. O marido de Gina não pôde vir.

Todos a cumprimentaram, e Hermione sentiu um ridículo alívio, ao saber que Gina não era a esposa de Ronald. Ora! Não era da sua conta se ele tinha mulher, noiva ou amante!

Jorge também estendeu a mão, com um sorriso provocante nos lábios, o que a fez lembrar de Victor, que sabia ser atraen­te para as mulheres. Percebia que Ronald devia ter por volta de trinta e cinco anos, e Jorge era mais jovem. Os dois se pareciam muito com a bela Molly, e Gina herdara as feições do pai, com cabelos louros.

A Sra. Weasley perguntou num tom de voz atencioso:

— Seu marido está bem?

É meu ex-marido, pensou Hermione, mas respondeu:

— Creio que sim, mas ainda não o encontrei.

Não podia acreditar que Victor abandonara a namorada grávida, prestes a dar à luz. Sem dúvida logo apareceria.

Evitando fitar Ronald, tratou de dar uma desculpa para ir embora e não atrapalhar a reunião familiar.

— Agora que o Sr. Weasley já reencontrou vocês, deve estar desejando se deitar. Muito prazer e adeus.

— Não se preocupe com Ronald — replicou o pai. — Ele é duro na queda. Mas como o médico explicou que é seu primeiro dia fora da cama, acho que a senhora tem razão.

Ao encaminhar-se para o elevador, Hermione ouviu um gemido sufocado, forte o suficiente para ser detectado em todo o andar, porém não se deteve. Já se sentia muito ligada a Ronald Weasley, sem saber por que, e não pretendia continuar passando o tempo em sua companhia. O melhor a fazer era voltar ao hotel e esperar notícias do capitão Rúbeo Hagrid.

— Sra. Krum? Espere, por favor!

Ela acabara de chegar ao térreo, quando Jorge a interceptou.

— Se me permite a brincadeira, a senhora corre mais que uma égua antes de um ciclone! Se não fosse pelo outro elevador, não a teria alcançado. Meu irmão quer que volte.

— Farei mais uma visita antes de regressar para os Estados Unidos.

— Não adianta. Ronald está muito ansioso. Se não voltar agora, vai ficar furioso.

— Diga-lhe que virei mais tarde, quando não estiver com a família. Não quero ser intrusa.

— Já estamos aqui há seis horas, e a família nunca ficou toda reunida por tanto tempo.

Hermione achou graça, e Jorge tratou de continuar:

— Conheço meu irmão, e sei que, se pudesse falar, nos teria posto para fora daqui dez minutos depois de chegarmos. Detesta ver todo mundo falando ao mesmo tempo, e todos os Weasley são tagarelas. Estará fazendo um grande favor se concordar em ser dama de companhia por mais um pouco. — Baixou o tom de voz de modo confidencial: — Mamãe se sente segura com a senhora, porque foi muito elogiada pela equipe do hospital. As­sim poderemos sair por uma hora e comer alguma coisa.

Hermione podia imaginar que, tendo voado para o Equador às pressas, os parentes de Ronald deviam estar exaustos e com fome.

— Muito bem, voltarei, mas não posso ficar por muito tempo.

— Que bom! Faremos qualquer coisa para acalmar nosso irmão mais velho!

Entraram no elevador, e Hermione perguntou:

— Quando a esposa do Sr. Weasley virá?

— Isso é o que todos se perguntam, desde que Ronald saiu de casa para cuidar da própria vida, há anos.

— Quer dizer que está separado da esposa?

— Quero dizer que não existe uma esposa, mas evite comen­tar isso com ele.

— Por quê?

— É um assunto proibido para Ronald, que vive me ridiculari­zando porque me casei. Porém como já me divorciei, agora não perde ocasião de me atirar isso no rosto.

— Tem filhos, Jorge?

— Graças a Deus, não. Da próxima vez que me casar, quero estar seguro de que será com a pessoa certa.

— Seus outros irmãos são felizes no casamento?

— Creio que sim. E você?

Por sorte tinham chegado ao sexto andar, e Hermione viu-se livre de dar uma resposta. Era melhor não fazer muitos comentários sobre Victor.

Ao entrarem no quarto, viu Ronald sentado na beira da cama, circundado pelos familiares. Assim que a viu, Molly Weasley sorriu, aliviada.

— Que bom que voltou! Ronald ficou tão perturbado quando desceu no elevador, que mandei Jorge buscá-la. Por favor, fi­que e converse com ele. — Voltou-se para o doente, que tinha uma expressão aborrecida no rosto semi-enfaixado. — Querido, iremos agora para o hotel Ramada, e voltaremos mais tarde.

Todos se despediram e foram saindo, menos Jorge.

— Também está no Ramada, Sra. Krum?

— Não, no Ecuador Inn.

— Podemos trazer algo para a senhora quando voltarmos.

— Muito obrigada, Jorge, mas não será preciso.

— Certo. Espero vê-la depois.

Quando o rapaz saiu, Hermione apoiou a bolsa sobre a mesa, e voltou-se para o homem que tanto a perturbava.

— Tem uma família maravilhosa, porém precisa descansar um pouco. Parece exausto. — Segurou-o pelas pernas, sem ce­rimônia. — Vamos lá! Vou ajudá-lo a se deitar.

Ele obedeceu, soltando um suspiro satisfeito. Hermione o cobriu com o lençol.

— Pronto!

Ronald segurou-lhe o pulso com os dedos que já podia mover sem as bandagens.

— Tem algo a me dizer, Sr. Weasley? E sobre Victor? Ele aquiesceu com um gesto de cabeça.

— Que bom! Ninguém o vê há quatro dias, nem seu chefe nem a jovem grávida com quem está vivendo. Ela terá a criança em breve, e precisa de Victor ao seu lado.

Ronald largou-lhe o braço e apontou para o criado mudo, mas Hermione só viu flores e sua bolsa.

— Oh! Percebo o que quer que eu faça.

Retirou uma caneta da bolsa e o envelope onde guardava a passagem aérea de volta.

— Pode escrever aqui, mas não o faça se isso lhe causar dor. Podemos brincar outra vez com o alfabeto.

Ronald soltou um rugido abafado que, sem dúvida, queria dizer não.

Então ela apoiou o envelope sobre sua perna dobrada, e ele escreveu sem grande dificuldade.

"Victor bateu com a cabeça no barco e ficou desacordado. Morreu no mar com mais dois homens. Quis lhe dizer isso na primeira noite em que a vi. Desculpe."

Hermione engoliu em seco.

— Victor...

Lágrimas quentes começaram a escorrer de seus olhos, e Ronald segurou-lhe o braço de novo, tentando confortá-la. Quando seus olhos se encontraram, Hermione percebeu o motivo da tristeza em seu olhar.

— Presenciou o afogamento? — murmurou. Ele acenou que sim.

— Que coisa triste! E Victor morreu sem conhecer o bebê! Parvati vai ficar inconsolável.

Com surpreendente rapidez, Ronald se apossou de novo da caneta e escreveu:

"É provável que o bebê não seja dele".

— Isso foi também o que o capitão Rúbeo Hagrid disse. Parvati lhe contou que mora com Victor há alguns meses.

"Trabalhava na empresa há quatro meses", escreveu Ronald.

— Será que os dois já se conheciam?

"Emprego anterior em Baton Rouge, Louisiana".

— Duvido que Parvati tenha estado na Louisiana. Deus! Nem quero pensar no que pode acontecer quando ela souber da morte de Victor. Tive dois abortos, porém no início da gravi­dez, e...

De repente sentiu os dedos longos e quentes sobre sua mão, em um gesto de consolo e compaixão, e uma enorme emoção a dominou. Tratou de se controlar.

— Sua empresa possui regras sobre os funcionários serem casados?

Ronald acenou de modo negativo.

— Não entendo por que Victor alegou ser ainda meu marido. Ele voltou a escrever.

"Faço uma idéia. Contarei quando puder falar".

Hermione sentiu um súbito remorso. Esquecera-se do quanto Ronald Weasley precisava de apoio. Devia estar sentindo muita dor, depois de escrever tanto.

— Desculpe, Sr. Weasley. Tenho certeza de que o movimento deve fazer mal para sua mão queimada. Receio que o tenha deixado exausto com minhas perguntas. Vou deixá-lo repousar, e voltar para o hotel. Preciso telefonar para o capitão Rúbeo Hagrid e minha família. — Guardou a caneta e o envelope na bolsa. — Posso fazer mais alguma coisa pelo senhor?

Ele tentou falar, e o som pareceu expressar seu desejo de que ela voltasse. Hermione percebeu que sua garganta começava a apresentar melhoras, e isso a alegrou.

— Voltarei amanhã. Trate de melhorar e dormir. Ao virar-se para sair, o telefone tocou.

— Pode deixar que eu atendo. Alô?

— Gina? — perguntou uma voz feminina.

— Não. HerHermione Granger.

— Oh! Aqui é Lilá Brown.

— Como vai? A família do Sr. Weasley já chegou, e está hos­pedada no Ramada.

— Sei disso. Fiz as reservas. Só fiquei surpresa em saber que você ainda está aí.

— Estava de saída para o hotel. Deseja falar com o Sr. Weasley?

— Sim, por favor — replicou Lilá com voz aborrecida. Hermione colocou o fone junto ao ouvido de Ronald, que fez um gesto de repúdio, fazendo-a desejar nunca ter atendido o telefonema.

— Lilá? O Sr. Weasley está... com muita dor, e não pode atender.

Ouviu um estalido seco, e a ligação foi cortada. Voltou-se para Ronald.

— Sem dúvida Lilá Brown ficou desapontada. Creio que tentará falar com o senhor amanhã. Agora vou embora.

Ele não tentou impedi-la dessa vez. Sabia que Hermione já não amava o marido, porém o amor existira um dia, e devia estar muito chocada. Algumas lembranças nunca desapareciam. En­tretanto, quando ela foi embora, pareceu que a luz desaparecia do quarto. Ronald sentiu-se vazio e frustrado. HerHermione Krum, não HerHermione Granger era, sem dúvida, a mulher mais sensacional que já conhecera, e cada vez mais ansiava por sua presença. Quando lhe falara dos abortos, tivera ímpetos de tomá-la nos braços e consolá-la.

Enquanto isso, Hermione fora falar com uma das freiras para que tomasse conta de Ronald Weasley, e voltara ao hotel. Ao entrar no quarto, telefonou de imediato para o capitão Rúbeo Hagrid, mas foi a secretária eletrônica quem atendeu.

Deixou as informações que recebera, e telefonou para a mãe.

— Hermione, querida! Que bom que ligou! Encontrou Victor? Sem poder responder, prorrompeu em um choro convulso e, quando se acalmou, relatou o que soubera, omitindo Parvati.

— Vou encontrá-la aí, querida. Não deve ficar sozinha.

— Agradeço, mamãe, mas a senhora não tem um passaporte, e só entrei no país porque pensavam que eu fosse casada com Victor e me concederam um visto de emergência.

— Então como ajudá-la, querida?

— Caso encontrem ou não seu corpo, voltarei para casa ama­nhã. Aí conversaremos.

— Mas você está de coração partido...

— Não, apenas triste pela morte de meu ex-marido. Creio que Victor nunca chegou a conhecer a felicidade.

Entretanto, quem sabe, Parvati o fizera feliz, refletiu consigo mesma.

— Bem, agora ele está em paz.

— É verdade, mamãe, e só isso me conforta. Pode contar a Luna? Telefonarei amanhã e avisarei a que horas chegará meu vôo.

— Deus a abençoe, meu bem.

Hermione relanceou um olhar para o relógio de pulso. Três horas e dez minutos. Se fosse ao apartamento de Victor, não pegaria muito trânsito.

Retirou uma garrafa de água mineral do frigobar, e colocou na bolsa. Então o telefone tocou.

— Sra. Krum? Aqui é Jorge Weasley. - Hermione sentiu um baque no coração.

— Seu irmão piorou?

— Não que eu saiba. Meus pais desejam saber se pode jantar conosco. Minha mãe soube que foi a senhora quem comprou as roupas novas para Ronald, e essa é sua maneira de agradecer.

Hermione sentiu um profundo alívio.

— Muito gentil, mas não posso. Ficarei ocupada o resto da tarde e da noite.

— Deseja companhia?

Hermione estranhou a insistência, e de repente lembrou—se de Lilá Brown. Será que a secretária se sentia ameaçada e pe­dira para Jorge vigiá-la?

— Fala espanhol, Jorge?

— Eu e toda a família. É preciso, no Texas.

Caso aceitasse sua companhia, teria de lhe fazer algumas confidências, refletiu Hermione, mas não tinha importância. Jorge também se divorciara e entenderia o problema, além de afastar os temores de Lilá e servir-lhe de intérprete. Rezou para encontrar Parvati no apartamento.

— Se não se importa, Jorge, gostaria que me ajudasse.

— Ótimo! Quando posso buscá-la?

— O mais rápido possível.

— Certo. Estarei em um Land Rover com o logotipo da Weasley Corporation.

Assim que desligou, Hermione comeu um bolinho que trouxera da rua, a fim de recuperar as forças. Lavou o rosto, escovou os cabelos, e aplicou batom nos lábios.

Sentindo-se mais apresentável, deixou o quarto, e dirigiu-se ao banco do hotel. Trouxera mil dólares consigo, e ainda possuía o bastante até voltar para casa.

Não importava o que o capitão Rúbeo Hagrid dissera. Parvati Rosário precisava de ajuda, e Victor já não vivia. A jovem estava para ter um filho e, talvez de maneira ridícula e ilógica, sentia-se um tanto responsável, mesmo sem saber se Victor era o pai.

Jorge teria que falar depressa com Parvati, antes que ela batesse com a porta no seu nariz outra vez.

Quando chegaram ao prédio, quarenta e cinco minutos de­pois de Jorge apanhá-la na porta do hotel, Hermione explicou a situação.

— É admirável ver uma mulher divorciada disposta a ajudar outra pessoa em tais circunstâncias — comentou ele.

Mas Hermione sabia que a alavanca que a movia era o fato de ter perdido duas crianças na gravidez, e na ocasião tivera o apoio da família, o que não acontecia com Parvati.

— Estou acostumada a resolver problemas de outros no meu trabalho — apressou-se a dizer. — Mas obrigada pelo elogio. Vamos entrar?

Jorge deixou seu chapéu de caubói no carro, e encaminha­ram-se ao apartamento de Victor.

Dessa vez, quando Parvati entreabriu a porta com a proteção da corrente, Hermione pôde ver seu rosto sulcado por lágrimas re­centes. Fitou Jorge, pedindo ajuda, e o rapaz começou a falar em espanhol.

Hermione soube o momento exato em que revelou a morte de Victor, porque Parvati prorrompeu em um choro convulso. Instantes depois, ergueu o rosto e encarou Hermione.

— O que disse a ela, Jorge?

— Que estava muito triste com a situação, porque já foi ca­sada com Victor.

— Diga—lhe, por favor, que vim aqui para que não se preocupe com dinheiro, e lamento não poder lhe oferecer mais.

Enquanto Jorge explicava, estendeu quinhentos dólares pa­ra a moça, que dessa vez aceitou, segurando as notas com mão trêmula.

Em um gesto generoso, Jorge também sacou o talão de che­ques, e fez uma contribuição significativa.

— Aceite isso da parte da Weasley Corporation, señorita.

— Gradas, señor. — Parvati fitou Hermione com doçura. — Muchas gracias, señora.

— Jorge, por favor, diga-lhe que se precisar de alguma coi­sa, poderá me contatar por meio do capitão Rúbeo Hagrid, na central de polícia. Estou rezando por ela e pelo bebê.

Assim dizendo, anotou o número do telefone e entregou a Parvati.

Quando voltaram ao carro, Jorge esperou que Hermione enxu­gasse as lágrimas.

— Sempre se envolve emocionalmente com estranhos, Sra. Krum?

— Claro que não. E pode me chamar de Hermione

Ele deu partida no motor.

— Então por que comprou roupas novas para Ronald e por que ele ficou desesperado quando a viu ir embora? Não procedeu como o homem que conheço.

— Talvez porque quase perdeu a vida no acidente que matou meu ex-marido, e está impressionado.

— Isso não é próprio do meu irmão. Até Lilá comentou com Fred que estava surpresa pelo modo como se interessa por Ronald.

— Porque ela está apaixonada por ele.

Hermione mordeu o lábio ao perceber o que dissera sem pensar.

— Como percebeu isso?

— Instinto, Jorge.

Hermione ansiava por perguntar se Ronald Weasley também estava apaixonado pela secretária, mas não ousava, e Jorge não parecia disposto a satisfazer sua curiosidade. Então mudou de assunto:

— Não sei como agradecer sua gentileza.

— Pode jantar comigo.

Hermione achou que devia estar pensando em uma refeição com a família.

— Obrigada, mas o capitão Rúbeo Hagrid pode me telefonar a qualquer momento. Quero saber se recuperaram o corpo de Victor.

Jorge estacionou em frente ao hotel.

— Se precisar de mais alguma coisa ligue para o hospital. Estarei com Ronald.

— Tenho certeza que está contente de ter a família perto nesse instante. — Hermione desceu do carro. — Obrigada de novo.

— Estou disposto a ajudar muito mais, se me deixar. Dessa vez não havia como não perceber a insinuação, e Hermione lembrou-se do homem com quem jantara fora em Lead, na noite em que recebera o chamado de Lilá Brown. Ambos eram divorciados, ansiosos para encontrar alguém para amar, porém ela não era a pessoa certa.

— Já me ajudou o suficiente com Parvati Rosário, Jorge.

— Então nos veremos amanhã — disse ele, recolocando o chapéu de caubói.

Hermione afastou-se, sem dar uma resposta. Embora tivesse prometido a Ronald Weasley que voltaria no dia seguinte, a razão lhe dizia que não era uma boa idéia. Tudo estava ficando muito complicado.

Era melhor voltar o quanto antes para sua vida em Dakota do Sul. Quando mergulhasse no trabalho, não teria mais tempo de lembrar como apreciara a breve amizade com o homem en­faixado, no pouco tempo em que ele não tivera identidade, nem título, família ou uma secretária chamada Lilá Brown.

Vinte minutos após chegar ao hotel, Hermione já falara com Rúbeo Hagrid, que obtivera o nome e endereço do pescador, mas até o momento a polícia não conseguira falar com o homem. Só haviam encon­trado alguns destroços de madeira que podiam pertencer ao barco.

Quanto às outras duas vítimas mencionadas pelo Sr. Weasley, não eram funcionários da empresa, e a única pessoa dada como desaparecida fora Victor. Isso complicava ainda mais o caso.

Dependendo das correntes marinhas, vários dias ou semanas passariam para que os corpos aparecessem, e talvez isso nunca acontecesse.

Rúbeo Hagrid disse que desejava visitar o Sr. Weasley no hospital nessa mesma noite, e pediria que escrevesse o que mais sabia sobre o acidente, caso não estivesse sentindo muitas dores. Seu testemunho era vital.

Hermione concordou e, antes de desligar, disse ao capitão que nada mais a prendia em Guayaquil, e que pretendia voltar aos Estados Unidos pela manhã. Se surgisse alguma novidade, ele poderia contatá-la pelo telefone em Lead.

Em seguida Hermione ligou para a agência de viagens, e pediu confirmação no vôo para Atlanta que partiria pela manhã, às nove e quarenta e cinco.

Pediu o jantar no quarto, e ligou para a irmã.

— Está encarando a morte de Victor muito bem — comen­tou Luna.

— Talvez porque sei que alguém esteve ao seu lado e o amou até o fim. Parvati é muito jovem, e percebe-se que o idolatrava. — Engoliu uma garfada de salada. — É ela quem me dá mais pena.

— Fez o que era possível, Hermione. Não creio que muitas ex-esposas se dariam ao trabalho que teve, e entregariam dinheiro à amante do ex-marido!

— Parvati vai ter um bebê.

— Que não é de Victor!

— Sei disso, mas Victor a sustentava.

— Tem um coração de manteiga, mana! Agora me fale do dono da Weasley Corporation. Como é ele?

— É difícil dizer. Ainda está enfaixado e não pode falar.

— Então como soube a respeito de Victor?

— É uma longa história e ainda não sei de todos os detalhes. — Hermione não ousava contar que brincara com Ronald como brincava com a irmã na infância, adivinhando palavras. — Conseguimos nos comunicar, e ele escreveu algumas coisas.

— Pensei que estivesse com as mãos queimadas.

— Só as palmas.

— Que estranho pensar que foi procurar seu ex-marido e encontrou outro!

— Nem me fale.

— Como foi que percebeu que não se tratava de Victor?

— Quando tiraram a máscara de oxigênio, pude ver seus olhos. São cinzentos, e não azuis. — Hermione não se sentia à von­tade com aquela conversa. — Luna, preciso desligar. Esse tele­fonema vai custar uma fortuna. Vejo você e mamãe amanhã.

— Mal posso esperar! Quero saber de todos os detalhes. Va­mos esperá-la no aeroporto de Rapid City. Faça boa viagem!

Hermione tomou banho e fez a mala antes de se deitar, mas não conseguiu conciliar o sono.

Aborrecida por ficar remoendo momentos que deveria tentar esquecer, acabou por ligar a televisão. Havia uma revista de turismo sobre o criado-mudo, com todos os lugares onde comer e fazer compras em Guayaquil, e ela leu até adormecer.


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