Um engano do destino? escrita por Natallya Lopes


Capítulo 2
Capítulo 2




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Buenas tardes — saudou Mione — Habla inglês?

A outra balançou a cabeça em negativa, sem parecer muito feliz com a intrusão, e Mione precisou se apoiar no curso de três meses de espanhol que fizera.

— Por favor, donde está Victor?

A mulher respondeu muito depressa, e Mione não compreen­deu. Tentou de novo.

— Quiero hablar con Victor.

Houve mais uma torrente de palavras, e a jovem grávida fechou a porta no seu nariz, fazendo com que Mione concluísse que, se Victor estivesse ali, teria vindo averiguar o que estava acontecendo.

O fato de a mulher grávida parecer zangada e não desespe­rada fez com que acreditasse que o ex-marido estava bem. Aliás, a bela sul-americana devia estar no seu aguardo, e não gostara de ver uma estranha aparecer a sua porta sem aviso.

Apenas o ciúme poderia ter feito com que reagisse com tanta rudeza, refletiu Mione. Era bem possível que Victor nunca ti­vesse mencionado a ex-esposa para a jovem, e por certo não esperava vê-la bater a sua porta em Guayaquil, tão distante de Dakota do Sul.

Mione apressou-se a voltar para o táxi e rumou para a cidade outra vez. No caminho, pediu que o motorista parasse em um mercado perto do hospital San Lorenzo. Precisava fazer umas compras.

Presumindo que no momento Victor estivesse fora de pe­rigo, seus pensamentos convergiram para o estranho no leito do hospital. Quem seria? O desespero e a dor que vira nos olhos cinzentos do homem iriam persegui-la por um bom tempo.

Que apavorante despertar em um local estranho, e ver-se incapaz de esclarecer que não era quem os outros pensavam! Talvez tivesse uma esposa que, nesse instante, estaria deses­perada, sem saber onde o marido se encontrava ou se ainda vivia. Até que um parente ou amigo viesse vê-lo, Mione decidiu ficar ao seu lado. Era o mínimo que podia fazer.

Uma hora e meia mais tarde, irrompeu hospital adentro com os braços carregados de sacolas de compras e chegou ao andar costumeiro quando vários enfermeiros se apressavam em servir o jantar para os pacientes. Um dos funcionários ofereceu-lhe uma bandeja com comida, que ela aceitou de bom grado, em seguida entrando no quarto.

— Olá! — saudou em voz baixa para não assustá-lo.

O estranho ergueu a mão esquerda retribuindo o cumpri­mento, Mione colocou suas compras no chão, sentou-se com a bandeja do jantar, e principiou seu relato.

— Fui à delegacia e expliquei a situação. Depois peguei um táxi para a Weasley Corporation, e andei tão ocupada que es­queci de comer. Só tomei café hoje cedo. Estou faminta! Espero que não se importe de me ver jantar na sua frente. Se o odor o incomoda, faça um sinal com a mão, e irei comer lá fora.

Ele nada fez, e Mione concluiu que a comida não o aborrecia.

— Quando me disse que sabia onde Victor estava, pedi à recepcionista da Weasley que me fornecesse seu endereço. De­pois, peguei outro táxi e fui até seu apartamento, e encontrei uma mulher lá. A julgar por seu adiantado estado interessante, parece que Victor e ela estão morando juntos há algum tempo.

Sons indecifráveis saíram da garganta do estranho.

— Ela não ficou nada feliz de me ver bater na sua porta. Tentei me comunicar em espanhol, mas a moça falava depressa demais, e não compreendi nada do que dizia. Mais tarde ten­tarei entrar em contato com Victor por meio de alguém do escritório que o conheça pessoalmente. Nesse meio tempo, gos­taria muito de ajudá-lo, senhor, no que precisar.

Depois de terminar a refeição, Mione disse:

— Um certo capitão Rúbeo Hagrid, da delegacia, vai trabalhar no seu caso. Ele não ouviu falar de nenhum acidente marítimo, entretanto, com as informações que lhe dei, disse que em breve terá novidades. Mas se não der notícias nas próximas horas, tenho uma idéia. Já que o médico vai tirar as bandagens de suas mãos amanhã, quem sabe poderá escrever seu nome e telefone, se não for muito doloroso.

Fez uma pausa, e fitou a figura inerte sobre o leito.

— Dependendo de sua mobilidade, talvez possa também es­crever onde Victor está. Desvendaremos esse mistério de um jeito ou de outro.

Mione colocou a bandeja sobre a mesa, ansiosa por fazer algo para alegrar o pobre homem.

— Farei a massagem nas suas pernas.

Assim dizendo, pegou a loção, e começou o trabalho.

— Quando era criança, li um livro chamado O Homem Invi­sível, sobre um cientista que descobriu um modo de desapare­cer. Enrolava-se como uma múmia, de modo a se tornar visível para os outros, mas de vez em quando um cachorro ou um gato corria atrás dele nas ruas, e puxava as bandagens. As pessoas gritavam de medo, ao ver que não havia ninguém debaixo delas. — Mione riu. — Adoro ficção científica de todo o tipo, e essa história em particular me impressionou muito. Quando entrei aqui ontem e o vi, lembrei-me do livro de minha infância. Gra­ças a Deus que pude ver seus olhos! Diria que é uma mistura de O Homem Invisível e A Múmia.

Refletiu se não estaria sendo inconveniente com o pobre su­jeito mas, após espalhar um pouco mais da loção em suas per­nas, continuou:

— Ouviu falar desse filme antigo? É sobre um guarda do faraó que ousou amar sua rainha. Foi punido, tornando-se uma múmia viva. Fico arrepiada só em lembrar!

Um leve gemido partiu da cama, e Mione não soube como interpretar.

— Se estou fazendo cócegas, desculpe.

Quando terminou com uma das pernas, deu a volta na cama e principiou a massagear a outra, refletindo como era estranho se sentir tão à vontade com uma pessoa desconhecida. A semi-escuridão no quarto criava uma aura de intimidade no ato de massagear o homem.

Na verdade, pensou Mione, era mais fácil fazer aquilo com um estranho do que seria com Victor. A animosidade e o res­sentimento atrapalhariam o relaxamento.

— Não faço a menor idéia de qual seja sua nacionalidade. É óbvio que entende inglês, porém pode ter nascido em qualquer lugar do mundo. É possível que não conheça Dakota do Sul, nos Estados Unidos. Moro lá, em uma pequena cidade chamada Lead, perto do Monte Rushmore. Logo que me formei fui tra­balhar no Departamento de Turismo local. — Sorriu para o homem. — Devia ser apenas um emprego temporário, até que encontrasse trabalho como professora, mas tudo se tornou tão interessante, que continuo até hoje.

Mione terminou a massagem, e voltou a cobri-lo com o lençol.

— Minha mãe também mora em Lead, assim como minha irmã Luna, que se casou há três meses. Ela já está grávida. Meu casamento com Victor fracassou... bem, essa é a história da minha vida. — Sorriu, fitando os olhos cinzentos que não a deixavam. — Sem dúvida devo tê-lo entediado com minha con­versa, mas como não há televisão no quarto...

Olhou em volta, na tentativa de descobrir mais alguma coisa que o distraísse, e deparou com um jornal do dia sobre uma cadeira.

— Lerei as manchetes de hoje, e espero que desculpe minha pronúncia em espanhol.

Lavou as mãos, e colocou a cadeira perto da luminária na parede. Abriu o jornal, e começou:

— Este é El Telegrafo. Vejamos... "Mediante oficio enviado ai Presidente dei Congresso..."

Leu mais algumas linhas e, para sua surpresa, viu que o corpo na cama começava a estremecer, como se estivesse tendo uma convulsão. Alarmada, Mione saltou da cadeira e aproximou-se da cabeceira.

— O que houve? Precisa do médico? Ele balançou a cabeça em negativa.

— Está com frio? Outra negativa.

Mione o observou por um instante.

— Está rindo?

Dessa vez o aceno foi positivo, fazendo-a sorrir também.

— Meu espanhol é assim tão fraco?

De novo a resposta foi sim.

— Mentiroso!

Mione estava adorando a conversa unilateral, como se de fato se entendesse muito bem com o estranho.

— Fico contente por vê-lo rir, mas talvez não seja convenien­te. Pode soltar algum ponto no rosto. Quando sua esposa souber que está aqui, tenho certeza que virá correndo para rever o homem bonito com quem se casou.

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Não seja modesto. Posso ver seus olhos, lembra? E tem pernas bonitas.

O corpo voltou a estremecer de riso.

— Creio que uma moça daqui diria muy guapo, e tenho cer­teza que é isso que é: um homem muito bonito.

Pegou os pacotes que trouxera embrulhados em papel de presente.

— São para você. Achei que iria preferir usar algo elegante para ver sua família. Calculo que tenha mais ou menos um metro e noventa de altura, portanto comprei este pijama azul-marinho e um roupão. Lamento se não são do seu gosto, mas com sua pele bronzeada vão ficar muito bem. — Mione desem­brulhou outro pacote. — Também escolhi estas sandálias de couro que devem ser do tamanho certo.

Ergueu todas as compras para que ele pudesse ver bem.

— Sempre pensei que roupas novas animam as pessoas. — Consultou o relógio, e suspirou. — Lamento que o capitão Rúbeo Hagrid ainda não tenha telefonado. Por certo não conseguiu novas in­formações. Mas não desanime. Quem sabe? Amanhã, quando voltar aqui, talvez encontre este quarto cheio de parentes e amigos seus. Por falar nisso, é melhor que durma agora. Está ficando tarde.

Ele deixou escapar outro gemido esquisito, e sacudiu a cabeça.

— Qual o problema? Não quer que vá embora? Ele fez um aceno, concordando.

— Então... deseja que fique para ajudá-lo a passar o tempo? A resposta afirmativa a deixou feliz. Era agradável sentir-se necessária.

— Bem, posso ficar mais um pouco, mas não se surpreenda se uma das freiras entrar aqui e me mandar embora. Vou guar­das suas roupas novas no armário.

Segundos depois, sentou-se ao lado da cama.

— Tive outra idéia. Por que não fazemos uma brincadeira? Com a ponta do dedo vou escrever algo na sua perna... O nome de um continente! E você me dirá se estou certa a respeito de sua nacionalidade. Acene quando acertar, está bem?

Sem esperar por resposta, ela descobriu—lhe uma das pernas e começou a desenhar as letras da palavra "Europa". Porém, quando terminou, ele permaneceu estático.

— Errei? Que tal isto?

Com o dedo, Mione escreveu "América do Sul". Nada.

Então foi a vez de "América do Norte", o que provocou um aceno positivo do homem.

— É norte—americano? Ora! Deveríamos ter feito esta brin­cadeira antes! Também trabalha para a Weasley Corporation?

Outro aceno positivo.

— Muito bem. Agora quero saber seu nome. Recitarei o al­fabeto, e quando disser á letra correta, você ergue a mão de leve. A... B...F.R

O estranho ergueu a mão direita, repetindo o gesto nas letras O e N.

— Seu nome é Ron! Apelido de Ronald? Ele balançou a cabeça de modo

— Vamos saber seu sobrenome.

Mione reiniciou o processo e, ao final do alfabeto, ele soletra­ra... Weasley.

— E uma coincidência ter o mesmo nome da empresa em que trabalha? — perguntou, espantada.

Não, replicou ele na sua linguagem muda.

— Quer dizer que... é o dono.

Ronald aquiesceu, fitando-a. Os olhos muito azuis de Mione o faziam lembrar das flores que surgiam em seu rancho do Texas, na primavera. Ela era adorável, com seus cabelos louros e a boca pequena em forma de coração.

— Se isso é verdade — continuou Mione —, como é possível que não tenham dado por sua falta até agora? O capitão Rúbeo Hagrid não mencionou nada sobre o desaparecimento do dono da Weasley. Não faz sentido! Mas também é irrelevante no momento. O que importa é que está vivo e irá se restabelecer. Chamarei Lilá Brown e avisarei que está aqui.

Não! Lilá não!, pensou ele. Soltou um gemido, e ergueu a mão mas, infelizmente, seu anjo não estava prestando atenção nesse instante.

Estupefata com a descoberta, Mione agarrou a bolsa para pro­curar pelo telefone da secretária, correndo para o aparelho no criado-mudo.

— Lilá Brown — disse uma voz, quando soou o sexto toque.

— Aqui é Mione Krum.

— Olá. Como vai seu marido?

— Creio que bem, mas ainda não o vi. Estou ligando por outro motivo.

— Parece agitada. O que houve?

— Acontece que o homem que alegaram ser meu marido é outra pessoa, que machucou a garganta, não consegue falar, e está com o corpo todo enfaixado. Entretanto fiz uma descoberta. Seu nome é Ronald Weasley.

Após um longo silêncio, Lilá exclamou, tão abalada quan­to Mione:

— Ron é o paciente?!

— Sim. Preciso avisar a polícia, mas achei melhor falar com você primeiro, para que avise a família e os funcionários. Ele está no hospital há quatro dias, mas só nas últimas horas con­seguiu mover um pouco a cabeça e as mãos.

Ron percebeu o tremor na voz do anjo, e isso o comoveu.

— Por favor, Sra. Krum, conte-me a verdade. Como ele está?

Mione apertou o bocal do telefone. Lilá Brown parecia estar reagindo como se fosse...

— Vai ficar bem, segundo disseram os médicos.

Mione fez um rápido relato do que o Dr. Dumbledore lhe dissera.

— Graças a Deus não morreu! — exclamou a secretária do outro lado da linha. — Vou informar sua família agora mesmo.

— Diga que está no hospital San Lorenzo, quarto 621. Não adianta telefonar porque ele não consegue falar. Porém tenho certeza de que Dr. Dumbledore prestar os escla­recimentos necessários.

— Pode colocar o fone junto ao ouvido de Ron, por favor? — pediu Lilá com voz trêmula. — Queria lhe falar.

A mulher estava apaixonada, refletiu Mione.

— Sim, é claro. — Voltou—se para o paciente. — Sr. Weasley?

Ron sentia-se desconfortável. Agora que ela já conhecia sua identidade, não haveria mais a agradável intimidade de antes.

— Lilá Brown deseja lhe falar.

Sim, pensou Ronald. Lilá não tinha vergonha de usar as pessoas para seus propósitos, porém nada podia fazer a respeito nesse momento, e precisava aceitar.

Com cuidado Mione encostou o fone em seu ouvido, desviando o rosto para outro lado, de maneira discreta. A jovem era mesmo um encanto, refletiu Ronald.

— Ronald? Espero que possa me ouvir. Graças a Deus está vivo! — disse Lilá em tom choroso. — Há mais de uma semana, tento entrar em contato com você. Quando não respondeu meus telefonemas, percebi que algo estava errado. Mas pensei que estivesse zangado por causa da carta que lhe escrevi.

Enojado seria a palavra certa, pensou Ronald.

— Assim que desligar, avisarei Fred para que se comu­nique com seus pais. Por certo irão levá-lo para Houston a fim de se recuperar. Gostaria de tomar essas providências, mas sei que ainda não tenho esse direito.

Ainda?!

— Oh, Ronald! Mal posso esperar para revê-lo. Sei que cometi um grande erro, mas não acha que já fui punida o suficiente?

Suas lágrimas não fizeram efeito em Ronald, muito cons­ciente do perfume de pêssegos que a mão de Mione exalava. Adorara a massagem que lhe fizera.

— Por favor, Ronald — continuou Lilá. — Vamos consertar a situação. Sempre o amei, sabe disso. Há tanto a dizer...

Aborrecido, Ronald ergueu a mão esquerda, para que Mione com­preendesse que desejava encerrar o assunto. Era ele quem ti­nha informações para dar a respeito de seu ex-marido, e pre­cisava ficar bom logo.

Mione pegou o fone de volta.

— Lilá?

— Ainda não terminei — vociferou a outra.

— Lamento, mas o Sr. Weasley fez um sinal de que está can­sado. Talvez seja melhor ligar de novo amanhã.

Ronald acenou, dando a entender que ela dissera a coisa certa.

— Acha que ele me ouviu? — perguntou a secretária ainda com a voz chorosa.

— Sim, é claro.

Existia algo entre os dois, pensou Mione, mas não era da sua conta.

— Obrigada por telefonar. Informarei todos os interessados. E espero que tudo esteja bem com o seu esposo.

— Sim, fico-lhe muito grata, Lilá.

Desligou, e pegou a bolsa, provocando logo um outro gemido de protesto em Ronald.

— Preciso voltar ao hotel e ligar para o capitão Rúbeo Hagrid.

O movimento da cabeça enfaixada foi tão decidido que Mione conseguiu perceber a autoridade do Sr. Weasley.

— Já se agitou demais para uma só noite, e precisa repousar. — Voltou a colocar as roupas novas sobre a cadeira, para que as enfermeiras as vissem. — Direi aos médicos quem você é, e deixarei o número do telefone de Lilá com eles. Durma bem, Sr. Weasley.

Não vá, implorou Ronald em pensamento.

Ela não ousaria ficar, embora desejasse. Aquele estranho relacionamento já se tornara exagerado, e sentia uma ilógica afinidade em relação ao homem cujo rosto desconhecia. Sentira isso na primeira vez, quando fitara os tristes olhos cinzentos, e algo lhe dizia que precisava parar com aquela intimidade.

Mil perguntas bombardeavam seu cérebro. Será que Ronald Weasley era casado? Lilá Brown o amava? Seria ele um mu­lherengo como Victor?

Precisava escapar do hospital e daquela história que não lhe dizia respeito. Não havia motivo para visitá-lo de novo, refletiu. Fizera tudo que estava ao seu alcance, e na manhã seguinte ele estaria recebendo as atenções de seus familiares e amigos.

O mistério terminara. Agora só lhe restava procurar por Victor em seu local de trabalho, inteirar-se de sua saúde, e vol­tar para Lead.

Depois de informar às enfermeiras de plantão que estava indo embora, deixou o hospital e retornou para o hotel. Lá chegando, ligou para o capitão Rúbeo Hagrid, mas foi atendida por uma gravação.

Deixou o recado sobre Ronald Weasley, e explicou que não en­contrara Victor em seu endereço. Se o capitão soubesse do paradeiro de seu ex-marido, agradeceria qualquer informação.

Em seguida ligou para a irmã Luna e contou-lhe as novida­des, omitindo a forte impressão que o Sr. Weasley lhe causara. Avisou que voltaria dentro de vinte é quatro horas e desligou.

Com medo de ficar pensando no homem enfaixado no San Lorenzo, tratou de ler um livro que trouxera, mas não conseguiu se concentrar na leitura. Por fim, ligou a televisão e acabou por adormecer.

Só acordou às oito e meia da manhã seguinte, ao som do telefone.

— Senhora Krum? Aqui é o capitão Rúbeo Hagrid. Mione sentou-se na cama de modo brusco.

— Sim, capitão.

— Obrigado pela informação sobre o Sr. Weasley. Ele é uma pessoa muito importante. Se a imprensa tivesse tomado co­nhecimento do fato, seria a manchete dos jornais. A senhora nos poupou uma grande confusão. Conseguiu falar com seu ex-marido?

— Não, mas o Sr. Weasley deu a entender que ele não está hospitalizado. Pretendo procurá-lo hoje em seu local de trabalho e caso não o encontre, gostaria de lhe pedir um policial para me acompanhar ao apartamento e servir de intérprete. Tenho certeza que a mulher que encontrei lá poderá dar informações sobre Victor.

— Se for preciso, irei pessoalmente, señora.

— Obrigada. Manterei contato.

Depois de um farto café da manhã, Mione rumou para o es­critório da Weasley, e encontrou a mesma recepcionista. Após expor seu caso, a moça balançou a cabeça.

— A área de trabalho do seu marido é muito distante daqui, e é difícil obter respostas rápidas. Vou verificar se foi traba­lhar hoje, e então poderei lhe dar as diretrizes para chegar ao endereço.

Enquanto esperava, Mione não pôde deixar de pensar se o quarto de Ronald Weasley já estaria cheio de visitas nessa manhã.

Imaginava como ele seria sem as bandagens, entretanto talvez fosse melhor que permanecesse como seu amigo fantasma. O homem sem rosto, a não ser pelos lindos olhos cinzentos.

Fora através de seus olhos que conseguira ver sua alma, refletiu. Mas se revelasse esse pensamento para a irmã, seria chamada de ridícula, e talvez fosse verdade.

— Senõra Krum?

Voltando ao momento presente, Mione fitou a recepcionista.

— De acordo com o supervisor de seu marido, ele não com­parece ao trabalho há quatro dias, e talvez tenha abandonado o emprego porque andou tendo problemas.

Isso não surpreendeu Mione nem um pouco.

Agradeceu, e pediu à moça que ligasse para o capitão Rúbeo Hagrid. Cinco minutos mais tarde, já tinha combinado de encontrá-lo na porta do escritório para irem ao apartamento de Victor.

Uma hora mais tarde, Rúbeo Hagrid estacionou na frente do prédio, e pediu:

— Fique no carro. Se achar conveniente, virei chamá-la.

— Está certo, capitão.

Quinze minutos se passaram até ele voltar.

— Seu ex-marido não estava lá. A mulher se chama Parvati Rosário, e disse que moram juntos há quatro meses, desde que ele conseguiu o emprego na Weasley. Parece que Victor saiu para trabalhar há quatro dias e não voltou para casa. Ela disse já estar acostumada com suas ausências, mas que nunca ficou tanto tempo longe. Confessou que quando a viu bater à porta ontem, pensou tratar-se da esposa de Victor. Ele lhe contou que a senhora não queria lhe dar o divórcio.

Sim, pensou Mione, era o mesmo velho Victor, sempre men­tiroso. Por certo não queria se comprometer com Parvati, e inventara essa história.

— Expliquei a Parvati que vocês dois já estavam divorciados — prosseguiu Rúbeo Hagrid — e agora ela pensa que Victor partiu com outra. Entretanto, tem certeza que voltará, porque está entusiasmado com o bebê que deverá nascer no próximo mês.

— Assim espero. Infelizmente meu ex-marido não é uma pes­soa muito confiável. Parvati tem parentes?

— Não.

— Então precisamos encontrar Victor de qualquer manei­ra, capitão.

— Parece que no momento quem mais sabe a respeito de seu ex-marido é o Sr. Weasley.

Mione suspirou.

— Creio que tem razão. Voltarei a procurá-lo.

— Enquanto isso, mandarei alguns de meus homens ao local de trabalho de seu ex-marido.

— Certo. Mas preciso conversar com Parvati um momento. Sem esperar por uma resposta, Mione desceu do carro e foi bater à porta do apartamento outra vez.

Quando Parvati abriu, esforçou-se para se fazer entender, e explicou que tinha dinheiro para emprestar, caso ela precisasse. Porém a outra ergueu o queixo, de maneira orgulhosa, e recusou.

Mione tratou de guardar os dólares que tirara da bolsa, e voltou para o carro.

— E uma pessoa bondosa, señora Krum — disse Rúbeo Hagrid — mas acho que foi um erro oferecer dinheiro a Parvati.

— Bem, se estivesse no lugar dela, aceitaria, porque talvez Victor não apareça logo.


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