Gênova, Itália

Ronald consultou o relógio de pulso. Passava das cinco horas da tarde. Abandonou a caneta e levantou-se. Deixou o escritório, e rumou para o condomínio.

Durante duas horas esperara ver Hermione entrar em sua sala, e contar, animada, sobre as compras que fizera.

No início do dia fora para terra firme na companhia de Parvati, para comprar mais algumas coisas para a creche que a jovem mãe dirigia com duas profissionais.

Segundo Hermione, os brinquedos italianos eram lindos, e resol­vera tirar a amiga da pequena Rosita, sua filha, por algumas horas.

Com todas as unidades e todos os condomínios já vendidos, a creche e o jardim de infância fervilhavam de crianças.

Mas Ronald detestava ficar separado da esposa, mesmo que por algumas horas. Era ridículo, porém sentia uma falta enorme de sua presença. Tudo ficava sem graça quando não via o rosto adorado da esposa, e ela prometera se ausentar apenas pela manhã.

Por certo perdera a noção do tempo em meio ao comércio deslumbrante de Gênova, ponderou. Porém o que o surpreendia é que não tivesse telefonado.

Pretendia levá-la também a Florença e Veneza, para uma segunda parte da lua-de-mel em terra firme. No dia seguinte fariam quatro meses de casados.

Tomariam o café da manhã a bordo, e depois desceriam do navio. Um carro alugado estaria à espera, e iriam para uma pensão charmosa nas colinas da Toscana, a fim de se esconde­rem do mundo por vários dias e noites. Poderiam sair um pouco para ver a paisagem, mas isso seria tudo. O resto do tempo permaneceriam entre os lençóis, nos braços um do outro.

Ronald não sabia se um dia teriam filhos, mas o importante era o amor que dedicavam um ao outro. Quando julgassem que chegara a hora, poderiam conversar sobre ter um bebê. Sorriu ao lembrar que já tinham comprado um cachorrinho.

— Hermione! — chamou, ao entrar no apartamento.

Mas ninguém respondeu, então Ronald rumou para o banheiro a fim de se preparar para o jantar. Estacou em frente da porta do quarto, ao ver um bilhete pendurado.

"Pare! Vá para o quarto de hóspedes. Encontrará roupas sobre a cama. Espero no quarto."

Ronald queria rir, mas a excitação e curiosidade falaram mais alto, e tratou de obedecer. Tomou banho no banheiro de hóspedes, e vestiu o roupão novo que encontrou sobre a cama. Era de seda com motivos egípcios, e um imenso desejo físico principiou a dominá-lo. Aquilo parecia um ritual erótico.

Quando por fim bateu três vezes na porta da suíte principal, Hermione respondeu com fingida voz solene:

— Se não for para me dar todo amor, pode ir embora! Hoje quero celebro o milagre da vida.

Ante essas palavras, Ronald sentiu um estremecimento, e re­solveu entrar na brincadeira.

— Estou aqui para lhe Amor.

— Então pode entrar.

Mas nada o preparara para a surpresa que teve ao ver o quarto cheio de flores e Hermione deitada na cama com um roupão idêntico, mais bela do que nunca.

Quando ele se deitou ao lado e tentou abraçá-la, a esposa mostrou-lhe uma pequena caixa.

— Abra.

Ronald levou alguns segundos para perceber que se tra­tava de um teste de gravidez e, pela cor, era positivo.

— Querida! Tomarei conta de você! Nada de mau acontecerá ao bebê.

— Já estou no terceiro mês de gravidez, meu bem, e a pior fase passou.

— Hermione! Manteve isso em segredo por tanto tempo assim?

— Por favor, não se zangue.

— Não estou zangado, mas muito feliz, e surpreso.

— Não notou certas mudanças? Ele sorriu com malícia.

— Sim, notei que ganhou alguns quilinhos nos lugares certos.

— Aliás, logo a campainha irá tocar para trazerem nosso jantar.

— Mas... logo. Quero aproveitar que estamos aqui juntos, na cama...

— Não há pressa, querido. Temos a vida toda pela frente.