Um engano do destino? escrita por Natallya Lopes


Capítulo 10
Capítulo 10




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Era difícil Hermione ficar sem palavras, mas trinta milionários de todas as nacionalidades, chefes de empresas fabulosas, permaneciam educadamente à espera de seu discurso, sentados em volta da mesa de reuniões.

Quando descobrira falhas nas regras do Atlantis, jamais pensara que poderia magoar Ronald, então compreendeu que essa fora a maneira que ele encontrara para assustá-la. Fazer com que expusesse suas idéias na frente de todas aquelas pessoas importantes!

Nada melhor do que atirá-la para os leões e ficar sentado, observando-a tentar se salvar, pensou Hermione, sentindo um estremecimento percorrer-lhe o corpo.

Mas só havia uma coisa a fazer. Expor seu caso da maneira mais profissional possível. Detestaria envergonhar o marido, porém quando saísse da sala de reuniões a primeira coisa que faria seria a mala e providenciar um vôo que a levasse para o aeroporto mais próximo. Dali rumaria para Lead, Dakota do Sul.

Ronald não estava em condições de se divorciar, preocupado com o início das viagens do Atlantis, então apenas iria embora. Ele poderia dizer a todos que sua mãe estava doente, e que a esposa precisara se ausentar.

Infelizmente teria que deixar para Ronald o problema de Parvati, mas no momento nada podia fazer.

Tomou fôlego, e começou:

— Bom dia, senhores. Fui pega de surpresa, porque meu ma­rido pediu que falasse sobre temas que discutimos em particular.

Todos riram, e já que estava de costas para Ronald, foi mais fácil prosseguir:

— Como sou uma recém-casada, sonho com uma família gran­de e animais de estimação. Porém soube das regras do Atlantis, e da restrição às crianças pequenas. Isso me deixou triste.

Dezenas de olhos a fitaram de modo intenso, e Hermione engoliu em seco, rezando para dizer as palavras certas.

— O que disse a meu marido foi que, se quiséssemos comprar uma unidade de um dos fabulosos condomínios residenciais do Atlantis, desistiria por causa dessas restrições. É óbvio que, quando planejaram as regras, não tinham em mente casais co­mo nós, entretanto a minha opinião é que, se suspenderem cer­tas proibições, todos os apartamentos serão vendidos bem de­pressa, tenho certeza.

Fez uma pausa e, como o silêncio imperasse na sala, passeou o olhar pelos presentes.

— Disse o que pensava, mas espero não tê-los ofendido. — Colocou a mão sobre o ombro do marido. — Vejo-o mais tarde, querido.

O silêncio a acompanhou quando deixou a sala.

A reunião de diretoria terminou às cinco horas da tarde, e Ronald rumou para casa.

— Hermione? — chamou ao entrar.

Porém ela não estava no apartamento. Frustrado, pensou que fora ao hospital. Se bem conhecia a esposa, teria ficado a tarde toda admirando o bebê. Entretanto, para sua surpresa, as enfermeiras disseram que não a tinham visto por lá.

Talvez estivesse no seu escritório, ocupada com a decoração. Mas ao chegar lá, Ronald o viu vazio, e uma terrível sensação de perda o possuiu. Rumou para a sala de John Regan.

O rapaz levantou-se assim que o viu.

— Sr. Weasley?

— Procuro minha esposa. Por acaso a viu?

— Não. Na verdade fui até seu escritório algumas vezes para saber se precisava de ajuda, mas não a encontrei. Já tentou o hospital? A Sra. Weasley estava preocupada com a moça que teve o bebê.

— Obrigado pela sugestão — rosnou Ronald entre os dentes cerrados.

Hermione podia estar em dezenas de lugares diferentes no enor­me navio. Só havia uma coisa a fazer. Enviar uma mensagem pelos alto-falantes.

Em questão de minutos isso foi feito, mas mesmo assim Hermione não entrou em contato com o marido. Só restava a Ronald voltar para casa e esperar. Quando estava para entrar no elevador, seu celular tocou.

— Hermione?

— Lamento, Sr. Weasley. Aqui fala Les Cramer, do heliporto. Sua esposa voou para terra ao meio-dia.

O coração de Ronald quase parou.

— Com este tempo?

— O helicóptero foi para El Cerita. Dependendo do tempo, continuará até Guayaquil, ou irá esperar.

— Entre em contato com o piloto já, e me deixe falar com ele!

— Sim, senhor.

A recente experiência do desastre no mar fazia Ronald tremer da cabeça aos pés. Se algo acontecesse a Hermione...

— Sr. Weasley? Entrei em contato com Jim Nash, o piloto. Pode falar.

— Jim?

— Sim, Sr. Weasley.

A voz do piloto parecia vir de longe, e havia muita estática.

— Ainda está em La Cerita?

— Sim, senhor. Decidi esperar até amanhã. Sua esposa pe­gou um táxi para o Hotel Flores.

— Graças a Deus! Fiquem aí até receber novas ordens.

— Sim, senhor.

— Les?

— Estou aqui.

— Quero o melhor piloto para voar até o aeroporto mais próximo do Atlantis.

— Deixe-me ver... Pode ir até San Cristobal.

— Ótimo! De lá irei de carro até La Cerita. Diga ao piloto para se preparar.

— Sim, senhor.

O piloto Jim Nash informara Hermione que La Cerita era um vilarejo com trinta mil habitantes, e fez reservas no hotel que costumava receber turistas norte-americanos.

Por causa do mau tempo, Jim recusara-se a continuar o vôo, embora Hermione tivesse implorado.

Jantara sozinha no restaurante do hotel, e depois fora para o quarto preparar-se para dormir. Imaginava que o piloto só entraria em contato na manhã seguinte.

Por sorte conseguira sair do Atlantis. Depois da terrível ex­periência na sala de conferências não conseguira enfrentar Ronald de novo.

Assim que chegasse em Lead, tomaria as providências para anular o casamento. Seu relacionamento com Ronald Weasley fora um encontro fugaz, uma brincadeira do destino. Por um curto espaço de tempo houvera uma conexão mística entre os dois, criaturas que procuravam conforto mútuo depois de expe­riências traumáticas.

Porém essa afinidade não durara. Ronald tinha seus sonhos e ela não podia arruiná-los com suas idéias. Observou a aliança que trazia no dedo. Deixara os outros anéis que Ronald lhe dera sobre a cômoda do quarto de hóspedes no condomínio, e era assim que precisava agir.

Decidiu ligar para Luna, mas nesse momento alguém bateu na porta do quarto.

— Jim?

— Não. Sou eu, Ronald. Abra, Hermione. - Ela ficou estática.. Não podia ser! Após um breve silêncio, o marido disse:

— Devo chamar o gerente para abrir essa porta?

— Não! Já vou.

Com mãos trêmulas, Hermione se aproximou, e abriu com difi­culdade. Ronald entrou como um raio, fazendo-a pensar que não conhecia aquele homem de olhar irado, que tremia de emoção, ódio, ou fosse lá o quê.

Respirava com dificuldade, e seu rosto estava contorcido em uma expressão estranha, os cabelos despenteados.

Sem saber o que dizia, Hermione murmurou:

— Jim achou perigoso continuar o vôo.

— Como pode ver, consegui chegar até aqui.

Com gesto rápido, ele a puxou para si, fitando-a, e Hermione reteve a respiração.

Era o mesmo olhar do hospital, dolorido e ansioso, que a fizera tocar sua alma em uma afinidade instantânea. Isso tam­bém acontecia nesse instante.

— O que foi? — gritou, agoniada.

— Por que abandonou o navio?

Era a hora da verdade. Melhor pôr tudo para fora e terminar com o pesadelo, refletiu Hermione.

Com lágrimas nos olhos, murmurou:

— Porque compreendi que estou sendo um estorvo em sua vida.

Um gemido doloroso partiu da garganta de Ronald.

— De onde tirou essa idéia, pelo amor de Deus?

— Fui atirada aos lobos esta manhã, e com razão! Depois do modo como o magoei expondo minhas idéias, a única coisa que poderia fazer era sumir da sua vida.

— E como acha que me magoou? Diga! — rosnou Ronald, aper­tando-lhe os braços com mãos de ferro.

— Na nossa noite de núpcias ridicularizei seu sonho. Recebi tudo de você e...

O choro não a deixou prosseguir, e Ronald a apertou de encontro ao peito.

— Só disse o que sempre pensei, desde que comecei a idea­lizar o Atlantis quando era um menino de escola. Mas quando seu sonho precisa de outros para apoiá-lo, é preciso fazer con­cessões. Tentei me iludir pensando que as regras que os outros impuseram eram boas, mas no íntimo sabia que não era assim. Sua coragem apaixonada me deu forças para lutar também pelo que é melhor.

Hermione fungou, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Então... no fundo compartilhava minhas idéias?

— Transformou minha vida, Hermione. Assim que soube que era divorciada, ainda deitado no hospital, dei graças a Deus. Porque me apaixonei por você à primeira vista.

— Verdade?

— Sim, meu amor. E me senti culpado por amar uma mulher que tentava desesperadamente encontrar o ex-marido. No mo­mento em que lhe dei o anel de noivado, o Atlantis poderia zarpar sem minha presença, que não me importaria. Só quero ficar ao seu lado.

— Meu amor! — exclamou Hermione, enlaçando-o pelo pescoço. — Amei-o desde o primeiro instante em que fitei seus olhos sob as bandagens! Queria amenizar seu sofrimento, e apertá-lo nos braços. E nem sabia se tinha mulher e filhos! Amo-o mais que tudo.

Ronald inclinou a cabeça e beijou-a com fúria. Os braços fortes a carregaram para a cama.

— Faz idéia do quanto é linda? De como ansiei por fazer amor com você?

Depois de tanta paixão reprimida as palavras não conse­guiam dizer tudo, e Hermione precisava mostrar o quanto o deseja­va.

Ante o toque das mãos fortes, seu corpo explodiu de sensua­lidade. Enlaçando as pernas e braços, ambos deixaram que um fogo intenso os consumisse.

O tempo parara, e não sabiam onde estavam. Só o amor importava e a satisfação de um desejo que parecia extravasar de cada poro dos corpos apaixonados.

–--

Quando o telefone tocou, Hermione gemeu, aborrecida. Após uma noite gloriosa de amor, adormecera nos braços do marido, e não desejava que perturbassem seus momentos.

Mas o telefone continuava tocando.

Percebeu que Ronald suspirava, irritado, antes de erguer a mão para o fone. Atendeu com voz gutural, enquanto ela acariciava seus cabelos com paixão.

Após um minuto ele resmungou:

— Tudo bem.

Desligou, voltou-se, e beijou-a com carinho, fazendo-a corres­ponder de modo impetuoso, sem timidez, porque depois da noite anterior, ambos conheciam cada detalhe de seus corpos, e an­siavam por desfrutar de mais.

Em breve suspiravam de prazer, um nos braços do outro, quando de súbito Ronald se afastou e sentou na cama.

— Querido, o que foi? É o ombro?

— Não. Foi Jim quem telefonou, mas em seguida esqueci de tudo quando a vi ao meu lado. Disse que temos chance de voltar para o navio se sairmos logo. Senão precisaremos esperar mais vinte e quatro horas.

— Onde está o seu piloto?

— Em San Cristobal.

— Oh, Ronald! Estou sempre lhe causando problemas! - Ele a fez calar com um beijo.

— É melhor não fazermos Jim esperar.

Com grande esforço, Hermione se desprendeu dos braços amados e correu para tomar um banho. Ronald a seguiu, fechando-se no banheiro com a esposa.

Hermione corou.

— Se ficar aqui, temo que não sairemos a tempo. Ele sorriu de modo malicioso.

— Já se cansou de seu velho marido?

— Sabe que não.

Por mais que desejasse ficar naquele quarto simples de hotel, tendo por fim seu primeiro dia de lua-de-mel, Hermione sabia que o Atlantis estava no início de sua primeira viagem, e que todos esperavam por Ronald a bordo.

— Diga uma palavra, e falarei para Jim que decidimos ficar aqui mais um pouco.

Hermione segurou o rosto másculo entre as mãos.

— Poderemos continuar a lua-de-mel no Atlantis. - Os olhos de Ronald brilharam.

— Promete?

— Ainda não descobriu que sou louca por você?

— A ponto de ter um bebê comigo? Posso tê-la engravidado na noite passada, sabia?

— Espero que sim, porém só para garantir vamos logo para casa. Temos muito tempo perdido para recuperar.

Ele a beijou com intenso desejo.

— Vou deixá-la a sós para se preparar. Mas aviso-a que quando retornarmos ao apartamento no condomínio, não quero saber de quartos separados.

— Promete? — brincou Hermione. Para sua surpresa, Ronald ficou sério. — O que foi, querido?

— Tenho algo para lhe dizer.

— O quê?

— Não quero que as coisas mudem entre nós agora.

Um arrepio de alarme percorreu o corpo de Hermione.

— E por que mudariam?

— Não é uma mulher comum, Hermione.

Ela piscou diversas vezes, sem saber se entendera bem.

— Há algo em mim que não o agrada?

Ronald fechou os olhos por um instante, e logo os reabriu.

— Não, querida. É que você se atira em tudo que faz com muita paixão.

— Sei disso. É meu maior defeito.

— Não! É um dom que possui. E tão poderoso, que conseguiu convencer os diretores do Atlantis a não serem tão rigorosos e apressados em algumas de suas decisões. Em poucas palavras, fez com que percebessem a realidade. — Suspirou fundo. — Votaram pela suspensão da proibição às crianças pequenas e animais de estimação. Agora você é responsável pela instalação de uma creche e escola elementar. Querem que elabore uma nova brochura para apresentação na próxima reunião.

— Ronald! — exclamou Hermione, maravilhada e feliz.

— Eu sabia.

— O quê?

— Vejo o brilho em seu olhar.

— Que brilho?

— O que adquire quando se interessa por algum projeto. - Ela tentou compreender.

— E o que essa conversa tem a ver com nada mudar em nosso casamento?

Ele mordeu o lábio, e pareceu pensar por um minuto.

— Sou muito possessivo, e descobri que não gosto de com­partilhar sua atenção com mais ninguém. Na outra noite quan­do cheguei em casa e vi que preparara o jantar, pensei que tinha morrido e ido para o Céu.

— E isso não mudará. Em primeiro lugar sou sua esposa.

— Diz isso agora...

— E sempre! — interrompeu Hermione, estupefata com a vulne­rabilidade que o homem forte e decidido com quem se casara demonstrava sem pudor. — Acha que gosto de ficar longe de você? Tenho uma idéia que resolverá esse problema. Que tal se o Departamento de Turismo for no mesmo andar de seu próprio escritório? Trabalharemos juntos. — O rosto de Hermione se iluminou de alegria. — Assim poderemos coordenar as horas, e fazer intervalos ao mesmo tempo para o almoço ou um café. E sairemos juntos do trabalho.

Ele voltou a tomá-la nos braços.

— Se isso significa que estaremos sempre perto um do outro, concordo plenamente. Eu te amo, Hermione.

O telefone voltou a tocar, lembrando-os de que era hora de regressar ao lar.


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