Piper VII

And we'll never be royals
It don't run in our blood, that kind of lux just ain't for us

Respire. Conte até dez. Não mate seu namorado, você só tem esse.

Eu já havia repetido aquele mantra umas dez vezes e aquilo definitivamente não estava ajudando.

Desde que os outros pombinhos nos deixaram sozinhos ele não havia calado a boca um minuto. Entenda, eu amo conversar com ele, mas agora a única coisa que está fazendo é brigar comigo.

–... E você sempre faz tudo assim...

– Jason.

–... Nunca me consulta pra absolutamente nada...

– Fecha a boca.

–... E depois ainda acha que eu não tenho o direito...

– Cala. A. Boca. – disse entre dentes.

–... De reclamar! Onde já se viu algo assim?

– Mas que merda! – bati com as mãos na mesa, a atendente me olhou de cara feia, abaixei o tom – Dá pra parar? Você só sabe reclamar! O que houve com você?

– Comigo? O que houve comigo? De repente você esquece que tem namorado e começa a fazer tudo sozinha...

– Caramba Jason – apertei meu cabelo entre os dedos – Eu preciso te avisar pra cada passo que dou?

– Você sempre fez isso! Ai começou a andar com aquelas esquisitas e... – o cortei.

– Olha como fala da Annabeth. Ela tem me ajudado. E Thalia... Bem, não fale assim dela.

– Viu? A menos de um mês você odiava Thalia. O que você tem? Depois de tudo o que ela fez?

– Para.

– Não vou parar e você...

– Mas que porra, vai me fazer falar palavrão até você calar a boca? Olha pra mim – ele olhou para o outro lado – Olha pra mim! Jason. – olhos azuis elétricos me encaravam de volta, franzi o cenho. Eu já vi esse tom em algum outro lugar. – Você... Você é tudo o que eu tenho. Me entende? Não tem como parar de brigar comigo e me apoiar ao menos uma vez?

– Piper...

– Não, me escuta. Nós sempre fizemos coisas separados, não sei porque isso é um problema agora. E você sabe que eu sempre gostei de moda. Torcida nunca foi meu forte, eu até ajudo na organização... Mas participar não é comigo.

– Eu sei, mas...

– Então você pode, por favor, agir como um bom namorado e me apoiar? Um pouco? Você é o único que eu espero que fique feliz por mim. Meus pais... Você sabe como são. – olhei para o outro lado, não iria chorar agora.

– Pips... – ele colocou a mão em meu rosto fazendo com que eu olhasse para ele. – Me desculpe. Não... Não sei o que deu em mim. Me... Desculpe. – eu conseguia ver o arrependimento em seus olhos. Concordei fracamente e ele me deu um beijo, dei um pequeno sorriso. – Então... Agora você vai ir para Montauk comigo? Eu tenho que ir agora, preciso saber.

– Olha... Acho melhor não. Eu e você... Podemos acabar brigando, melhor darmos um ar pra cabeça, não acha?

– Eu... – olhou em meus olhos por um tempo, até que suspirou – tudo bem, pode ser.

Deu um sorriso fraco, levantou, deu-me um beijo e foi embora. O que eu faria agora?

***

O fim de semana havia sido, definitivamente, uma bosta.

Minha mãe não apareceu um dia sequer, meu pai não ligou nenhuma vez, meu namorado estava em uma praia sem sinal de celular, minhas amigas estavam ocupadas demais se agarrando com seus namorados e as recém-adquiridas (lê-se Annabeth e Thalia) sumiram do mapa.

Pra resumir? Fiquei em estado vegetativo vendo romances água-com-açúcar que eu definitivamente estava cansada de assistir.

O que fazer agora?

Então, algo estalou na minha cabeça, foi rápido. O surto de percepção dá realidade. Afinal, eu faço o que da vida? Eu dependo de outros? É isso?

Não, não pode ser. Vamos lá, se concentre. Coisas que você sabe fazer.

Compras? Não, isso não é o tipo de coisa que entra nessas listas. Arrumar outras garotas? Isso é tipo de coisa fútil que não era para estar aqui.

Então eu não sei fazer nada? Eu só dependo de Jason? Porque, sinceramente, de meus pais eu não dependo. Eu não os vejo nunca mesmo.

É isso. Eu vou entrar de vez nesse negócio de moda, eu vou aprender a fazer algo!

***

Minha empolgação em “virar gente” sumiu mais ou menos depois de ficar duas horas em uma sala de aula ouvindo tudo sobre a história da moda. Quem podia imaginar que haviam tantas coisas? Começamos em 1775 e fomos até o mundo moderno e tive a impressão de que ela ainda tinha mais coisas para falar, achei que já colocaríamos a mão na massa, mas pelo jeito se existe muito teórico por trás disso tudo.

Ao menos, depois de mais duas horas, começamos a aprender a esboçar. Eu vou conseguir. Espero.

***

Uma semana. Eu estava sem ver Jason a uma semana. Desde que ele voltou da praia e eu comecei o curso decidi que seria interessante me esforçar para algo, sabe? Eu não tenho feito nada de útil até agora.

Mas a saudade dele estava me matando. E quer saber o pior? Ele estava me evitando. Sim, me evitando. E quer saber o motivo? Seus amiguinhos me contaram o motivo. Porque eu estou cursando a aula extra. Dá pra acreditar?

Não, não dá. E isso me magoa. Muito.

Decidi deixar esses pensamentos de lado, afinal eu estava empolgada não é? Estou aprendendo a fazer algo decente. Moda. Será esse meu sonho?

Bom, sendo ou não, eu preciso comemorar.

***

Quer um conselho? Quando for fazer festas conte para suas “amigas” suas intenções desde o inicio. Vai por mim, não deixe elas descobrirem sozinhas. Ainda mais se elas forem Thalia e Annabeth. Acredite, eu tinha boas intenções, queria que elas se juntassem a minha “galera”, mas definitivamente, foi tudo pelo ralo.

Eram exatas 21h quando os primeiros carros começaram a chegar na minha casa. Meus pais não estavam e eu tinha certeza que a criadagem não abriria a boca.

Annabeth chegou perto das 22h junto com Percy. Estranho? Não muito, ele vivia grudado nela, ninguém mais se surpreendia. Thalia chegou uns quinze minutos depois de Annie, Nico entrou dois minutos depois limpando os cantos da boca. Porque será? Deixem sua imaginação fluir...

Estávamos eu, Jason, Katie, Travis, Connor, Silena, Charles e Will. A balança estava bem equilibrada até. Charles abraçado a Si, Katie e Travis trocavam olhares suspeitos e coravam, Jason e eu mal nos olhávamos, e o restante estava segurando vela mesmo.

– Pips, como é o curso de moda? – pelo canto do olho vi Percy tentando fazer Annie dançar, ela estava rindo enquanto ele a girava.

– Ah Si... Está no inicio ainda, mas já aprendi a fazer o básico dos esboços...

– Você vai fazer roupas pra mim não é? – Katie piscou os olhos dela. Procurei Thalia ou Nico e não os vi.

– Claro Kat... Qualquer coisa que vocês quiserem.

– Um vestido?

– Até dois se você quiser mesmo. – por mais que tentasse, não conseguia me focar ali. Naquela conversa. Eu não lembrava que as coisas entre nós eram tão superficiais.

– Pips, você convidou o Chris e a Clarisse? – Will apontou para um canto mais afastado, os dois estavam praticamente se comendo lá. Mordi o lábio.

– Na verdade... Eles são amigos de Thalia... E achei que seria legal convidar eles...

– Thalia? A Thalia Grace? Aquele amor de pessoa que tentou quebrar meu braço ano passado?

– Você sabe que mereceu Travis! – Katie estava vermelha. – Porque raios você foi tentar passar a mão nela?

– Porque ele é meu maninho, e todo mundo aqui sabe que nós não prestamos – Connor fez com que todos rissem.

– Fala sério Piper, nós estamos entre amigos. Abre o jogo. Porque você continua andando com elas?

Vi Jason levantar uma sobrancelha esperando a resposta da pergunta. Pergunta que eu aposto que todos eles se faziam, mas só Will teve coragem de fazer.

– Porque... Oras, porque eu queria fazer novas amigas.

– Não, sério Pips. Fale a verdade.

– É a verdade.

– E porque elas estão aqui? Nem estão falando com você.

– É... Elas preferem ficas afastadas... – eu já me enrolava com minhas respostas.

– Afastadas? Estranhamente Annabeth está com alguém, e esse alguém é um garoto. Isso é inédito na história da Goode. E Thalia está se pegando com alguém da escola. E isso é novidade. – fiquei vermelha. Eles tinham razão. Mas eu não preciso admitir.

– Elas fazem o que querem.

– Pips...

– Que foi?

– A verdade!

– Tá bom! Tá bom! – meu sangue ferveu. – Isso é um castigo. Elas são um castigo. Satisfeito? Eu não as convidei porque queria! Eu preciso passar um tempo com elas, pensei que assim elas podiam se tornar como nós e deixar de serem ninguéns!

– Ah, então é isso que somos para você? Ninguéns? – gelei. Era a voz de Annabeth, e estava tremula. Me virei, ela estava ali atrás de mim.

– Annie... – levantei e fui até ela, tentei colocar um braço em seu ombro. – Me... Me deixa explicar...

– Não! Não me toca. – Droga. Droga. Percy nós olhava acusador.

– Finalmente viu quem ela é loirinha? – pude sentir o sarcasmo na voz de Thalia. De onde ela surgiu?

– Olha... Foi tudo um mal entendido... – tentei descontroladamente me explicar. Aquilo não era verdade. Elas não eram ninguéns.

– Sim, um mal entendido. Achei que você fosse diferente... Deles – pude sentir o nojo na voz dela. Percy concordou, assim como Nico.

– Mas eu sou. Eu sou.

– Ah, você é? Então porque exatamente queria que fossemos como a sua preciosa elite Piper? Achava mesmo que eu ia mudar de lado? Não acha que me enrolou suficiente para uma vez só? – Thalia. Ela... Não entende.

– Nós nunca, nunca, seremos como eles Piper, aprenda isso. Somos totalmente diferentes do seu mundinho. Já está na hora de você aprender isso. – Annabeth parecia ser outra pessoa.

– Annie, não sei você, mas a ninguém aqui está caindo fora.

– Eu também vou Thals.

Elas saíram e me deixaram ali. Com cara de tacho. Para mim, foi naquela hora que a festa acabou, e vi que havia perdido algo importante. Talvez mais importante do que perder Jason. Amigas.