Guerreira da Lua escrita por Anyan


Capítulo 5
Capítulo 4 - Só Mais um Baile?


Notas iniciais do capítulo

Finalmente consegui começar a ação! ÒvÓ
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468994/chapter/5

Nos poucos dias de espera que se passaram com rapidez até o dia doze Margaret aproveitou cada segundo de seus dias se concentrando na sobrinha e nos preparos da festa.

Pelas manhas Artemísia passava horas praticando em como manter uma postura adequada para cada momento, mas quando a tia se retirava para seus deveres e finalmente lhe era permitido um tempo de descanso ela se escondia pelos jardins fazendo longas caminhadas para ganhar fôlego. Em seu quarto os exercícios não paravam sempre praticando golpes e movimentos que ainda se lembrava da infância.

Depois de anos parada era impressionante como seu corpo ainda podia se lembrar dos movimentos, mas pouco durava a felicidade, pois poucos socos depois ela mal conseguia mover os braços.

De todas as formas que conseguiu ela praticou tentando voltar a forma. Levantava objetos pesados sem motivo, corria o melhor que pudesse com os vestidos e sapatos, levantava ainda mais cedo para praticar movimentos dentro de seu próprio quarto. Tudo adicionado as rígidas aulas da tia que maltratavam seu corpo dolorido.

Em meras duas semanas o progresso foi pouco e lento, mas de certa forma gratificante. Artemísia não tinha idéia de quanto sentia falta daquela euforia em sua vida.

Por sorte na manha do dia doze Margaret decidiu lhe presentear por seu desempenho anulando as aulas da manha seguinte. Ao menos em seu próprio aniversário ela teria tempo para descansar, provavelmente a ultima chance que teria, então até mesmo o treino matinal foi cancelado.

Começando por acordar mais tarde do que o habitual, para compensar as noites mal dormidas, Rebeka apareceu trazendo sua refeição que nunca tinha sido permitida no quarto.

As garotas passaram praticamente o dia juntas enquanto a morena a arrumava.

Um banho demorado relaxando na enorme banheira de água quente ajudou a dissolver algumas dores e assim como o sono extra Artemísia se sentiu renovada. Quem sabe o pai tivesse razão quando dissesse que aniversários em noites de lua cheia traziam boa sorte e saúde. Naquele momento ela aceitaria qualquer sorte que fosse.

Rebeka a emprumou até não poder mais a perfumando e arrumando. Seu cabelo tinha sido arranjado de forma natural com uma simples, mas elegante, presilha na lateral que mantinha a franja levemente afastada dos olhos. A maquiagem bem caprichada e leve, só delineando os traços já belos da jovem.

Quando ela finalmente se olhou no espelho no final do dia Artemísia mal se reconheceu. Mais uma vez Rebeka a transformara em uma dama com um vestido longo e jóias. Seus olhos mais pareciam esmeraldas em contraste ao contorno escuro dos cílios.

Seria uma pena perder tudo aquilo. Os momentos alegres que aproveitara naquela casa e até mesmo as implicâncias da tia. Com o tempo ela tinha se acostumado com aquela vida e perder todo o conforto e glamour seria tão estranho quanto quando ela chegara. Mas agora ela estava trocando tudo que conquistara por uma vida de luta.

Não conseguia se arrepender por querer a sua liberdade de volta, viver naquela casa era como ser um pássaro engaiolado. Por mais que tivesse todo conforto a sua volta nunca mais poderia abrir suas asas e voar.

Há muito tempo seu maior sonho era poder viajar pelo mundo como uma aventureira, lutando contra caras malvados e ajudando pessoas. Ela queria explorar cada pedacinho do mundo, independente do quão difícil fosse, mas pra isso teria que ser forte e corajosa. Então surgiu o segundo sonho.

Ela seria tão forte como um guerreiro, para ter a liberdade que a força lhe proporcionaria. Claro que ela só desejava ser como um guerreiro, nunca tinha planejado realmente se tornar um, mas agora que tinha a chance, não se negaria a tentar.

Seu pai uma vez disse que o mundo era um lugar estranho. Havia todo um equilíbrio a ser mantido e sempre existiria algo ruim mesmo dentro de coisas boas, assim como coisas boas dentro de algo ruim. Naquele momento, por exemplo, ela desfrutava dos confortos da riqueza, mesmo que presa aquela casa. Tinha até mesmo conseguido uma amiga para passar o tempo. Ou como quando fosse embora para a escola de guerra. Finalmente poderia viajar pelo mundo sem temer o desconhecido, mas pra isso teria que lutar. E mais uma vez estaria sozinha.

O conforto e uma vida tranquila que lhe privaria de si mesma e de suas vontades ou uma vida de luta acompanhada de liberdade.

Na escola de guerra ela enfrentaria muitas dificuldades, mas isso a permitiria realizar seus sonhos. E se conseguisse se formar ninguém mais poderia tirar essa independência dela.

Seria completamente livre, animou-se Artemísia.

Sem querer se preocupar com coisas demais a ruiva decidiu apenas aproveitar a noite. Aquela seria sua ultima por muito tempo, quem sabe para sempre. Depois ou seria um guerreiro ou falharia e amarguraria na pobreza e na miséria em algum canto.

– Está na hora de por seu vestido milady.

Mai uma Vaz Rebeka insistia em usar os titulo formais. Nos últimos dias elas tinham passado bastante tempo juntas e a formalidade tinha cedido um pouco, mas aquela era uma data especial. A animação da moça era tanta que nem mesmo Artemísia tinha sido capaz de negar o capricho.

– Então o que estamos esperando?

Foi uma luta acirrada contra os tecidos para que Artemísia se encaixasse no vestido. O espartilho, que compunha a parte de cima do vestido, tinha sido apertado nó por nó da forma mais firme possível cortando a respiração da ruiva.

O vestido azul era assim como o verde que usara no baile anterior um tomara que caia, porém ao invés de cores claras este era um azul marinho cintilante que o fazia parecer estranhamente leve para a quantidade de tecido. As camadas eram estratégicas para manter o volume enquanto pareciam se abrir saindo de uma rosa de tecido.

O corpete era em formado de coração ressaltando seus seios e acentuando sua cintura fina. Nos pés da garota havia um par de sapatos azuis claros totalmente estampados com flores em tons escuros e as jóias em volta do pescoço e pulsos que dispunham de safiras elaboradamente posicionadas em correntes de prata. Em cada orelha um brinco de prata com uma pedra de safira em forma de gota.

O cabelo vermelho que caia em cachos grossos pelos ombros nus se chocando com o tecido e entrando em um contraste harmonioso.

A garota podia ser descrita simplesmente como deslumbrante.

– Agora você está pronta.

– E mais uma vez você me arrumou com perfeição. Quase pareço uma garota da corte. – Brincou Artemísia.

– Você é uma garota da corte.

– É verdade e foi você que me deixou assim. Eu nunca conseguiria sozinha.

– Bom, eu tive uma ótima modelo.

As duas trocaram sorrisos animados.

– Está na nossa hora.

Artemísia analisou Rebeka que estava vestida com roupas bem mais simples que as dela. Mesmo com simplicidade a acompanhante ainda conseguia ser chique e deslumbrante. O cabelo castanho preso em um coque e os olhos redondos delineados pela maquiagem básica preta que dava brilho e destaque ao castanho. Na boca um batom neutro só dando brilho e um toque de blush dando cor as bochechas. Como todas as acompanhantes do baile ela tinha de usar um vestido de cores neutras para não chamar muita atenção, mas o tom do bege escuro com o marrom a emolduravam.

Rebeka abriu a porta do quarto.

– Seus convidados a esperam milady.

– Então por que deixá-los esperando.

E pela primeira vez no dia Artemísia deixou seu quarto indo em direção ao salão principal, pronta para encarar a alta sociedade.

~ + ~

Ao som da voz grave do homem do portão todos pararam para assistir a entrada da aniversariante no salão.

Pelo canto do olho Artemísia pode perceber o olhar de aprovação da tia enquanto ela descia as escadas acompanhada de Rebeka. Não havia ninguém que pudesse competir com sua beleza naquela noite.

– É bom ver o quanto você progrediu após sua chegada minha sobrinha.

– Tudo que você vê é resultado dos esforços de Rebeka em me arrumar. – Sorriu desafiante.

– Apesar da sua incomoda mania de se familiarizar demais com a serviçal.

– É a verdade. – respondeu dando de ombros.

– Eu quero que essa noite aconteça sem imprevistos então é melhor você segurar a sua língua e agir adequadamente.

– Não se preocupe. Vou me comportar.

Por essa noite ela seria tudo que a tia desejava.

– Então vá cumprimentar os seus convidados.

Sem nem se despedir Artemísia deixou a tia para trás. Logo não teria mais que olhar para os olhos de cobra da mulher e nem aturar sua voz estridente e irritadiça.

Muitas pessoas a paravam para lhe parabenizar, mas Artemísia não prestou a devida atenção. Ali só havia pessoas fúteis e ignorantes na maioria dos aspectos que a entediavam e mesmo com Rebeka em seu encalço ela era obrigada a se manter passos atrás pelas normas de etiqueta.

Foi logo depois que conseguiu despistar mais um conde com sua fútil esposa que Artemísia percebeu um grupo de adolescentes que se aproximou.

– É bom vê-la de novo minha dama.

Tristan estava igual a noite do baile onde se conheceram, só que dessa vez havia uma garota quase pendurada em seu braço direito fazendo ele parecer mais presunçoso. O olhar em seu rosto quase a fez desejar nunca ter dançado com ele, quem sabe então ele ainda se sentisse inferior a falar com ela daquela forma.

– É bom vê-lo de novo. – repetiu as palavras dele para não cometer nenhum erro.

Desde quando ela era a “sua” dama? Artemísia não se lembrava de ter dado esse direito a ele.

A garota junto a ele pareceu ficar incomoda e Tristan percebeu isso.

– Está é Sara Eliezel.

– Filha de Silvia eu suponho. – cumprimentou Artemísia enquanto a outra retribuía o gesto.

– E você deve ser a aniversariante, sobrinha de Margaret. – respondeu ríspida.

– Artemísia Twining Rosenberg. – Falar seu nome completo era como esmagar alguém em baixo do peso de sua família e pela primeira vez a ruiva gostou de carregar tal fardo.

As duas se analisaram com o olhar cuidadosamente, cada uma chegando a uma opinião completamente diferente.

Para Sara a ruiva era um possível obstáculo entre Tristan e ela, enquanto para Artemísia a outra garota que possuía os mesmos olhos de gelo da mãe era só mais uma princesinha esnobe que não sabia os próprios limites.

Mesmo que as mulheres fossem só um enfeite na visão da sociedade, entre elas era comum presenciar disputas de poder e prestigio. Infelizmente para a decepção da morena a ruiva não se mostrava interessada na disputa.

– É uma pena que eu não possa ficar mais tempo com vocês, mas minha tia insistiu que eu cumprimentasse todas as pessoas do salão e ainda faltam tantos. – usou sua melhor voz de lamento e inocência.

– Tudo bem. – sorriu Tristan bobamente. – Quando você estiver livre venha ficar com a gente.

– Eu adoraria. – sorriu de volta apenas parra dar uma carranca a morena.

E com isso Artemísia e Rebeka se afastaram de mais um grupo. A cada passo que era dado elas eram obrigadas a cumprimentar educadamente e dispensá-los com muita delicadeza.

No meio da festa muitos homens a cortejaram, acompanhados ou não, velhos, novos, de todos os tipos, mas todos foram extremamente agradáveis como se querendo chamar sua atenção. No fundo eles sabiam que aquela pequena moça seria a principal descendente da casa dos Rosenberg e isso merecia seu respeito.

Em apenas um momento ela se sentiu desconfortável na presença de um homem. Ele estava bêbado e tinha sido rude, o que ela tinha sido obrigada a ignorar, não queria se preocupar com um problema tão idiota naquele momento. Porém a sensação a seguiu onde quer que ela fosse, indo e voltando.

Já cansada de ser o centro das atenções Artemísia decidiu que estava na hora de fazer uma pausa e Rebeka a acompanhou até uma sala que parecia um escritório para poderem se afastar da festa. Ainda era possível ouvir o burburinho das conversas, mas agora que não estava mais cercada de pessoas ela finalmente se deixou relaxar.

Rebeka apenas observou enquanto a ruiva se jogava com seus montes de tecido no sofá. Por mais que sua aparência e seus modos sugerissem que ela fosse uma perfeita dama Artemísia não ligava nem um pouco para tais artifícios.

Ela era relaxada, não controlava a língua, não se preocupava com roupas, não ligava para os patamares da sociedade e principalmente não se rebaixaria na frente de um homem.

Ver a mudança de quando ela estava na frente de alguém para quando ela se deixava relaxar era sempre surpreendente e intrigante aos olhos de Rebeka. A mulher sentada no sofá era uma completamente diferente da que estava no salão de bailes há alguns minutos atrás, com seus braços jogados dobre o encosto em uma posição normalmente masculina e a cabeça caída para trás como se dormisse.

– Você gostaria de um copo de água senhorita Artemísia? – era impossível chamá-la de lady quando ela parecia tão tranquila.

– Obrigada Rebeka, eu adoraria.

Artemísia colocou o braço direito em cima dos olhos fechados, descansando.

Saindo do cômodo Rebeka a deixou sozinha, não demorando para voltar carregando uma bandeja. Rebeka era sempre muito atenciosa, pensou a moça. Ela apoiou a bandeja na pequena mezinha de centro e entregou o copo a ruiva que o aceitou aliviada.

– Obrigada – repetiu – eu precisava de um descanso.

– Não há de que.

Por um momento as duas realmente acreditaram que estavam em paz, mas tudo ruiu quando a porta se abriu sem aviso.

– Então era aqui que você estava.

No corredor havia um homem alto que devia ter seus trinta anos. Ele usava uma barba levemente comprida e um smoking preto. Artemísia percebeu a mesma sensação de desagrado que havia sentido perto dos convidados. Agora parado a sua frente estava o homem que tentara a cortejar insistentemente com seu hálito de álcool.

Percebendo o desconforto da mais jovem Rebeka logo se aprumou.

– Saia daqui. Não vê que esta em uma área particular?

– Eu só estava me perguntando o que a nossa princesinha estava fazendo longe da própria festa. Estou surpreso por encontrá-la tão bem escondida.

– Agora que já nos viu pode se retirar.

– E perder essa oportunidade? – Zombou ele – Eu acho que não.

– Temo ter de insistir. A senhorita Artemísia está fazendo uma pausa e pretende retornar logo ao baile.

Rebeka tinha se aproximado do homem e tentava o guiar para fora do cômodo, mas com um movimento brusco ele deu um safanão nela que a jogou no chão. Vendo a cena Artemísia logo reagiu se levantando e se aproximando dos dois.

– Como você ousa me tocar, seu lixo!

O homem estendeu seu punho para acerta Rebeka, mas parou no meio do trajeto sendo segurado pela garota de azul.

Ela parecia tão fraca e delicada naquelas rendas, mas parara seu soco com as mãos.

Se enfezando ainda mais o homem tentou se libertar, mas sem sucesso seu braço direito ainda preso a Artemísia. Se preparando para atingir sua nova oponente com o outro punho ele não conseguia entender o porquê daquelas duas garotas o estarem desafiando.

Quando o soco está prestes a acertá-la Artemísia se esquivou com um giro para o lado. O homem tão bêbado que seu equilíbrio quase falhou ao tentar segui-la. Lutando contra o espartilho que a segurava com firmeza ela segurou o braço dele com força para mantê-lo parado quando seu punho direito acertou o rosto barbado.

Sendo empurrado pelo impacto o homem não pode evitar cair no chão. Sua cabeça dando um baque oco antes dele desmaiar, o que deixou Rebeka de olhos arregalados ainda sentada no chão. Quando ele acordasse teria uma dor de cabeça infernal além de uma enorme mancha roxa para exibir.

– Você... – Rebeka nem sabia como deveria começar aquela frase.

– Dei um jeito nele. – respondeu evasiva.

– É. Certo.

Estendendo a mão para Rebeka Artemísia não a encarou quando a puxou para cima com um impulso. A morena a estava deixando encabulada com seu olhar fixo.

– Obrigada. – finalmente disse quebrando o silencio.

– Não foi nada.

Cúmplices elas analisaram o homem ainda caído em uma posição estranha.

– Precisamos sair daqui antes que ele acorde.

Rebeka se adiantou puxando Artemísia para fora.

– Eu não acho que ele vá acordar tão cedo, mas não vou querer ver a cara de Margaret se ela perceber minha ausência na festa.

As duas correram de mãos dadas em silencio até a porta do salão de festa e ante de entrarem Rebeka parou para conferi-las. Sorrindo travessa Artemísia teve que comentar.

– Eu disse que podia me defender sozinha.

– Da próxima eu deixo você encarar o cara sozinha. Pelo menos não teremos baixas do nosso lado. – ironizou a outra, mas com um sentimento de alivio no peito. Quem sabe ainda não houvesse esperanças para o futuro.

Quando as portas finalmente se abriram novamente Artemísia alongou suas costas e Rebeka se tornou uma simples empregada novamente. As duas percorreram todo o salão sem trocar uma única palavra com a outra, mas pelos simples olhares que elas se direcionavam era possível estabelecer um diálogo.

Naquele momento elas dividiam um segredo que ninguém mais sabia, e quando a noite acabasse elas se encontrariam como as boas amigas que eram e ririam de tudo com alegria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

To satisfeita. Mereço comentários? *u*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guerreira da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.