Guerreira da Lua escrita por Anyan


Capítulo 2
Capítulo 1 - Um dia de sufoco.


Notas iniciais do capítulo

Fiquei super feliz por ter ganho um favorito, obrigada mascosvol1!
Reparem que meus capítulos não tem mínimo ou máximo de palavras, eu simplesmente escrevo sem me preocupar, espero que isso não incomode... Muito.
Ai vai mais um capítulo pra vcs!



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Assim que os pássaros começaram a cantar do lado de fora da janela, Artemísia já estava acordada.

Depois da mudança para aquela casa rica e nobre ela vinha enfrentando dias longos e cansativos que começavam extremamente cedo e eram sempre repletos de tarefas e lições sem fim, então seus hábitos matutinos tiveram que ser regrados.

Todas as manhas ela se encontrava com sua tia para o café e então horas de tortura se seguiriam com a supervisão da mais velha.

Se olhando no espelho Artemísia parou para se analisar. Aqueles eram os únicos momentos de seu dia em que estava livre de suas amarras. Já faziam três anos que morava sob o teto da tia e sua vida tinha se resumido a uma prisão.

Os cabelos ruivos, de um vermelho sereno, estavam levemente mais compridos e caiam como cascatas onduladas por seus ombros e os olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Seu rosto era belo, com traços fortes, uma beleza mais imponente do que simpática.

A pele macia e branca delineava as curvas já amadurecidas, mas que não conseguiam esconder a constituição forte dos músculos. Seu pai costumava brincar chamando-a de amazona por correr como um garoto na infância.

Para uma garota quanto mais delicada mais bem vista pela sociedade, mas no caso de Artemísia seus braços tinham singelos músculos e suas pernas eram torneadas demais. Mulheres eram como bibelôs e ela não se encaixava nem um pouco nessa descrição.

Tirando sua camisola de seda azul Artemísia colocou um vestido simples em tons escuros de azul de meia estação. Naquela casa ela só era permitida usar vestidos e saias assim como ditavam as normas, com estampas floridas e enfeites extravagantes, então a liberdade das calças se esvaíram. Provavelmente seu pior pesadelo.

Ainda podia se lembrar de como costumava usar calças contrariando a vontade de todos. Seus pais valorizavam a felicidade dela acima das aparências e as calças eram o símbolo do conforto. Mas aqui a norma do vestuário era rígida e sua única salvação eram as roupas simples que ainda insistia em usar mesmo depois de tanto tempo do velório de seus pais.

Ninguém poderia contestá-la por ainda não se sentir alegre para usar um amarelo sol com a gravidade da perda.

Como em todas as manhas ela se ajoelhou no chão em frente ao armário de portas abertas. Escondido atrás de montanhas de tecidos ela usou sua unha para levantar a ponta de um dos blocos de madeira no chão, revelando uma pequena câmara.

Ali dentro se escondia seu maior tesouro. A pequena caixinha de musica de sua mãe.

Abrindo-a sem dar corda ela apenas pode imaginar a pequena bailarina dando suas piruetas ao suave som da melodia já decorada. A madeira pintada de branco e rosa era esculpida com pequenos detalhes e curvas pelo lado de fora para combinar com o veludo rosa claro do lado de dentro, com um pequeno espelho preso a tampa.

Aquela era a única coisa que conseguira salvar do incêndio durante a correria e como Margaret não gostava tanto de Kate quanto demonstrava em público, Artemísia se obrigou a escondê-la por segurança. Primeiro em baixo da cama e depois de uma varredura pelo quarto dentro do buraco no assoalho do armário.

Então com dificuldade a ruiva lutou contra seus cachos os juntando em um coque frouxo e então finalmente deixou a proteção de seu quarto indo em direção a sua tortura matinal.

– Atrasada novamente. – Anunciou Margaret tomando um gole de café em sua chicara excessivamente decorada.

– Sinto muito Tia.

Esta manha Margaret parecia ainda mais brava do que o normal, com o coque loiro bem preso e os olhos castanhos finos e gelados vistos através dos costumeiros óculos, os lábios finos pressionados em uma linha de desgosto.

O vestido de Margaret era em tons de verde escuro, mas não pelo mesmo motivo de Artemísia, mas sim por seu status. Ela tinha desistido do luto logo no terceiro dia, como o resto da família que apenas se importavam com os negócios, e a família era posta apenas como uma instituição que eram obrigados a participar.

Artemísia se sentou no extremo contrário da mesa e se serviu com um pedaço de bolo e um pão com geléia de morango.

– Pare. – requisitou a tia e Artemísia teve de conter sua frustração. – Sua postura está errada, seus cotovelos na mesa, você usou a faca errada de novo e só se pega uma coisa de cada vez, é falta de educação encher o prato.

Nunca haveria uma refeição decente naquela casa, mais uma coisa que ela não poderia mudar. Enquanto sua tia exigia os melhores modos possíveis para uma dama Artemísia só queria uma manha agradável e sem preocupações.

– Pelos Deuses! No inicio eu acreditei que seus pais tivessem negligenciado em seus estudos, mas agora começo a duvidar das suas habilidades de aprendizagem! Não é possível que você não tenha o mínimo de classe e educação!

Margaret estava certa. Artemísia já tinha estado em varias aulas de boas maneiras, mas se limitava a usá-las só em ocasiões especiais. Em sua antiga casa ela podia agir como quisesse e depois de um tempo em que Adrian percebeu o jeito peculiar da filha ele tinha mudado o rumo de seu aprendizado.

– Sinto muito tia, vou prestar mais atenção.

– Você não tem nenhuma habilidade domestica, não tem modos e nem tenta aprender. Artemísia, você não aprendeu nada nem depois do tempo que passou aqui? Mesmo que meu irmão tenha negligenciado sua educação eu realmente estou tentando te ajudar e você nem ao menos se esforça.

O tom áspero e ríspido não transparecia nenhum pouco do afeto que ela dizia ter pela sobrinha, muito mesmo ao falecido irmão e sua esposa.

– Vou me esforçar mais. – Respondeu contrariada.

Como se Artemísia fosse se deixar mudar por um simples capricho da tia! Sua vontade era largar tudo pra trás e ir embora. Fugir de todos os problemas e se livrar de Margaret, mas e depois? Ela não tinha dinheiro e não teria pra onde ir. Até que pensasse em algo ela teria que aceitar suas condições.

– Assim espero. Não vou perder meu tempo com você pra sempre.

As duas terminaram de comer com rapidez, mas dessa vez ela o fez tomando os devidos cuidados para não arranjar mais problemas e mesmo assim recebendo olhares de reprovação.

Saindo da mesa elas seguiram até a biblioteca onde ocorreram as aulas da manha. Logo a jovem seria apresentada a sociedade e Margaret fazia questão que ela não arruinasse o nome da família. Então o dia correu com explicações sobre a hierarquia e como se portar em frente a tais pessoas, como andar de forma certa e elegante e a nunca falar nada sem ser convidada, sempre mantendo a postura.

Ou seja, nunca fazer nada além do esperado, nunca falar nada, nunca pensar nada, seja uma perfeita dama e siga todas as regras impostas. Nada novo ou essencial.

– Se eu não posso nem pensar, o que se espera que eu faça?

– Nada. Simplesmente se comporte.

– Mas...

– Nada de “mas”, nunca responda a não ser que seja requisitada.

Margaret queria que ela fosse uma boneca manipulável enquanto a ruiva estava mais para uma fera selvagem. Talvez quando ela decidira adotar a garota pensava que estava fazendo um bom negócio, afinal o que uma mera adolescente poderia fazer? Infelizmente para a mais velha Artemísia era diferente das moças dóceis.

– E não se esqueça que retomaremos suas aulas de canto assim que o período de luto acabar. Não quero mais desculpas esfarrapadas no que parece ser seu único talento.

A aula de postura se seguiu com horas de prática dolorosas e rígidas. Artemísia começava a suspeitar que com a personalidade da loira quem mandava naquela casa era Margaret e não o marido. Ela era uma mulher amarga e ríspida que ninguém gostaria de se aproximar. Certamente seu casamento tinha sido arranjado pelos pais assim como sua mãe dissera que os avós tentaram para o pai dela. Felizmente Adrian tinha se recusado a aceitar a noiva e escolhera por si só sua parceira. Kate.

A família Rosenberg era descendente de uma linhagem muito rica e os casamentos costumavam ser feitos somente entre as classes mais altas. Eles eram uma família de lideres e tinham contato com o comércio do mundo inteiro. Ela se lembrava das vezes em que seu pai a explicara sobre política, para o dia em que ela herdasse os negócios.

Ele só tinha se esquecido de mencionar o noivado que fazia parte do acordo da herança.

– Preste muita atenção. Hoje à noite participaremos de um encontro social com a alta classe e você tem que estar apresentável. Mandarei uma serviçal para ajudá-la a se arrumar e espero que algo da aula de hoje tenha penetrado nesse seu cérebro denso.

– Estarei apresentável como deseja.

– Ótimo, agora retorne ao seu quarto.

Sem nem tentar protestar Artemísia se retirou. Não tinha como evitar os caprichos da tia, se não haveria consequências.

Ela tomou um banho demorado e relaxante para tentar acalmar seus nervos. Se Margaret continuasse agindo como se fosse sua dona ela a atacaria.

Passando os dedos pelos longos cabelos a garota finalmente se acalmou. Quando era mais jovem ela e a mãe costumavam arrumar o cabelo uma da outra em diferentes penteados e assim que terminavam as duas iam direto mostrar suas obras ao pai. No final do dia era um costume para Kate escovar os cabelos da filha e prendê-los em uma trança para que não se arruinasse durante a noite.

Aquele era o único momento em que Artemísia se deixava levar pela vaidade e realmente se importava em cultivar sua feminilidade.
Agora o vermelho de que tanto se orgulhava a fazia se lembrar do fogo que destruiu sua vida.

As batidas insistentes na porta a despertou de seus pensamentos. Se enrolando em uma toalha a ruiva andou até a porta.

– Quem é?

– Rebeka, senhorita Artemísia, fui designada para ajudá-la para o baile desta noite.

Não era culpa da moça que ela tivesse que ir a uma festa idiota e nem que sua mãe estivesse morta então a porta foi aberta, dando passagem para uma moça de cabelos castanhos presos em um coque.

Só podia considerar ridículo a regra de que as empregadas deveriam manter os cabelos presos em coques, afinal, apenas Margaret gostava daquele tipo de penteado e então obrigava isso nos outros.

– Será um prazer ajudá-la esta noite.

A moça se apressou até o armário e logo ele estava inteiramente revirado sem cerimônias.

– Se me permitir, eu sugiro este.

O vestido que Rebeka carregava nas mãos era verde e volumoso. Um vestido tomara que caia com mangas que pendiam nos braços como um enfeite e com uma saia em camadas. A parte de cima em tons de verde claro, tirando por uma tira vertical na frente mais escura com estampa de floreios. A camada de cima da saia era desse mesmo tecido floreado e era mais curto que o resto do vestido deixando uma pequena abertura na frente da saia que mostrava o tecido mais escuro e leve da parte de baixo.

De fato era um vestido lindo e toda a vaidade de Artemísia a compelia a vesti-lo, mas não seria certo ceder com tanta facilidade a tal capricho.

– Obrigada Rebeka, ele é lindo, mas eu estava pensando em algo mais simples.

– Oh, por favor, não diga isso! A senhora Margaret me instruiu pessoalmente a lhe fazer vestir algo mais alegre e condizente a um baile. Ela disse que você insistiria por ainda estar de luto, mas que se você não vestisse algo, como ela disse “decente”, eu seria punida.

Margaret estava jogando sujo. Ela sabia que a sobrinha explorava os limites do período luto e agora a estava testando. Se cedesse pelo bem da moça agora, Margaret saberia que poderia usar isso contra ela, mas se não, Rebeka sofreria por sua causa.

– Tudo bem. – Aceitou com desanimo.

A jovem moça parecia realmente alegre. Talvez não houvesse muitas pessoas que abririam mão de algo pelo bem dos outros naquela casa.

– Obrigada minha senhora.

– Quantas vezes terei que repetir para me chamar apenas de Artemísia? Eu não gosto de títulos.

O rubor subiu ao rosto de Rebeka. Poucas pessoas a tratavam como uma igual até mesmo entre as criadas, por causa de sua idade.

– Eu não poderia desrespeitá-la de tal forma senhorita Artemísia.

Algum dia a ruiva ainda conseguiria arrancar apenas seu nome da boca da garota, não importava o tempo que levasse. Prometeu-se Artemísia enquanto Rebeka corria pelos cantos amontoando as coisas na bancada.

– Vamos ajeitá-la antes que sua tia perceba nosso atraso.

– Tudo bem. Vamos começar.

Duas horas depois Artemísia estava parada mais uma vez em frente ao espelho. Agora com o vestido verde, ao invés das habituais roupas escuras, que se estranhava em seus olhos. Mas tinha de admitir, Rebeka tinha feito um trabalho esplêndido

– A senhorita esta deslumbrante. – disse com a voz leve, encorajando que ela prosseguisse.

Os cabelos vermelhos caiam nos ombros como cascatas e duas mechas da frente tinham sido usadas para prender uma fivela na parte de trás o que deixava seu rosto mais a mostra.

Os olhos agora delineados pela maquiagem se destacavam em seu rosto e na boca um simples batom rosa claro. Artemísia estava grata pela simplicidade na maquiagem e aprovara a produção. Ela estava realmente linda.

– Obrigada, fazia tempo que eu não me arrumava assim. Até que foi divertido.

Rebeka era poucos anos mais velha que a ruiva e isso incentivava a amizade que nascia ali. Como se já fossem velhas amigas ela respondeu.

– Não há de que.

As garotas continuavam a encarar Artemísia pelo espelho.

– Esta na hora de ir.

– Eu estava rezando para que essa hora não chegasse.

– Infelizmente ela sempre acaba chegando.

– Sempre.

Rebeka parecia verdadeiramente entender o que Artemísia estava dizendo e se deprimia um pouco pela garota. Ela era quatro anos mais velha, mas também não tinha família e tinha sido vendida como uma empregada para pagar a divida do falecido pai.

Ela sabia como era ruim ter de deixar todo seu conforto para trás e começar do zero, mas no caso de Rebeka fora algo que a libertou das amarras, enquanto para a jovem, estava ainda mais acorrentada.

– Me deseje sorte. – Pediu simpaticamente a ruiva.

– Boa sorte. – sorriu Rebeka radiante.


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Notas finais do capítulo

Acho que tenho sérios problemas com vestidos, mas esperem até as lutas...
Espero que gostem!