–Você tem que provar esse doce em formato de esfera, amigo Garfield! -exclamou Koryander estendendo um potinho cheio de esferas negras para o metamorfo.

Garfield Logan quase colocou as tripas para fora. Victor Stone, o Ciborgue, gargalhava da cena e Richard Grayson sorria de modo maquiavélico.

–Kory, amiga... -disse Karen se esforçando para não rir. -Isso é caviar... Ovas de peixe...

A princesa alienígena, percebendo sua confusão, corou.

–Perdão amigo Garfield. Eu não sabia o que era esse estranho e suculento doce... Mas não se incomode! Eu comerei mais este pote por você. -as gargalhadas na mesa aumentaram de maneira significativa.

–Não tem problema Kory. -respondeu o verdinho sentindo o vômito subir pela sua garganta e em seguida descer, deixando um rastro de dor no local que estivera. -Só, vou sair daqui para eu não ter que vomitar em todos vocês. -ele argumentou se levantando e indo até o jardim da mansão.

Era um belo lugar para se estar. Tinha um leve aroma de flores variadas e era quase como uma mini-estufa. O jovem Logan ouviu alguém cantando uma canção doce em um tom baixo.

–Quem está aí? -indagou de maneira neutra. Pelo tom suave da voz, ele havia deduzido ser uma menina.

–Por Azar, Garfield! -disse Ravena colocando a mão sobre o coração. -Hoje é o dia de assustar a Ravena?! -ele não entendeu. -Eu achei que estava sozinha aqui.

–Era você? -ele questionou um tanto incrédulo.

–Eu o quê?

–Cantando... -o rapaz viu as bochechas dela ficarem vermelhas.

–Eu... Hã... Eu...

–Desde quando você sabe cantar? -ela abaixou a cabeça.

–A minha... A minha mãe costumava cantar essa música na minha infância quando eu ia dormir... Era o único momento na qual nos encontrávamos.

–Sente falta dela? Da sua mãe? -a empata levantou o rosto e uma lágrima fina escorreu pelo lado esquerdo da face.

–Eu daria o mundo se pudesse estar com ela só mais uma vez. Senti-la me abraçar e dizer que me amava. Ela foi a única pessoa além dos Titãs que realmente se importou comigo...

–Sabe, eu sei como você se sente. Primeiro foi a sakutia. Depois eu perdi meus pais. Parecia o fim do mundo. E então a Patrulha do Destino me encontrou, e eu finalmente me senti em família depois de tanto. Aí o tempo passou, os Titãs surgiram e eu soube que vocês sempre estariam ao meu lado. Me ajudaram quando eu mais precisei e sempre me apoiaram. -ela sorriu.

–Sabe, quando você não está tentando ter a aprovação de tudo e de todos... -Ravena passou a mão por uma mecha violeta. -Pode até ser que consiga ser um pouco menos imaturo.

–Obrigada, eu realmente... EI! Como assim aprovação de tudo e de todos? -ela deu uma gargalhada. Ainda era difícil para Garfield aceitar Ravena assim. Não que ela demonstrasse suas emoções sempre, mas de vez em quando ela deixava uma doce gargalhada escapar ou uma lágrima rolar.

–Eu consigo ver a sua insegurança, Garfield. É como uma cachoeira jorrando água por todos os lados. -o garoto franziu o cenho.

–Eu não sou inseguro.

–É sim...

–Arrogante.

–Lesado.

–Estúpida.

–Inseguro.

–Olha só, bruxinha... -ela rangeu os dentes.

–Nunca mais me chame assim. -as luzes pisca-pisca no cume das árvores explodiram.

–Por quê?

–Eu odeio que me chamem dessa maneira...

Antes que pudesse dizer algo em resposta, ouviram um sino badalar. Já eram 22:30. Eles se olharam e correram em direção à porta. Bem, pelo menos o jovem Logan o fez em sua forma de guepardo. Ravena abriu um portal e em questão de segundos, já estava no salão novamente.

–Onde você estava? -perguntou Richard preocupado.

–No jardim... -respondeu seca.

A resposta aquietou o líder. Em questão de segundos, Garfield apareceu nervoso ao lado da empata, que tinha uma expressão ilegível -como de costume-, e as luzes começaram a se apagar. Ele se aproximou dela e colocou os lábios próximos ao seu ouvido direito. Ela permaneceu imóvel.

–Você me paga. -sussurrou para que somente ela pudesse ouvi-lo.

Ravena se virou, se pôs na ponta dos pés -ela agora era a mais baixa dos titãs- e sussurrou em seu ouvido.

–Aceita cartão ou cheque? -ele a encarou agora sorrindo. Eles estavam brigando porque a empata dissera que ele era inseguro e o deixara correr como um ratardado.

Os holofotes se focaram em um ponto que possuía cortinas vermelhas como sangue.

–Senhoras e senhores, eu lhes apresento a nossa anfitriã. A dona desta mansão, herdeira de uma das maiores fortunas do mundo e fã número um dos Titãs... -confetes cairam e uma mulher apareceu. -Hedley Baldwin!

Garfield Logan abriu a boca em um grande "O" e ficou assim por um bom tempo. Ela tinha cabelos loiros e olhos azuis como o céu da primeira manhã de primavera. Trajava um vestido prateado sem alças. O vestido longo possuia purpurina por apenas duas faixas e era de seda. O cabelo loiro como o sol estava preso em uma trança bem elaborada e tinham algumas flores brancas por sua extensão. A maquiagem era suave e a fazia parecer uma dama da corte.
Ela era linda. Parecia uma deusa. Karen fechou a boca do metamorfo.

–Fecha a boca. O chão tá cheio de baba. -disse tirando sarro do verdinho.

–Ela é tão linda... -murmurou fazendo os Titãs rirem.

Ravena deu de ombros.

–Não é nada demais.

Richard e Victor se trocaram olhares por alguns segundos.

–Tá com ciúme! Tá com ciúme! -ela assumiu uma face inexpressível.

–Eu acho que existem mais bonitas...

–Cite uma... -provocou Victor.

–Demi Lovato, Christina Aguilera, Jennifer Lawrence...

–Você tem razão. -concordou Dick. -Mas ela é muito bonita. -e dizendo isso, levou uma cotovelada de Koryander, que parecia não ter gostado de onde o rumo da conversa fora parar.

–Acha que se eu pedir o telefone dela, ela me diz? -indagou Garfield estupidamente.

–Garotos... -resmungou Ravena. -Eu vou beber uma taça de vinho, aceitam? -pergutou apontando para Kory, Karen, Victor e Richard.

–Eu aceito! Já estou entediada deste baile mesmo. -disse Karen.

–Eu vou com a amiga Ravena! Eu quero conhecer esta bebida feita de uvas que ela tanto bebe quando está chateada! -todos, inclusive o metamorfo, pararam e olharam para a empata espantados.

Ela ficou imóvel. O rosto inexpressivo, porém escarlate.

–Eu bebo, não posso? -Richard a encarou perplexo.

–Pode, mas... Eu nunca pensei que justamente você poderia beber... -ela revirou os olhos.

–Não tenho mais dezesseis anos, Dick. Faço dezenove daqui a dois meses... De qualquer forma, vocês querem ou não o vinho? -os meninos negaram.

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Todos dançavam no salão. Garfield olhava para seu copo vazio de Coca-Cola. Não sabia ao certo no que estava pensando nem o que iria fazer. Estava com sono. Muito sono. Sentiu as pálpebras pesarem e de repente sentiu uma mão em seu ombro. Ele se virou.
Hedley estava ali. Os olhos brilhando docemente e os lábios se curvando em um sorriso.

–Se incomoda de dançar comigo? -ele arregalou os olhos.

–Qual é a pegadinha? Victor te mandou aqui? -ela sorriu.

–Não, eu só quero que você dance comigo... Mas se não quiser, tudo bem... -ela fez menção de ir embora, mas foi detida pelo verdinho.

–NÃO! Não há necessidade... -ela riu.

–Sabia que iria reconsiderar...

E dizendo isso, os dois foram para o centro do salão. Dançaram durante alguns minutos até serem interrompidos por Ricardito, que corria em direção à mesa mais alta de todas e subia nela. Ele estava vestido de Pac-man.

–Eu, vos ordeno que aniquilem as impuras! Matem! -todos o encararam e ele riu. Em seguida desmaiou e caiu de cara no chão.

Aqualad subiu na mesa, sem se importar que o companheiro de equipe estava em uma posição desconfortável.

–Ele bebeu muito! Desculpem-nos! -se desculpou.

Depois desceu da mesa, levantou Ricardito e o carregou apenas dois passos antes que ele acordasse.

–MATEM! -e desmaiou de novo.

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Ravena se deitou em sua cama, exausta. Não havia bebido nada além de uma taça de vinho e sete copos de refrigerante. A única coisa que tinha comido fora um filé de peixe grelhado e salada. Muita salada.
Seus cabelos violetas estavam presos em um coque bagunçado e ela usava um pijama preto com rendas. Puxou o travesseiro e o colocou bem na sua frente. O abraçou e adormeceu assim.

"Ele acariciava seu rosto com uma doçura incomparável. A mão verde em contato com a pele pálida era uma combinação engraçada.
O garoto aproximou o rosto do dela. Estavam tão próximos que ouviam a respiração de cada um. Os olhos cor de jade encaravam os olhos índigos.
Com um rápido movimento, ele puxou o rosto da garota e a beijou. Era um beijo sem maldade. Era puro, suave, romântico e emotivo. Ele demonstrava o que aquelas duas almas mais queriam no mundo: um desejava o outro.
De repente havia outra pessoa ali. Uma outra garota. Uma não. Várias. E todas elas franziam o cenho para a dama de cabelos roxos.
A primeira garota deu um passo e separou o casal. Ela puxou o rapaz e o colocou atrás de si. Ele não resistiu.
A menina dos olhos índigos não chorava, mas estava abalada.

–Por quê fez isso? -indagou tristemente.

A primeira garota ficou completamente visível. Tinha olhos azui, cabelos loiros e um sorriso maquiavélico. Daqueles que um menino travesso dá ao ver uma formiga ser queimada com uma lente de aumento.

–Terra. -sussurrou para si mesma.

–Você nunca vai ficar com ele. Eu não permitirei. Eu fui a primeira. Ninguém jamais se esquece do primeiro amor. Ele não vai corresponder em hipótese alguma. E você vai morrer sozinha, querida. Sozinha.-ela se aproximou do rapaz e o beijou com violência. Aos poucos eles rolaram no chão se beijando enquanto o resto das meninas avança em cima da garota de cabelos roxos como zumbis querendo cérebro."

Ravena acordou gritando. Era a sexta vez que tinha esse pesadelo. Se tornaram mais frequentes faziam dois meses. Na primeira vez, ela achou que fosse um daqueles pesadelos normais, que todo mundo tem. Na segunda, coincidência. Na terceira, ela estava pensando muito no pesadelo, por isso voltou a acontecer.
A cama estava encharcada de suor e seu cabelo grudava na nuca e testa. Só uma coisa ela não entendia: por quê Garfield?
Ouviu batidas na porta e correu para atendê-la. Dick, Victor, Kory e Garfield estavam parados em frente da mesma.

–Ravena, está tudo bem? -perguntou o líder com preocupação. -Você gritou e nós achamos que...

–Foi só um pesadelo... -afirmou.

–Quer conversar sobre isso.

–Talvez amanhã de manhã. São três da manhã e vocês devem estar tão cansados quanto eu.

Ele assentiu.

–Amanhã você vai me contar tudo, tudo bem?

–Tá.

–Boa noite.

–Boa noite, e desculpem-me assustá-los... -disse ela. Aos poucos, os titãs saíram de perto da porta e foram para seus quartos. Todos menos um.

Ela já tinha se deitado de novo quando ouviu barulhos na porta. Levantou xingando e foi atendê-la.

–Rae?

–O que houve, Garfield? -indagou ela esfregando os olhos.

–Me desculpa pela briga de mais cedo... -ela sorriu cansada.

–Tudo bem, foi besteira. Não levei em consideração... -ele pareceu aliviado.

–Que bom, achei que fosse me mandar para outra dimensão.

–Não, eu só faria isso se você tivesse dito que meu vestido estava estranho... -ele sorriu.

–Então... Boa noite.

–Boa noite. -e fechou a porta sorrindo.