Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 10
Capítulo 9




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Ela parecia tão pequena e frágil encolhida contra o chão... O pijama hospitalar fazia com que parecesse ainda menor e mais pálida. Nem em seus piores sonhos, havia imaginado encontrá-la naquele triste estado ao correr no meio da noite para o hospital.

Deixando-se cair de joelhos diante dela, Ma-Ru estendeu a mão, deslizando as pontas dos dedos pela face macia do rosto dela. A pele fria de Eun Jae contra seus dedos causou um leve choque no rapaz, que engoliu em seco, sem saber exatamente o que deveria fazer para ajudá-la. A garota no chão pareceu se encolher ainda mais ao sentir mãos estranhas tocando seu rosto, como se repudiasse o toque dele.

O que, no mundo, havia acontecido com ela, a ponto de deixá-la naquele estado?

Por um momento, Ma-Ru se deixou ficar ali, sentindo uma sensação paralisante de pura impotência, exposta na inutilidade de seus atos. Ficar parado não faria com que ela melhorasse. Podia sentir em cada célula de seu corpo o que se passava dentro dela naquele momento, os tremores de seu corpo evidenciando cada pequena reação de Eun Jae, conforme ela continuava encolhida, evitando o toque de quem quer que fosse.

Ma-Ru não pode evitar de se amaldiçoar mentalmente, mais uma vez, por ser exatamente quem ele era. Um maldito punk, um garoto americano e esquisito em sua própria pele. Queria sair correndo por aquela porta e pedir ajuda, mas sabia que a primeira reação da equipe médica, seria pedir o apoio da segurança para retirá-lo do hospital o mais depressa possível.

Nunca. Mais do que nunca, podia sentir que ela precisava de sua presença, de qualquer apoio que pudesse dar a ela.

Tentou engolir em seco novamente, mas um nó dolorido se apertou em sua garganta, num protesto mudo. Levando uma das mãos até os cabelos dela, ajeitou uma das mechas atrás de sua orelha. Algo naquele pequeno movimento fez com que Eun Jae desse o primeiro sinal de reconhecimento, murmurando numa voz fraca e um tanto rouca.

— Esse cheiro... Eu tinha certeza que você viria... Ma-Ru...

Sem qualquer restrição, a garota pareceu sair do transe onde havia se isolado e incondicionalmente estendeu os braços em sua direção. Graças a Deus! Ela havia voltado a ser a sua Eun Jae de sempre, confiando e procurando a proteção que sentia quando estava com ele.

Ma-Ru correspondeu ao abraço apertado e tratou de colocar ali todos os bons sentimentos que tinha por ela e seu apoio incondicional. Apoiando a cabeça contra o topo de sua cabeça, aspirou profundamente aquele doce aroma de baunilha que exalavam os cabelos dela, sentindo-se imediatamente melhor.

Delicadamente, Ma-Ru envolveu seu corpo trêmulo em seus braços e levantou-a cuidadosamente, colocando-a sobre o colchão. Ao acomodá-la novamente no leito, puxou o fino edredom cor-de-rosa, que jamais serviria para aquecê-la e dar o conforto que ela precisava. Em sua mente confusa, se perguntava como um garoto coreano agiria naquela situação, sem encontrar a resposta para sua dúvida.

Levando suas mãos para junto das dela, segurou-as e esfregou-as contra as suas, procurando aquecê-la. Eun Jae pareceu entender o que ele fazia no momento, devolveu um fraco aperto em uma de suas mãos, como se tentasse lhe passar uma mensagem silenciosa.

Sem pensar duas vezes, Ma-Ru afastou o tecido rosa e se juntou a ela sob o cobertor, envolvendo-a em seus braços num abraço forte, porém carinhoso. Ainda que não fosse um costume coreano, Ma-Ru era mais americano que oriental, afinal.

Eun Jae não protestou também. Sentia muita falta dele, era incrível que ele pudesse estar ali, como se houvesse saído diretamente de seus sonhos para acalmá-la. Naquele momento não importava quem eram ele ou ela. Tampouco o mundo lá fora. Eram só um casal buscando um no outro, forças para enfrentar as barreiras que a vida colocava diante de seus pés.

A semi-escuridão do quarto silencioso contribuiu para que, por fim, ela encontrasse um pouco de paz. Aos poucos, não só ela relaxou, mas ele também, e ambos acabaram envolvidos num profundo e reparador sono sem mais pesadelos a perturbar-lhes a mente.

***

Um gemido assustado acabou com essa sensação de paz na manhã seguinte, assustando Ma-Ru também. Mais que depressa, abriu os olhos, preocupado que Eun Jae pudesse ter alguma recaída. Ao olhar a garota adormecida contra seu ombro, um sorriso tranquilo apareceu em seu rosto e o relaxou suavemente, tendo a certeza de que ela continuava bem.

Ao olhar na direção da porta, congelou ao ver a mesma enfermeira de ontem a noite, a mesma que o havia ajudado a chegar até Eun Jae.

— Você, rapaz! O que pensa que está fazendo?! Isso é um hospital! Enlouqueceu?
A sonolência de antes passou em um segundo de pânico ao registrar as palavras atônitas da mulher. Ma-Ru tratou de sair logo da cama, antes que a ahjumma pensasse alguma coisa horrível daquela situação diante de seus olhos. A reprovação estava expressa em cada um dos seus gestos.

— Joesonghibnida! Joesonghibnida!

Murmurando um pedido de desculpas para a mulher, Ma-Ru se moveu o mais depressa que pode, levando em consideração que precisava se desvencilhar cuidadosamente de Eun Jae, para não acordá-la. Com relutância, começou a se desprender dela o mais suavemente que pode, mas para sua contrariedade, ela abriu os olhos parecendo confusa, acordando também.

— Ma-Ru?

— A enfermeira precisa levar você para fazer alguns exames, Eun Jae.

Abaixou a cabeça quando a enfermeira lançou outro olhar zangado em sua direção, reprovando-o claramente. Sua prioridade era Eun Jae e tão somente Eun Jae. Dedicando-se a ela, em poucos minutos ajudou-a a se aprontar para o que quer que a enfermeira tivesse vindo fazer em seu quarto.

Novamente, tomou-a em seus braços, demorando um pouco mais do que o necessário para colocá-la na cadeira, evitando o momento de se despedir dela. Finalmente a enfermeira pareceu perder a paciência e a levou dali, dizendo por cima do ombro que ele devia se dirigir à sala de espera.

Mal a porta tinha se fechado atrás da enfermeira que conduzia a cadeira da paciente e Ma-Ru sentiu o conhecido aperto em seu peito, sentindo falta dela. Deixando o quarto, caminhou o mais depressa que pode em direção à sala de espera, já ansioso por notícias dela. Parou de imediato no corredor, respirando profundamente.

Que diabos ele estava fazendo ali? Onde estava com a cabeça em passar a noite com ela? Ele não estava na América. Seria terrivelmente ruim se os tios dela tomassem conhecimento de que ele havia procurado por Eun Jae mais uma vez. Seria perigoso ir até a sala de espera e se arriscar a encontrá-los. Mudando o caminho, Ma-Ru foi até o balcão de informações e falou novamente com a enfermeira que havia levado Eun Jae, que se limitou a olhá-lo severamente, como se entendesse que ele não deveria estar ali e que tinha noção disso.

Os minutos se arrastaram tão lentamente, que pareciam mal se mover. Aquela foi uma das horas mais longas que já tinha contemplado, numa corrida muda entre os dois ponteiros do relógio.

Aquilo era mesmo um completo inferno, doloroso e completamente sem saída. Ma-Ru fechou seus olhos e suspirou profundamente, como se tentasse controlar suas reações e aquilo foi ainda pior.
Fechar os olhos evocava um misto de emoções conflitantes. Foi impossível não sentir o cheiro dela em si mesmo. No mesmo momento, sua mente foi invadida pela sensação incrível de como ela se encaixava perfeitamente em seus braços e o quanto havia sido incrível estar ali naquela noite, mesmo sendo tão errado.

Afinal, o que eles eram um para o outro? Em algum momento, haviam atravessado a barreira da tranquila amizade que haviam cultivado, para um lugar incrível, onde ela, tão pequena e delicada, dormia tranquilamente entre seus braços, com plena confiança nele.
Eun Jae... Ela, que confiava nele, sem saber por que todos em volta pareciam temê-lo e evitá-lo e ainda assim não temia qualquer coisa que viesse da parte de Ma-Ru.

A longa espera terminou com um breve telefonema da enfermeira, que verificou a situação de Eun Jae. Parecia extremamente seria e acenou diretamente para ele, chamando-o.

— Sua namorada já foi removida de volta para o quarto. O médico acabou de conferi-la e está falando com os familiares. Se você for depressa... Estarão no quarto em dez minutos.

Ma-Ru não precisou de uma segunda insinuação. Puxou o capuz do casaco sobre a cabeça e saiu correndo no mesmo instante, sem se preocupar com os pacientes e familiares que circulavam pelos corredores por onde passava.

Ao chegar na porta do quarto dela, puxou uma respiração profunda e se acalmou, sabia que ela sentiria sua agitação e aquilo não faria bem a Eun Jae. Firmando a mão contra a maçaneta, abriu a porta com cuidado e entrou.

Ela estava deitada na cama, profundamente adormecida. O pijama rosado havia sumido, dando lugar a um pijama verde, do centro cirúrgico. Seus olhos estavam protegidos por dois tampões brancos, envoltos por uma faixa também branca, que fazia com que ela parecesse ainda mais pálida. Só os lábios continuavam rosados, continuavam iguais aos que ele havia beijado. Parecia fazer uma eternidade, e no entanto, fazia apenas uma semana. Estendendo uma das mãos, Ma-Ru escorregou um dos dedos pela face dela, acariciando a pele macia de Eun Jae. Ela estava tão linda quanto podia se lembrar.

Estava aliviado, o sofrimento dela havia acabado, devia se sentir tão feliz por ela... Em contrapartida, seu sofrimento havia piorado ainda mais. Deixou-se levar então por seus pensamentos, para o dia em que tudo havia acontecido.

Uma semana antes...

Ma-Ru havia passado longos dias vigiando a casa de Eun Jae, embora a propriedade estivesse sempre deserta. Havia se perguntado inúmeras vezes onde a família estaria. Muitas vezes havia ficado ali por horas e horas, à espera da chegada de algum carro ou de algum visitante.

Nada. Absolutamente nada. A falta de qualquer notícia fazia o vazio em seu peito aumentar. Sentia muito medo de que não pudesse vê-la de novo. Eun Jae era a primeira coisa boa que lhe acontecia depois de tanto tempo, não se sentia preparado para deixá-la ir assim, sem uma palavra sequer.

Na escola, não havia a quem perguntar nada sobre ela, uma vez que tanto ele quanto ela, não possuíam amigos por ali. Estranhamente, a resposta para suas dúvidas haviam vindo de onde ele menos esperava. Min-Ki, com seus modos todos, havia conseguido falar com o tio de Eun Jae e havia lhe dado seu paradeiro.

Ma-Ru não esperou mais. Naquela noite, peregrinou mais uma vez até os portões da casa dela, com mil planos rondando sua mente. Pular o muro, escalar o portão, esmurrar quem aparecesse em sua frente... Não, de maneira alguma poderia fazer aquilo na casa dela. Suspirando desanimadamente, se dirigiu até o portão de entrada e tocou a campainha.

Depois do ruído estridente, não demorou muito e o portão se abriu, mostrando a figura do severo senhor. Em suas feições, pode sentir o mais profundo desgosto vindo daquele homem, que logo começou a fechar o portão de volta. Depressa, Ma-Ru colocou a mão na madeira maciça do portão, impedindo-o.

— Por favor, não... Ahjussi, eu imploro, por favor... Não faça isso.

O homem não chegou a responder. A tia de Eun Jae havia visto sua súplica, e agora, sua mão delicada pousava no ombro do marido, enquanto ela tentava sensibilizá-lo. Seu olhar expressava um enorme pesar, junto de uma constante preocupação.

Yeobo... Talvez fosse melhor...

— Você enlouqueceu? Não está vendo esse punk bem aqui na frente de nossa casa?

A mulher baixou os olhos, parecendo sem saída. Nervosamente, torceu a ponta do Otgoreum no hanbok que vestia, amassando-o.

Anyio... Mas... Eun Jae está tão infeliz... Podemos só escutar o que o menino tem a dizer...

Ele balançou a cabeça ao escutar as palavras da esposa, desgostoso. Depois de um instante de apreensão, deu de ombros, dando espaço para que Ma-Ru pudesse passar pelos portões.

Instantes mais tarde, Ma-Ru se encontrava ajoelhado diante do casal, sua cabeça baixa e contida, respeitosamente reforçando seu pedido para encontrar Eun Jae. O tio dela, no entanto, parecia não entender o que ele dizia, cada vez mais irado com sua audácia em aparecer ali na casa.

Yeobo... Ela não se alimenta e também não dorme... Só sai do quarto para fazer a refeição e não come nada. Ela só remexe nos pratos e volta para o quarto...

Doía em Ma-Ru que ela estivesse tão mal. Estava passando por uma enorme pressão por causa da cirurgia que deveria fazer, sendo perturbada na escola, e ainda tinha que passar por mais coisas, por sua culpa.

— Por favor... Permitam que eu encontre sua sobrinha! Eu não seria capaz de fazer mal a ela, de forma alguma.

— Você é um rapazinho muito petulante. — O homem respondeu, com um traço de desgosto na voz. Suspirou por fim, antes de continuar falando. Não sei como foi a sua criação, mas você causou muitos problemas para a minha família. Eu vou permitir apenas esta vez. Entendeu? Não importa o que, eu espero que você nunca mais cause nenhum estrago na minha família.

— Eu sinto muito, ahjussi. Permita que eu encontre Eun Jae essa noite e eu nunca mais aparecerei diante de seus olhos. — Abaixou a cabeça, numa saudação respeitosa ao casal.

— Isso é apenas por Eun Jae. E também será a última vez. Vá. — Ele acenou com a cabeça em direção ao jardim, indicando que ele fosse para lá.

De volta ao presente, Ma-Ru mais uma vez se perguntou a si mesmo por que ainda estava ali, quando era certo que este não era seu lugar. Angústia o definia, aquele sentimento de enlouquecer tomando conta de seus sentidos. Quando mais sua mente se agitava, mais tinha a certeza de que não podia fazer nada. Era uma promessa, e o melhor que podia fazer para Eun Jae, era desistir de lutar e esperar que ela vivesse bem, mesmo que fosse longe dele. Estava preso a aquela promessa.

Sem dúvida, era a coisa mais corajosa que podia fazer para Eun Jae, a maior prova de que realmente queria apenas o melhor para sua querida amiga. Sem olhar para trás, Ma-Ru se aproximou da poltrona que estava perto da janela tempo suficiente para pegar seu casaco e sair daquele hospital, sem olhar para trás uma vez sequer.


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Notas finais do capítulo

Joesonghibnida (죄송합니다 ) - Desculpe/Formal, literalmente significa "estou arrependido".
Ahjussi - Senhor
Yeobo - Querido(a)/Informal. Tratamento entre marido e mulher, ou pessoas que possuem um relacionamento afetivo.
Otgoreum - Laço do Hanbok
Hanbok - Vestimenta tradicional coreana.
Anyio - Não



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