Sem controle- A garota Meminger escrita por Zabe Ribeiro


Capítulo 5
Novo lar?


Notas iniciais do capítulo

Liesel agora tinha um lar. Não um lar propriamente dito. Nem todos possuem a mesma concepção sobre as coisas. Não que lhe agradasse muito. Na verdade não agradara em nada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468845/chapter/5

Semanas atrás.

Após o acontecimento nas fogueiras de livros, alguns guardas se ofereceram para enterrar o pobre garoto. Até porque ele era um representante da Alemanha de verdade e não poderia ser enterrado de qualquer modo, como sugeriu o Homem de Terno Marrom. Um gesto surpreendente. Explicaram que muitas vidas se perderam durante a guerra e que muitos jovens, numa cidadela próxima dali, também se foram. E, depois de terminadas as fogueiras, se dirigiriam para lá, onde fariam a segurança do local em que seria feita uma pequena cerimonia para interceder pelas almas que se foram brevemente podendo, portanto, levar o pequeno Georg como favor. Não poderiam recusar uma oferta daquelas. Deitaram o corpo no fundo de um dos pequenos caminhões. Liesel se despediu com um abraço sem jeito e um beijo automático na testa. Ficou por um tempo segurando sua mão, esperando, talvez, que a pele gelada voltasse a ser morna como na hora em que o agarrou. Soltou-a de forma ligeira ao ser chamada para o carro. Apressou o passo. A primeira fogueira havia diminuído de tamanho e era hora de continuar viagem. O balançar do carro foi um alívio. Queria sair dali. A garota de cabelos loiros nunca agradeceu tanto por estar numa guerra. Mortes não precisavam ser investigadas porque muitos morriam. Morte de gente sem importância como Georg. Como ela.

Após algumas casas escuras e ruas vazias, Liesel chegou a uma rua tão escura e tão vazia quanto as outras. Parou em frente a uma casa de paredes brancas recentemente pintadas. Um rosto emburrado apareceu na janela parcialmente coberta por cortinas. O rosto sumiu e, ao mesmo tempo, a porta começou a balançar até abrir completamente. Dela saiu um senhor alto de cabelos brancos. Atrás dele, uma mulher magra de batom vermelho apareceu. Pararam em frente ao carro e cumprimentaram o Homem de Terno Marrom.

–Boa noite, senhor Schenker.

– Boa noite, senhor e senhora Gunter.

– Só vejo um. Pedimos dois. – disse a senhora com os cabelos bagunçados.

O Homem de Marrom engoliu seco, tirou a garota do carro e puxou os dois para um canto.

– Houve um problema no percurso.

E assim explicou toda a história que já contei a vocês.

O casal se afastou e deixou que ele fosse embora, mesmo com ódio no olhar.

– Perdem um no meio do caminho e me trazem esse saco de ossos sujo- a mulher parecia realmente desapontada.

O homem se aproximou de Liesel, passou o dedo pela maça do rosto e, inclinando a cabeça como se estivesse observando um pedaço de carne, disse:

– Acho que com um pouco de comida e banho ela estará no ponto.

– Estamos em Guerra, idiota! A demanda é grande. Precisávamos de variedade. Perdemos um e não temos tanto tempo a perder engordando outro.

– É o que temos. Não podemos fazer nada. É lidar com o que se consegue. Como você mesma disse, estamos em guerra.

A moça pegou a garota pelo braço e arrastou até a casa. Continuou a puxá-la, passando pelos corredores de paredes descascadas. Passou em frente a alguns quartos. Havia mais crianças. Algumas mais velhas e outras mais novas. Foi jogada em um quarto escuro com cheiro de tinta fresca.

– Ela também é nova aqui. – disse a moça logo antes de fechar a porta e mergulhar o quarto na completa escuridão.

Liesel não achou que aquela ultima frase tivesse sido para ela.

– Oi. – ouviu.

–Olá?- respondeu.

– Tem que abrir a cortina atrás de você

– O que?

– A cortina. Abra.

A garota tateou até achar um punhado de pano áspero. Puxou-o. a luz do que parecia ser um poste iluminou o cômodo fazendo um punhado de cabelos lisos e muito loiros cintilar. Dois olhos azuis apareceram embaixo do monte de cabelos.

– Olá, sou Rudy Steiner.

– Liesel Meminger. Onde estamos?

– Não sei.

– Gosta daqui?

– Acho que não.

– Preciso de certeza.

– Definitivamente não.

– Então fugirá comigo, certo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!