Trevo do azar escrita por lfx


Capítulo 5
Revertendo a sorte




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468751/chapter/5

– Garotas, posso falar com Otavio um minuto?
– Teremos que ficar um minuto sem o nosso Tavinho? Ah não, isso é tempo demais!
– Disse uma delas abraçando meu irmão. Otavio ria, afinal qualquer um riria atoa em momentos assim. Olhei sério para que ele percebesse que realmente precisávamos ter uma conversa. Percebendo uma seriedade em meu olhar que nunca havia visto antes, Otavio desfez o sorriso e dispensou o mais educadamente possível suas fãs. Quando elas cruzaram a porta me aproximei de Otavio e comecei a falar com ele de uma forma mais direta.
– Você não acha estranho se contundir de uma forma tão inexplicável depois de tantos anos sem ganhar um machucado?
– Eu também fiquei um pouco surpreso sim, mas tudo bem. Isso só prova que eu não sou o garoto a prova de azar que pensei que era.
– E se eu te dissesse que no momento da contusão eu consegui ter sorte, coisa que raramente acontece? Ainda acha que esta tudo bem?
– Bom, só significa que eu finalmente tive azar e você finalmente teve sorte. Não é nada sobrenatural.
– Não é sobrenatural? Sua sorte é assustadora, assim como o meu azar. Como eu perco jogando xadrez sozinho, e você tem três namoradas?
– Não são namoradas, e Dracula tinha três noivas.
– Dracula era um personagem, e elas eram controladas por ele... Espera, desde quando você lê livros?
– Não leio, vi nos filmes. Por que eu vou ler se os melhores livros viram filmes?
– Ah, esquece! O fato é que você esteve com a minha sorte esse tempo todo, e eu consegui tomar controle dela por um tempo hoje. Isso quer dizer que eu não preciso ter azar pelo resto da vida, agora podemos controlar o azar. Eu li isso em um livro.
– Ta vendo? Filmes são superiores! Nunca vi alguém falar essas loucuras depois de assistir filmes.
– Olha eu posso provar - entreguei três copos de vidro ao meu irmão - faça malabarismos
– Eu não sei fazer malabarismo.
– Apenas faça.
Sem entender muito bem, Otavio jogou os copos pra cima e conseguiu dominá-los no ar como se tivesse nascido no circo. Depois dos malabarismos ele deixou os copos na mesa com cara de abobado.
– Cara, achei que malabarismo fosse mais difícil. - disse ele.
– Pra quem nunca fez isso antes, malabarismo é sim muito difícil, e você só conseguiu porque você esta com a sorte que eu falei.
– Ah, claro. Então todos os malabaristas roubam sorte dos irmãos?
– Quer saber, deboche o quanto quiser. Nem sei porque estou falando contigo.
No dia seguinte acordei sem o barulho de britadeiras lá fora, sem pessoas batendo na porta do meu quarto por engano e sem pesadelos estranhos. Parece normal, mas já é surpreendente pra mim. Me levantei e fui tomar meu café da manhã, minha mãe não estava, mas tinha um bilhete na geladeira. "Norton, a mamãe teve que sair mais cedo para o trabalho hoje e não pude preparar seu café, deixei R$ 15,00 aí pra você comprar alguma coisa e comer no caminho, pode ser sanduíche, pizza, batata frita ou o que for. Beijos." Peguei o dinheiro e fui. Achei estranho, mas era melhor aproveitar antes que o trevo se lembre de me dar azar. Comprei um X-tudo e percebi que enquanto eu comprava eu perdia o ônibus da escola de novo, e isso significava que eu teria que correr pra chegar lá e ser perseguido por cães. Nesse momento, uma Van parou perto de mim e o motorista me pediu informação.
– Hey, garoto, você sabe onde fica o Estádio Raimundo? É que a gente vai fazer um show lá.
– Sei sim, andem reto por uns três quarterões, virem a esquerda e depois a direita na primeira esquina. Passem pela igreja e vão pela rua Graneiros, tem uma placa indicando qual é. Sigam até encontrar o banco do centro, vocês não vão se confundir, é o único banco. A próxima é a rua Silveira, tem uma loja de artigos pra bandas. Andem até chegar na loja de produtos de beleza, virem a esquerda e andem até o fim da rua. Quando verem três mendigos pedindo moedas passem e poderão ver o Estádio de lá mesmo. Acho que vocês chegam lá em cinco ou dez minutos.
– Não entendi nada depois da parte da igreja. Tem como levar a gente lá?
– Eu preciso ir pra escola.
– A gente te leva de carona, anda. Entrei na van com um pouco de medo de serem maníacos homicidas, apertei o cinto e tentei ficar quieto.
– Somos uma banda cover do Kiss, não se importa se a gente ensaiar no caminho não é, molequinho?!
Depois de comer e ouvir música ao vivo de graça, cheguei na escola 3 minutos adiantado. Nos corredores encontrei Marco, e o cumprimentei.
– E aí, Marcos, como você esta?
– Não tão bem desde que Sabrina terminou comigo.
– O que? Por que?
– Ah, depois eu te explico. Vou pra aula. Até mais.
– Falou. Eu sei que era errado comemorar o fato de um amigo meu ter terminado o relacionamento, mas eu não dava a mínima. Na sala pude ver Sabrina de um jeito um tanto diferente, com uma postura diferente, parecia mais à vontade como se tivesse deixado um peso. Eu não fazia ideia de quanto tempo a minha sorte ia durar, portanto eu precisaria ser rápido com ela, talvez eu demoraria anos pra ter outro dia de sorte, anos pra ter outra chance de impressionar Sabrina sem que algo desastroso acontecesse. Em contrapartida minha sorte poderia durar muito tempo, e eu não precisaria agir naquele momento. Não quero ser procrastinador, mas também não quero ser desesperado. Enfim, vou esperar um pouco. Na hora do intervalo pensei que devia falar com Sabrina, sem precisar falar o que eu sentia por ela, apenas conversar um pouco. Me sentei com ela pra lanchar e comecei a falar sobre minha sorte, sobre o livro, o Otavio e o trevo, e de como ela tinha mudado inexplicavelmente hoje.
– Nossa, fico feliz por você, Norton. Acho que agora não precisa mais da minha ajuda.
– Na verdade eu ainda preciso de você, e muito. Você foi a única que me viu sendo engolido pelo azar e tentou fazer alguma coisa. Quero que você esteja sempre comigo.
– Sim, eu estarei sempre com você. Amigos são pra isso.
– Não foi isso que eu quis dizer. Eu te amo, Sabrina, e quero ser mais que um migo pra você. Após uma expressão de espanto e alguns segundos de silêncio ela decidiu me responder, com um tom de voz já um pouco alterado.
– Eu também gosto de você Norton, mas acabei de terminar um namoro e não quero começar outro tão cedo. Minha cabeça esta cheia agora, tenho muita coisa pra pensar
– Vendo minha face de descontentamento ela se aproximou, me deu um beijo e falou sorrindo com voz baixa - Enquanto isso vou te deixar pensando em mim. Fiquei sem palavras, ela saiu e eu nem consegui me despedi. Com certeza eu tive mais sorte naquele dia que na minha vida inteira.
Chegando em casa, me deparei com Otavio cheio de lama, com a camiseta rasgada e com várias mordidas de cães nos braços.
– Eu acredito, cara. Eu acredito em tudo o que você falou sobre sorte. Agora, por favor devolve ela pra mim!!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Trevo do azar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.