Lolly lembrava o quão bravo Grimmjow ficara aquela época. Queria trucidar, estraçalhar aquele que se atreveu a tentar fazer algo com o que era seu. O amigo nunca foi alguém que realmente se importava em buscar vingança. Mas o que Ulquiorra fez, foi imperdoável, covarde.

– Naquela época, eu não me importaria de você ter tentado forçar alguma relação comigo. - O de cabelos azuis parecia controlar sua voz ao máximo. - Eu o rejeitaria na hora, é claro. Mas...

Na verdade, durante aquele tempo, Grimmjow sempre exagerava a situação quando seu namorado estava ligado à alguma circunstância. Por isso, quando disse à Lolly que fora Ulquiorra quem lhe cortou o abdômen, achou pouco provável que um estudante tivesse sido mesmo culpado por aquilo. Era verdade que uma parte de seu desprezo pelo garoto de olhos verdes provinha daquela situação, mas não acreditava de fato que o rapaz havia feito aquilo ao azulado.

– Manipular… E ainda tentar usar… O meu Ichigo daquela forma… Pra depois no final, ainda traí-lo...- Aparentemente, o ataque ao parceiro do outro por parte do albino havia começado por o último querer ter Grimmjow para si. A fúria começava a transbordar na voz do azulado. - SEU DESGRAÇADO….!

Enquanto Lolly mal acreditava que o acontecimento fora de fato, real, Ulquiorra apenas observava Grimmjow atentamente, inexpressivo. Mas o outro não aguentava mais. Ainda sentia angustia daquela época, e seus punhos ferviam em agonia… Sem aviso, o punho de Grimmjow acertou em cheio o rosto do albino, jogando-o contra o chão.

– Filho da… - Rugiu o de cabelos azuis, enquanto o olhava de cima, com a fúria em seus olhos.

– Não importa. - Ruminou o outro com a voz baixa, sentindo um filete de sangue escorrer entre seus lábios.

– O que não importa seu filho da puta?! - Bravejou Grimmjow, levantando o tronco do garoto pela gola de sua camisa. Mas os orbes verdes encaravam o nada, suprimidos por uma estranha, inexpressiva, melancolia.

– Me desculpe, Orihime-san. - A voz saiu tão rouca, que mal deu para ouvir. Mas foi suficiente para chegar aos ouvidos amendrontados de uma delicada garota de cabelos ruivos.

– Desgraçado… Não ouvi o que disse, mas... - E levantou o punho para acertá-lo novamente. - EU AINDA NÃO ACABEI COM VOC----

– NÃO! PARE COM ISSO, GRIMM-KUN!! - Implorou o mais alto que pode a ruiva, com sua voz fina. Palavras das quais chegaram momentos antes do soco acertar o rosto do outro. Lágrimas rolavam de olhos celestiais. Mãos continham o soco ainda embutido na direção do rosto já machucado. - Por favor, pare com isso…

A voz chorosa de Orihime fez ambos os garotos despertarem de seus estados. Grimmjow folgou a mão e levantou-se de onde estava, virando as costas em silêncio para o público que observava a cena.

– Por que você…

– Já entendi, Ulquiorra-san. - Implorou novamente, enquanto o menino a admirava, tão surpreso quanto confuso. A menina engoliu o choro, e com as mãos trêmulas, acolheu as mãos pálidas do outro. - Já está tudo bem, então por favor…

– O que você… - Arregalou os olhos, ainda mais confuso pela última frase da outra. Então abaixou o olhar e se calou por alguns segundos. - Como pode dizer isso…? - Inoue o mirava atentamente, enquanto as palavras do menino saiam quase em murmúrios. - O que você entende?! - Alterou a voz de repente, elevando-a. - Como está tudo bem?! Depois de tudo que fiz!! Não está com medo de mim?? Essa pessoa horrível… - E cobriu o rosto com as próprias mãos. - Essa pessoa horrível que sou.

– Talvez tudo isso seja verdade… Eu tive medo sim, mas… Mas o Ulquiorra-kun é o Ulquiorra-kun. - E delicadamente, retirou a mão de um rosto que chorava em silêncio. Esbanjando um sorriso sincero, Orihime consolidou as últimas palavras aquela noite para o rapaz. - E eu sei que o Ulquiorra-kun que eu conheço é gentil, e é desse Ulquiorra-kun que eu gosto.

Os olhos verdes arregalaram-se ao perceber a própria mão unindo-se a bochecha da garota. Um sentimento gentil transbordava naquele momento. Ele havia entendido que não podia ficar com a garota. Ao menos, não como amante. Mas, depois daquele dia, Ulquiorra se sentiu mudado. Não voltou mais a causar confusão e nem manipular as emoções das outras pessoas. Por incrível que pareça as simples palavras de Inoue Orihime o havia mudado para sempre. E quanto à Lolly Airvirrne, bem, o fato é que com tudo que ocorrera aquele dia, ela não teve mais momentos para se confessar à amiga.

Três dias depois do ocorrido, Lolly observava, deitada na cama, a amiga arrumando a mala e esvaziando cada pedaço de memória de seu quarto.

Percebia cada peça sendo cuidadosamente arrumada dentro de uma mala de tecido verde esmeralda, reparando nos braços brancos e nas mãos delicadas da ruiva. Ela fazia tudo com zelo e paciência. Mesmo que ela se visse ocupada pensando no que poderia ou não levar para a casa da tia, Lolly só pensava em uma única coisa.

– Sabe, Orihime… Sobre aquele dia da festa… - Inoue desviou a visão para à amiga, atenta ao que tinha a dizer. - Sobre o Ulquiorra… - Seu olhar era cabisbaixo enquanto pronunciava as pequenas palavras. - Sobre você gostar dele... Como é esse seu "gostar"...?

Sua fala estava acompanhada de pequenas pausas com um leve tom de insegurança. Como se não estivesse totalmente preparada para ouvir uma resposta que talvez se desagradasse os ouvidos.

– Ah, sim, o Ulqui-kun? Bem eu... - Seu olhar pareceu entrar em um colapso de memórias. - Gosto dele. É um grande amigo e...

– Mesmo que ela tenha feito tudo aquilo?! - Cortou Lolly, irritada. Inoue a olhava sem entender muito bem o motivo de a outra estar tão alterada de repente. - Ele tentou matá-la, Orihime! A nos duas! E teve aquilo do Ichigo também! Você viu quão Grimmjow estava irritado! Se ele não tivesse aparecido nós---

– Eu sei. - Interrompeu de volta. - Mas ele ainda é a pessoa que eu conheço e gosto. Ele deve ter seus motivos do mesmo jeito que eu tenho para não tê-lo aceitado o seu pedido de amor.

– Que quer dizer? - Lolly atentou os ouvidos, apreensiva. Inoue se calou imediatamente tampando as mãos com a boca, quase tão vermelha quanto um tomate.

– Eu... - Respirou fundo, parecendo reunir coragem para pronunciar as palavras que viriam a seguir. - Gosto. Muito... De uma pessoa. Mas não sei se ela sente o mesmo por mim.

Com o coração a mil por hora, Lolly encarou as costas da ruiva, sentindo a adrenalina de quase estar sendo engolida pelo silencio do momento. Era hora de arriscar.

– Eu também. Gosto muito... De uma pessoa. - Revelou, sentindo-se atraída pelo clima. - Mas também não sei se seria retribuída por ela. - Pronunciou tão baixo que ela mesma mal pode ouvi-la.

– A pessoa que você gosta, é mulher ou homem? - Quis confirmar Inoue.

– É uma garota. E você?

– É uma menina também. - Aquilo estava começando a se tornar um jogo de perguntas e respostas.

– Como ela é? A garota que você gosta?

Ambas perceberam que aquele seria o melhor jeito de alcançar as respostas uma da outra, pois, quando se sentiam inseguras com algum assunto, essa brincadeira sempre foi a mais fácil de lidar com essas situações.

– Bem ela é... - Começou Inoue. - Uma pessoa muito gentil e bondosa. Tem pouca paciência e pode ser alguém muito explosiva. - De uma risadinha tímida. Lolly engoliu em seco. - Está comigo em todas as horas e é uma companhia que jamais poderia desmerecer. Alguém que eu gosto muito, muito mesmo. Eu não queria ficar longe dela, não queria... - As lagrimas começaram a sair de seus olhos enquanto soluçava. Mas então sentiu abraço por trás.

– Então não fique! - Era um abraço quente e acolhedor. - Fique aqui... Comigo. - Sussurrou em um suplico com as mãos trêmulas.

Um sorriso tímido percorreu o rosto de Inoue.

– Quem é a pessoa que você gosta, Lolly-chan? - Perguntou diretamente, apesar de saber das regras da brincadeira, sentiu que poderia interrogar desta forma.

Inspirou fundo e apertou ainda mais o abraço. Então, virando a ruiva de frente pra ela, respondeu com sinceridade e impaciência.

– A pessoa que eu gosto é de você, Orihime-chan!

Ao ouvir a declaração, Orihime abriu um largo sorriso, secando as lágrimas de seu rosto.

– A pessoa de quem eu gosto também é você, Lolly-chan!

Sem pestanejar, Lolly abraçou firmemente a outra, mal se aguentando em tanta felicidade. Inoue apenas retribuiu o abraço, de forma calorosa e acolhedora.

– Mas... - Um pequeno pensamento da morena invadiu o momento das duas. - E a sua tia...?

Entretanto, Inoue simplesmente folgou o abraço e olhou a outra nos olhos, com o seus próprios mergulhados em ternura.

– Está tudo bem. - Falou, em uma expressão doce e gentil. - Vou ligar e explicar os motivos. Tenho certeza que ela entenderá.

– Orihime-chan.,. – Sentia-se emocionada. - Tem certeza?

– Sim. É com você que quero ficar. Você é a pessoa mais importante pra mim, Lolly-chan.

Declarou Inoue completamente vermelha, porém com olhar firne na outra. Admirada com tais palavras, lágrimas tímidas tomaram a rolar pelos olhos de Lolly, tornando a abraçar a ruiva calorosamente, a qual contribuiu o aperto com a mesma compaixão. O rosto da ruiva também se fez úmido. Ela sabia muito bem os motivos das lágrimas da amiga, pois o sentimento era o mesmo que o seu.

Daquele dia em diante, aquelas meninas descobriram o que era paixão. O que era amar alguém. Amor é uma forma sem limites e pode se manifestar a qualquer momento, a qualquer maneira. E a forma delas foi broto de uma amizade profunda e verdadeira. Logo mais descobriram que não era possível viver sem a outra, e o que sentimento entre si era mútuo e eterno...

***Extra***

Alguns meses se passaram desde que as duas haviam se concretizado como um único relacionamento. Lolly esperava pacientemente, isso mesmo, a paciência lhe havia lhe posado como uma pequena virtude, enquanto Inoue terminando o banho e se arrumava. Mas paciência ainda não lhe era o maia forte.

– Orihimeee! - Chamou, abrindo a porta do quarto da ruiva devagar. - Ainda não está pron---

Seus olhos se arregalaram e seu rosto ficou completamente vermelho. Inoue estava vestida apenas de suas roupas íntimas, com todo o restante de sua pele lisa e aveludada à amostra, e mesmo seus seios se destacavam graças à posição em que estava. A menina de cabelos laranja mirava a namorada com a cabeça virada para baixo, e suas costas coladas à cama.

– Ma-ma-mas o que você está faze-zendo? - Gaguejou Lolly, desviando o olhar, ruborizada.

– Ah! Lolly-chan! Está linda! - Elogiou na maior inocência, o que fez a outra corar ainda mais. - Me deitei na cama por um instante, mas estava tão refrescante que quis ficar deitada mais um tempo!

O sorriso bobo da menina esbanjava inocência. Tanta que Lolly não aguentou.

– Mas você! Sabe há quanto tempo estou esperando?! - E se sentou num pulo, irritada ao lado da outra, na cama. - Caramba. - Cruzou os braços.

Orihime a obsevou, piscando os olhos sem entender ao certo o motivo para irritação da outra. Mas não gostava de deixar a namorada angustiada, por qualquer motivo que fosse. Logo levantou as costas, ficando sentada de lado para a outra.

– Me desculpe, Lolly-chan. - Abaixou o olhar, com o rosto na direção da outra. - Não foi minha intenção.

– Hã...?! Aho! Não precisa se desculp---

A garota de cabelos pretos eferveceu a pele na mesma hora. Estava perto demais. Os peitos da ruiva estavam quase saltando para fora do sutiã. Os lábios avermelhados se destacavam em seu belo rosto. Lolly estava para entrar em colapso.

– I-i-i-diota! Está... Perto demais!

– Lolly-chan? Você está bem?? O que foi? - Questionava ao perceber o estado da outra, ficando cada vez mais perto. Mas já era tarde demais. Lolly já havia perdido a consciência. E mais uma vez, as duas não haviam conseguido sair de casa, terminando o dia com uma Inoue cuidando de uma certa Lolly enfraquecida pelas tentações.