Crônicas de um futuro já previsto escrita por V Coutinho


Capítulo 2
Capítulo 2




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É o primeiro dia do colegial, eu já sei que minha professora de Química poderá ser confundida facilmente com um carrasco, mas não posso comentar com ninguém como o ano será terrível, me achariam maluca, afinal estão todos empolgados. Minha melhor amiga Rafa até suspeita de algo, embora não saiba o quê.

Antes de sair de casa me olho no espelho, nada demais no visual, meus cabelos na altura do ombro estão lisos, retos e sem graça, meus olhos castanhos têm um pouco de lápis preto apenas pra disfarçar minha noite mal dormida, coloquei meu uniforme novo que se resume a calça jeans e camisa branca com a logo do meu novo colégio e duas listras verticais, azul e vermelha.

Meu colégio não é lá grandes coisas, estudo em num colégio particular perto de casa o José Anchieta, o ensino é excelente, mas nem chega perto do Colégio Santa Maria, que é sem dúvidas o melhor colégio da região. No José de Anchieta os banheiros têm as portas rabiscadas e as paredes das salas são metade branca e metade verde.

Por sorte eu não sei exatamente tudo que vai acontecer, são apenas cenas e quando vi meu nome Gabriela Rocha na mesma lista de chamada que o da Rafaela pregada na parede foi um alívio. Passar pelo ensino médio já é bem complicado, não suportaria sem minha melhor amiga meu lado. Pontualmente às 7h, estávamos subindo a rampa para conhecer nossos novos professores e colegas de classes, alguns já conhecidos da nossa antiga escola.

Claro que “alegria de pobre: dura pouco” e as dádivas dadas pela vida, também são facilmente retiradas, estava estudando com a minha melhor amiga, mas nada é perfeito e na minha sala também estava a menina que mais me odiava no mundo, sei que você está se perguntando o que eu fiz pra ela me odiar. Mas eu juro que não fiz nada! Se morássemos nos Estados Unidos e os colégios fossem divididos por grupos o meu seria dos nerds com certeza, eu e Rafa adoramos ler e isso pra turminha badalada é ser nerd, minha opinião sou viajante, viajo por histórias maravilhosas que falam da vida, do amor, do desespero, da compaixão, de grandes mistérios e de alegrias. Em um tempo onde as mídias sociais se sobrepõem a vida real minha leitura me ajuda a ter um tempo pra mim, sonhar, imaginar e criar.

Voltando a bruxa má do oeste a malvada da história, Thaís me odiava e infelizmente estudamos juntas sei lá a vida toda. E sempre que podia ela tentava esfregar na minha cara o quanto era melhor que eu, na opinião dela claro. Mas nesse ano prometi que eu seria diferente, que daria uma de Pollyana (Eleanor H. Porter), jogaria o jogo do contente e veria o lado positivo das coisas. Como meus flashes, descobri que embora não tenha chance de mudar o que vai acontecer pelo menos posso me preparar para o que vai acontecer.

Quando meu pai faleceu 4 anos atrás eu sabia exatamente como ia acontecer não sabia a data exata, e eu não podia tranca-lo no quarto pra sempre. Ele sofreria um acidente de carro, culpa de um babaca bêbado que pegou o carro num estado deprimente, claro que o bêbado não sofreu nenhum arranhão, mas meu pai morreu na hora. Gosto de imaginar que ele não sentiu muita dor e que como morreu logo depois do impacto não sofreu também. Tive tempo pra dizer que o amava e me divertir com ele assistindo filmes e comendo pipoca, coisa típica de famílias brasileiras que não tem acontecido ultimamente. Se você está lendo este relato eu sugiro que se esforce ao máximo pra ficar com a sua família, nunca se sabe quando será a ultima vez que se encontrarão.

Sem divagar, Thaís fez da minha vida um inferno, imaginem todas as piadas de mau gosto que você provavelmente viu nos filmes, ano passado ela descobriu minha senha do facebook e postou um monte de bobagens, não consegui provar que foi ela e a pegadinha dela me gerou boas broncas da minha mãe que não acreditou na minha palavra, jogava tinta em mim e uma certa vez quando éramos crianças colou chiclete no meu cabelo, deu pra entender né!? Ela era meu castigo.

Quando passei pela porta branca do primeiro andar que indicava o número 1103 ela virou pra trás na hora e me deu aquele sorriso diabólico que só pessoas realmente do mal podem dar. Automaticamente escolhemos carteiras duplas do lado direito da sala que eram na janela e davam para o pátio e o campo de futebol, lado oposto de Thaís na sala. As carteiras juntas nos ajudariam com as atividades complicadas de matemática nossa matéria mais temida.

Estava extremamente absorta em meus pensamentos de como não cair em nenhuma armadilha que não notei a breve manifestação do sexo feminino que acontecia em minha nova turma e levei um susto quando a Rafa deu um cutucão na minha costela.

Ai – Exclamei exasperada – Porque fez isso? Com uma breve olhadela pra Rafa notei que estava com uma expressão estranha uma mistura de cachorro babão piscando os olhos e leão faminto olhando sua presa com a boca aberta, segui a direção do seu olhar, claro devia ter imaginado que era um garoto e eu devo ter feito uma expressão parecida com a ela, pois o garoto era extremamente lindo. Olhos verdes como esmeraldas, cabelos lisos não eram compridos, apenas o suficiente para ficar meio bagunçados pro alto, relativamente alto, acredito que se comparando a porta ela devia ter mais ou menos 1,77m, não era forte, porém tinha os músculos definidos e para nossa sorte ou azar, ainda estou tentando descobrir, sentou na carteira bem atrás da nossa.

Não tínhamos como falar do nada sobre novo gatinho da sala, então pegamos uma folha de fichário e começamos a escrever antes da chegada do professor.

Você tinha que ver sua cara Rafa, foi hilária estava com a boca aberta ele com certeza notou o seu profundo desejo reprimido. Uma garotinha de 14 anos apaixonada pelo cara mais gato da turma.

Sua cara não foi muito diferente não está bem e nem me como discurso de sempre de que “O essencial é invisível aos olhos” que dessa vez não vou nem ouvir, você também ficou caidinha pelo garoto novo. E de onde será que ele veio?

E Você acha que eu sei? Nunca o vi pelo bairro antes. Eu realmente fiquei abobada, mas você sabe que estou em um relacionamento sério com meus personagens fictícios preferidos, não tenho tempo pra namoricos de escola.

Você adora falar isso, mas acho que no fundo está louca pra viver um relacionamento igual ao dos livros que lê devastador e intenso.

Agora chega que a professora de química já está na mesa.

Como sabe que é de química?

Opa, pega no flagra. Fazendo o sinal universal de silencio espero que ela esqueça essa história.

No final da aula eu já sabia que o sonho da noite anterior seria o mais próximo da realidade, já odeio química com todas as minhas forças e não tem nada a ver com a matéria, mas sim ao fato de no primeiro dia de aula ela já ter marcado a prova, passado matéria nova e claro uma lista gigante de dever para casa.

No final do segundo tempo já estava exausta e só pra comprovar que o mundo é injusto: duas aulas seguidas de química em plena segunda feira, ninguém merece mesmo.


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