Gangster escrita por Carrie Salvatore Grey


Capítulo 1
Capítulo 1 - Crackharbour


Notas iniciais do capítulo

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Há anos em que o inverno em Manhattan, no estado de Nova York, é muito rigoroso. Em sua violenta batalha contra a chegada da primavera, ele ataca com tempestades de granizo e neve, reivindicando algum direito de continuar sendo o rei das estações — no fim das contas, uma tentativa inútil. Este ano, no entanto, não foi assim. O inverno simplesmente se retirou como uma mulher derrotada, partindo de cabeça baixa e com suas roupas sujas e esfarrapadas, sem uma única palavra de defesa nem promessa de retorno. Mal dava para notar a diferença entre sua presença e sua ausência.

— Por favor, — a voz feminina suplicava. — Não me machuque.

— Fica fria princesa. Só queremos a grana.

Brian empurrou Hunter e o alertou que não conversasse com a refém.

— Foco irmãozinho, pega logo a parada! A gente tem que vazar daqui!

A garota encolhida no canto da parede chorava descontroladamente. Brian bufou nervosamente e se aproximou dela, encostando a arma em sua cabeça.

— É melhor você parar de chorar vadia! — gritou e a jovem estremeceu. — Se não estiver a fim de morrer!

Ela não obedeceu. Talvez não conseguisse remover os soluços da garganta.

O som foi ensurdecedor. Um jorro vermelho, um instante de paralisia e silencio, e só então o corpo da garota tombou.

— Qual é Brian, — Hunter encarava a menina morta. — Não precisava disso cara.

— Ela queria morrer.

Para Brian Crawford, não importava. O inverno era uma chateação e a primavera não ficava atrás. Se pudesse, removeria as duas estações do calendário, juntamente com a parte úmida e chuvosa do outono. Um ano de cinco meses seria o ideal, sem dúvida melhor do que aqueles longos períodos de incerteza.

Depois do dia cheio, ele se recostou na cadeira e ergueu os olhos para a tela do computador. Bastou pressionar uma tecla para ter acesso ao sistema de monitoramento de suas propriedades: o apartamento em Miami; sua casa de praia em Venice Beach; seu casarão em Washington; o galpão subterrâneo situado estrategicamente no centro de Manhattan e seu escritório na antiga casa de seus pais, também em Nova York, onde ele se encontrava agora. O silêncio era total, como se o mundo estivesse prendendo a respiração.

Embora as pessoas que cruzavam com o jovem Brian pudessem pensar o contrário, ele não era uma pessoa alegre. Era, sem dúvida, determinado, e estava sempre em busca da próxima oportunidade. Isso muitas vezes exigia uma atitude extrovertida e sociável, sorriso largo, contato visual e aperto de mão firme, não por causa de uma admiração genuína, mas porque todos potencialmente tinham informações que poderiam ser valiosas para o sucesso de seu trabalho. Aos vinte e três anos, Brian poderia ser comparado ao Osama Bin Laden. Famoso por suas iniciativas filantrópicas, Brian entendia a compaixão como um meio de alcançar objetivos palpáveis. O altruísmo tornava as pessoas muito fáceis de manipular. Depois de algumas tentativas hesitantes, ele havia concluído que amizades demais eram mau investimento, contar segredos a alguém trazia lucros baixíssimos. O grupo de amigos não existia para ele, e o único que considerava seu amigo era um sujeito que conhecia desde a infância. Brian não queria a felicidade.

Em vez disso, ele preferiu o sucesso. E atingiu esse sucesso na administração e na construção de um mundo onde ele era o rei, um reino que ele comandaria até o fim de seus dias. Um trabalho sujo e perigoso, onde ele era respeitado e temido como um empresário agressivo e um mestre das negociações. Para Brian, a felicidade era um sentimento tolo e efêmero, uma brisa passageira se comparada ao perfume de um negócio em potencial e ao gosto viciante da vitória. Como um velho sovina, ele tinha como hobbie sugar os últimos resquícios de dignidade daqueles ao seu redor, especialmente dos “funcionários” que trabalhavam com ele mais por medo do que pela alta quantia que recebiam.

Quando sorria, Brian quase podia se passar por alguém simpático. A genética o abençoara com um rosto perfeito, olhos claríssimos como os de sua mãe, cabelos lisos e pele tão pálida quanto um punhado de neve. Se não era simpático, bonito ele era. Atualmente estava loiro, apesar de já ter sido ruivo e moreno, sua posição na sociedade o obrigava a mudar várias vezes, assim não sendo reconhecido quando partia para um lugar novo.

Para os padrões usuais, ele era rico, bonito e procurado. As mulheres se derretiam com as duas primeiras opções, mas quando descobriam que ele era o Brian Crawford, o cara mais perigoso dos Estados Unidos, acabavam pulando fora, e todas elas se sentindo péssimas depois da experiência. O jovem criminoso tinha tido apenas dois relacionamentos sérios. O primeiro foi com Lori Wayne, uma doce garota que acabou sendo assassinada pelo seu, desde então, pior inimigo, Frank Castellan. O segundo foi com Meg Rowan, prostituta de uma boate em Londres, lugar que Brian explodiu após descobrir que ela se bandeou para o lado de Frank, que queria apenas espioná-lo.

As pessoas meneavam a cabeça para cumprimentá-lo, os mais sensíveis cuspindo com desdém no chão, depois que ele passava. Mas muitos se sentiam atraídos por ele: puxa-sacos e bajuladores que aguardavam suas próximas ordens, loucos para conquistar uma migalha a mais.

Brian mantinha um escritório particular completo, com quarto, cozinha e banheiro, numa localidade que até mesmo sua mãe desconhecia. Era seu refugio para ocasiões em que queria simplesmente desaparecer por algumas horas ou passar a noite incomunicável. E o lugar que continha esse pequeno esconderijo era o galpão em Manhattan, equipado com a mais avançada tecnologia de segurança e vigilância. Quando a senha correta era digitada no que parecia o teclado de uma caixa telefônica enferrujada, uma parede deslizava para o lado, revelando uma porta corta-fogo de aço e um moderno sistema de controle de entrada, com câmera e teclado.

O lugar era alimentado por uma rede de energia e internet separada do restante do complexo. Alem disso, se seu software de monitoramento de segurança detectasse qualquer tentativa de rastrear o local, desligaria e bloquearia o sistema até que ele fosse reiniciado por meio de uma nova senha gerada automaticamente. Isso só poderia ser feito de dois locais: de seu computador, ou de dentro da própria câmara secreta. Brian tinha o hábito de, antes de entrar, desligar seu celular e remover a bateria. Uma linha fixa não cadastrada na linha telefônica podia ser ativada se houvesse necessidade.

Brian apanhou uma garrafa de uísque e deu um gole enquanto levantava-se da cadeira e caminhava até um dos cofres que possuía naquele lugar. Ele tinha três cofres: o primeiro era enorme, cabiam mais de cinco pessoas lá dentro, e ficava na mansão de Washington, e era o lugar onde guardava trilhões e trilhões de dólares. O segundo era o lar das bombas. Muitas construídas por ele mesmo. Brian era um gênio. E o último, o qual ele fitava naquele momento era o menor de todos, mal cabia sua mão e abrigava um pequeno envelope branco. Pegou o objeto, que guardava como um tesouro, e fitou a fotografia desbotada dentro dele, a última tirada antes de um adolescente irresponsável perder o controle do carro e transformar glória em escombros. Seu pai pedira a um estranho que tirasse a foto da família em frente à sorveteria Farrell’s Ice Cream. Ele, um rapaz desengonçado de 16 anos equilibrava seu irmão caçula, Max, no ombro, com 7 anos de idade. Os quatro sorriam, o rosto de sua mãe voltado para cima, com a alegria estampada nos belos traços, seu pai com um sorriso sarcástico, que era o melhor que ele podia fazer. Brian tentava lembrar-se do que os fizera rir, olhando longamente a foto como se ela pudesse revelar o segredo. Porém, por mais que se esforçasse, a resposta estava fora de seu alcance.

Menos de dois dias antes de ser arrancada de forma brutal da sua vida, sua mãe fora inexplicavelmente ao seu quarto. A lembrança estava gravada bem no fundo da alma de Brian. Ele tinha 16 anos, estava fazendo uma tarefa escolar quando ela surgiu, recostada a porta. A mulher morena e baixinha estava com o rosto molhado, e ele logo soube que ela tinha chorado.

— Tudo bem, mãe? O que foi? — perguntou, erguendo os olhos.

— Ah — ela disse, limpando o rosto com as costas da mão. — Não foi nada. Você me conhece, às vezes começo a pensar nas coisas pelas quais me sinto tão grata, como você e seu irmão, e fico toda emotiva. — ela se deteve. — Não sei por que, meu amor, mas estava pensando em como você está crescendo... Daqui a pouco entrará para a faculdade, depois se casará... Enquanto pensava nisso tudo, sabe o que senti? — ela se interrompeu novamente. — Senti alegria, como se meu coração estivesse prestes a explodir no peito. Brian, eu agradeço tanto a Deus por você. Então decidi fazer sua sobremesa preferida, o bolo de amoras-silvestres com caramelo. Mas enquanto estava na cozinha, de repente quis lhe dar algo a mais, algo que fosse valioso.

Foi então que Brian notou sua mão abrindo-se, deixando ver uma corrente com uma cruz dourada na ponta, frágil e feminina.

— Tome, — disse, estendendo-a. — Quero que fique com isso. Sua avó me deu, como a mãe dela lhe dera antes. Achei que um dia fosse entregá-la a uma filha, mas não foi possível.

Sem saber o que fazer, Brian abriu a mão para que ela depositasse a corrente.

— Um dia quero que você dê esta corrente para a mulher que amar, e quero que lhe diga de onde veio. — explicou ela.

— Mas, mãe, você mesma pode dar a ela.

— Não, Brian, estou convicta a isso. É você que deve dar, não eu.

— Mas como vou saber...

— Você saberá. — ela interrompeu. — Acredite, saberá sim! — o envolveu em seus braços e o abraçou longamente. Sem compreender direito o sentido daquilo, Brian sabia que era importante.

Dois dias depois, ela partiu junto com seu pai, destruídos pela escolha egoísta de um garoto pouco mais velho do que ele. A corrente continuava no cofre, ele nunca passara adiante. Será que ela pressentia o que estava prestes a acontecer? Sempre desconfiou que sua mãe fosse vidente ou mesmo uma bruxa, por adivinhar onde ele estava e o que estava fazendo.

Brian pôs a foto e a corrente de volta e fechou aquele cofre, deixando lá, mais uma vez, as lembranças. Vestiu um casaco preto com um capuz que cobria parcialmente seu rosto e saiu dali.

(...)

— Que merda de lugar é esse? — Brian perguntou a seu amigo Hunter, inclinando-se no volante para observar a rua.

Coldharbour é uma rua de aproximadamente um quilometro e meio, que fica pelas bandas do Brooklyn. Ele passou com sua BMW preta e blindada em frente a um bar bastante agitado, o Suns and Doves, e seguiu as instruções do amigo. Segundo Hunter, ele tinha descoberto o melhor bar de Nova York.

— Esta área da cidade é famosa pelas gangues e pelo tráfico. — disse Hunter, como um guia turístico, e Brian gargalhou. — Daí o apelido da rua. Coldharbour é conhecida como... escuta essa, Crackharbour.

— Conhecida pelas gangues, pelo tráfico e pelos apelidos criativos.

— Além disso, é um bom lugar para nos divertimos longe dos canas. — completou Hunter.

Assim que os dois entraram no bar e sentaram no balcão, as pessoas fulminaram Brian com o olhar. Era sempre da mesma forma. Brian não pedia compaixão, as pessoas tinham ódio dele a primeira vista. Tinham vontade de ofendê-lo, bater nele.

Agora, e como todas as outras vezes, o jovem enfrentava os olhares com um sorriso nos lábios, mascando um chiclete, cumprimentando um ou outro com um aceno de cabeça. O pub era uma espelunca velha e fétida. As mulheres eram grandes e peitudas, com cabelos desgrenhados. Muitas usavam casacos de moletom que deixavam um ombro à mostra. Uma delas se sentou ao lado de Hunter. Tinha um sorriso banguela e um penteado com fitinhas. De resto, parecia ter aplicado a maquiagem com uma arma de paintball, dentro de um lugar escuro.

— Ora, ora. — falou. — Você é mesmo um gato!

— Pois é, — devolveu Hunter. — Sou mesmo.

O barman veio atendê-los.

— Duas doses de tequila.

Brian tomou sua bebida e pediu mais uma. Ficou observando o barman servir outra dose e, assim que o copo ficou cheio, o levou a boca.

Olhou para seu amigo. A expressão de tédio era clara na face de Hunter. Ao lado dele, a mulher de maquiagem à la paintball falou:

— Moro aqui perto.

Hunter contemplou-a com um olhar de superioridade.

— Decerto naquele beco. — disse.

— Não! — retrucou ela, as gargalhadas. Hunter era mesmo uma figura. — Tenho um apartamento.

— Deve ser um espetáculo. — devolveu ele, as palavras pingando sarcasmo.

— Nada de mais. — disse a mulher, passando batida pela ironia. — Mas tem uma cama.

Ela ajeitou os meões listrados de rosa e roxo, piscou para Hunter e, só por garantia, caso a ficha dele ainda não tivesse caído, repetiu:

— Uma cama.

— Que ótimo.

— Quer dar uma conferida?

— Madame. — disse Hunter, encarando-a. — Prefiro que meu sêmem seja recolhido por um cateter.

Mais uma piscadela.

— Isso é um jeito fino de dizer “sim”?

Brian revirou os olhos e tomou o resto de sua bebida, saindo dali e deixando Hunter com sua “diversão”. Não estava com ânimo para nada naquele dia, estava moído e dilacerado pela enxurrada de lembranças que tomou conta dele algumas horas antes. Sentou-se em uma mesa ao longe, numa parte mais escura do lugar, e se não tivesse erguido o olhar, não teria percebido a garota morena que desabava em lágrimas na mesa à frente, com a cabeça apoiada nos braços, chorando como uma criança.

— Hey. — chamou sua atenção.

A jovem levantou a cabeça, olhou para os lados e finalmente encontrou o dono da voz. O encarou por alguns segundos e já ia voltar a sua posição antiga quando ele disse:

— Foi algum cara que fez isso com você?

— Eu nem te conheço. Porque está me perguntando isso? — ela franziu a testa.

— Porque sou o único com quem você pode desabafar.

— Não preciso desabafar. Só estou com raiva. — quando ela balançou a cabeça num tom de irritação e pôs uma mecha de cabelo para trás da orelha, Brian observou o quanto ela era bonita. Seu rosto branco, avermelhado por causa do choro, abrigava os mais belos olhos que já vira. Seus lábios brilhosos tinham um batom clarinho.

— Por quê?

A garota revirou os olhos e voltou a abaixar a cabeça. Brian levantou-se e passou para a mesa da jovem, pondo seu copo sobre a estrutura plana.

Novamente, e já com raiva, ela levantou a cabeça e encostou-se na cadeira.

— O que você quer?

— Conversar. — deu de ombros.

— Então é melhor procurar outra pessoa. — levantou-se, buscando uma bolsa pequena e vermelha, que jogou no ombro e caminhou em direção à saída.

Brian suspirou e antes que pudesse terminar sua bebida, sua visão periférica captou alguém se sentando à sua frente. Deparou-se com um homem de cabelos raspados rente ao crânio, sobre o qual se viam algumas cicatrizes. Tinha uma pele esburacada e, quando sorriu, deixou à mostra um dente de ouro que combinava com a corrente em torno do pescoço, no melhor estilo hip-hop. Bonito, até, mas com um jeito ameaçador, quase bad boy. Usava calça esportiva preta e uma regata branca sob a camisa cinza de mangas curtas. Mesmo estranhando o novo estilo do homem, Brian o reconheceu.

— Grande Will! — levantou o copo como uma saudação. — O que lhe devo a honra?

— Espero que tenha aproveitado bem os seus dias de glória. — ele sorriu novamente e mais uma vez, o dente de ouro apareceu. — Porque hoje é o seu dia de sorte... Ou de azar.


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Notas finais do capítulo

Hi guys! Bom, está aí o primeiro capítulo para vocês verem como sou péssima em primeiros capítulos, mas ok. O inicio é meio que um resumo cansativo (que deve dar a maior preguiça de ler) sobre a vida do personagem principal, o Brian Crawford ~palmas~. Tem um pouquinho do senso de humor do Hunter (vocês ainda vão rir muito com ele), e flashbacks da vida do Brian. Então é isso... Espero comentários ;)



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