Vita Lumini escrita por Ephemeron


Capítulo 2
Infinito


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e Toei, todos os direitos reservados. O Soneto de Fidelidade e o Soneto de Separação são do digníssimo compositor, poeta e humano Vinicius de Moraes. O nome Carlo é da ficwriter Pipe, respeite. Esta fic não tem fins lucrativos, apenas emocione-se como eu o fiz escrevendo.



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Capitulo II - Infinito

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto de Fidelidade – Vinicius de Morais

 

Uma luz que eles não mais estavam acostumados.

 

- Podem abrir os olhos agora.

 

A voz tranqüila fez o corpo arrepiar-se de antecipação. E quando puderam, conseguiram discernir a imagem delicada da menina Athena. Segundos se passaram até compreender o que realmente estava acontecendo.

 

Estavam vivos.

 

O ouro vibrava, num orgulho incontido das armaduras ao retornar para seus mestres. Olharam-se um por um, como para ter certeza que ninguém havia sido esquecido. Como se fosse o surreal pregando outra peça em suas mentes.

 

Então Aioros sorriu. Um daqueles sorrisos de alivio e felicidade tão plenos que ninguém conseguiria também segurar o próprio sorrir. Suas asas estavam de volta. E ele podia finalmente, como todos, voar.

 

Um passo a frente, e o – agora – jovem mestre, ajoelha em frente à deusa. Mínimo sinal de gratidão eterna. Uma ação que poderia, talvez, trazer algum sentido para aquilo que se fazia presente em suas almas. Não saberiam fazer diferente. E todos o seguem. No próximo momento, o respeito poderia ser cortado no ar de tão denso, tão puro.

 

- Levantem-se, fiéis cavaleiros, porque só estou aqui como intercessora. A vontade de viver partiu de vocês e não houve esforço algum de minha parte.

 

A força da amizade e do amor não poderia ser menosprezada, afinal. Eles erguem-se como solicitado e seus cosmos aumentam tomando todo o espaço daquele grande templo que os acomodou durante um tempo que não gostariam ou poderiam precisar.

 

Athena sorri abertamente.

 

- E eu fico muito feliz com isso.

 

Ela vê em seus rostos a emoção da nova chance, a verdadeira força que os fez vencer. Uma nova vida. O que será que pensavam cada um deles nesse momento? Quais seus anseios e vontades? Ela não mentira. Realmente intercedera, mas os deuses já estavam tendendo à esta salvação. Porque a morte não se abatia sobre eles.

 

Eles jamais saberiam que a consciência só permanecera neles por própria vontade. Essa vontade primitiva de sobreviver. De serem livres e proteger aquilo que lhes era mais caro. Algum deles sequer imaginava a profundidade de suas amizades? Aquilo que os unia era mais e maior que qualquer sentimento ou vontade mesquinha de deuses.

 

Essa era a beleza que Athena insistia em proteger. A verdadeira humanidade.

 

- Nós estamos indo para casa.

 

A essas palavras, ela percebe pequenos sinais neles: uma mão se fechando, um olhar se movendo, um suspiro saindo ou ombros relaxando. Nada é falado, mas ela entende os sinais. Ela entende o valor daquela frase para cada um. Naquele semi-circulo formado por eles em que – mal sabiam – a menina se sentia tão pequenina.

 

E ela o vê tremer. Ela olha o rapaz segurando toda sua emoção em profundo orgulho. Tão acostumado estavam em resistir a sentimentos mundanos! Mas eles não eram mais seus cavaleiros agora. Não da forma como eram antes. Ela não deixaria.

 

- Pode ir na frente, Aioria.

 

Ele pisca uma vez. O coração explodindo de alegria. Os lábios tremem e a ansiedade dá lugar a tudo o que é como homem. Os amigos sorriem, incentivam, se emocionam em seu lugar. Athena assente mais uma vez para um estupefato leão.

 

E então ele corre. Ele ri e chora. E corre como nunca fez em toda a sua vida. Como jamais faria novamente. Ele corre para alcançá-la, para tê-la, para vivê-la... Sempre! Para sempre!

 

Enquanto olham o rapaz se afastar, a menina se encaminha para onde parecia a saída do templo. O cosmo acolhedor de Athena os envolve e então eles dão passos para a verdadeira vida que teriam. Todos. Menos um.

 

Era um soluço. Forte e feliz, cheio de alivio e lágrimas. E foi uma verdadeira libertação. Verdadeira felicidade, humildade. Afrodite, em sua beleza externa e interna, não podia segurar-se por mais. Ficou para trás, não conseguindo dar um passo sequer, tamanho a sua emoção.

 

Os amigos observam sem saber como agir perante aquilo. E a própria criança é quem se aproxima do cavaleiro, que está com o braço erguido ao rosto para tentar esconder o choro incontido. Ela, também emocionada, toca o rapaz com delicadeza. E da altura que Peixes se encontra, ele se inclina em reverência e adoração, tomando a pequena mão da deusa em simples agradecimento.

 

E o inesperado acontece, como não podia deixar de ser naqueles momentos em que o amor era maior que qualquer outra coisa. E aquele que foi tido como mais cruel dos doze cede seu ombro e abraço para o companheiro. Não era apenas um gesto simbólico. Eles sabiam que aquilo mudaria tudo. Começaria tudo.

 

- Está tudo bem, Dido, nós fomos perdoados... Vai ficar tudo bem agora.

 

Saga, ao ver a cena, leva a mão à boca, na tentativa de abafar o choro que vinha de dentro de sua alma. Perdoados. Todos eles foram perdoados. E mais que apenas uma palavra forte, Carlo usara também o apelido que Afrodite tinha quando criança.

 

Então Aldebaran, do coração tão grande quanto ele próprio, desiste de se prender a formalidades. Estando ao lado do também latino Shura, abraça o amigo com força. Uma cadeia de confraternização se espalha, num emocionante reencontro. Um reencontro com suas origens, suas falhas, suas vitórias e derrotas.

 

Um reencontro de irmãos.

 

E Aioria corria.

 

E o Santuário subitamente se percebeu sentindo algo diferente da constante tristeza que nos últimos meses ali se instalara. Alguma coisa mudara e o ar ficara mais leve. Era como se um véu escuro tivesse sido retirado dali, como se agora eles pudessem enxergar o sol verdadeiro.

 

Era como se eles estivessem de volta.

 

As amazonas mais velhas não precisaram se comunicar com palavras para entender que havia algo estranho. As agora amigas, simplesmente pararam o que estavam fazendo e se retiraram apressadamente. Uma em direção à entrada do santuário, a outra subiu as escadarias com o objetivo de chegar ao templo de Athena.

 

Essas mulheres que amaram e amam ainda, sentiam dentro de si um acalanto e uma ansiedade inomináveis. Jamais admitiriam umas as outras que realmente já sabiam o que tinha acontecido, pois ainda acreditavam que aquilo era apenas um joguete de suas paixões.

 

Mas quando a serpente chegou à arena do Coliseu, percebeu que não era isso. Realmente algo tinha acontecido. Ou iria acontecer. Pois todos estavam ali: cavaleiros de bronze, de prata, amazonas, aprendizes e servos. E suas expressões não eram de apreensão. Eram de expectativa.

 

E a águia subitamente parou estática em frente às doze casas. Porque elas vibravam. As construções tão antigas e frias de repente se encontravam luminosas, belas e altivas. Como antes.

 

Os olhos por debaixo da máscara se arregalaram de surpresa, o coração se alargou de alegria e ela – renovada – lançou-se para o único lugar que desejava, o único local que se sabia ser apenas Marin. E só para ele.

 

E ele pulava pedras, subia encostas, até alcançar aquela que parecia ser a passagem para o sol. Novamente a luz. Novamente vivos. Transbordando de felicidade, ele de repente está nas portas dos templos da Grécia.

 

As gargalhadas ecoavam em um espaço que anteriormente só havia sido preenchido por tristeza. Sombras que ali permaneceram em séculos de escuridão, conheceram o que era esconder-se da luz. Uma luz que ninguém jamais vira. A luz dourada do coração dos guerreiros.

 

Não tinham pressa, não havia motivo para isso. O tempo era algo que, agora, não consistia em preocupação. A única coisa que precisavam era continuar sorrindo. Lavados pelas lágrimas do companheiro, os outros se deixavam levar pelas trilhas do limbo. O silêncio de alguns era confortante, o rir dos demais era leve.

 

As lembranças agora não eram mais sinônimas de sofrimento. Mas uma grande e verdadeira proposta de realização. Da vida iluminada a que todos eles tinham direito.

 

O cheiro ocre das escadarias de mármore encheu os sentidos de Aioria. Mas ele o percebeu apenas por um segundo, porque foi esse o tempo que levou para encontrar o cosmo de quem desejava ver. Com quem desejava estar. E viver.

 

A alma de cada um dos presentes na arena do coliseu de repente sentiu aquela força. Reconheceu seu dono e soube o que acontecia. Sem muito que pensar, começaram a se encaminhar para a entrada do santuário... Primeiro com certo vagar, mas tão logo se viram a correr com ansiedade, vigor e muita, muita alegria.

 

Que fariam eles, os guerreiros, ao chegar? Que seria deles? Quanto tempo se passara? O que estaria esperando por eles naquela terra que juraram e, por fim, conseguiram proteger? Quem estaria esperando por eles? Alguém? Ninguém? Os reconheceriam?

 

Tantas eram as indagações que se faziam os dourados. Tanto era esperado e nada era esperado. Tudo o que chegaram a imaginar quando presos em suas memórias, vinha agora com uma força descomunal. Cada um deles tinha apenas uma coisa em mente. Apenas uma lembrança e uma vontade... Para continuar.

 

Viram a deusa transpor uma espécie de porta e então pararam. O coração acelerado, o sangue correndo em suas veias, a respiração falhando e um pensamento na mente de cada um dos Santos de Athena:

 

O filho.

 

O pai.

 

O humano.

 

O amor.

 

O lar.

 

A vida.

 

O amigo.

 

A família.

 

A paixão.

 

A verdade.

 

O perdão.

 

E o primeiro passo para a real liberdade.

 

Quando ela chegou na Casa de Leão procurou por algo que sabia não estar ali, mas estava. Que sabia ser impossível, mas a enchia de esperança. As lágrimas lhe corriam por debaixo do vil metal e ela se encostou na pilastra de entrada. Trêmula e ansiosa. Apenas esperava.

 

Athena sorria. E todos se encontravam imóveis, controlando-se, mantendo a postura de respeito. E ela sorria porque isso não seria para sempre, porque a vida não seria mais da mesma forma que eles conheceram. Porque agora eles podiam fazer o que sempre quiseram.

 

Da multidão estática que observava os dourados, um pequeno rapaz se destaca. Sem pudor, sem vergonha, sem medo, ele se lança no espaço que os separava. Chorava copiosamente o menino, erguendo os braços na direção daquele que sempre foi seu maior protetor...

 

- Mestre Mú!

 

E mal sabia o pequenino que seu mestre estava na mesma situação, daquele alivio imenso em vê-lo vivo, vê-lo bem... O abraça sem nenhum receio de parecer emotivo demais. Acarinha os cabelos de fogo como se fosse um filho. E talvez realmente o fosse.

 

E todos os outros saem do transe, do choque primeiro, da surpresa fatídica. E então a vida retorna.

 

E Aioria pára em frente à entrada de sua casa, observando do local do último lance da escada. Respira com dificuldade, não só pelo esforço, mas pelo que via naquele momento. E a força que ela tem de fazer para se manter em pé supera qualquer batalha que já tenha enfrentado. O autocontrole tão intrínseco na amazona parece começar a se esvair ao vê-lo se aproximar.

 

Envolvidos pela multidão, os dourados se perceberam tão ou mais emocionados que qualquer um ali. Mal entendiam que todos ali presenciavam um verdadeiro milagre, ocasionado por eles mesmos. Por sua vontade, por sua esperança derradeira, por tudo o que foram e eram agora.

 

E ao mesmo tempo que Aldebaran procurava com os olhos a pequena moça que lhe entregara seu coração em forma de flor, uma outra cena ainda mais impressionante se desenrolava.

 

A visão de Shura foi tomada por ela, por aquela que o fez repensar toda sua vida dentro daquele inferno de sentimentos de culpa e solidão. E ela o correspondeu com um sorriso. E não apenas isso. Na distância que os separava, de corpo e sentimentos... Ela retirou lentamente a máscara.

 

E o que se acompanhou foi aquilo que Athena profetizara: uma mudança radical na vida de todos e não somente nos cavaleiros revividos. Pois todas aquelas lutadoras podiam agora ser verdadeiras amazonas, mulheres guerreiras sem o terror da máscara.

 

E o barulho do metal caindo ao chão foi apenas o começo.

 

Afrodite era constantemente amparado por Carlo que, surpreendentemente, tinha um sorriso misterioso nos lábios. E os outros cavaleiros dourados reencontravam antigos pupilos, servos de confiança, amigos antigos e que há muito tinham sido deixados de lado pelas obrigações de guerra.

 

Foi nesse turbilhão de situações que os irmãos se encontraram.

 

Marin se desconcertava a cada degrau que ele subia, lenta e firmemente. Os olhos fixos nos dela, mesmo ainda cobertos pela prata que reluzia no dia.

 

As gargalhadas e falatórios diminuíram. O foco nos dois iguais que ali tão abertamente se observavam.

 

Não tão longe dali, Marin não lembrava que Aioria era tão mais alto que ela. Mas lembrava, ah sim, de cada detalhe de seu rosto, de cada odor sutil e rústico de seu cheiro e sonhava - como sonhava! - com o acariciar dele sobre sua pele, com o amor inteiro em seu coração. Sonhava com a realidade que acontecia diante de seus olhos úmidos.

 

Tudo o que viveram foi para aquele momento. Aioria sabia. Ele tinha certeza plena disso. E se deixou mergulhar naquele divino sentimento que preenchia o ar ao redor deles naquele instante. Seus dedos trêmulos passaram pelos cabelos revoltos da amazona antes dela protestar ou reagir.

 

No santuário, os gêmeos tremeram um único instante. Na mente deles, uma vida feita de laços. Laços de sangue, de sonhos, de morte, de perseverança, de traição, de amizade, de desespero, de vida, de ilusão. E ainda era tudo isso. Mas agora tinham a chance de fazer de outra forma. Se era a mais acertada, ainda não sabiam. Mas precisavam fazer.

 

Todos tinham a chance de fazer de outra forma. E fizeram.

 

Gritos de vivas, risadas altas, louvores à Athena e aos dourados... O barulho ensurdecedor dos festejos ao abraço forte dos irmãos verdadeiros não chegou aos ouvidos de Aioria e Marin que, enfim, podiam beijar-se apaixonadamente.

 

A máscara dela parou em algum lugar das escadarias, lançada com força pelo cavaleiro de leão. Os únicos risos que escutavam eram deles próprios, enquanto ele a girava no ar, felizes, por finalmente lhes ser permitido sentir aquilo que sempre os moveu.

 

Aquilo que moveu a todos.

 

O Santuário de Athena podia agora realmente se considerar em paz.

 

A paz que só o verdadeiro amor é capaz de trazer.

 

Um amor infinito.

 

Sei que vou sofrer

Da eterna desventura de viver

A espera de viver ao lado teu

Por toda a minha vida

 

 FIM


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Notas finais do capítulo

Notas do Autor: Fiquei em dúvida de colocar a palavra "fim" no final dessa história até o último instante. Porque eu acredito que ela está mais para um começo... mas resolvi padronizar, até pelo fato de ser - sim - uma forma de encerramento de uma etapa, não acham?

Essa fic tomou vida própria. Começou com uma idéia para um Aioria x Marin e foram surgindo as cenas até que um dia, escutando a música "Eu sei que vou te amar" os sonetos de Vinicius "cairam no meu colo".

Foi assim que surgiu a história que inicia todas as histórias. Pelo menos para mim. Qualquer fic que eu ler agora será baseada nesse começo, nessa transição. Uma passagem verdadeira entre morte e vida.

Obrigada a todos que acompanharam o trabalho. Por favor, comentem. Um review é o alimento do escritor.

Vita ilumini - Vida iluminada

Músicas que me inspiraram:
Cap I - trilha sonora de Tsubasa Chronicles (as mais tristes)
Cap II - Robyn - Show me love / David Guetta - When love gets over / Tom Jobim e Vinicius de Morais - Eu sei que vou te amar



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