O Misterioso Mundo de Julia escrita por Perugia


Capítulo 2
Uma Festa Muito Desejada


Notas iniciais do capítulo

Continuando nossa saga, hora de conhecer um pouco mais de nossa garota e seu universo, aproveitem.



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Naquela manhã Julia e a mãe passaram boa parte do tempo preparando o tal bolo, por decisão de Julia ele acabou sendo de baunilha com algumas camadas de doce de leite e outras guloseimas, seu glacê foi de morango com uma decoração de alguns deles harmonicamente posicionados, no fim das contas não ficou um bolo grande, mas de certa forma ficou elegante e portanto teve a aprovação das duas. Depois de muito trabalho Julia se sentiu satisfeita com o resultado e esboçou um sorriso de trabalho cumprido para a mãe.

– Ele ficou lindo não ficou?

– Claro que sim querida, agora trate de subir, tomar um banho e se arrumar, por que daqui a pouco seu tio Jorge passa aqui para nos pegar, e não se esqueça de pôr o vestido rosa com laço de borboleta que sua avó lhe deu de presente.

– Mas mãe, eu não gosto dele – Choramingou Julia.

– Nem mais uma palavra Julia, não brinque com minha paciência, aquele vestido é lindo e fica perfeito em você, agora vai! anda e sem choro.

Julia virou as costas, resmungou alguma coisa, pensou em voltar e falar algo mas decidiu não atormentar a mãe, afinal não era hora para isso e além do mais ela não queria estragar o seu dia, então apenas acatou as ordens da mãe, subiu para tomar um banho. Relutou durante algum tempo para pôr seu vestido, mas mesmo contra a sua vontade acabou cedendo, penteou os cabelos e os arrumou em forma de rabo de cavalo, se olhou no espelho e no fim das contas se achou mesmo bonita e retribuiu seu reflexo com um sorrisinho de canto.

Depois de acabar de fazer tudo que pretendia, Julia acabou caindo numa tentação, ao olhar para o lado se deparou com a enorme casa de bonecos que seu pai lhe dera em uma rara ocasião, ocasião essa em seu aniversário de sete anos, um dos raros momentos em que seu progenitor lhe demonstrou afeto, um momento que Julia gostaria de guardar, mas que os anos já estavam esvaecendo de sua mente. Por um momento lhe bateu uma sensação de tristeza, mas ela balançou a cabeça e passou a fitar a casa e seus moradores e se bem lhe recordava havia nomeado a todos. Na varanda da casa estava Tomas e Barbara de mãos dadas olhando a paisagem, na sala de estar estava o avô Alfredo em sua cadeira de balanço lendo o jornal enquanto a netinha Camila brincava no chão com o coelho de pelúcia; Billy, a avó Nastácia estava na cozinha preparando algo para o almoço, todos pareciam feliz, todos pareciam com a família que Julia sempre desejou mas nunca teve, e por um momento Julia os invejou, queria ter uma vida como a deles, queria se possível viver com eles, mas uma buzina soou na rua e a tirou de seu mundo de fantasia.

– Julia seu tio chegou! - Gritou Ana já toda afobada – Vem aqui me ajudar com o bolo e nem vem com essa de ainda não terminei!

– Tá bom mãe já estou indo!

Julia calçou seu par de sapatilhas correndo desceu as escadas mais do que depressa, e num instante já estava ajudando a mãe a transportar o bolo que estava em um recipiente plástico para dentro do carro.

Quando as duas apontaram na porta de casa tio Jorge já as estava esperando encostado na porta do carro, um Ford Mustang 1966 preto, um carro velho, mas imponente, uma vaga lembrança da era de ouro de seu avô quando este era um bem sucedido empresário, hoje em dia já falido o avô morava em um pequeno sitio fora da cidade e só deixava seu tio tirar o carro da garagem em ocasiões especiais. A chuva havia dado uma trégua, deixando apenas um céu cinzento e triste prestes a chorar a qualquer momento, a rua calçada de blocos irregulares estava bem encharcada e escorregadia fazendo com que o trabalho de carregar o bolo se torna-se uma tarefa e tanto. Quando Jorge avistou as duas abriu um sorriso de canto a canto.

– Posso ajudar senhoritas?

– Pode sim - Disse Anna – Pra começar abra o porta-malas pra nós acomodarmos essa belezura lá.

– As suas ordens madame – Disse Jorge em um tom brincalhão.

Jorge era o irmão mais velho de Anna, tinha quarenta anos e poucos cabelos na cabeça, era um homem alto e proporcionalmente gordo, tinha a pele queimada de sol, era um típico brincalhão e Julia adorava isso nele. Jorge nunca fora casado, mas já fora noivo durante a juventude, uma aventura que não deu certo, e segundo Ana talvez esse tenha sido o motivo para ele não se envolver com mais nenhuma mulher. Jorge tinha o sonho de tocar guitarra em uma banda de rock quando jovem e fazerem sucesso nacionalmente, tanto é que durante a década de oitenta ele e seus amigos tinham uma banda chamada The Wizard of Oz, chegaram até fazer um certo sucesso na região, mas o destino é algo incerto e a banda por fim acabou se separando. No fim das contas Jorge acabou mesmo é morando com os pais e os ajudando a tocar o sitio da família, no fim das contas talvez tenha sido o melhor pra ele.

Depois de muita dificuldade em conseguir acomodar o bolo, decidiram por deixa-lo sobre o banco de trás mesmo, preso por uma fina corda elástica e Julia como vigia, e com uma dura advertência de Anna:

– Olha lá em Jorge, vê se não faz nenhuma barbeiragem, confio em você, e você também mocinha nem pense que não estou de olho em você!

– Pode deixar maninha, vou dirigir suave como uma andorinha pairando no céu azul – Disse fazendo continência – Agora Julia, vem cá dar um abraço no tio – disse virando-se de braços abertos.

Julia saiu correndo e deu um pulo no pescoço de Jorge o abraçando com uma força enorme.

– Senti tanta saudade – Disse ela.

– Eu também danadinha, tinha tempo que eu não te via, quando foi a última vez mesmo?

– Há dois anos atrás, antes de você partir para fazer uma especialização em agropecuária, seu bobo.

– É faz um bom tempo, mas agora deixamos isso de lado e vamos pôr o pé na estrada pois já está tarde.

Todos entraram no carro, já era por volta das três da tarde, e o percurso até o sitio demoraria em torno de uma hora, talvez um pouco mais devido a chuva, e Julia não queria chegar tarde, queria ver os avós, havia alguns meses que nãos os via e a saudade estava apertando no peito. Ela não via a hora de ouvir as histórias de caça do avô ou aprender as receitas da avó, alimentar os animais, escovar os cavalos, ajudar no jardim, andar sem rumo pelo descampado, enfim, fazer tudo que se podia fazer no campo.

A viagem até o sítio dos avós foi lenta e sem muita conversa, tirando alguma pergunta do tipo “como estão nossos pais?” trocada entre Ana e Jorge o silêncio imperava a maior parte do tempo. No mais, o carro seguiu suave pelas ruas da cidade sem grandes problemas. No entanto quando pegaram a estrada de terra que ia para o sítio as coisas começaram a piorar, a estrada estava horrível, repleta de lama e buracos, e por um momento Julia temeu que o carro pudesse atolar, mas tio Jorge mostrou toda sua destreza ao volante e tirou esses imprevistos de letra. A viagem então seguiu tranquila entre um solavanco e outro, e Julia ao lado de seu bolo deslumbrava a paisagem em silêncio, ela viu pastagens enormes que rapidamente foram tomadas por plantações dos mais variados tipos, milharais, macieiras e vinhedos, a chuva continuava a cair fina sobre elas o que as deixava com um aspecto verdejante lindo cheio de vida e contemplando essa paisagem Julia sentiu seu peito encher-se de alegria, tanto que nem reparou quando chegaram.

Fazia algum tempo desde que ela estivera aqui, mas o local continuava o mesmo, a velha castanheira no quintal, o pequeno riacho que corria a poucos metros dali, o galinheiro, Silo, curral, o velho casarão amarelado dos avós, tudo exatamente como Julia se recordava, e, é claro como sempre o velho vô Venâncio estava sentado na varanda em sua cadeira de balanços, com sua camisa xadrez e calça de suspensório, fumando lentamente seu cachimbo espiando a chuva cair lentamente enquanto ansiava pela chegada de sua netinha.

Logo na chegada foi aquela festa, vô Venâncio esqueceu-se dos seus setenta e cinco anos e saltou da cadeira como um menino travesso e foi apressadamente de encontro ao carro que estava encostando perto da casa, mas não antes de gritar para esposa:

– Acode mulher, a nossa netinha chegou!

E esquecendo-se da chuva que caia fina e do terreiro enlameado foi aos trampos em direção a filha e a neta. Logo quando o carro parou Ana desceu rapidamente do carro e correu em sua direção culminando em um abraço apertado:

– Quanto tempo papai, senti muito a sua falta.

– Eu também minha filha, você não sabe o quanto, mas hoje estamos todos reunidos e temos um grande motivo para celebrar. No entanto onde está minha netinha?

– ela já está descendo do carro apressadinho – disse em tom de brincadeira.

– Vovô! – Gritou Julia ao mesmo tempo que saia do carro e corria em sua direção para participar do abraço.

– Querida, como você está linda, a cada ano que passa você fica mais radiante.

– E o senhor está mais velho desde a última vez que o vi – disse em tom zombeteiro.

– Julia isso são modos de falar com seu avô?

– Deixe a menina, ela está certa – retrucou o velho caindo na gargalhada.

– Agora vamos sair da chuva papai, antes que o senhor pegue um resfriado, mas antes – virando-se para o carro – preciso levar o bolo para dentro.

– Pode deixar madame que disso eu cuido – respondeu Jorge já levando o bolo para dentro.

– E para sua conta, fique sabendo que eu tenho uma saúde de ferro minha filha – Retrucou seu pai carrancudo a respeito do comentário da filha.

– Eu sei papai, mas vamos sair logo da chuva ou iremos ficar encharcados.

Então todos se retiraram para o casarão, afinal ficar na chuva não estava nos planos de ninguém e a noite já vinha caindo lentamente acabando com os últimos feixes de luz no horizonte.

Logo na entrada dona Dália saiu toda espevitada ao encontro deles limpando as mãos em um pano de prato. A Avó era sempre do jeito que Júlia se lembrava, baixinha, meio gordinha, cabelos grisalhos amarrados em coque, óculos pendurados no pescoço, vestido florido e quase sempre com um avental na cintura já que seus maiores hobbies eram falar e cozinhar, e este último ela fazia como poucos. Sem hesitar Julia se jogou no pescoço da avó:

– Julia minha netinha querida, que saudades.

– Eu também vovó, mas eu sou sua única neta então não tenho que disputar sua atenção com ninguém – disse ela mostrando a ponta da língua.

– Julia o que nós conversamos sobre essas atitudes? – perguntou Ana já em um tom desafiador.

– Essa menina está com a língua afiada como alguém que eu conheço – disse Jorge que acabava de sair da cozinha onde fora acomodar o bolo e agora dava um olhar de lado para a irmã – não é mesmo maninha?

– Jorge! – retrucou Ana corada.

A gargalhada foi geral, não havia como negar que o ambiente estava leve, tão animado como jamais esteve em muitos anos desde o incidente com Romeu Fernandez, e Julia e Ana precisavam deste momento, havia muito que não tinham um momento de lazer decente e este era o momento ideal para aliviarem o estresse e quem sabe em um futuro muito próximo darem um rumo mais feliz para suas vidas.

Após se recomporem da gargalhada e conseguirem recuperar o fôlego, vô Venâncio rapidamente disse, “Julia minha garota, venha com o vovô ver como o salão está lindo”, e foi nesse clima que lá se foram os dois para o salão de mãos dadas, enquanto o restante rumou para a cozinha ajudar dona Dália no preparo das guloseimas.

Chegando ao salão Julia ficou deslumbrada com tamanha beleza, por um momento achou que estivesse no paraíso devida tamanha perfeição que se encontrava o local, tudo estava tão... rosa. Cortinas rosas se estendiam pelas paredes, balões e fitas coloridas estavam por todos os lados, um sistema de som fora montado provavelmente por seu tio com pequenas caixas de som espalhados pelas paredes, cadeiras e mesas estavam acomodadas de maneira a formarem um número treze (essa homenagem ela percebeu rapidamente), uma pequena brinquedoteca estava alocada em um canto, essa era para os mais pequerruchos que viriam, Julia já se julgava crescidinha o bastante para esse tipo de coisa. No fim das contas Jorge e os avós tinham feito um trabalho maravilhoso para o seu aniversário, e ela ficou tão grata que por um momento pensou que iria chorar, mas ao invés disso apenas apertou a mão do seu avô e encostou a cabeça sem eu ombro e sussurrou numa fina linha de voz:

– Vovô eu sinto lá no fundo do meu coração que esse aniversário irá mudar minha vida pra sempre.

– Eu também minha netinha, tomara que você esteja certa – disse ele abraçando-a contra o peito e acariciando seus cabelos negros enquanto o silêncio tomava conta de tudo – eu também.


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