A Ordem escrita por Any Queen


Capítulo 8
Um novo inicio, a Governadora


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, que saudade eu fiquei do Nyah! meu Deus, eu não imaginava que eu era viciada em entrar no site até que eu não conseguia entrar, foi dificil hsuahsu
Bem, esse capitulo está pronto há um semana, mas com esse probleminha não deu para postar. Outra coisa é que esse capitulo ia ser giganteeeeeee, então eu dividi em dois e a segunda parte está em andamento.
E, para os leitores incomodados com os erros ortográficos, eu tenho uma novidade, minha amiga Victória (Lúthien) está betando minha história, ou seja, eu mando o capitulo a ela antes de postar para que ela possa revisar e tirar meus errinhos. Então, se houver qualquer erro culpem a ela e não a mim shauhsa.
Obs para os leitores anônimos: eu sei que vocês estão ai! Mentira, esse é problema, eu não sei se vocês estão lendo, se estão gostando, se não estão, então escreva qualquer coisinha para que possa saber que você lê "A Ordem", ok honey?
Acho que é isso, bom leitura haha



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Fez-se um silêncio mortal, ninguém ousava se mexer ou falar. Gerard passou de vermelho ao pálido ao ver Denny encarando-o com uma expressão firme. Jack foi o primeiro a se mover, subindo novamento no pequeno palco e parando ao lado da moça, tentando fazer a melhor feição de superioridade possível. O menino tinha o terrível hábito de julgar as pessoas por suas primeiras impressões, às vezes erroneamente, mas com Gerard ele acertara – homem era desprezível, repugnante.
– Jennyfer! – gritou Gerard, ao recuperar sua voz. – Você está viva?! Mas isso é impossível...
– Não, Gerard. Você sempre soube que eu estava viva, esse tempo todo. Nem venha com essa expressão de desentendido. – a voz de Denny continuou firme e seus olhos se cravaram no rosto dele. – Por quanto tempo achou que brincaria de Governador?
– Ainda assim exijo respeito! – berrou o homem. – Meu cargo pode estar abaixo do seu, mas ainda tenho mais poder e influência que uma menininha...
– Uma menininha de quinhentos anos. Agora... – ela voltou-se para a multidão e falou com a calma e o poder de uma líder. – Quero que todos vocês voltem para o Subterrâneo, pois não quero mais ninguém no pátio. As regras mudarão, quem manda agora sou e todas as decisões serão tomadas por mim. Se houverem divergências quanto a isso, é a mim que devem se dirigir. – todos os rostos da plateia a encaravam perplexos diante daquela surpresa. – Teremos um baile esta noite e todos estarão convidados. Agora vão.
Sem que precisasse repetir, todos os Caçadores dali começaram a se dispersar. Até mesmo Gerard dera um jeito de sumir. Victória e Austin iam de encontro a Denny e Jack até sorria para a mesma, mesmo que com um olhar triste – a postura vitoriosa dele era vísivel. Uma mulher de aparentemente vinte anos, loira e vestida em um uniforme de empregada preto e branco, aproximou-se e subitamente abraçou Denny, com uma nítida alegria.
– Minha senhora! – Denny a abraçou de volta com a mesma força e sorriu, um sorriso sincero e feliz. Era perceptível o quanto as duas estavam felizes por se verem.
– Oh, May, quanto tempo! – May a soltou e Denny viu que seus olhos azuis estavam inundados por lágrimas e seu rosto estava vermelho. Jack ainda estava de pé, sem saber como agir, até que Austin apareceu ao seu lado e lhe deu um abraço. Ele ficou feliz por ver o ruivo novamente, pois achou que não o veria mais.
– Achei que a senhorita tinha morrido! É tão bom vê-la! – May continuou.
– Igualmente, May. Achei que já tivesse desistido.
– Oh não... Linda e Milena, por outro lado... Elas não aguentaram ficar com Gerard no comando. Morreram há noventa anos. – as lágrimas ainda caíam pela face de May. Denny tocou o braço da amiga e sofreu junto com ela. – Eu não podia ir, sabia que você voltaria.
– As coisas vão melhorar. Agora, vá tirar as coisas de Gerard do quarto do Governador; quero que ele fique no mesmo quarto que o pertencia quando eu morava aqui. E, depois, quero que escolha um vestido para mim, tudo bem, May?
– Perfeito, senhorita. Farei agora mesmo. – a empregada fez uma rápida reverência e saiu. Denny virou-se para seus amigos e sorriu.
– Victória! – a morena foi até a amiga e a abraçou com força, continuando a segurar sua mãos mesmo quando o abraço já havia acabado. – Onde está Charlotte?
– Ela está na Sede, não gosta de execuções.
– Entendo... – Denny olhou para Austin. – Marque uma reunião do Conselho para amanhã as oito e também uma viagem para a França; preciso falar com o Souverain antes que ele morra. Mas realmente não há nada de que podemos acusar Gerard?
– Farei tudo agora mesmo – o ruivo disse, sem pestanejar. Todos obedeciam Denny com gosto, não questionavam seus pedidos, pareciam até querer obedecê-los imediatamente. Era algo compreensível, pois depois de tantos anos obedecendo Gerard, ter Denny no comando era maravilhoso. – Quanto a Gerard, podemos colocá-lo em custódia, já que ele foi contra o sagrado C0ntrato. Isso é o máximo. Como ele mesmo disse, ele possui poder, Denny, muito mais do que você imagina.
– Eu imagino – Denny respondeu e voltou-se novamente para Victória. – Vic, acho que você é a melhor pessoa para cuidar deste baile, portanto faça o seu melhor e, se quiser, peça a ajuda de Charlotte. Acho que ela vai gostar. Podem ir.
Victória e Austin se retiraram, deixando apenas Denny e Jack sozinhos no pátio. Os únicos sons perceptíveis naquele momento eram a cantoria dos pássaros e do vento. A Caçadora encarou Jack e logo depois abaixou o olhar. Jack estava com raiva dela, o que era compreensível, mas ela havia acabado de se entregar para salvar a vida dele.
– Desculpe – ela murmurou, num tom quase inaudível. – Se Austin não fosse atrás de mim você morreria, tudo porque fui egoísta e não lhe contei minha história. Tem toda razão por estar com raiva de mim...
– Não estou com raiva de você Denny. Triste e decepcionado, talvez, porque mentiu para mim, mas você salvou a minha vida e sei que isso vai te trazer muitas consequências. Obrigada.
– Isso foi uma surpresa – Denny respirou fundo, aliviada, e sorriu logo depois, agarrando a mão de Jack. – Venha. Quero te mostrar o meu lugar preferido.
x
O lugar preferido de Denny era a Grande Sala, um lugar claro e convidativo. Os dois sentaram-se em um divã, com a menina levemente afastada – mas era possível perceber que, de certa forma, seu olhar estava mais feliz, mesmo a preocupação. Estar finalmente em casa deveria ser algo incrível.
A porta de madeira estava fechada, mas os passos dos empregados ainda eram audíveis. Era muito claro que todos estavam entusiasmados com o baile.
– Está tudo bem – Denny falou. – Pode me perguntar qualquer coisa.
– Qualquer coisa? – ela assentiu. – Quem é Charlotte?
– Uma amiga. Eu a conheci na Inglaterra; uma mulher que sabe lutar. Pelo que ouvi, sofreu com algo relacionado ao seu filho, mas como eu estava longe não sei dizer o que houve.
– E Linda e Milena?
– Quando um novo Governador é eleito, ele tem o direito de escolher três empregados para serem seus serventes, e eu escolhi Linda e Milena. May eu salvei de um câncer no pulmão – Jack fez uma expressão confusa, e Denny explicou. – Os serventes da Sede são humanos que, ou nos acham e pedem por isso, ou nós os achamos e lhe damos a escolha. May estava morrendo e parecia ser uma boa menina, então lhe dei a imortalidade; Linda era uma prostituta que decidiu mudar de vida e Milena havia perdido os pais e estava sendo seguida. Para Linda e Milena, desistir dos votos não mudaria nada, mas para May é diferente. Quando se quebra os votos, volta-se a condição em que se estava antes.
– May voltaria a ter câncer. – concluiu Jack. Ele compreendia a menina; imortalidade ou morrer por algo tão ruim? – E Gerard? O que fez a ele?
– Eu? – Denny riu. – Fiz a melhor coisa que poderia ter feito: tomei o cargo dele.
– Então por isso ele a odeia tanto. – Jack sorriu ao lembrar da palidez de Gerard ao ver Denny estragando seus planos outra vez. – E Scott?
De repente o olhar de Denny ficou sem expressão, coberto pelas lágrimas acumuladas que surgiram. Uma delas rolou e segundos depois todo o seu rosto já estava inundado por elas. Era a primeira vez que Jack a via chorar e ele não conseguiu se conter, abraçou-a e incrivelmente Denny retribuiu, apertando-o enquanto os soluços tomavam sua garganta. Ela só conseguiu falar após algum tempo depois e mesmo assim sua voz saiu esganiçada.
– Hoje faz exatamente cento e quarenta e um anos que ele morreu, todo ano eu choro, mas jamais pensei que voltaria ao lugar onde ele morreu. Sim Jack, eu o amava mais que tudo e ele morreu em meus braços, enquanto Gerard ria de mim. Tudo aqui me lembra Scott e esse é um dos principais motivos pelo qual eu não queria voltar. – Jack a apertou ainda mais, não por ciúmes, mas por raiva de Scott por tê-la feito sofrer. Apesar disso, ele sentia um pouco de felicidade ao saber que Denny teve um amor que merecia.
– Eu não o conheci, mas tenho certeza de que se ele te amava tanto assim, não iria gostar de te ver chorando.
– Que história é essa de Custódia? – Gerard entrou na Grande Sala, escancarando a porta de madeira, atrás dele vinha sua mulher, que Jack vira em sua execução.
Denny pulou do divã e se afastou de Jack como se ele pegasse fogo, limpou as lágrimas com as costas da mão e transformou sua expressão; seu olhar agora era decido e continha um toque de raiva. A menina passou a mão pelos cabelos e de um passo para perto do homem, Jack levantou e foi para o lado de Denny, sem saber o que fazer, só sabia que tinha que proteger a menina daquele Caçador que havia acabado com a sua vida.
– Você burlou o Contrato, Gerard, tem que pagar por isso como todo o Caçador.
– Souverain não vai concordar com você, Jennyfer, sumiu por 141 anos, não tem poder algum sobre mim.
– Sou a Governadora, maior autoridade da Espanha. – a Caçadora bateu o pé de raiva, Jack temia que aquela discussão se transformasse em algo muito pior – Você, Gerard, nem participa do Conselho, por que acha que o soberano não vai me ouvir? – Denny cruzou os braços e fuzilou o Caçador com um olhar felino, a mulher ao lado de Gerard apertou seu braço, mas o homem não pareceu notar, continuou encarando Denny desejando que ela morresse.
– Ele está morrendo, Governadora, logo, logo o filho tomará o trono e veremos o que vai acontecer.
– O que eu acabei de ouvir foi algum tipo de ameaça a sua superior?
– De forma alguma, senhorita – Gerard sorriu sádico, o inferno se mostrou naquele pequeno gesto, radicalizando o medo que Jack sentira desde que aquela homem entrara na sala – Hoje faz quanto anos... 141? Ainda dói, não é mesmo?
– Me diga você, ainda dói me ver em seu cargo precioso? – disse Denny imparcial.
– Estava tudo bem até você voltar.
– A culpa foi sua ao tentar matar Jack.
– Esse moleque... – Gerard apontou para Jack com uma raiva imensurável – Estragou meus planos, não espere que eu na faça quanto a isso... Afinal, ele me parece muito suspeito. – Denny entrou na frente de Jack com uma feição protetora.
– Ele é apenas um Caçador. – sua voz vacilou, mas logo retomou a força – Você não fará nada a ele.
– Para você arriscar uma década inteira somente para salvá-lo, ele não é só mais um Caçador. – Gerard sorriu ao ver que estava atingindo Denny e ganhando a guerra que travara – Farei questão de transformar a vida dele no próprio inferno.
Gerard saiu da sala com passos pesados, deixando suas últimas palavras tomarem conta do ar e assombrar todos que estavam nela. Denny saiu logo atrás, parecia determinada e isso fez um certo medo crescer em Jack, somente ele e a mulher ficaram na sala, o menino a olhou sem saber muito bem o que falar. Ela também o encarava, até estender a mão esperando o aperto de Jack.
– Meu nome é Marrie. – disse com um sorriso gentil – E você é o famoso Jack.
– Não tão famoso – Jack retribuiu o sorriso – Você é esposa dele?
– Sim, mas não ache que ele fora sempre assim, antes de Denny tomar o governo dele, Gerard era um bom homem, a medida do possível. – Marrie foi até uma das prateleiras e pegou um livro roxo.
– Então você culpa Denny por seu casamento.
– Oh não... Se ela não tivesse aparecido nunca saberia o tipo de homem com quem me casei. – Marrie tinha uma voz calma e terna, Jack imaginou o quanto ela deve ter sofrido na mão do marido. Sentiu novamente a vontade de socar Gerard. – Porém, esses anos foram tranquilos, tanto quanto o possível.
– Você não pode se separar dele? – Jack foi até a estante e pegou um livro, era de um marrom desbotado e suas páginas estavam amarelas e cheias de mofo, no título estava escrito “A Origem”, o menino decidiu pegá-lo, mesmo que parecesse que as páginas se dissolveriam em suas mãos.
– Não, infelizmente quando os Caçadores casam é para a eternidade, não importa o quanto o casamento seja difícil. É um sacramento levado muito a sério, Jack, então pense bem antes de escolher a felizarda e tenha certeza de que a conhece bem.
– Sinto muito.
– Não sinta, todos fazem uma escolha ruim na vida, a minha foi Gerard, se não posso mudá-la, tenho que pelo menos consertá-la. Eu creio que ninguém é de todo o mal, Gerard não é exceção, ele tem um lado bom, pelo contrário não me casaria com ele.
– Então boa sorte. – Marrie riu e começou a ir em direção a porta.
– Você é um bom menino, Jack, é um prazer em finalmente conhecê-lo.
– Digo o mesmo.

*
Caliard, Espanha, 1873
Denny
*
O cavalo já não aguentava mais a corrida árdua que Denny estava obrigando o pobre bicho a fazer, a mesma já não aguentava mais. A chuva caía com força e castigava a Caçadora com sua baixa temperatura. O vento era violento e dificultava o controle do cavalo, mas tudo isso amenizava a dor que estava dentro de si, Scott havia morrido em apenas algumas horas, o calor de seu beijo ainda era conhecido e seu cheiro ainda estava nas roupas de Denny. Porém a menina não podia colocar seu filho em perigo, era a única coisa que restara de seu amado, Henry teria algo do pai e seria a única alegria de Denny.
A menina avistou uma vila abaixo da montanha em que estava, atiçou o cavalo e o fez galopar mais rápido até a primeira casa que vira. No entanto, não era uma casa e sim uma estalagem, já estava escuro na residência, a menina decidiu ir para o estábulo e se esconder até de manhã. Agora ela era uma exilada, teria que fugir de tudo e de todos para proteger a si mesma e seu bem mais precioso, Henry.
Ela foi até a porta de madeira e arrombou a porta, o lugar estava seco e tinha bastante feno para Kevin, não ficaria muito tempo ali. Entrou e fechou a porta por dentro, prendeu Kevin em uma madeira e deixou o pobre animal comer o feno que se espalhava pelo chão, estava silencioso e o único barulho era o reconfortante relincho dos cavalos que dormiam como se nada acontecesse. Denny percebeu que havia um segundo nível, onde ficava os fenos, a menina subiu a fraca escada de madeira e encontrou os fenos empilhados junto com algumas rações de cavalo. Tirou a capa molhada e a torceu, colocou em um lugar que dava para secar e começou a se despir, tirou o vestido e torceu o cabelo, ficou somente de espartilho e um fino pano branco que ficava debaixo das camadas de saia.
Deitou sobre os fenos e tentou dormir, mas era impossível, a cada momento a imagem de Scott tomava a sua mente, seu rosto pálido e sua pele machucada, não queria lembrar do amado com aquela aparência. Queria pensar em Scott e lembrar do homem forte e decidido que era, de como lutava por ela e não se importava com as consequências que suas ações trariam. Chorou até seus olhos arderem e sua mente apagar e cair em um sono tão profundo que nem a chuva forte poderia interrompeu.

x


Denny acordou com uma voz, ela abriu os olhos de repente e viu que já estava de manhã, não era algo bom, veriam Kevin e o levariam embora, Denny não podia perder o cavalo querido.
– De onde você veio amiguinho? – a voz falou no andar de baixo, a Caçadora se espremeu no feno, porém era inútil, a única coisa que tinha ao seu favor eram seus olhos e sua compulsão. – Você deve estar com fome, não é? Vou pegar feno para você e depois veremos o que vamos fazer.
O segundo nível – que era feito de madeira – começou tremer até que uma força alta e musculosa apareceu, era um menino, aparentava ter uns vinte anos, era ruivo e seus cabelos estavam bagunçados, sua camisa branca aberta e seus olhos travessos. O menino se assustou ao ver Denny encolhida no chão, a menina mantinha seus olhos seus olhos cravados no menino, eram sua única arma.
– O que uma dama faz em um estábulo velho? – perguntou o menino com uma voz gentil, ele começou a se aproximar, Denny se encolher com a mão na barriga, como se conseguisse proteger Henry.
– Estou fugindo.
– De quem? Fez algo errado?
– Não – balbuciou a menina – Estão tentando matar a mim e ao meu filho.
– Oh, quem faria isso? Cadê o pai da criança? – Denny começou a chorar, o pai tinha morrido, criaria Henry sozinha e não poderia fazer nada para mudar isso. O menino sentou ao lado de Denny no feno e a olhou com compaixão.
– Foi assassinado.
Díos mio! Quem faria tal atrocidade com um pai de família? – o menino estava perplexo, a Caçadora estava mais tranquila, contudo ainda segurava a barriga com uma ferocidade protetora. – Meu nome é Austin, Austin Viera.
– O meu é... – Denny parou para pensar, não tinha motivos para falar seu verdadeiro nome, só traria grandes problemas, a menina tinha ganhado a escolha de ser uma nova pessoa, não podia estragar algo tão bom com uma coisa tão banal quanto o seu nome – Denny.
– Nome curioso para uma dama. – Austin sorriu e esticou o braço para apontar para as roupas que secavam ao longe – São suas? – Denny assentiu, um segundo depois viu algo que realmente a surpreendeu, o menino tinha uma Marca, já branca, por que ele não estava na Sede?
– Você é um Caçador.
– Desculpa? – Denny esticou o braço para que Austin visse sua Marca, o menino ficou pálido e sem palavras, era óbvio que não sabia sobre quem era, o que era algo comum aos Caçadores, a maioria nascia sem saber desse mundo. – Como... Como? – gaguejou.
– Você é como eu Austin, matamos demônios e impuros, como sua Marca já está branca creio que já matou seu primeiro.
– Ele apareceu há dez anos, consegui matá-lo, mas não sei como, só fechei os olhos e cravei a espada em seu coração. Fui taxado de estranho em minha cidade, ninguém conseguia ver minha Marca ou o monstro que matei, achei que estava ficando maluco. Depois eu não envelhecia, decidi que era hora de fugir e estou fugindo até hoje, não sei como você...
– Isso acontece com todos, poucos têm a sorte de achar a Sede antes que algo de errado aconteça.
– Sede?
– Te proponho um acordo, Austin, você me ajuda com minha gravidez e eu te ensinarei tudo sobre seres como nós. Assim que meu bebê nascer vou embora e te mandarei à Sede, lá é onde pessoas como nós vivem, você será diferente, pois te ensinarei a não ser influenciado e você será um ótimo Caçador. – Denny olhou para o menino com esperança, Austin estava visivelmente com medo e surpreso – Então, Austin, posso contar com você?
Um silêncio pairou por muito tempo, só se escutava o som dos cavalos até Austin responder:
– Sim.

*
Dias atuais
Denny
*
O baile estava lindo. Mais do que Denny tinha imaginado que Victória e Charlotte poderiam fazer, o lugar transbordava música e sutileza, banhado a puro ouro em todos os lugares que a menina olhava. Era estranho estar de novo em algo tão comum e tão distante, era surreal estar de volta em casar e ver que nada tinha mudado a não ser Scott.
Quando Denny parou no alto da escada com seu vestido dourado, todos pararam de dançar e a música fez um solene encerramento. Era costume todos presenciarem a chegada do Governador, os Caçadores sabiam que a entrada de Denny seria algo tão estranhamente conhecido que seria como se 141 anos não tivessem passado. A menina olhou para os amigos que estavam fuzilando-a com um certo olhar de esperança, ela entendia isso, queria que ela mesma pudesse se olhar para pedir esperança. Esperança era algo que doía mais do que a morte, pois ela te dá a felicidade antes de arrancá-la com as mãos sem avisar e te deixar totalmente desolado.
Jack estava logo abaixo dela, com seu terno preto, era visível sua postura incomodada com tudo aquilo, porém ele estava se saindo bem, todos o olhavam o garoto que tinha sobrevivido a Gerard com olhares curiosos. O garoto era falado em todo o lugar e Denny se preocupava com isso, ele tinha que entrar despercebido na Sede, o que não funcionara e isso certamente poderia trazer problemas. Entretanto, Denny estava preocupada no momento com sua longa decida nos degraus do salão de bailes, o local era grande e possuía imensas janelas que mostravam a linda noite do lado de fora. Havia um grande lustre que imitava gotas de chuva, o efeito era incrível e Denny poderia ficar horas olhando-as e pensando em como sua irmã gostaria daquilo.
Olhou para Rick, um jovem servente humano,e assentiu com a cabeça, o menino sabia os comandos e logo disse:
– Sua Governadora e Líder, Jennyfer Salvatore. – Denny puxou a saia do longo vestido e começou a descer as escadas, seus saltos ecoavam por entre os Caçadores mudos que seguiam seus paços com olhos atentos.
A Caçadora pediu para não cair e conseguir chegar até o último degrau tão graciosa quanto os primeiros. Quando chegou ao final, se sentiu obrigada a falar algo para todos que ali depositavam sua fé.
– Espero que estejam gostando, meus queridos amigos, esta noite marca um novo inicio e quero que todos se divirtam, pois não posso garantir que tudo seja paz daqui em diante. Acho que devo isto a vocês e desejo a todos uma ótima festa. Quasi in signum, vita vestra.
Quasi in signum, vita vestra. – todos responderam em resposta.
A música voltou a tocar e todos continuaram com suas danças e conversas, Jack foi ao encontro de Denny com seu sorriso torto e olhar um pouco envergonhado. Ele estava lindo, reconheceu Denny, a aura do século XIX fazia bem a ele, deixava com um ar mais velho e mais sábio, mesmo sendo apenas uma adolescente. A garota sabia que ele ainda guardava rancor por ela ter escondido o maior segredo de sua vida, porém ela se culpava por ter chorado na frente do menino de um modo tão humilhante. Scott ainda a fazia chorar e se derramar em lembranças tristes que viviam enraizadas em sua mente.
– Acho que mereço uma tradução e... Uau, você está incrível! – Denny riu, Scott diria algo do tipo: “Como estas bela, mi hermosa.” e conduziria Denny para uma dança avassaladora, Jack estava preocupado uma tradução e não era tão cordial como Scott. A menina policiou-se, por que estava comparando Jack com Scott? Os dois não era minimamente iguais.
– Sua Marca, sua vida. – Jack esticou o braço que Denny aceitou gentilmente – E obrigado pelo elogio, porém creio que vamos ter que apurar seu vocabulário.
– Sim... – Jack sorriu – Estamos na Espanha agora, tenho que desenterrar meu espanhol. Como posso melhorar? És una bella chica y yo creo que no hay alguien más hermosa nesta fiesta. – Denny pediu para não corar, Jack tinha um péssimo sotaque e suas palavras soaram embaralhadas, mas Denny se sentiu lisonjeada por ele tentar, ela mesma não lembrava como era ter o espanhol como língua usual.
Lo siento, señor, creo que está mal. – Jack a encarou com um olhar perdido, mas não parou de conduzi-la pelo salão, a cada passo alguém parava e lhe dava um breve “oi”, a menina se recordava de alguns deles, mas outros nem fazia ideia.
– Assim não vale, você é espanhola.
– Jacky, não vai valer em nenhuma língua que você tentar me vencer, tenho quinhentos anos, lembra? – Austin e Victória estavam conversando com uma linda loira que Denny sentia saudade, Jack vaticinou que a Caçadora ia querer ir até eles e a levou com passos leves até o pequeno grupo.
Austin estava em seu usual terno preto, ele se sentia tão confortável em todo aquele ambiente que Denny fez uma nota mental de repetir aquela escolha mais vezes. Victória estava estonteante, seu vestido longo era preto e possuía sutis detalhes pratas, ela extravasava nas jóias e na perfeita maquiagem. Ao lado deles estava Charlotte com seu sedutor vestido vermelho, ela era a personificação de uma femele fatale, seus cacheados cabelos loiros estavam caídos para o lado direito e sua boca marcada com um forte batom vermelho. Denny foi até a antiga amiga e lhe deu um abraço, Charlotte retribuiu e sorriu.
– Faz tanto tempo, Denny! – a menina olhou para o grande homem que estava ao lado da amiga e tentou não parecer surpresa por Charlotte estar tão perto de alguém tão rústico.
O homem era alto e tinha a pela bronzeada, tinha intrigantes olhos castanhos e curtos cabelos da mesma cor, tinha um rosto anguloso e boca grossa, ele possuía uma postura firme e olhares concentrados em apenas uma coisa: Charlotte. A amiga de Denny percebeu para onde ela olhava e ficou visivelmente avermelhada.
– Este é o...O... O Adam. – ela sorriu envergonhado e deu uma olhadela em direção a ele – Adam é Caçador, conheci ele em uma das minhas viagens ao Estados Unidos.
– Prazer, Adam, sou Denny. – a Caçadora esticou a mão para homem, ele cobriu a mão dela com as suas, grandes e calejadas.
– Eu sei que você é. – disse em sua voz forte.
– É... Todo mundo sabe quem eu sou.
– Denny, com licença – Austin chamou – O Conselho aceitou sua convocação para amanhã.
– Perfeito.
– Existe um porém... Querem Jack na reunião.
– O que? – Denny abaixou o tom de voz e fuzilou Austin com um olhar furioso – Jack não saberá se defender, aqueles homens possuem controle mental, Jack não...
– Eu sei, eu sei... Achei que você poderia ensiná-lo.
– Em menos de doze horas? Você só pode estar delirando.
– Denny... – interrompeu Victória – Acho que deve dar mais crédito ao Austin, ele está fazendo o melhor que pode.
– EU SEI! – gritou, logo depois se arrependeu, alguns olhares pairaram sobre eles – Eu sei, tudo bem? Jack não conseguirá se defender da minha compulsão sem treinamento adequado com o tempo adequado.
– Deixe-me treiná-lo – ponderou Charlotte – Meu controle não é tão forte quanto o seu, mas é páreo ao controle do Conselho. O que acha Jack?
– O que eu acho? – bufou e virou-se para Denny – Acho que você tem que parar de me tratar como criança e – olhou para Austin – sim, podemos tentar amanhã antes da reunião e se puder encostar em algum deles posso tentar absorver algo.
– Façam o que quiserem. Com licença. – Denny irritou-se e saiu com passos fortes até o meio do salão, não estava respondendo a quem falava com ela até que uma figura, que parecia ter saído de seus mais profundos pesadelos, apareceu em sua frente tampando sua passagem.
– Como vai, Jenny?
– Thomas? – o coração de Denny parou de bater por alguns segundos até que ela pôde encontrar novamente sua voz, o sangue sumiu de suas veias e sua boca não conseguia se mover, seus pés estavam presos no chão enquanto ela olhava a assombração sorrir debochadamente.
– Achei que não se lembraria de mim.
– Achei que estava no inferno.


*
Jack
*

O baile estava em seus últimos suspiros. O salão já se encontrava vazio, apenas os serviçais ainda preenchiam o local com seu trabalho árduo. Jack estava sentado nos últimos degraus da escada com seu palito jogado de lado e sua blusa branca já aberta por causa do calor. Ele não vira Denny desde que ela saiu da conversa irritada com o plano deles, o menino ficou triste por não ter dançado com ela, porém Jack dançou com mais pessoas do que se lembrava. Ele deveria ter dançado com todas as meninas da Sede, todas falando de si de algum modo diferente, Jack até gostou, ali ele não era o centro das atenções, entretanto nenhuma delas chamou atenção do Caçador.
O menino deixou a taça de champanhe vazia na escada, pegou o terno e levantou, decidido a ir para o quarto. Contudo algo o interrompeu. Austin corria um pouco afobado pelo salão com seu palito já aberto e sua blusa suja de um liquido que Jack não conhecia. O Conselheiro parecia preocupado e claramente irritado com algo que Jack não vaticinou.
– Você viu a Denny depois que ela saiu? – sua voz ofegante, ele parecia ter corrido uma maratona, seu cabelo ruivo estava grudando na testa e de seu rosto pingava algumas gotas de suor.
– Não... – respondeu Jack sem entender – Achei que ela tivesse fazendo algo relativo a ser uma Governadora.
– Já a procurei por todo lugar, temo que ela vá fazer algo idiota, ela sempre faz algo idiota quando está com raiva.
– Idiota como?
– Como sumir por 141 anos e deixar a Espanha com um tirano assassino.
– É melhor procurarmos. – disse o menino decidido.
– Vic está no andar de cima, Charlotte e Adam estão no Subterrâneo e eu já procurei nos lugares preferidos dela. – o ruivo pousou a mão na cintura e suspirou – Ela não pode ter ido embora novamente.
– Ela não foi. – Jack sabia que não poderia afirmar aquilo, mas sentia que Denny não poderia deixá-lo, por mais que estivesse zangada com ele – Vou procurar no lado de fora.
Austin assentiu e Jack correu para o lado de fora, logo a brisa da madrugada o atingiu e ele se arrependeu por ter deixado o paletó jogado no salão. Continuou em sua corrida por toda a extensão da Sede, foi até o pátio e não a encontrou. Estava prestes a desistir quando viu uma pequena ponte, achou que não haveria ninguém naquele lugar remoto até ouvir uma garrafa se quebrando. O Caçador correu até o som e viu Denny sentada na ponte pedra bebendo uma garrafa que parecia Vodka e cantarolando algo que Jack não conhecia. O menino suspirou e correu até a menina com um breve alivio no coração.
A ponte era pequena, mas logo abaixo dela corria um forte e profundo rio, o lugar também ficava fora de vista da Sede e do pátio. A lua refletia no rio causando uma bela cena para uma pintura, o barulho do rio corrente e da voz leve de Denny cantarolando trouxe uma paz inesperada para Jack. O menino chegou até a Caçadora ofegante e aliviado, ela o olhou sem muita esperança e voltou a olhar para o rio e a beber sua garrafa, parecia terrivelmente bêbada.
– Austin está louco te procurando e você fica aqui bebendo? – indagou.
– Austin precisa de um filho para depositar essa paternidade obsessivamente protetora. – a menina bufou – Ah é, Victória não quer ter filhos. “Em guerra não se cria filhos” – imitou com sua voz embriagada.
– Você deveria dar mais crédito a eles, os dois só querem te ajudar – Denny revirou os olhos – Quantas garrafas você bebeu?
– Umas sete ou oito. – ela esticou a garrafa para Jack, ele negou, ela deu de ombros e continuou bebendo – Sabe... Quando você vê o monstro que acabou sua vida voltar dos mortos, acho que é essencial ficar bêbado.
–Monstro? – Jack foi até a borda da ponte e se encostou-se a ela.
–Talvez “monstro” seja um adjetivo até bondoso demais. Nunca te contei como ganhei minha Marca, contei Jacky? – o menino negou. – Foi há 496 anos atrás, em uma noite de outono do ano mais terrível que minha família já tinha enfrentado.
“Éramos quatro: Eu, minha mãe, meu pai e Grace. Meu pai era minerador e trabalhava todas as horas do dia, só chegava em casa para o jantar, minha mãe era lavadeira e costureira, além de cuidar de nossa pequena horta. Eu fazia o que podia para ajudá-la, todos nós tínhamos que fazer o máximo, Grace tinha uma doença rara e nós não possuíamos dinheiro o bastante para lhe pagar um tratamento descente. O que fazíamos era trabalhar e comprar alguns remédios para retardar a doença.”
“Um de meus trabalhos era vender as roupas de minha mãe, eu ia até a vila mais perto de nossa casa – isso significava uma hora e meia de caminhada – e vendia para antigos amigos de minha família. Uma dessas vendas demorou mais que usual e já tinha escurecido, não poderia ficar na vila, então tomei o caminho de casa. Antes de poder tomar a estrada para casa, um jovem e rico fazendeiro pediu para que eu lhe desse a honra de minha companhia e que eu deixasse ele me levar para casa.”
“Seu nome era Thomas Araceli, meu pai desejava que eu me casasse com ele para que eu pudesse ter um bom futuro e que quando eles morressem Grace teria uma boa vida. Eu não opunha, faria tudo por minha irmã e Thomas parecia um bom garoto. Aceitei a carona em sua carroça e tomamos o caminho.”
“Tudo começou bem até que ele parou de guiar o cavalo e então... – Denny engasgou com a bebida – me estuprou. Depois de fazer esta ação suja, ele voltou para a vila deixando-me no caminho sem saber para onde ir e desolada. Depois de um tempo consegui rastejar até a minha casa, minha mãe me pegou na porta e chorando me levou para o quarto. Contei a ela o que tinha acontecido e bondosamente me deixou ir para cama antes do jantar, isso era inadmissível para uma moça de família.”
“Caí no sono rapidamente e apaguei em meus pensamentos, só queria esquecer tudo o que tinha acontecido. O que me acordou foi um cheiro terrível de fumaça, levantei com os pulmões ardendo. A minha casa estava em chamas. Corri até a cozinha gritando por minha família, quando cheguei ao cômodo pude vê-los, destroçados e aos pedaços, no estagio mais repugnante da carne. Um monstro – que eu não me lembro como era – Estava segurando uma metade do corpo de meu pai em cada uma de seus mãos, comendo sua carne e saboreando cada pedaço. A cabeça de minha mãe jazia do outro lado da cozinha, completamente separada do corpo. Grace queimava no fogo ardente, já estava morta quando eu cheguei. Na mesma hora uma dor lucilante tomo conta do meu braço e enquanto sentia a dor o monstro não me atacou. Assim que me recuperei o matei, não sei como, apenas o matei.”
“Corri antes que a casa desmoronasse e fugi com o meu primeiro cavalo, não poderia voltar aquela vila, não poderia ver Thomas novamente, só esperei que ele fosse para o inferno ou algo muito pior. Fui de vila em vila, fugindo de tudo e de todos até que cheguei em Nuestra Asuncíon, onde descobri o que eu sou.”
“Só ela me chamava de Denny, Grace não conseguia pronunciar o J, saia algo como Dennyfer, logo meus pais me chamavam assim. Levar esse nome comigo é ter, de algum jeito, eles de volta, sentir o abraço do meu pai e o carinho da minha mãe.”
– Nossa Denny... Eu não sei o que dizer. – Jack estava chocado, todos que Denny já tinha amado com toda sua vida tinham sido mortos de jeitos tão horríveis e inescrupulosos.
– Ele voltou. Thomas não está no maldito inferno. Ele está aqui! Fazendo da minha vida um inferno. – ela abriu outra garrafa e tomou um gole – Toda noite eu tinha o costume de treinar meu Arco e Flecha, além de saber lutar muito bem. Se eu estive em bom estado, se Thomas não tivesse feito aquilo, eu poderia ter matado o monstro antes que ele matasse a minha família. Ou pelo menos morrer com eles.
– Ele é um Caçador?
– Sim. – Denny jogou os braços para o alto e quase caiu no rio, conseguiu se segurar por pouco e começou a rir – Sabe, Jacky, por que está aqui nesta Sede? Você é um idiota, deixou sua família para seguir uma menina que nem conhecia. Eu nunca deixaria minha família, suas irmãs são problemáticas e você aqui, com uma bêbada falando de coisas tristes. E sua irmã Lucia? Morreu.
– Você é inacreditável... Eu não sou obrigado a ouvir isso. – Jack se levantou e começou a ir embora.

– Sabe... eu deixei que... – só que Jack nunca descobriu o que Denny tinha deixado, houve um silêncio repentino e segundos depois um barulho de algo caindo na água.
Jack se virou e viu que Denny não estava mais sentada na ponte, correu até a beirada da mesma e viu que ela tinha caído no rio e não estava subindo. Ele sabia que se arrependeria, mas pulou atrás dela.

x


Depois de deixar Denny no quarto e ter certeza que ela alcançaria a cama, Jack voltou para seus aposentos e se jogou na cama sem querer se trocar. Suspirou e massageou as têmporas, não queria pensar no quanto Denny tinha sido idiota, só queria dormir e esquecer aquele dia terrível. Olhou para o criado mudo e viu que nele estava o livro que havia pegado na Grande Sala, pegou-o como uma tentativa de distração e abriu na primeira página:
“No tempo em que o mundo se banhava em sombras e a luz era algo tão raro quanto a felicidade, surgiu a primeira Ordem. Os humanos morriam aos montes sem ter alguém ou algo que lutasse por eles, os demônios conquistavam a Terra, consumindo tudo o que viam pela frente. Eles não tinha remorso e nem pena, compaixão não existia para esses seres e os humanos eram o alvo para essas criaturas.”
“Em meio a todo esse caos e morte, um grupo de sete sacerdotes decidiu que acabaria com aquele genocídio. Se uniram na lua de sangue e ratificaram a primeira e única Constituição dos Caçadores, nela promulgava que de agora em diante eles seriam mais fortes, rápidos e poderosos que os humanos. Seus descendentes seriam imortais e vagariam pela Terra até o fim dos tempos, servindo unicamente ao propósito de salvação de seu planeta.”
“A Marca escolheria seu hospedeiro e somente ela determinaria um Caçador, então os sete, juntos, dissiparam os demônios da Terra por um período determinado. Porém a mesma estaria segura, pois seus descendentes lutariam por ela. Sua Marca, sua vida.”
“Vindo de uma divindade, a primeira Ordem constituiu um soberano, ele teria plenos e imensuráveis poderes no mundo dos Caçadores, pois ele havia assinado a Constituição e assim era promulgado pela a mesma. Seus mandamentos eram sábios e seguros,os Caçadores aprenderiam a respeitá-la.”
“Também constituiu que uma Caçadora geraria apenas um filho para que a Terra continuasse pura e os seus descendentes não desaparecessem. Criou as Ordens e junto com elas, a essência de cada Caçador. Não é correto falar o ano em que isso aconteceu, pois não há registros sobre tais fatos, apenas a missão deixada por nossos antepassados.”

x


Jack acordou com água.
Ele sentiu o ar sendo tirado de seus pulmões e trocado pelo liquido gelado. Ele levantou desesperado para ver Austin logo acima dele com uma expressão divertida no rosto. Seu cabelo estava bagunçada e ele usava uma blusa social branca e uma calça cinza. Jack o encarou com raiva e tirou a água do rosto e tossiu tentando respirar.
– Bom dia. – disse o ruivo.
– Desnecessário. – Jack sacudiu a cabeça afastando o cabelo e a água do ouvido.
– Ela achou que assim você acordaria melhor e mais disposto. – Austin depositou o balde azul no chão e colocou a mão na cintura.
– Ela? – então Austin saiu da frente para Jack poder ver Denny encostada alisar da porta com uma expressão desinteressada e sonolenta, tinha olheira debaixo dos olhos e seu cabelo fugia do coque. Usava um vestido branco com um espartilho que parecia apertado demais, tinha uma fina luva em mãos, demonstrando aquele ar de século XIX.
– Ela aceitou ajudar com a condição de acordar você desse jeito. – Jack sentou na cama, a água só serviu para aumentar o cheiro de bebida que contagiava a sua roupa por ter carregado Denny na noite anterior. – Vá tomar um banho enquanto chamamos Charlotte.
Jack obedeceu e correu para o banheiro, não aguentava mais aquele cheiro, se despediu das roupas feliz e tomou um banho rápido. Colocou uma blusa preta e calças igualmente escuras, passou a mão pelo cabelo e saiu do banheiro.
Havia duas cadeiras de madeira no meio do quarto, Charlotte estava sentada em uma delas com uma postura impecável, usava uma saia amarela clara com uma blusa branca três quartos. Seu cabelo estava solto e caía pelos ombros, Jack ficou com medo do que poderia acontecer, mexeriam com sua mente, ele não sabia o que esperar.
– Sente-se e não encoste nela, você precisa aprender a resistir sem seus poderes. – disse Denny – Se conseguir se controlar com Charlotte, vamos tentar comigo.
– Você precisa aguentar, Jack, o Conselho não se importa com o que vai fazer com sua mente. – vaticinou Austin – Eu sei que você consegue.
– Pelo menos você. – Jack lançou um olha duro para Denny e se sentou na cadeira em frente à Charlotte.
A loira começou a falar coisas sem sentido para Jack, ele não conseguia entender por um bom tempo, depois ela começou a falar em sua língua. Charlotte mandou Jack fazer coisas idiotas como “a primeira vez que ele ficou com uma garota”, o ruim é que ele falava, não conseguia se conter, a voz da menina era cheia de encanto. O Caçador percebeu que estava indo muito mal em seu controle mental, tentou se apegar em algo, algo que o fizesse lutar contra a voz de Charlotte. Pensou na irmã, Lucia, e como ela sempre cuidou dele sem reclamar, o amava e ele a amava, a morte dela doía tanto a cada vez que era lembrada, porém pensar nisso dava alguma força para Jack, um modo de aguentar firme.
– Por que você odeia tanto a sua família?
– Acho que não quero responder – Jack sorriu, Austin suspirou e Charlotte levantou triunfante da cadeira.
– Sua vez Denny. – a loira fez uma reverencia com a cabeça e saiu do quarto com seu salto ecoando pelo quarto.
– Ótimo. – Denny levou a mão nas costas de tirou uma arma pequena, entregou a Jack, o menino sentiu o coldre gelado e ficou com medo com o que Denny pediria – Atire em mim. Na cabeça.
Jack olhou para cima e encontrou os olhos de Denny com aquele brilho estranho, aquele que mandava você fazer aquilo que ela queria e ficaria feliz por fazê-lo, pois sua vida dependia daquilo. Ele esqueceu da irmã e nada mais entrava em sua mente, só o fato de que tinha que atirar na cabeça dela, era o que ela queria. Jack levantou a arma e apontou para a testa de Denny, encostando o metal gelado na testa da menina, ela continuou com sua expressão imparcial.
– Denny... – alertou Austin.
– Atire Jack! – mandou Denny.
O menino colocou o dedo no gatilho e atirou.
Porém sua mira era um quadro de um homem velho do outro lado do quarto.
Denny pegou a arma da sua mão e devolveu para o lugar de início, olhou para Jack sem expressão e começou a sair do quarto.
– Um “parabéns” ajuda. – debochou Jack.
– Parabéns, Jacky – disse a menina sem animação da voz, ela se virou e encarou o menino frustrada - Não vivemos de incentivo, vivemos de provações, você não pode esperar um “ótimo trabalho”, pois isso não é um trabalho, é a sua vida, então aprenda que aqui não é um escola. – Denny suspirou – Quando estiver no Conselho, me culpe por tudo, sempre que puder jogar a culpa para mim, faça. Você é apenas um soldado, eu mando na Espanha, eles não podem fazer nada, assim talvez você tenha uma chance.
Ela virou e saiu com passos pesados e irritados.
– Ela está brava com você. – disse Austin sorrindo – Isso é bom.
– Ótimo. – zombou.
– Isso significa que ela gosta de você. Ela não bota a vida dela na mão de qualquer pessoa.
– Acho que prefiro que ela me odeie. – Austin chegou perto de Jack e colocou o braço nos ombros do menino, guiando até a porta.
– Vocês são uma graça. – de repente a expressão de Austin ficou dura e seca – Vamos enfrentar o Conselho.


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Notas finais do capítulo

Estou esperando seus comentários pessoas!
Acabei a terceira temporada de once upon a time, e meu Deus! Hook é a pefeição! (nada a ver com a história, mas...)



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